Pesquisador diz que ondas
gravitacionais serão rotina na ciência
Agência Brasil
Segundo pesquisador,
ondas gravitacionais poderão ser vistas até uma vez por mês
O pesquisador do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Riccardo Sturani, foi um dos líderes da equipe brasileira
responsável por analisar os dados gerados pela detecção de ondas
gravitacionais, anunciada mundialmente nessa quinta-feira (11).
Segundo Sturani, italiano radicado no Brasil, os cientistas passaram a
enxergar objetos do universo que não emitem luz nem radiação eletromagnética e
“que não poderiam ser vistos de outra forma”. O valor da descoberta permitirá
que astrofísicos conheçam mais sobre a composição das galáxias, os buracos
negros e saibam mais sobre a dinâmica da gravidade teorizada por Albert Eistein
há 100 anos.
De acordo com o pesquisador, observações de ondas gravitacionais serão
rotineiras. “Quem sabe, teremos uma observação por mês”, prevê. Assim, cenas de
ficções científicas sobre o espaço podem se tornar comuns no trabalho dos
laboratórios, onde a medição de menos de um segundo de ruído pode fazer
diferença para sempre.
Como foi a contribuição do Brasil na pesquisa?
Riccardo Sturani: Eu cheguei ao Brasil, na Unesp, faz exatamente três anos.
Já colaborava com o Ligo (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory)
desde 2008 fazendo análise dos dados com modelos. Trabalhei com modelos porque
temos que saber o que procurar mais ou menos para ter como enxergar a onda, que
é fraquinha. Somos apenas dois grupos no Brasil. O país já estava participando
da pesquisa com o hardware. O pessoal do Ligo está baseado na América do Norte,
nos EUA, com equipe também na Europa, Japão, Índia.
E sobre parte do equipamento que detectou a onda?
Eu não fiz nada de hardware. O hardware ficou com o pessoal do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que conta com seis pesquisadores, o
Odyllo Aguiar é o pesquisador principal. O experimento é como uma régua, só que
mais apurada do que qualquer uma que exista na humanidade, pois ela pode medir
diferenças de distâncias inferiores a um núcleo de um átomo.
É a primeira vez que se detecta uma onda gravitacional na história da
astrofísica?
Já sabíamos das ondas gravitacionais ao observar os sistemas binários na
nossa galáxia. Mas foi a primeira vez que uma onda gravitacional que chegou à
Terra foi detectada e medida.
Podemos dizer que a pesquisa científica avançou com essa técnica?
Temos agora um novo jeito de explorar o universo. É como se até hoje
você não pudesse ouvir nada e, depois de um tempo, passasse a ouvirmesmo que
sejam sons muito fracos. Esses sons acontecem o tempo todo no universo, e não
são suficientemente fortes para serem ouvidos. Então, passamos a conseguir
“ver” objetos que não emitem luz, nem radiação eletromagnética, e que não
poderiam ter sido vistos de outro jeito.
Agora, podemos saber mais sobre a composição da galáxia, sobre as
estrelas que originaram os buracos negros, sobre como os buracos negros se
juntam em duplas, etc.
O filme Interestelar (de Christopher Nolan, 2014) ficou popular por
abordar vários conceitos reais do tempo-espaço em uma obra de ficção. As ondas
gravitacionais têm relação com essa abordagem?
Gostei do filme. A maioria dos meus amigos não gostou. Nele, fala-se sobre
a mudança da passagem do tempo para o ser humano na presença dos buracos
negros. A obra tem mais a ver com o movimento dos buracos negros. Para estudar
as ondas gravitacionais, temos que levar em conta esse movimento, mas vai além.
Isso é só um dos aspectos do estudo das ondas gravitacionais.
Qual é o próximo passo científico?
O Ligo vai fazer a retomada dos dados em oito meses. A partir de agora,
temos que melhorar a medição. Na minha opinião, temos que fazer modelos ainda
melhores. Temos mais para desenvolver a precisão parâmetros físicos.
O projeto já está tentando medir outras ondas gravitacionais?
Imagine o seguinte: esse evento ocorreu cinco dias depois do começo
tomada de dados. Nos próximos seis meses, teremos uma observação com
sensibilidade acrescentada. A observação deve virar rotina a partir do ano que
vem, quem sabe até uma por mês. Vamos aprender mais sobre os buracos negros e a
dinâmica da gravidade. São observações que podem ser feitas apenas em laboratório.
A partir de agora, o senhor continuará na pesquisa?
Sim, agora começa a parte mais divertida. Todo mundo esperava por isso.
Temos muito trabalho para termos modelos melhores capazes de gerar mais
conhecimento astrofísico.

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