Impeachment foi 'jeitinho'
na Constituição, diz 'Economist'
11.mai.2016 - Congresso Nacional durante a votação da admissibilidade do
processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff
A revista britânica The Economist afirma, em edição publicada
nesta sexta-feira, que o afastamento da presidente Dilma Rousseff foi um
'jeitinho' dado na Constituição.
O impeachment de Dilma Rousseff, uma presidente impopular que não foi
pessoalmente acusada de malfeitos sérios, é um 'jeitinho' na
Constituição", diz o texto, usando o termo em português.
"Muitos dos políticos que votaram pelo impeachment recorrem a esses
jeitinhos de forma incansável, por exemplo com as leis de financiamento de
campanha", completa.
A presidente foi afastada pelo Congresso sob acusação de ter editado
créditos suplementares sem autorização do Congresso e de ter usado recursos de
bancos públicos - as chamadas "pedaladas fiscais". Sua defesa alega
que isso não constitui crime de responsabilidade.
Nesta semana, o ministro interino Romero Jucá (PMDB-RR) caiu após
revelações de diálogos em que ele dizia que a mudança de governo era necessária
para "estancar a sangria" da Lava Jato.
O texto da Economist fala sobre palavras que só existem em
português, como saudade, cafuné e jeitinho - "uma forma de contornar algo,
normalmente uma lei ou regra".
Afirma que o jeitinho tem uma conotação de ingenuidade mas também de
ilegalidade e que é uma marca da identidade nacional.
Cita como exemplo restaurantes que oferecem refeições a policiais que em
troca patrulham suas ruas, empresas abertas com uso de "laranjas"
para pagar menos impostos e pessoas que usam crianças ou idosos para evitar
filas.
A publicação diz que, segundos alguns especialistas, os católicos,
tentados a considerar a confissão como alternativa à obediência às leis, são
mais suscetíveis ao uso do jeitinho. O artigo prossegue dizendo que sociedades
mestiças como o Brasil tendem a ser mais flexíveis - tanto com a lei quanto com
a etnicidade. E afirma que talvez a desigualdade tenha seu papel (a lógica
seria: se os ricos e poderosos quebram a lei, por que as pessoas comuns não
fariam isso?).
Mas conclui que o uso do 'jeitinho' pode estar ficando mais difícil, não
apenas devido a investigações como a Lava Jato mas também pelo uso da
tecnologia, como câmeras e radares para multar e sistemas como o E-Poupatempo
(sistema online do governo de São Paulo).
A revista cita o antropólogo Roberto DaMatta para dizer que o Brasil pode
estar caminhando para um sistema anglo-saxão, onde as leis "são obedecidas
ou não existem".
"Se isso acontecer, a satisfação que muitos brasileiros vão sentir
pode ser tingida com cores de saudades", conclui a revista.

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