O prejuízo da Olimpíada
Manoel Hygino
Não demora e terminam os Jogos Olímpicos de 2016, algo realmente
fantástico diante das dificuldades que passa o mundo e, particularmente, o país
que os sedia. Coubertin, o nobre francês que teve a ideia de recomeçar as
disputas da época do apogeu helênico, poderia julgar-se feliz e realizado com o
espetáculo de abertura das competições, que a televisão mostrou, em vivo e em
cores, como dizem os portugueses.
No entanto, em contraponto à beleza a que se assistiu, não passou
ignorada a sucessão de problemas que, à margem, houve. Refiro-me à demonstração
de pobreza, de miséria, até de violência, que, no período, estigmatizou a bem
elaborada programação. Não foi invenção da Imprensa o registro de que se
revelou ao planeta. Há um outro Brasil: o das enormes favelas e dos grupos
criminosos e dos oportunistas, organizados para ilicitamente explorar o evento.
Afirmava-se que a Olimpíada não resultaria em prejuízo para o Brasil,
consequentemente para os brasileiros. De antemão, conhecia-se que não se
tratava rigorosamente de verdade, porque se tinha muito recente e viva a experiência
desastrosa da Copa do Mundo. Nela, houve muito mais do que elevados prejuízos
para os cofres públicos, apagando a esperança de, em contrapartida, cumprir-se
um programa de obras públicas reclamadas há décadas. O dinheiro tomou outra
destinação.
Com os olhos grudados nas televisões, nas quais os escândalos da Lava
Jato passaram a plano inferior à Olimpíada, não se tomou conhecimento de uma
decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro. Ela proibia que a União e o
município fizessem qualquer repasse de verba pública para o Comitê Organizador
dos Jogos Olímpicos, até que “seja dada ampla publicidade de todas as receitas
e despesas”.
E ainda: caso algum repasse tenha sido feito, o Comitê Rio 2016 fica
impedido de usar a verba para pagamento a fornecedores. O Comitê está também
obrigado a justificar a necessidade de uso dessas verbas para organização e
realização dos jogos.
A grave decisão foi de uma juíza – Márcia Maria Nunes de Barros, de
plantão no Rio de Janeiro, e decorreu de pedido do Ministério Público Federal,
em 2 de julho –, que exigia transparência nas contas das Olimpíadas. O MPF
formalizou a solicitação ao Comitê, dando-lhe 20 dias para a abertura da caixa
preta. A Comissão Organizadora se negou fazê-lo, todavia, sob alegação de que,
sendo ente privado, não havia obrigação legal de atender.
A sua vez, a Procuradoria argumenta que a exposição da contabilidade é
imprescindível, até porque estabelecida no contrato da Rio 2016 com o COI. No
final da novela, quem terá de assumir o déficit do evento serão a União e os
poderes públicos.
A juíza observa que dificilmente o prejuízo dos Jogos será recuperado
“por quaisquer dos órgãos públicos, que se encontram em difícil situação
financeira, como é de conhecimento geral”.
A belezura da Olimpíada, como se vê, contrasta com a feiura da
contabilidade. No final, mais uma vez, o cidadão ficará coagido a quitar o
déficit, como se não estivéssemos na crista de uma imensa crise. Este, sim,
será um grande golpe contra a bolsa do brasileiro, que por sinal sequer mais
bolsa tem.

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