terça-feira, 31 de maio de 2016

SUICÍDIO NA GUIANA FRANCESA



A tragédia da Guiana
Manoel Hygino



Há alguns anos, saiu publicado o meu livro “Sangue em Jonestown: uma tragédia na Guiana”, em que se descreviam os últimos acontecimentos sobre Jim Jones, que se intitulava pastor e líder de uma seita que levou ao suicídio centenas de pessoas nas selvas da Guiana. Jones residiu em Belo Horizonte, retornou à pátria – os Estados Unidos – e, dali, cuidou de erguer na América do Sul o Templo do Povo, congregando em torno de si centenas de prosélitos.
Em Jonestown, as pessoas supunham terem tudo e viverem felizes. Jim Jones, dominado por drogas e ideias alucinadas, dizia-se enviado de um outro planeta. Planejou e conduziu a um suicídio coletivo, no qual se sacrificaram 921 fiéis, número não exato como se desejaria. Não foi, como se constatou, um autoextermínio propositalmente dito. Houve uma indução ao gesto trágico. Jones, em sermão, chegou a afirmar: “Eu sou um eleito e vim à Terra, irmãos, para trazer a esperança. Quando morrermos todos, eu os levarei de volta...”. O corpo de Jones, depois de tudo, foi encontrado com um tiro na cabeça.
Passados tantos anos (meu trabalho é de 1979), a Guiana me desperta atenção com o relato dramático das agências internacionais. Localizada no litoral Norte da América do Sul, é um país pequeno com uma população diversificada de pouco mais de 750 mil habitantes, com a maior taxa proporcional de suicídio no mundo. A Organização Mundial de Saúde avalia que 44,2 em cada 100 mil pessoas se matam na ex-colônia britânica anualmente, enquanto no Brasil o índice é de 5,8 pessoas por 100 mil.
Bibi Ahamada, vice-presidente da filial guianense da ONU “La Voz Del Caribe”, sediada em Nova York, é claro: “O suicídio é um grande tabu aqui”. William Adu-Krow, representante da Organização Pan-Americana de Saúde e da OMS, acrescenta: ninguém sabe o número exato de suicídios. Além disso, acredito que esse número seja subestimado. Por causa do estigma que envolve o suicídio, o paciente que tenta tirar a própria vida não diz que tomou veneno, por exemplo, mas – quando chega ao hospital – fala que se sentiu mal e não mais consegue respirar”.
Vê-se que a Guiana vive uma tragédia coletiva, maior do que a de Jim Jones, nos anos 1970. Neste triste episódio, as vítimas eram de norte-americanos, influenciados pela pregação do líder da seita. Agora, elas são guianenses, principalmente jovens, com idade entre 15 e 24 anos, segundo o Ministério da Saúde Pública. Uma das causas: não têm com quem falar sobre seus problemas e muita dificuldade em confiar em alguém.
A atual miss Guiana, Lisa Punch, que em 2012 fundou a ONG Prevention (POTS, na sigla em Inglês), voltada para adolescentes suicidas, fez campanha para aumentar o número de conselheiros nas escolas.
“O governo está enviando conselheiros para várias escolas, mas não o suficiente. (...) Seria melhor que cada escola tivesse um”, defende ela. “Os jovens precisam de alguém em quem possam confiar, com quem possam conversar, alguém em que diga que tudo está bem, que algumas crises podem ser parte do processo de envelhecimento, porque às vezes você acha que é a única pessoa que passa por algo do tipo”.

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