Dilma e aliados tentam
cartada final no Senado; oposição acredita que afastamento é inevitável
Janaína Oliveira
Na posse, a aposta era de convergência entre Dilma e Temer
Na reta final que antecede a sessão do Senado que selará o destino da
presidente afastada Dilma Rousseff – daqui a três dias –, os aliados da petista
buscam afastar o baixo astral e voltam a ter esperança de mantê-la no cargo. A
decisão de Dilma de se defender pessoalmente no Senado reacendeu o otimismo.
“(Ela) surpreendeu todo mundo e, dependendo do desempenho, a fala terá
impacto na decisão final”, diz o senador João Capiberibe (PSB-AP), que se
declara contrário ao processo de impeachment mesmo sendo de um partido que
defende o afastamento de Dilma.
Segundo ele, o Brasil vai parar para ouvir a presidente. “Espero que a
sociedade e os julgadores se deem conta de que não há crime de
responsabilidade”, diz.
O fato de Dilma ter se comprometido, em carta, enviar ao Congresso
pedido de plebiscito para novas eleições também pode render votos na reta
final. “Há cerca de oito a 12 senadores em dúvida. O jogo não acabou”, afirma.
Contas
A semana decisiva de Dilma acontece vinte e quatro anos depois do
impeachment de Fernando Collor de Mello. O julgamento começa nesta quinta-feira,
mas, pelo rito definido pelos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF),
Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não há uma
previsão de término.
Nas contas da oposição, já há pelo menos 60 votos favoráveis à saída da
petista. Aliados de Dilma, entretanto, mantêm esperança na reviravolta.
Para o deputado federal e presidente do PSDB em Minas, Domingos Sávio, o
impeachment da petista são “favas contadas”.
“Existem hoje, além da comprovação de crime de responsabilidade fiscal,
vários indícios do envolvimento da presidente afastada com o esquema de
corrupção do PT. Ela está desmoralizada. Não tem volta”, afirma.
O tiro de misericórdia, na avaliação de Sávio, veio do senador Cristóvão
Buarque (PSB), considerado um parlamentar imparcial. “Até ele admitiu que Dilma
não tem condições de governar e já declarou que votará pelo impeachment”, diz.
Outro que deverá votar contra a petista, na opinião do líder tucano, é o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Na penúltima votação, na
madrugada de 10 de agosto, quando Dilma perdeu pelo placar de 59 a 21, Renan
não votou. Naquela ocasião, era preciso maioria simples (metade dos senadores
presentes mais um) para que o parecer do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG)
fosse aprovado.
Já na atual e derradeira fase, de julgamento, Dilma perderá
definitivamente o mandato caso dois terços, ou 54 dos 81 senadores, votem a
favor do impeachment. “Como o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, irá
presidir a sessão, tudo indica que Renan engrossará o coro e também votará pelo
afastamento”, acredita Domingos Sávio.
Até pouco tempo considerados desafetos, Renan e o presidente interino,
Michel Temer (PMDB), parecem ter feito as pazes. O presidente do Senado
desmarcou um encontro com Dilma, que aconteceria na última quinta-feira, para
viajar com Temer para o Rio de Janeiro, na primeira viagem oficial dos dois
juntos.
Lewandowski é quem
vai presidir a sessão do Senado
Mercado vive expectativa de ajuste fiscal e reformas
Caso seja confirmado como ocupante definitivo do Palácio do Planalto, Michel
Temer terá uma agenda espinhosa pela frente. Especialistas são unânimes em
dizer que não há mágica. E que se o ajuste fiscal e as reformas necessárias não
forem feitas, a expectativa positiva do mercado em relação a ele poderá se
derreter.
“Por enquanto, Temer é presidente em exercício, o que dificulta o
trabalho. Mas assim que ele deixar de ser interino, deverá submeter ao
Congresso as reformas estruturais. Aí então veremos a força dele”, diz o
coordenador do curso de Economia do Ibmec em Belo Horizonte, Marcio Salvato.
Já na avaliação do cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, Temer
só espera ser efetivado chefe da Nação para lançar o “pacote de maldades”. “No
dia seguinte já teremos uma agenda regressiva de direitos sociais”, diz.
Para o cientista político Malco Camargos, o risco é dar passos maiores
que as pernas. “Reformas como a da Previdência, por exemplo, deveriam ter
aprovação popular. Mas nem ele parece muito sensível ao tema”, alfineta.
Para aliviar o buraco nas contas da Previdência, a equipe do governo
interino defende o aumento do tempo de trabalho até a aposentadoria. A ideia é
que a idade mínima passe a 62 anos para mulheres, e a 65 para homens. Temer,
entretanto, é aposentado desde os 55 anos.
Camargos diz ainda que a contenção de gastos é um dever de casa que
deverá ser executado, seja qual for o desfecho do processo de impeachment. O
rombo nas contas públicas deve bater a casa de R$ 170 bilhões somente neste
ano.
Para o professor de Economia do Ibmec/Minas Felipe Leroy, a mudança da
equipe econômica, que passou a contar com Henrique Meirelles no Ministério da
Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central, animou o mercado.
“Desde que o Temer assumiu interinamente, o cenário passou a ficar mais
estável. Houve sinais positivos. Mas só o tempo dirá se o governo de fato vai
ditar segurança ou se ficará na expectativa”, avalia.
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