José Antônio Bicalho
Navegando sob a tempestade política, o
barco da economia vaza água por todos os lados. Essa terça-feira (15) foi um
dia duríssimo. Mas se é verdade que tudo que fragiliza o governo é bem recebido
pelo mercado, a queda acentuada da bolsa e a alta do dólar mostram um refluxo
na tese do impeachment. O mercado acredita que o governo Dilma se fortalece com
a possibilidade de Lula ocupar a Secretaria de Governo.
Às 17h10, enquanto escrevo essa
coluna, o dólar disparava 3%, a R$ 3,761, e o Ibovespa despencava 3,58%. Ou
seja, o efeito Lula havia sido suficientemente forte para contrabalançar o
furacão gerado pela homologação da delação premiada do senador Delcídio do
Amaral pelo STF e pelo vazamento das gravações do ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, tentando comprar o silêncio de Delcídio.
Qual a leitura do mercado? Que não
resta alternativa ao governo Dilma senão uma guinada à esquerda na política
econômica, e que isso poderá fortalecer a presidente. Com ou sem o ministro da
Fazenda Nelson Barbosa, o governo precisaria usar toda a capacidade econômica e
os instrumentos financeiros que lhe resta para reanimar a economia. E estes não
fazem parte da cartilha ortodoxa.
Dilma ainda estaria insistindo numa
agenda econômica morna e insossa por falta de amparo político para uma
radicalização. E Lula, na Secretaria de Governo, seria esse amparo.
Desemprego
Nessa terça-feira (15) também tivemos
a notícia de que a taxa média de desemprego no Brasil subiu para 8,5% em 2015,
contra 6,8% no ano anterior. O número médio de desempregados no ano passado
subiu para 8,59 milhões, contra 6,74 milhões um ano antes.
Os números do IBGE mostram, ainda, uma
aceleração do número de desempregados ao longo do ano. Na média do último
trimestre, o número de desempregados já teria atingido os 9,09 milhões, contra
6,45 milhões no mesmo período de 2014, um aumento de 40,8%.
Mas vamos prestar atenção a outro
número que relativiza a questão do desemprego. De acordo com o levantamento, o
número de ocupados caiu apenas 0,6% no quarto trimestre de 2015, para 92,274
milhões de pessoas, contra os 92,875 milhões do mesmo período do ano anterior.
Já o nível de ocupação, que é o indicador que mede a fatia da população ocupada
em relação à população em idade de trabalhar, ficou em 55,9% na média do último
trimestre, contra 56,9% em igual período do ano anterior, uma diferença de
apenas um ponto percentual.
Não tão ruim
O que podemos extrair de tais números?
Se a taxa de desemprego aumentou numa velocidade muito superior que a do
fechamento de postos de trabalho, isso só se justifica por conta da entrada de
novas levas de pessoas inativas em busca de trabalho. Isso sempre acontece em
períodos de instabilidade econômica. Com medo de perder o emprego, o pai de
família coloca seus filhos e esposa, que estavam estudando e tomando conta do
lar, para procurar emprego. Daí a diferença. A leitura dos números do
desemprego deve ser minuciosa para que não tenhamos uma visão distorcida do
tamanho do problema social.

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