Corrupção suspende
investimentos em infraestrutura e trava a economia
Tatiana Lagôa e
Tatiana Lagôa
RODOVIA DA MORTE – Obras de duplicação da BR-381 foram abandonadas pelo
consórcio Isolux-Corsán/Engevix
O efeito cascata do roubo de dinheiro público faz vítimas em todos os
setores da economia. E vai mais longe do que se imagina, conforme mostra a
quarta matéria da série “O Custo da Corrupção”. Somente em 2015, mais de R$ 160
bilhões deixaram de girar no Brasil em decorrência da redução dos investimentos
em obras, grande parte interrompidas devido às ações da operação “Lava Jato”,
que investiga e pune desvios de recursos, lavagem de dinheiro, recebimento de
propinas e ligações fraudulentas entre órgãos e empresas do governo e as
maiores empreiteiras do país.
Em 2010, auge dos investimentos em infraestrutura, e, também, marco das
denúncias de financiamentos ilegais de campanhas eleitorais de diversos
partidos, o governo federal aportou R$ 114,7 bilhões em obras no país. Um ano
após a instalação da Lava Jato, em 2015, os aportes caíram para R$ 12,7
bilhões, diferença de R$ 102 bilhões.
Segundo levantamento do Sindicato Nacional da Indústria da Construção
(Sinicon), a cada R$ 1 milhão investido na construção, R$ 1,6 milhão é injetado
na economia. Nesta proporção, os R$ 102 bilhões deixados de lado em 2015 na
construção se transformariam em mais de R$ 160 bilhões distribuídos em setores
diversos.
“O país tinha um programa de investimento em infraestrutura avançado em
2010. E esse programa deveria ser mantido. Em 2015, ele voltou ao ritmo lento
de 2008”, ressalta o diretor-executivo do Sinicon, Petrônio Lerche Vieira.
Em Lagoa Santa, por exemplo, as obras de construção do Centro de
Instrução e Adaptação da Aeronáutica (Ciaar), tocadas pela Schahin Engenharia,
estão paradas, após falência do braço de construção da empresa – investigada na
“Lava Jato”. Inicialmente orçado em R$ 216,4 milhões, o valor do Ciaar foi
revisto para R$ 237,6 milhões após uma sucessão de erros e atrasos .
Comércio
Comércio
Além da própria construção, o comércio é um dos setores mais afetados
pela redução no ritmo de obras. A cada R$ 1 milhão investido[/TEXTO] em obras,
R$ 173 mil giram no varejo. Se o ritmo do investimento em construção de 2010
fosse mantido em 2015, mais de R$ 17,7 bilhões circulariam no setor.
O montante poderia dar alívio ao desempenho negativo do comércio
brasileiro em 2015. No ano, houve recuo de 4,5% nas vendas na comparação com
2014, o pior resultado da série histórica, iniciada em 2001, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Empregos que foram
ceifados no segmento também poderiam ter sido poupados. Segundo o Cadastro
Geral de Empregos (Caged), do Ministério do Trabalho e da Previdência Social,
246.406 vagas foram encerradas no varejo em 2015.
A relação entre corrupção, interrupção de grandes obras públicas e queda
vertiginosa no comércio é clara e direta, segundo o vice-presidente da Câmara
dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar.
Ele ressalta que a economia é cíclica e que as demissões provocadas no
setores da construção civil e pesada fazem com que as pessoas coloquem o pé no
freio quando o assunto é consumo. Como reflexo a indústria produz menos e há um
descompasso geral no país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário