Tiros no velório
Bernardo Mello Franco
BRASÍLIA - Se depender do ministro da Justiça, o governo vai cair atirando. A uma
semana da votação do impeachment no Senado, Eugênio Aragão diz que a presidente é alvo de
uma "acusação ridícula" e será afastada num processo
"viciado".
Há 50 dias no cargo, o ministro volta a metralhadora contra a
Procuradoria-Geral da República, o Supremo Tribunal Federal e o vice-presidente
Michel Temer, prestes a assumir a cadeira de Dilma Rousseff.
Procurador de carreira, Aragão se diz em "estado de choque"
com a PGR, de onde se licenciou em março. Ele sustenta que não havia motivo
para investigar a presidente e diz que o vazamento do pedido de abertura de
inquérito foi uma "molecagem".
"Quem vazou isso teve um objetivo claro: interferir no processo
político. Foi criminoso. O momento é muito grave para que as instituições se
comportem como moleques", ataca.
"As acusações chegam a ser pueris. É uma história sem pé nem
cabeça. A presidente nunca fez nenhum pedido para obstruir investigações. Temos
todos os motivos para acreditar que o processo é político", afirma.
Para o ministro, o STF foi conivente com abusos no processo de
impeachment. "O Supremo lavou as mãos", critica. "Infringir o
processo legal é muito grave, e ele está sendo violado o tempo todo. Mas só
quiseram cuidar do aspecto formal".
Aragão também contesta as declarações de ministros do tribunal de que as
instituições brasileiras estão funcionando bem. "É claro que não estão.
Isso cheira a piada", afirma.
Ele se diz indignado com a desenvoltura de Temer, que distribui convites
para seu futuro governo. "Isso é muito feio. É muito deselegante, para
dizer o mínimo", ataca.
O ministro promete deixar um relatório de gestão, mas não transmitirá o
cargo ao sucessor. "O que está sendo feito é um processo vil, um assalto a
um governo constitucional. Não tem transição. O que tem, quando muito, é um
velório", afirma, sobre o provável fim da Era Dilma.

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