Temer terá R$ 95 bi para
construir legado
Bruno Moreno
Em meio à crise fiscal e econômica do país, o presidente interino Michel
Temer (PMDB) pode ter até R$ 95 bilhões de recursos com flexibilidade no
orçamento federal para alocar nas rubricas que julgar estratégicas. Esse deverá
ser o montante à disposição do peemedebista para tentar reanimar a economia e
deixar a marca em seu governo, principalmente com a realização de obras.
Dos R$ 144,4 bilhões previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA) 2016 para
uso discricionário, ou seja, sem comprometimento com rubricas específicas,
aproximadamente R$ 40 bilhões (34,2%) já foram empenhados pelo governo da
presidente Dilma Rousseff (PT) – afastada na última quinta-feira pelos
senadores para que seja julgada por crime de responsabilidade. Desse total,
15,2% já foram liquidados e 14,1% pagos.
Por isso, Temer tem a autorização da LOA 2016 para investir o valor de
R$ 95 bilhões em verbas discricionárias. A conta é do pesquisador da Diretoria
de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV), Wagner
Oliveira, com base em dados do Siga Brasil, do Senado Federal.
Ao mesmo tempo, o governo federal prevê um déficit primário de mais de
R$ 96 bilhões. No entanto, os recursos discricionários não podem ser utilizados
para cobrir o rombo. “Se o recurso discricionário for utilizado para pagar
o déficit, congela tudo o que é discricionário. Não dá para fazer isso, até
porque é uma conta bem diferente, que leva em consideração outras questões”,
argumenta Wagner.
Ao mesmo tempo, ele pondera que é muito pouco provável que Michel Temer
consiga utilizar todo o valor de R$ 95 bilhões discricionários até o fim do
ano. De acordo com o pesquisador, historicamente os governos empenham mais
recursos discricionários do que foram empenhados neste ano até o dia 12 de
maio, e isso pode ter a ver com a dificuldade fiscal pela qual atravessa o
país. “O que é talvez menos usual é o fato de pagar ou empenhar poucas
despesa discricionárias, mas faz parte da conjuntura”, avalia.
Comprometimento
O total do orçamento federal para 2016, de acordo com o Ministério do
Planejamento, é de R$ 2,8 trilhões. No entanto, os pesquisadores da DAPP da FGV
retiram da conta o refinanciamento da dívida, que soma em torno de R$ 700
bilhões. Por isso, a conta deles para 2016 é feita com base em pouco mais de R$
2 trilhões.
Desse total, algo em torno de 7% correspondem ao recurso discricionário.
Mais de 90% são recursos que já têm “endereço”, como saúde e educação, por
exemplo. O governo de Michel Temer pretende propor a desvinculação de
receitas. No entanto, esse é um processo mais longo, que envolve também mudança
na Constituição e, se houver alteração, o impacto só será sentido no orçamento
de 2017. Nos próximos dias a DAPP/FGV deverá publicar um estudo detalhado sobre
o tema.
Outra possibilidade para aumentar o caixa do governo é o aumento de tributos. O novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deixou claro na última sexta-feira que há a possibilidade de novos impostos, mas de forma temporária.
Outra possibilidade para aumentar o caixa do governo é o aumento de tributos. O novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deixou claro na última sexta-feira que há a possibilidade de novos impostos, mas de forma temporária.
Desempenho da economia no segundo semestre vai ditar o ritmo de gastos
do novo governo
Dos R$ 2,8 trilhões do orçamento federal previstos para este ano, o
presidente interino Michel Temer (PMDB) poderá empenhar R$ 1 trilhão, o
equivalente a 35%. Até o último dia 4 de maio, o governo Dilma Rousseff (PT)
havia empenhado o equivalente a R$ 1,8 trilhão (65%).
De acordo com o Tesouro Nacional, o empenho é o primeiro estágio da
despesa, e cria para o Estado a obrigação de pagamento. Para o mestre em
Ciências Contábeis e especialista em orçamento público Thiago Borges, o
percentual de 60% empenhado até meados de maio não foge à regra, já que muitas
despesas são empenhadas nos primeiros meses do ano e pagas ao longo da vigência
do orçamento.
Na análise dos números do Ministério do Planejamento, o órgão que mais
empenhou recursos em 2016, relativamente, foi a Advocacia-Geral da União, em
que quase a totalidade dos recursos previstos já foram empenhados. Por
outro lado, curiosamente quem apresenta o menor percentual é o Ministério do
Turismo (Mtur). No ano dos Jogos Olímpicos no Brasil, o Mtur tem uma dotação
orçamentária de R$ 934 milhões, mas só empenhou R$ 223 milhões, e ainda tem a
possibilidade de utilizar R$ 711 milhões.
O ministério que mais destinou recursos neste ano foi o do Trabalho e
Previdência Social, em que R$ 188 bilhõe[TEXTO]s já estão empenhados. Na
opinião de especialistas, o segundo semestre será crucial para determinar como
será o ritmo de gastos do orçamento federal. Se a economia do país
melhorar, e a arrecadação aumentar, é possível que não seja necessário ampliar
o contingenciamento, que teria impacto direto nos pagamentos.
No entanto, o governo Temer já anunciou, na última semana, que enviará
ao Congresso Nacional uma nova meta fiscal. Anteriormente, o valor do déficit
previsto era de R$ 60,2 bilhões. No mês passado, o governo Dilma solicitou aos
parlamentares a autorização para um déficit de R$ 96 bilhões, que ainda não foi
aprovado pelos congressistas. Mas ministros de Temer já disseram que o valor
pode ser maior.

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