quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

NO ENSINO SOMOS OS MAIS POBRES DO MUNDO





Antônio Álvares da Silva*


Reportagem do Hoje em Dia (11/2) mostrou uma chocante e triste realidade, pela qual somos todos responsáveis: o Brasil foi muito mal na avaliação que fez a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que mediu o nível de aprendizado de 64 países. Ficamos no 59º lugar, com péssimas companhias: Jordânia, Catar, Colômbia, Peru e Indonésia. Lideraram a lista Xangai, Hong Kong, Coreia do Sul, Vietnã, Finlândia.

Nossos adolescentes vão mal em matemática, leitura e compreensão de texto e ciências, ou seja, falta-lhes a base para prosseguir nos estudos em qualquer ramo do conhecimento humano. Isto significa que mais de um milhão de estudantes de 15 anos estão sem perspectiva.

O estudo da matemática se faz por uma sequência lógica, da qual não se pode quebrar os elos. Por ela temos noção clara da representação da realidade e dos princípios pelos quais se desenvolve a técnica que se coloca na base de toda a cultura pós-moderna. Os alunos de um modo geral abominavam a matemática e o latim, alegando de dificuldade de compreensão. Acontece que tais obstáculos estão muito mais no método de ensino do que propriamente na matéria. A matemática é resultado da razão humana. Suas mais complexas teorias, abstratamente formuladas, começam sempre de uma realidade da vida que o professor perspicaz sabe perceber, solucionar e esclarecer ao iniciante. Basta ter a capacidade de despertar nele a curiosidade pela descoberta e mostrar que os conhecimentos matemáticos não nascem do vazio. Hoje há recursos e laboratórios para mostrar tudo isto. O ensino deixa de ser uma memorização para se transformar num encantado acesso ao desconhecido.

A compreensão de textos também tem hoje métodos próprios de desenvolvimento. Falar é um atributo inerente do ser humano, mas a linguagem em nível superior é uma aquisição cultural. E não se chega a ela sem leitura habitual, metódica e diária. Nenhuma língua em nível de padrão culto é fácil. A leitura tem que se transformar num prazeroso exercício diário até que, sem perceber, o jovem adquire o vocabulário e aprende a usá-lo na conexão com as demais palavras na sintaxe. A compreensão se torna uma consequência natural.

Uma pessoa nestas condições rompe os obstáculos que muitas vezes lhe barram o futuro. A linguagem dominada é chave com que se abrem todos os cadeados porque a comunicação é a expressão da realidade em todos os momentos da vida.

Diante da lastimável colocação, vem a pergunta: há salvação para o Brasil ou vamos continuar envergonhados até a consumação dos tempos? Vamos caminhar sempre na traseira dos povos mais bem preparados que andam à nossa frente? Só há uma resposta possível: é difícil superar o atraso, mas não impossível. É preciso estancar a corrupção a qualquer custo, pagar dignamente o professor, cuja atividade deve ser colocada em grau de prioridade máxima. Basta o leitor fazer uma simples conta: quantos professores do ensino básico poderiam ser pagos se extinguíssemos os cargos de confiança, alguns ministérios, as verbas perdidas com o Congresso Nacional e a corrupção da Petrobras?

Basta comparar o PIB brasileiro com o dos países que tiraram os primeiros lugares. Somos muito mais ricos do que eles. Então para onde vai o dinheiro? Uma coisa é certa: para o ensino e as escolas é que não vai. Seu destino é a corrupção, os gastos desnecessários, as contas na Suíça. Tudo se perde numa burocracia insaciável, que tudo leva e nada retribui.

Se não formos capazes de mudar, tudo vai continuar como está. Não existe nada pior para um jovem do que saber que para ele não existe futuro.

*Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...