Atravessou o samba
Bernardo Mello Franco
BRASÍLIA - Até o início da semana, Dilma Rousseff enfrentava a crise econômica, a
Lava Jato, a oposição oficial e a ala pró-impeachment do PMDB. Agora ela está
prestes a conquistar um quinto inimigo: o Partido dos Trabalhadores.
As relações entre a presidente e a própria legenda nunca foram tão
ruins. Dilma já enfrentava forte bombardeio desde que prometeu mexer na
Previdência. Nesta quarta, a tensão chegou ao limite. O estopim foi o acordo
para aprovar, no Senado, um projeto que permite reduzir a participação da Petrobras
no pré-sal.
O governo se dizia radicalmente contra a proposta, apresentada pelo
tucano José Serra. Os senadores petistas passaram meses discursando a favor do
modelo atual, que reserva uma cota mínima de 30% para a Petrobras em todos os
consórcios.
Na noite da votação, o Planalto costurou um acordo que, na prática,
permitirá que empresas estrangeiras participem sozinhas dos próximos leilões. A
revolta no PT foi generalizada. Nem o novo líder do governo, Humberto Costa,
aceitou apoiar o combinado. "Eu não poderia ficar contra o governo e não
poderia ficar contra a minha bancada", disse, ao se abster de votar.
A reação do petismo foi feroz. O presidente do partido, Rui Falcão,
classificou o texto avalizado por Dilma como um "ataque à soberania nacional".
A CUT acusou o Planalto de traição. "O governo renunciou à política de
Estado no setor de petróleo e permitiu um dos maiores ataques que a Petrobras
já sofreu em sua história", atacou a central.
Ontem um ex-ministro da presidente definia o acordo como suicídio
político. "Se a Dilma quer se matar, problema dela. Mas não pode exigir
que a gente se mate junto."
O PT comemora o 36º aniversário amanhã, no Rio. Dilma está sendo
aconselhada a não dar as caras na festa. O partido contratou o cantor Diogo Nogueira
para tentar reanimar a militância, mas o acordo do pré-sal atravessou o samba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário