Manoel Hygino
Os mais recentes acontecimentos deixam
uma imagem crescentemente duvidosa sobre o futuro do Brasil, atingido pela mais
avassaladora crise ético-política que a história registra. Parece, contudo,
positivo que as instituições resistem, a despeito dos apelos furiosos de
acusados pela vindita.
Por muito menos, Getúlio se matara em
1954. E em março de 1987, a situação também se agravou, evidentemente muito
distante em dimensão e profundidade da extensão da crise dos dias de hoje.
No governo Sarney, houve uma série de
denúncias, enfatizados em reportagens na “Folha de S. Paulo”, “um festival de
descalabros”, na opinião do jornalista Gilberto Dimenstein, que resultou no
livro “República dos Padrinhos”, que exigiu várias edições. Então, foi
elaborado um rol dos beneficiários de dinheiros públicos desviados ou mal
empregados. O repórter declarou: “A lista da fisiologia”, como foi batizada
pela Folha, seria marco para uma guerra sangrenta. Uma guerra que desnudou a
batalha de lobbies que envolvem os ministérios, a ponto de os inquéritos da
Polícia Federal se reproduzirem velozmente”. Na batalha, envolveu-se o alto
escalão da República, inclusive o próprio presidente.
Constituiu-se uma Comissão Parlamentar
de Inquérito, presidida pelo senador José Ignácio Ferreira. Este afirmou ser
“inevitável” a convocação de Jorge Murad, secretário particular de Sarney, seu
genro, e auxiliar predileto. Propalara-se que Jorginho estaria envolvido numa
“negociata” de U$ 3 bilhões, operada por seu protegido Michel Gartenkraut,
ex-secretário-geral do Ministério do Planejamento. Admitia-se que, caso
confirmada, a convocação de Murad para depor na CPI da Corrupção acenava com a
possibilidade de um suicídio, como o de Vargas, ou renúncia. Nem uma, nem
outra.
Formado o clima de tempestade no
Planalto, o senador Ulysses Guimarães aconselhou clama: “Take it easy”. O
ambiente era quente no Congresso e no Palácio, Lembra-se de que Sarney tinha
comprado benfeitorias, em 1975, na Fazenda Maguary. O presidente contestou que
não comprara a terra, mas as benfeitorias, por saber da existência de problemas
legais.
Pólvora por todos os lados e Antônio
Carlos Magalhães, ex-governador da Bahia, em plena atividade. O baiano se
tornou famoso por ser duro nas respostas,tanto que apelidado de Toninho
Malvadeza. Acusado de favorecimentos, seu opositor Jutahy, também Magalhães,
admitia que não existiam provas de corrupção contra o já ministro de Sarney,
mas suspeitava de posses em nome de testas-de-ferro e parentes.
Houve o caso de Paulo Gabem Souto,
também baiano, seu amigo, ex-diretor da OAS, cujos proprietários eram César
Araújo Pires, genro de Antônio Carlos e sócio de seu filho, Eduardo Magalhães,
na TV Bahia, retransmissora da Globo. Entrevistado pela Folha sobre o novo
superintendente da Sudene e por suas ligações com a atividade privada de sua
família e com o diretor da OAS, Antônio Carlos se exaltou: - Ele é diretor de
uma empresa que é muito injustiçada por vocês, porque vocês não poupam
injustiças quando querem ferir uma pessoa. “Ele trabalhou na parte de
consultoria da OAS, que só faz dignificá-lo”. Concluiu: “Eu repito a pergunta
com a energia do homem de bem”.

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