segunda-feira, 9 de maio de 2016

PRECISAMOS ENTRAR PARA O CÍRCULO VIRTUOSO



A PRIORIDADE DO CRESCIMENTO

Paulo Haddad 




Grande parte dos problemas que a economia brasileira vem sofrendo deriva da falta de crescimento, a qual induz a formação de diferentes círculos viciosos localizados muitas vezes em contextos inesperados. Quem introduziu com maior ênfase o conceito de círculo vicioso na análise econômica foi Gunnar Myrdal, economista sueco ganhador do Prêmio Nobel em 1974.
Myrdal caracterizou um círculo vicioso como uma sucessão, em geral ininterrupta e aparentemente infinita, de acontecimentos e consequências que sempre resultam numa situação que parece sem saída e sempre desfavorável, principalmente para quem se vê capturado por esse tipo de situação. Destacam-se em sua obra dois importantes círculos viciosos: as causalidades cumulativas em que pobreza gerava mais pobreza para os negros norte-americanos e em que o desenvolvimento das regiões e dos países mais pobres poderiam não convergir com o desenvolvimento das regiões e dos países mais ricos. Em outras palavras, assimetrias, desequilíbrios e desigualdades podem ser resilientes e cumulativas e podem não ter uma trajetória de equilíbrio convergente ao longo do tempo.
Esses processos estão ocorrendo crescentemente em diversas variáveis relevantes da economia brasileira na atualidade. Vejam, por exemplo, a situação financeira dos Estados brasileiros. Como a recessão econômica brasileira tornou-se longa, profunda e imprevisível, o seu rebatimento perverso sobre as economias subnacionais (Regiões, Estados e Municípios) tende a se tornar inevitável. Esse rebatimento pode ter maior ou menor amplitude dependendo das características estruturais e diferenciais das economias estaduais.
A recessão chega aos Estados por diferentes mecanismos de transmissão resultantes do declínio da economia brasileira. Cai a arrecadação do IPI e do Imposto de Renda, caindo também as transferências para Estados e Municípios. O ambiente de negócios para novos investimentos que estavam programados para alguns Estados se reverte na direção do desalento e da falta de confiança, o que leva ao adiamento desses investimentos com os seus impactos adversos sobre a expansão do emprego, da renda, da base tributável. Assim, sucessivamente, vai se configurando um círculo vicioso de desenvolvimento no qual todos os indicadores socioeconômicos conspiram a favor da relativa estagnação e da decadência econômica das economias estaduais. Os impactos podem ser maiores ou menores em cada Estado, mas de qualquer forma são inexoráveis.
Com a perda da autonomia decisória em matéria de política econômica e financeira, os Estados passam a ter um grau limitado de participação na formulação das políticas anticíclicas na atual crise econômica. Esperam, contudo, que o Governo Federal abra canais de negociação eficazes em termos fiscais e financeiros para que possam vir a negociar racionalmente o reequilíbrio de suas finanças públicas e os seus programas e projetos de investimento visando a atenuar as mazelas sociais de um ciclo recessivo de suas economias.
O ponto de partida para a reversão desse círculo vicioso é a retomada sistêmica do processo de crescimento da economia nacional. O ajuste fiscal é um dos resultados intermediários para que se chegue ao resultado finalístico de um círculo virtuoso de crescimento sustentado do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...