'Não somos limitados a
repetir os erros do passado', diz Obama em Hiroshima
É possível escolher um futuro em que "Hiroshima e Nagasaki não
sejam conhecidas pelo raiar da guerra atômica, mas por nosso próprio
despertar", disse o presidente Barack Obama ao encerrar seu discurso em
Hiroshima, nesta sexta (27).
"Pode ser que não consigamos eliminar a capacidade humana de
provocar o mal. Então, as nações e alianças que formamos devem ter instrumentos
para se defender. Mas, entre as nações, como a minha, que têm um estoque de
armas nucleares, é preciso ter coragem para escapar da lógica do medo e
perseguir um mundo sem elas", disse.
Nesta sexta-feira (27), Obama se tornou o primeiro presidente americano em exercício a
visitar Hiroshima após a cidade ter sido arrasada por uma bomba nuclear,
lançada pelos Estados Unidos.
Estima-se que mais de 200 mil pessoas tenham morrido nos dois
bombardeios nucleares —em Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, e em Nagasaki,
três dias depois.
Em seu discurso no Memorial da Paz, o americano não se desculpou pelo
uso das bombas (o que já era esperado), mas afirmou que o mundo tem a
"responsabilidade compartilhada de olhar diretamente no olho da história e
questionar o que deve ser feito para evitar um novo sofrimento como
aquele".
Obama defendeu a solução de conflitos pela via diplomática, deixando de
lado a "capacidade de destruir". "Não somos limitados pelo
código genético a repetir os erros do passado, podemos aprender, escolher,
contar a nossos filhos uma história diferente", defendeu o americano.
LIÇÕES
Mais de uma vez, Obama defendeu que a humanidade é uma só, um dos
motivos pelos quais ele fazia a visita à cidade.
"Por isso viemos a Hiroshima, para que pensemos em quem amamos, no
primeiro sorriso dos nossos filhos pela manhã, no toque do companheiro na mão
na mesa da cozinha, no abraço reconfortante de um pai. Podemos pensar nisso e
saber que esses mesmos momentos preciosos aconteceram aqui, há 71 anos. Os que
morreram são como nós, pessoas comuns entendem isso, elas não querem mais
guerra, prefeririam que as maravilhas da ciência focassem em melhorar a vida e
não em eliminá-la", argumentou o americano.
"Quando as escolhas feitas por nações e líderes refletirem essa
simples sabedoria, a lição de Hiroshima estará feita."
Em sua fala, Obama mencionou que as bombas atômicas também mataram
"milhares de coreanos". Isso pode amenizar o desconforto dos sul-coreanos
com a visita, já que no país vizinho havia o temor que o Japão fosse colocado
na posição de vítima, sem referências às agressões japonesas na região e ao
fato de que coreanos empregados como escravos no Japão também morreram durante
os bombardeios.
Já no final do discurso, Obama mencionou Nagasaki, que reclama de ser marginalizada nas discussões
sobre a bomba atômica.
AMIZADE
Os governos de Washington e Tóquio têm esperança de que a visita de
Obama aprofunde a aliança entre as nações e dê ânimo aos esforços para abolir
as armas nucleares. Mesmo antes de ocorrer, a visita gerou debate, com críticos
acusando ambos os lados de ter memória seletiva e apontando paradoxos na
política nuclear.
Em seu discurso, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe disse que a
presença de Obama em Hiroshima "abre um novo capítulo na reconciliação
entre Estados Unidos e Japão". Já o americano afirmou que os dois países
"construíram não só uma aliança, mas uma amizade". Depois de
discursar, os governantes cumprimentaram sobreviventes do bombardeio atômico.

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