Crise econômica sobe os
morros das cidades históricas mineiras
Giulia Mendes
Pousadas menores são
as que mais sofrem com a crise financeira
As cidades históricas de Minas Gerais, que têm no turismo uma das
principais fontes de renda, viram a crise econômica subir as ladeiras no ano
passado. E com base nos três primeiros meses deste ano, empresários esperam um
impacto ainda maior ao longo de 2016.
Para atrair os visitantes, pousadas e hotéis de Diamantina, Mariana,
Ouro Preto, São João del-Rei e Tiradentes, que sofrem com a recessão, já
reduziram os valores das diárias, inclusive para a Semana Santa, que
historicamente é uma data de grande movimento e faturamento para o setor e o
comércio.
Em Ouro Preto, na região Central do Estado, a ocupação caiu entre 30 e
35%, em janeiro e fevereiro deste ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria
de Hotéis de Minas Gerais (Abih-MG), na comparação com o ano passado. No
Carnaval de 2016, a queda foi de 70%.
César Trópia, proprietário da Mezanino, que fica a 70 metros da Praça
Tiradentes, em Ouro Preto, conta que nunca havia passado por crise como esta.
Na pousada dele, a diária para duas pessoas caiu de R$ 195, no fim do ano
passado, para R$ 160 este ano. “Minha expectativa era passar a tarifa para R$
200, mas ultimamente tenho abaixado cada vez mais”.
Para Trópia, outra dificuldade é manter o fluxo de caixa. “Os hóspedes
não fazem mais reservas com antecedência, só em cima da hora. E pedem para
parcelar mais vezes. No ano passado, a essa altura, eles já teriam quitado a
reserva para a Semana Santa, antes mesmo do Carnaval”, lamentou.
Ocupação nos hotéis de Ouro Preto caiu cerca de 30% nos dois primeiros
meses do ano
Barragem
Hotéis e pousadas da vizinha Mariana também registraram queda de 50% na
ocupação. Além da crise, o turismo foi afetado pelo rompimento da barragem da
Samarco, localizada no distrito de Bento Rodrigues, em novembro de 2015.
“É uma série de fatores negativos. A redução da diária média vem
afetando, sim, o equilíbrio dos empreendimentos. Mas agora não acreditamos que
seja o momento certo para aumentar o preço das diárias”, recomenda a presidente
da Abih-MG, Patrícia Coutinho.
Segundo o presidente do Sindicato dos Empregados em Turismo e
Hospitalidade de Ouro Preto e Região, Octaviano Mendes, muitos turistas
cancelaram a visita a Ouro Preto com medo de uma nova “catástrofe” com
barragens de rejeitos de mineração.
“Quem nunca visitou acha que região toda corre perigo por estar próximo
a Mariana. Conheço pessoas que viriam para a Semana Santa e para o tradicional
Festival de Inverno, mas desistiram por causa do ocorrido no ano passado em
Bento Rodrigues. A cidade de Congonhas também está na mesma situação”, disse.
Epidemia também tira turistas dos municípios mineiros
A epidemia de zika, chikungunya e dengue no país é mais um motivo para
espantar os visitantes, especialmente estrangeiros, argumenta o vice-presidente
da Associação Empresarial e Comercial de Ouro Preto, Raimundo Saraiva, que
também é proprietário do hotel Luxor e da pousada Minas Gerais.
“Com a alta do dólar, era de se esperar que mais turistas estrangeiros
visitassem a região. Em vez disso, percebemos uma queda. Nossa expectativa é a
de que o movimento volte com a temporada de eventos, em meados de 2016”.
Em outro roteiro tradicional de Minas, Tiradentes, na região do Campo
das Vertentes, a queda na ocupação foi de 30% em relação a 2015. “Tiradentes
costuma ter uma ocupação muito boa por causa da questão cultural, da
gastronomia, dos eventos, mas, mesmo assim, os empresários sentiram a queda.
Cada hotel tem uma especificidade de público. Alguns não sentiram o impacto da
recessão econômica porque o público deles não está em crise”, explicou a
presidente da Abih-MG, Patrícia Coutinho.
Não é o caso do proprietário da pousada Encantos de Minas, Geraldo
Fonseca, que precisou dispensar dois funcionários este ano. Agora, só trabalham
ele e mais uma pessoa.
“Normalmente, nesta época do ano, estaria com todas as reservas
preenchidas e já indicando outras pousadas. Mas estou apenas com 50% da
ocupação para o feriado. Aos finais de semana, recebo no máximo dois hóspedes.
Nem as promoções em sites de compra coletiva estão tendo saída”, contou.
“Enquanto isso, os custos com lavanderia, energia e fornecedores
continuam subindo”, completou Fonseca.
Confiança
Já Lourenço Gontijo, proprietário da Oratório Pousada Boutique, também
em Tiradentes, manteve o tarifário do ano passado – R$ 765 o fim de semana –
porque sentiu uma pequena queda no movimento.
Contudo, durante o feriado de Páscoa ele estará com a casa cheia e não
espera que os impactos da recessão em seu negócio sejam grandes em 2016.
“As cidades históricas estão sentindo a crise, pois as pessoas estão
viajando menos. Mas, talvez, pousadas menores estejam sendo mais impactadas.
Para mim, o movimento mais forte começa agora, a partir do fim de março. Estou
confiante”.
Pousadas menores são as que mais sofrem com a crise financeira em
Tiradentes
Menos confortáveis, hostels e repúblicas são opções baratas
O setor hoteleiro sofre com a concorrência dos hostels e repúblicas,
onde muitos jovens, grupos de amigos ou famílias preferem se hospedar por causa
do preço. Eles não se importam em compartilhar o mesmo quarto nem de abrir mão
de um café da manhã mais caprichado.
“Realmente no hostel o valor da estadia sai bem mais barato. Grandes
redes de hoteis como a Hilton e a Accor estão apostando em hostels agora. É uma
tendência. O compartilhamento está na moda”, afirma Patrícia Coutinho,
presidente da Abih-MG.
Em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e Ouro Preto as repúblicas
conseguem abocanhar boa parte dos turistas que buscam diversão durante o
Carnaval. Mas fora desta época também há quem prefira gastar menos e dividir o
espaço até com desconhecidos.
“Famílias inteiras ou grupos de amigos que vêm para Ouro Preto para
formaturas ou festivais costumam procurar repúblicas e hostels, pois não se
importam em dividir o quarto. É um público diferente”, disse César Trópia, da
pousada Mezanino.
Ele conta que já adaptou a pousada para um desses grupos para não perder
as estadias. “Uma família de 30 pessoas procurou minha pousada e abaixei o
preço. Cobrei R$ 50 por pessoa com um café da manhã bem simples”.



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