sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

RECORDAÇÃO DOS TEMPOS ANTIGOS



  

Luciano Luppi



E foi assim que a tecnologia mudou tudo! Comportamentos, economia, valores, padrões, ambiente... e por aí vai. Não se trata, aqui, de repudiar qualquer avanço tecnológico, ao contrário, a evolução da humanidade está intimamente ligada ao desenvolvimento da tecnologia e ela tem sido um catalisador deste enriquecimento – indiscutivelmente necessária e imperativa.
Acontece que, com a chegada das inovações, muitas coisas caem de moda e deixam um rastro de saudosismo para trás. Qualquer um de nós poderia listar uma quantidade imensa de objetos, profissões e atividades que ficaram sepultadas nos “tempos que não voltam mais”.
Com este artigo, desejo apenas contribuir com o registro de mais uma atividade que se perdeu quando a televisão passou a usar o videoteipe. É, no mínimo, alegórico. Para isso, temos que retroceder no tempo e vasculhar os bastidores da extinta TV Tupi, em São Paulo, numa época em que todos os programas eram gravados ao vivo. Para quem não viveu aqueles tempos precisa fazer um pequeno esforço mental para imaginar como seria a televisão sem a possibilidade de reprodução, ou seja, tudo tinha que acontecer ao vivo e a transmissão não podia falhar, pois não havia chance de corrigir ou modificar absolutamente nada.
Era um outro mundo... E os programas humorísticos não eram diferentes das novelas, noticiários e das propagandas. Mesmo depois da chegada do videoteipe, algumas atividades que faziam parte daquele época ainda permaneceram por algum tempo.
Vi o grande humorista Ronald Golias no palco da emissora fazendo a sua graça, ao lado de seus colegas, e o programa acontecendo dentro de um auditório. Mas como ainda era complicado tecnicamente sobrepor às piadas, os sons de risadas, aplausos e outras reações que parecessem espontâneas, a emissora convidava pessoas para assistirem ao programa no auditório, onde este seria filmado e gravado, e este grupo fazia o papel da “claque” – ou seja, tinham que ir para rir e aplaudir. Ficavam num canto da plateia e na lateral do palco, à sua frente, postava-se o “maestro da claque”, um personagem divertido, de gravatinha borboleta e suspensório, uma figura engraçada que, literalmente, regia as risadas da sua “orquestra de risos”. Um microfone captava a massa sonora que vinha daquele grupo.
Para cada momento e para cada tipo de graça, este grande animador de um auditório seleto imprimia às reações dos seus colaboradores um ritmo específico, uma certa força, volume adequado e duração da ação sonora, tal qual qualquer maestro ao reger uma orquestra de verdade.
Em alguns momentos este maestro fazia alguma palhaçada, alguma careta, e a sua plateia ria dele próprio e não dos humoristas que, por vezes, se esforçavam para fazer o seu trabalho.

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