Vaidade ou doença?
Simone Demolinari
Vivemos numa sociedade do espetáculo onde a aparência é cultuada e
supervalorizada. Alguém fora dos padrões estéticos convencionados está sujeito
a severos julgamentos, tendo, por vezes, sua conduta moral atrelada à sua
aparência física.
A moralização da imagem é algo tão condicionado que é comum ouvirmos
frases do tipo: “Pessoa que se veste ‘assim’ não é confiável”. Dessa forma,
quanto mais o indivíduo se enquadrar nos moldes impostos, menos julgado e mais
aceito ele será. Na busca por essa aceitação muitos exageram e vão além da
vaidade, chegando a obsessão e a doença. Vejamos alguns exemplos:
– Anorexia: a busca da magreza para chegar ao corpo perfeito, porém a
perda de peso é feita através de uma redução drástica da alimentação e longos
períodos em jejum. O quadro se agrava quando o indivíduo, mesmo muito magro,
não consegue parar de emagrecer. Continua se percebendo gordo mesmo estando com
os ossos à mostra.
– Bulimia: a doença se apresenta em dois ciclos, onde a primeira é a
ingestão exagerada de comida e a segunda, o vômito forçado. Existe a bulimia
não purgativa quando o indivíduo ao invés de vomitar, toma remédios, laxante ou
diurético no intuito de perder a gordura ingerida. É uma doença silenciosa que
demora para ser percebida pelos familiares.
– Drunkorexia: também conhecida como anorexia alcoólica. A palavra
“drunk” vem do inglês que significa “bêbado”. O termo foi criado nos EUA para
definir distúrbios alimentares associados ao álcool. Pessoas com intuito de
perder peso optam pelas bebidas alcoólicas ao invés da comida. A diferença
entre a drunkorexia e o alcoolismo é que no primeiro a ingestão da bebida está
ligada ao fato de querer emagrecer.
– Vigorexia: conhecida vulgarmente como o “distúrbio das academias” é
também chamada de anorexia reversa ou síndrome de Adônis (em referência ao mito
grego famoso por sua beleza). A característica principal é a preocupação
excessiva com o ganho de massa muscular. Indivíduos acometidos por este
transtorno, mesmo estando fortes fisicamente, se veem magros e continuam em
busca de músculos. Como toda ditadura da beleza o ideal se sobrepõe ao risco,
pessoas com vigorexia geralmente lançam mão de anabolizantes sem se preocuparem
com os problemas decorrentes disso.
– Transtorno Dismórfico Corporal (TDC): também conhecido como
dismorfofobia ou síndrome da distorção da imagem. O termo “dismorfia” vem do
grego onde “dys” significa “inadequado” e “morphé”, “aspecto”. O indivíduo que
sofre com esse transtorno distorce sua imagem criando para si uma imperfeição
imaginária e uma obsessão em corrigi-la. Um clássico exemplo é o cantor Michael
Jackson. Seu desconforto com a própria imagem era tão grande que ele corrigia
uma cirurgia com outra numa busca interminável pelo ideal. Outro exemplo são as
pessoas que buscam a aparência de bonecos (barbie e ken). É importante
ressaltar que o procedimento cirúrgicos não cessa o transtorno, ao contrário,
costuma piorar, pois uma cirurgia é um incentivo para outra.
É importante tratar esses casos com sensibilidade. Pessoas com problemas
de aceitação da própria imagem são sofredores que se odeiam o tempo todo.
Certamente precisam mais de acolhimento e ajuda do que de julgamentos.
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