Márcio Doti
Corremos o risco de que a longa
discussão em torno dos processos da presidente Dilma e do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, se ponham acima dos fatos graves que desfilaram diante de nós,
expondo roubalheiras gigantescas, tramoias inimagináveis juntando homens
públicos, empresários, estatais brasileiras e grandes empreiteiras. É claro
que, ao final, tudo está relacionado. Cuida-se do processo de impeachment de
uma presidente que esteve em todas as fases dos escândalos envolvendo a
Petrobras, o BNDES e aqueles que ela própria produziu ao praticar pedaladas
orçamentárias e incompetência governamental ao ponto de levar o país a dormir
um dia na expectativa de um saldo positivo em suas contas, na ordem de R$50
bilhões, e acordar no dia seguinte com o governo pedindo autorização para
oficializar, sem punição, nada menos do que um saldo negativo de R$120 bilhões.
O processo de impeachment da
presidente Dilma e um outro propondo a cassação de mandato do presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, despertam mais atenções pela sucessão de
lances praticados de lado a lado, buscando fugir da punição ou no mínimo
retardar o processo. O receio natural é que isso tire do foco da opinião
pública os processos que andam na Justiça contra aqueles tantos que sangraram
cofres públicos e fizeram negócios paralelos valendo milhões e bilhões de
reais. O país precisa recuperar esse dinheiro, os brasileiros querem ver na
cadeia os que foram tão longe e lesaram tanto o patrimônio público.
O receio é válido porque os fatos dos
últimos anos estão mostrando o quanto são capazes os que manobram para
ludibriar o povo, fazendo o papel de inocentes ou bravos defensores dos pobres
e oprimidos, enquanto, na verdade, desviam de suas finalidades os milhões de
reais que tomam o endereço de seus próprios bolsos. Contra isso e para que não
haja risco de impunidade, é indispensável que o povo esteja atento, que
continue acompanhando o desenrolar dos fatos envolvendo impeachment e cassação,
mas que também acompanhe a sequência do trabalho da Polícia Federal, do
Ministério Público Federal e da Justiça.
Os fatos que socorrem o interesse
público são aqueles que estão vindo da crise econômica gigantesca e
incontrolável. A inflação atinge ponto mais alto desde 2003 e o desemprego
continua avançando por consequência da situação difícil enfrentada pelas
empresas do país. O cidadão alcançado no bolso, com dificuldade para abastecer
a sua despensa, para custear a sua mesa e as outras despesas essenciais é
alguém que já percebeu o quanto precisa estar atento, atender ao apelo das
ruas, fazer da pressão uma ferramenta de impor respeito e garantir punição,
tanto aos que ocupando altos cargos levaram o país a lugar tão sofrido, quanto
também os que meteram a mão, se fartaram de milhões de reais e dólares. Estes,
precisam devolver o que tiraram e pagar pelo atraso a que submeteram os
brasileiros. São muitos os que têm que pagar pelo retrocesso imposto ao país em
todas as frentes.
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