Comissão do Impeachment
encerra trabalhos após 14 horas e adia próxima sessão
Próximo encontro, que continuará a ouvir
testemunhas de acusação, acontecerá na segunda-feira às 16h
por Leticia
Fernandes
Uma das autoras do pedido de
impeachment, a advogada Janaína Paschoal, troca impressões com o advogado de
Dilma, José Eduardo Cardozo
BRASÍLIA - O presidente da Comissão do Impeachment no Senado, Raimundo
Lira (PMDB-PB), cancelou a sessão que aconteceria nesta quinta-feira. Ela foi
adiada para a tarde de segunda-feira, quando os senadores continuarão a ouvir
testemunhas de acusação, indicadas pelos próprios parlamentares. A sessão que
abriu as oitivas, e varou a madrugada, durou quase quinze horas - começou por
volta das 11h45m de quarta-feira e terminou às 2h10m desta quinta.
A oposição, contrária ao impeachment, tentou por várias vezes suspender
a sessão e continuá-la na próxima semana, mas Lira foi implacável e negou todos
os pedidos.
O calendário aprovado no início da semana prevê para agosto a conclusão
do processo, que pode aprovar o afastamento definitivo de Dilma Rousseff do
cargo. Aliados do presidente interino Michel Temer já tentavam encurtar o
cronograma, mas recuaram diante de protestos do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL). A oposição, por outro lado, aposta em postergar o processo
na tentativa de enfraquecer o governo
Foram ouvidos, durante a sessão, quatro testemunhas de acusação: Júlio
Marcelo de Oliveira, procurador do Tribunal de Contas da União (TCU); Antonio
Carlos Costa d’Ávila Carvalho, auditor do TCU; Adriano Pereira de Paula,
coordenador-geral de operações de crédito do Tesouro Nacional, e Otávio Ladeira
de Medeiros, secretário adjunto do Tesouro desde dezembro de 2015.
ACUSAÇÃO DE MACHISMO
O auditor do TCU Antonio Carlos Costa
D’Ávila na comissão do impeachment
Durante a madrugada desta quinta, a sessão chegou a ser suspensa por
alguns minutos porque o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse que as senadoras
Gleisi Hoffmann (PT-RS) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) estavam
"ansiosas" em rebater o que ele falava, relativo a uma questão de
ordem pedida por ele, e negada pelo presidente da Comissão. Como as críticas ao
senador também estavam sendo feitas por parlamentares homens, elas criticaram o
emprego da palavra e o uso da palavra no feminino, acusando-o de machismo.
— Por quê ansiosas, se aqui também tem homens? Machista! Machista —
atacou Gleisi Hoffmann.
O senador preferiu não responder às críticas, feitas também por
Lindbergh Farias (PT-RJ). Após alguns minutos de discussão, Raimundo Lira
retomou a sessão.
Entre embates com senadores de oposição, o procurador Júlio Marcelo
criticou o déficit fiscal deixado pelo governo Dilma e disse que isso se deve a
um aumento de gastos "irresponsável". O procurador afirmou que houve
um dolo que "grita aos olhos".
— Esse déficit fiscal atual decorre em parte desse aumento irresponsável
de gastos. Se criou uma ilusão de que havia renda disponível para o estado, e
não havia — disse o procurador, respondendo a questionamento da senadora Simone
Tebet (PMDB-MS). — A omissão foi essencial para o plano de fraude fiscal. É um
elemento que tem um dolo evidente, o dolo grita aos olhos.
O ex-ministro José Eduardo Cardozo, que defende Dilma, insistiu, em sua
fala, que a presidente afastada não cometeu dolo pois assinou os decretos com
base em pareceres do TCU.
— Pode ser que juridicamente vossa excelência tenha mais razões do que
eu, mas quando um chefe do Executivo decide com base em pareceres, não tem
dolo. E para crime de responsabilidade é necessário o dolo — disse Cardozo,
respondendo ao procurador.
'BONECO LOUCO'
Um dos desentendimentos na comissão ocorreu quando a jurista Janaína
Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment contra Dilma, fez perguntas
ao procurador do TCU que fugiam do escopo da denúncia apreciada pelos
parlamentares. Raimundo Lira alertou que a testemunha não poderia responder, e
a oposição a criticou. Ainda assim, ela reagiu:
— A defesa tem medo de enfrentar o todo, mas eu não vou me calar. Não é
que faltam crimes em 2015, é que sobram, se somar tudo — criticou Janaína.
O presidente da Comissão alertou a jurista:
— Isso é um tribunal jurídico, mas com conotação política. Outros
assuntos podem ser abordados na fala, mas não podem ser dirigidas perguntas à
testemunha. Gostaria que isso ficasse bem claro.
Em outro momento, quando Lindbergh Farias contraditava a testemunha,
dizendo que o procurador havia distorcido sua fala, o senador Ataídes Oliveira
(PSDB-TO) chamou o petista de "boneco louco":
—- O senador que me antecedeu parece ser tão sabido, mas não passa de um
boneco louco.
O petista evitou polemizar:
— Não vou responder a baixarias nem argumentos desqualificados.
'FRIO NA BARRIGA'
Segunda testemunha a ser ouvida pelos senadores, o auditor fiscal
Antonio Carlos Costa D'Ávila disse que sentiu um "frio na barriga"
quando constatou irregularidades cometidas pelo governo afastado, as pedaladas
fiscais - atraso de repasses a bancos oficiais por parte do governo, obrigando
as instituições a usarem recursos próprios para pagar benefícios como o Bolsa
Família. Ele falou à comissão por mais de duas horas.
Respondendo a um questionamento do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), o
auditor do TCU disse que não acreditou quando se viu "diante daquela
situação".
— Eu não acreditava que estava diante daquela situação, de tal sorte
que, ao receber os argumentos da outra parte, me dava um frio na barriga
grande. Eu pensava: 'não é possível, eu devo estar errado' - contou a
testemunha de acusação, que elogiou, durante a oitiva, a história do senador Lindbergh
Farias e disse que trabalhou e "gosta muito" do ex-ministro Paulo
Bernardo, marido de Gleisi Hoffmann.
— Mas, infelizmente, o que eu estava vivenciando era o cometimento de
atos que, no meu ponto de vista, contrariavam os mais fundamentais, sensiveis e
caros fundamentos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não fico feliz em ter
encontrado esse conjunto de achados, mas enquanto a sociedade tiver me pagando
um salário para exercer minha função, farei de tudo pra que a Lei de
Responsabilidade Fiscal seja respeitada, um dos mais importantes pilares da
nossa democracia — acrescentou D'Ávila.


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