quinta-feira, 8 de outubro de 2015

PLANOS


  

Simone Demolinari

 
“Me acho muito preguiçoso”, “deixo tudo para a última hora”, “não consigo realizar as coisas que planejo”, “não consigo fazer dieta”.
Queixas como essas geralmente vêm de pessoas que não estão satisfeitas com sua conduta. Fracassam nas metas que estipulam para si e embora saibam o que deveriam fazer, simplesmente não conseguem.
Para entender melhor o porquê desse comportamento, precisamos entender dois princípios descritos por Freud: prazer e realidade.
O princípio do prazer tem como propósito dominante a busca da satisfação imediata.
Indivíduos que são regidos por esse princípio têm dificuldade de suportar sacrifícios em prol da recompensa futura. São impulsivos. Fazem hoje e resolvem amanhã. Preferem prejudicar a saúde, o sono e as economias financeiras para não se privarem de um prazer momentâneo. São capazes de ficar numa festa até tarde mesmo sabendo que acordam cedo. Gastam dinheiro mesmo sabendo que precisam economizar. Planejam iniciar uma atividade física mas não conseguem acordar uma hora mais cedo. Querem emagrecer, mas não conseguem parar de comer. A dificuldade em tolerar o sacrifício é tão grande que acabam fracassando no primeiro obstáculo. Se auto-concedem prazeres colocando de lado o objetivo principal. É o famoso “eu mereço”: “comi uma caixa de chocolate porque estava na TPM”, “Fumei porque estou cheio de problemas”. As justificativas são intermináveis. O ponto interessante é que esse comportamento não significa uma preguiça propriamente dita, mas sim uma intolerância ao desprazer. Crianças também são assim, querem tudo na hora delas e sem contrapartida. Um mundo fantasioso.
Além de imediatista, quem vive governado pelo princípio do prazer costuma ser exímio procrastinador. Empurra a obrigação o máximo possível. Adia prazo, prorroga compromisso, deixa para o último minuto o que poderia ter feito com antecedência. O problema é tão grave que as vezes resulta em demissão e até separação conjugal. Para piorar, a procrastinação ocorre em relação às obrigações – o mesmo não acontece para ir a uma festa, por exemplo. O que deixa as pessoas com quem convive mais indignadas ainda.
Já o princípio da realidade tem como base a obtenção do prazer através do merecimento. São indivíduos mais maduros emocionalmente, com maior capacidade de tolerar o sacrifício em prol de um bem maior. Abrem mão do prazer imediato para ganhar lá na frente. São comedidos e estão sempre ponderando o custo/beneficio da situação. Carregam consigo o lema “plantar para depois colher”. Não são dados a excessos momentâneos. São consequentes e sabem que essa é a melhor forma de cuidar bem de si. Regem-se pela disciplina e posturas construtivas.
O princípio da realidade permite que o indivíduo conquiste seus objetivos encarando o mundo de forma real e serena, mesmo com suas mazelas e contradições. Já os que vivem no princípio do prazer, aparentemente são mais felizes, mas, no fundo, estão muito insatisfeitos com suas condutas autodestrutivas.

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