Apelando a São Longuinho
Manoel Hygino
Os problemas enfrentados pelo Brasil hoje não se medem por números, tal
a extensão, profundidade e, principalmente, complexidade. A que ponto chegamos,
para onde vamos, quais são as propostas de solução, quais as perspectivas de
solução pelo menos duradouras? Quem poderia responder?
O “New York Times”, na edição do dia 3 deste mês, em extensa matéria,
registrou – em linhas gerais – que corrupção e crise “devastaram as ambições
globais do Brasil”. Há perigosa borrasca e dela só escaparão os que usufruem
dos malefícios causados ao povo em benefício pessoal de seu grupo de perversos
que nada pensam, sequer sabem o que é pátria e solidariedade.
Este um motivo de temor quanto ao que está por vir. Repetir Rui Barbosa
não cansa, embora se reconheça de antemão que não sensibilizaremos em favor dos
que querem e precisam de paz, de trabalho e do direito de segurança, educação e
saúde.
Estamos imensamente distantes de Rui Barbosa e seus ensinamentos
O grande baiano já ensinava: “A pátria não é um sistema, nem uma seita,
nem um monopólio, nem uma força de governo; é o céu, o solo, o povo, a
tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos, é o túmulo dos
antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem
são os que não invejam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas
resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam
a justiça, a admiração, o entusiasmo. Porque todos os sentimentos grandes são
benignos e residem originariamente no amor”.
Estamos imensamente distantes de Rui e seus ensinamentos. Um grande
mestre de direito da nossa época, Adilson Abreu Dallari, porém, focalizou o
tema. E o fez com lucidez e coragem próprias, ao afirmar: “A desmedida
pluralidade de partidos ultrapassa os limites da liberdade e adentra o campo da
libertinagem. A hipocrisia campeia”. “A quase totalidade das siglas nada
representa, mas serve para negócios espúrios no tocante ao Fundo Partidário e
ao tempo de propaganda eleitoral”.
À frente, registra: “O chamado presidencialismo de coalizão se apresenta
como um retumbante fracasso. Coalizão é, na verdade, um eufemismo, para
cooptação. O Executivo não tem saída senão comprar apoios, na melhor das
hipóteses, com sacrifício do planejamento e da racionalidade nas receitas e
gastos públicos. Mas, em compensação, ganha inimputabilidade, pois, como se tem
observado, a perda do mandato, pelo cometimento de crime de responsabilidade
(que é fundamental no regime presidencialista) tem sido explorado como atentado
à democracia, como se o voto popular garantisse a absoluta imputabilidade do
governo ímprobo”.
Conclui-se que, para encontrar as virtudes e causas perdidas, teríamos
de apelar a São Longuinho, que viveu no primeiro século e foi contemporâneo de
Cristo. No Brasil, quando se perde alguma coisa e não a localizamos, de jeito
nenhum, apela-se ao santo. Quando o que se perdeu reaparece feito mágica
agradece-se, dando três pulinhos, acompanhados de três gritinhos. Mas o
agradecimento não se tem visto entre nós, ultimamente.

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