segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

QUE MENTIRA ABSURDA - ACABAR COM A POBREZA EXTREMA NO BRASIL



  

Paulo Haddad




O que fazer com a economia brasileira após um período de profunda desorganização das finanças públicas, da matriz energética, das expectativas de consumidores e de empreendedores? Não há dúvida de que é inadiável formular e implementar um programa de ajuste ou de reconstrução das bases da nossa economia. Mas há algumas precauções e percalços que devem ser considerados previamente a fim de que o ajuste não venha a magnificar ainda mais as mazelas, os desacertos e os desarranjos que de fato ocorreram. Nada como seguir a trajetória do velho paradigma de “ver, julgar e agir”.

Em primeiro lugar, para fazer um ajuste é preciso conhecer o que precisa ser ajustado. Para encobrir o tamanho da herança desastrosa do primeiro mandato da Presidente Dilma Rousseff, a equipe econômica anunciou no início do ano um valor subestimado do déficit fiscal. Já agora constata-se que esse valor é quase três vezes maior, comprometendo assim a credibilidade da capacidade de gestão operacional e estratégica da atual equipe. Sem se penetrar nas entranhas das contas públicas do Governo Federal para ver e identificar os truques e artimanhas utilizadas para camuflar a irresponsabilidade fiscal no primeiro mandato, fica difícil para a população brasileira aceitar os sacrifícios que a ela serão impostos durante o atual mandato.

Em segundo lugar, para se desenhar a arquitetura do ajuste seria necessário avaliar os atuais contextos político, econômico e institucional em que o processo seria realizado. Haja visto a avalanche de problemas sociais que o modelo de ajuste adotado (existem alternativas mais inteligentes) vem trazendo. O realinhamento dos preços controlados pelo governo ocorre sob a forma de um choque inflacionário. O corte dos gastos públicos e a elevação estratosférica das taxas de juros induziram a expansão da taxa de desemprego para mais de dez por cento neste final de 2015. Os serviços públicos tradicionais estão tendo imensa perda de qualidade e de quantidade, particularmente os de saúde e de saneamento básico. Não há como neste mar tumultuado motivar um comportamento mais otimista que possa estimular a expansão da demanda agregada da economia. De fato, neste contexto, a julgar pela overdose de perdas e danos por que passam empresários e consumidores, o otimista é muitas vezes um pessimista mal informado.

Finalmente, as ações que estão em andamento são carentes de sequenciamento consistente, de intensidade proporcional e de cadência rítmica. É ilusório achar que é necessário primeiro ajustar para que o crescimento venha por acréscimo, embalado pelo sopro das livres forças de mercado e pelas virtudes inefáveis da mão invisível do capitalismo competitivo. Como de início se subestimou a dimensão da crise, as medidas adotadas até agora não têm a intensidade para impulsionar a grande transformação necessária para desencadear um ciclo de prosperidade com estabilidade. Não têm também a cadência adequada para compatibilizar a busca do equilíbrio fiscal sem agudizar as desigualdades sociais e preservar as conquistas dos mais pobres com as políticas sociais compensatórias.

Se o atual modelo e os processos de ajuste ou de austeridade fiscal não forem repensados, reestruturados e renegociados, iremos assistir a um inesperado paradoxo político conduzido por um partido de esquerda. Um partido que quer ser desenvolvimentista e afunda a economia numa recessão a qual pode até mesmo caminhar eventualmente para “a Grande Recessão ou a Depressão”. Um partido que quer ser o legítimo defensor dos direitos e anseios dos trabalhadores, e os joga numa taxa inusitada de desemprego crescente. Um partido que quer a promoção da justiça social, e que aprofunda as desigualdades sociais dentro de um estilo de política econômica que vem sendo denominado de “o socialismo dos ricos” ou de “o reverso de Robin Hood”.

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