A promessa de parar o
Brasil
Editorial Jornal
Hoje em Dia
A presidente Dilma Rousseff deu, nos últimos dias, mostras concretas de
que não estava blefando quando declarou que deixaria um eventual governo Temer
“à mingua”. Um dos episódios foi a declaração de Ricardo Berzoini – um de seus
principais aliados – de que o PT tornará impraticável o processo de transição,
sonegando deliberadamente informações gerenciais à equipe do Vice. Outro
episódio, relatado nesta edição do Hoje em Dia, foi a decisão do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) de suspender obras
nas principais rodovias do país.
A autarquia diz que não tem como honrar os compromissos oficiais feitos
com as empreiteiras e sugere a paralisação de projetos licitados – que já
andavam lentamente após o corte de R$ 21 bilhões no orçamento de 2016,
anunciado em março.
Ao todo, a medida vai afetar 61 contratos de obras em onze estados.
Dentre elas está a tão esperada duplicação da BR-381, entre Belo Horizonte e
Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Parece mentira, mas quem mora ao
longo da “Rodovia da Morte” ou é obrigado a passar com frequência pelo trecho
não deve se assustar tanto com mais esse adiamento.
A vontade de tornar a BR-381 norte uma estrada em condições mais humanas
de tráfego vem atravessando gerações e já acompanhou inúmeras trocas de gestão
pública em todos os níveis, sem que jamais fosse levado a cabo. Há dois anos, a
intenção começou a virar realidade, mas desde sempre o projeto foi assombrado
por incontáveis denúncias de má gestão, ameaças judiciais e inabilidade
política.
Com o anúncio da paralisação a sociedade civil será obrigada, mais uma
vez, a se mobilizar intensamente para exigir da União que não abandone o que
começou a tão duras penas. Há esqueletos de viadutos, trechos com terraplanagem
por terminar, desvios improvisados e toda a sorte de “indícios de obras”
espalhados pelos lotes já entregues às empreiteiras. Esforço que pode ser
perdido ou exigir retrabalho quando a consciência e a responsabilidade
retornarem às cabeças que governam esse país.
A insatisfação de Dilma e do PT com a forma como o processo de
impeachment está sendo conduzido não pode e não deve ser justificativa para que
se imponha tão pesada vingança, que tem mais potencial para prejudicar à
população brasileira do que a Michel Temer ou ao PMDB.
O Brasil já está à mingua e não merece ser soterrado com o que resta da
dignidade do atual governo, que pode estar de saída.
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