Márcio Doti
Quem tinha alguma dúvida sobre o que
vai acontecer com a economia brasileira no próximo ano agora não tem mais. A
presidente Dilma manda para o Congresso a proposta orçamentária para 2016 e
nela o governo já admite um rombo de 0,5% sobre o que prevê de arrecadação.
Isto é o mesmo que dizer publicamente aos representantes do povo e ao povo que
o governo vai gastar mais do que pode, vai ficar devendo. Foi a forma
encontrada de viver o ano eleitoral sem as amarras de um orçamento apertado. É
o mesmo que confessar a impotência governamental para dizer “não” aos que
vierem com pedidos de verbas para acudir palanques que serão muitos.
Já era sabido que o próximo ano guarda
características especiais. Se os nossos políticos se acostumaram a sobreviver
politicamente às custas de verbas para obras em seus ambientes eleitorais, mais
ainda quando atuam sob a influência de um governo frágil, sem pulso para
perseguir metas econômicas porque precisa ceder para manter-se no poder, ainda
que submisso a pedidos que, nesse caso, virão de governadores, senadores,
deputados, prefeitos e vereadores. Já nem é necessário dizer que além de todos
esses favores, o governo ainda passa pelo desgaste constante das descobertas da
operação “Lava Jato” e as outras investigações que a cada dia chegam mais perto
das altas figuras nacionais.
Ministro receia descrédito
Não é à toa que o ministro Joaquim
Levy receia os efeitos dessa medida de apresentar ao Congresso um orçamento
que, desde agora, confessa que vai trabalhar no vermelho porque não consegue
ajustar os seus gastos ao ponto de se manter dentro dos limites de gastos. Os
sinais que essa medida passa para os ambientes interno e externo com relação
aos investidores são sinais preocupantes, que desencorajam e podem representar
quando nada uma retração ainda maior no nível de investimento que já é muito
baixo. Muito difícil que alguém se disponha a plantar investimentos num quadro
de instabilidade em que o próprio governo já se confessa no vermelho meio ano
antes de se instalar o orçamento anual.
As reações tendem a ser tão ou piores
do que foram as observadas quando a presidente anunciou disposição de voltar
com o imposto do cheque e até chegou a pedir ajuda a governadores para que
influíssem junto às suas bancadas no Congresso. Era de se esperar que o próprio
parlamento brasileiro se opusesse à essa disposição por tudo de ruim que
representa. Não ocorrendo isto, será pela via das consequências, do agravamento
do quadro econômico com demissões, inflação, queda de receitas públicas que a
pressão deverá surgir. A cada dia, o governo caminha ainda mais numa estrada de
difícil retorno.
O governo ainda passa pelo desgaste
constante das descobertas da operação “Lava Jato”
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