Paulo Haddad
Os regimes econômicos de países
diversos podem se diferenciar em um painel quanto a três dimensões básicas
mesmo quando são classificados como capitalistas ou economias de mercado. A
primeira dimensão se refere aos mecanismos e aos instrumentos de redução das
desigualdades sociais e da redução da pobreza e da miséria. Alguns regimes
econômicos nacionais se preocupam apenas em lidar com os problemas sociais dos
idosos, dos incapazes e dos deficientes físicos, deixando que os estímulos e a
dinâmica dos mercados promovam autonomamente uma distribuição mais equânime da
renda e da riqueza nacional no longo prazo. Outros formulam e executam
poderosas e abrangentes políticas sociais compensatórias que acabam absorvendo
parcelas expressivas dos recursos fiscais e financeiros dos governos.
A segunda dimensão está relacionada
com as falhas de mercado, tais como a formação de monopólios, a exploração
predatória dos ecossistemas, os elevados custos sociais e ambientais das atividades
empresariais, a insaciável especulação financeira, etc. Há regimes que são mais
tolerantes com essas falhas no funcionamento dos mercados, mas muitos há que
impõem estruturas regulatórias para o exercício do comando e controle da
economia visando a preservar a qualidade dos bens e serviços, a conservar o
meio ambiente, a garantir a defesa do consumidor, etc.
A terceira dimensão se refere a quais
responsabilidades os governos devem assumir sobre a instabilidade dos ciclos
econômicos e seus impactos perversos sobre os níveis de desemprego. Nos EUA, o
Federal Reserve (o Banco Central norte-americano) conduz a política monetária
com um olho na inflação e outro na manutenção do pleno emprego na economia. Por
outro lado, alguns países concentram os seus instrumentos de política econômica
apenas na perseguição das metas inflacionárias, utilizando preferencialmente
poucas regras discrionárias para evitar intervenções mais frequentes e
erráticas nos mercados.
A experiência histórica mostra muitos
casos de sucesso de economias nacionais capitalistas com forte intervenção
governamental que crescem com estabilidade, distribuindo equitativamente os
frutos do crescimento entre os diversos grupos e classes sociais. As escolhas
entre os diferentes paradigmas de desenvolvimento resultam de fatores
históricos, políticos e culturais específicos em cada país.
Graves problemas surgem, contudo, se
essas escolhas paradigmáticas são modificadas inconsistentemente ao longo do
tempo de um mesmo mandato presidencial como tem ocorrido no Brasil ao longo do
último lustro.
Haja visto o que tem ocorrido nos
últimos anos no comportamento político-ideológico cambiante e voluntarista do
governo federal quanto aos processos de privatização (no caso de petróleo e
gás, por exemplo), quanto às intervenções casuísticas no sistema de preços dos
setores de energia, quanto ao regime de concessões da infraestrutura econômica,
etc. As regras do jogo foram se modificando em função da vocalidade política
ocasional e oportunística dos interesses velados de pequenos grupos com intensa
militância partidária junto a governantes fragilizados.
Daí à formação de um ambiente de desconfiança e de incertezas é um passo, que pode eventualmente paralisar a economia do país que passa a investir menos, a consumir menos e a empregar menos numa dinâmica de marcha a ré.
Daí à formação de um ambiente de desconfiança e de incertezas é um passo, que pode eventualmente paralisar a economia do país que passa a investir menos, a consumir menos e a empregar menos numa dinâmica de marcha a ré.
Enfim, é sempre possível governar com
um mosaico de ideologias pró-mercado e pró-comando e controle, mas não com a
escolha casuística, inconsistente e voluntarista de paradigmas.

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