Luciano Luppi
E foi assim que a tecnologia mudou
tudo! Comportamentos, economia, valores, padrões, ambiente... e por aí vai. Não
se trata, aqui, de repudiar qualquer avanço tecnológico, ao contrário, a
evolução da humanidade está intimamente ligada ao desenvolvimento da tecnologia
e ela tem sido um catalisador deste enriquecimento – indiscutivelmente
necessária e imperativa.
Acontece que, com a chegada das
inovações, muitas coisas caem de moda e deixam um rastro de saudosismo para
trás. Qualquer um de nós poderia listar uma quantidade imensa de objetos,
profissões e atividades que ficaram sepultadas nos “tempos que não voltam
mais”.
Com este artigo, desejo apenas
contribuir com o registro de mais uma atividade que se perdeu quando a
televisão passou a usar o videoteipe. É, no mínimo, alegórico. Para isso, temos
que retroceder no tempo e vasculhar os bastidores da extinta TV Tupi, em São
Paulo, numa época em que todos os programas eram gravados ao vivo. Para quem
não viveu aqueles tempos precisa fazer um pequeno esforço mental para imaginar
como seria a televisão sem a possibilidade de reprodução, ou seja, tudo tinha
que acontecer ao vivo e a transmissão não podia falhar, pois não havia chance
de corrigir ou modificar absolutamente nada.
Era um outro mundo... E os programas
humorísticos não eram diferentes das novelas, noticiários e das propagandas.
Mesmo depois da chegada do videoteipe, algumas atividades que faziam parte
daquele época ainda permaneceram por algum tempo.
Vi o grande humorista Ronald Golias no
palco da emissora fazendo a sua graça, ao lado de seus colegas, e o programa
acontecendo dentro de um auditório. Mas como ainda era complicado tecnicamente
sobrepor às piadas, os sons de risadas, aplausos e outras reações que
parecessem espontâneas, a emissora convidava pessoas para assistirem ao
programa no auditório, onde este seria filmado e gravado, e este grupo fazia o
papel da “claque” – ou seja, tinham que ir para rir e aplaudir. Ficavam num
canto da plateia e na lateral do palco, à sua frente, postava-se o “maestro da
claque”, um personagem divertido, de gravatinha borboleta e suspensório, uma
figura engraçada que, literalmente, regia as risadas da sua “orquestra de
risos”. Um microfone captava a massa sonora que vinha daquele grupo.
Para cada momento e para cada tipo de
graça, este grande animador de um auditório seleto imprimia às reações dos seus
colaboradores um ritmo específico, uma certa força, volume adequado e duração
da ação sonora, tal qual qualquer maestro ao reger uma orquestra de verdade.
Em alguns momentos este maestro fazia
alguma palhaçada, alguma careta, e a sua plateia ria dele próprio e não dos
humoristas que, por vezes, se esforçavam para fazer o seu trabalho.
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