sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A JUSTIÇA BRASILEIRA PENDE MAIS PARA UM LADO DO QUE PARA O OUTRO



Será preciso uma Lava Jato nas delações da Lava Jato?

Orion Teixeira 




Se a suspensão da delação premiada da empreiteira OAS provocou tanta polêmica e até indignação entre os sábios da lei, imaginem em nosso meio, leigo e ainda crente nas instituições? A decisão do procurador geral da República, Rodrigo Janot, tomada sob a influência de vazamento de nomes poderosos, põe em risco toda a operação feita até agora sob o codinome Lava Jato. Há cerca de dois anos, consumimos diariamente vazamentos de delações que sequer haviam sido homologadas pela Justiça. Agora, o procurador geral disse que isso contraria a lei.
É preciso que eles, os de notável saber, se entendam porque, se o país está sendo passado a limpo, não pode haver incoerência do tamanho que a decisão sugeriu. Se a delação do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro não serve mais por ter sido vazada - e pelo que se viu citou um ministro do Supremo Tribunal Federal (Dias Toffoli), ainda que sem indícios de delito -, como ficam as outras confissões? Vazamento, gotejamento ou delação, o que está valendo no mundo da lei, de sua interpretação e do foro privilegiado?
O ministro Gilmar Mendes (STF) soltou os cachorros contra o vazamento com o nome do colega, mas considerou normal quando divulgaram conversa telefônica da presidente afastada Dilma Rousseff com o ex-presidente Lula (ambos do PT). Reação semelhante envolveu a revelação dos áudios das conversas do ex-presidente José Sarney e do presidente do Senado, Renan Calheiros (ambos do PMDB), com o autor dos grampos, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, quando este ainda negociava confissão premiada. Vazaram até o pedido de prisão deles. Agora, antecipam que a delação da OAS deverá ir para o Paraná, onde só os sem foro poderão ser citados, com vazamento ou sem. Quem tiver o privilégio do foro e for mencionado volta para o conforto de Brasília.
Passamos dois anos, assistindo aos vazamentos divulgados, antes da homologação, com exclusividade pelo Jornal Nacional. As revelações do empresário Bené (Benedito de Oliveira) contra o ex-amigo e ex-aliado governador Fernando Pimentel (PT) foram igualmente publicizadas antes de aceitas pelo Superior Tribunal de Justiça. Desde que foi ventilada, alguém sentou em cima da tentativa de delação do ex-empresário mineiro Marcos Valério. Desse jeito, alguém poderá lançar suspeição sobre os atos de Janot ou do juiz federal Sérgio Moro. Ou então, podem até fazer uma Lava Jato da Operação de mesmo nome.

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