Manoel Hygino
Por mais que grupos e pessoas se
esforcem para dar pelo menos aparente alegria às cidades brasileiras, com shows
e espetáculos públicos para os mais variados gostos, a verdade verdadeira é que
paira sobre nós um clima cinzento, denso e de inquietação. Não há como
escondê-lo, e só o pior cego não percebe que o brasileiro está apreensivo e
tenso. O que será amanhã?
O entretenimento do picadeiro é fugaz,
a realidade cotidiana rígida, pertinaz e duradoura. O espetáculo da política
pode causar apenas algum enlevo a segmentos da população, mas o êxito... Só
favorece os atores privilegiados. A glória não beneficia a plateia.
O brasileiro precisa ser escoteiro,
sempre alerta à realidade, que sofre modificações incessantemente. Quem não as
acompanha, pode perder o propalado trem da história. É preferível antecipar-se
aos fatos do que arrepender-se.
A ministra do Superior Tribunal
Federal (STF) Carmen Lúcia Antunes Rocha, ex-presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (aliás, a primeira e única até hoje), teceu considerações pertinentes
em entrevista a um jornal. Suas observações merecem especial atenção, se levar
em conta que a magistrada presidirá, no ano que vem, o Supremo Tribunal
Federal, a primeira mulher a assumir o posto na mais alta Corte de Justiça do
país.
A ministra defende que o brasileiro
saia em defesa de seus direitos, não se restringindo a reclamar contra
situações que exigem melhoria, aprimoramento, contenção ou extirpação de
desvios.
Declarou ipsis verbis: “As pessoas de
bem têm que reagir e agir no sentido de mudar a situação, e não de abandonar
coisas como se não tivessem a ver com elas. Os assaltantes, traficantes, acabam
tendo uma audácia muito maior porque sabem que as pessoas não vão agir. Então,
é preciso que quem seja de bem mantenha a audácia para também reagir”.
O conselho tem validade bem mais
ampla. Não se pode esconder ou omitir, deixando que as coisas fluam a bel
prazer de alguém ou das circunstâncias, em detrimento da maioria e do bem. São
lições triviais, mas preciosas.
“Cidadania e democracia se aprende”.
“O cidadão, dede os jovens até os mais idosos, mantém ciência muito clara do
que representa o regime democrático”.
Temos de lidar com prudência, mas sem
medo. O Brasil é nosso, e governos nós os escolhemos. A nação tem de
desenvolver-se.
Aliás, muito a propósito veio o
Estadão, ao publicar, no dia 24, que “desde 2008, o Ibope perguntou à população
em idade de votar quão satisfeita ela está com o funcionamento da democracia no
Brasil”. Segundo o jornal, “os resultados nunca foram brilhantes, ainda menos
se comparados a países latino-americanos como Uruguai e Argentina, mas jamais
haviam sido tão chocantes quanto agora”.
Em resumo, só 15% dos brasileiros se
confessam contentes, sendo satisfeitos 14% ou muito satisfeitos, 1%, com o
jeito que o regime democrático funciona no país. Isto é, um cidadão em cada
três está “pouco satisfeito”, (36%), 45% nada satisfeitos”. Na série histórica,
nada há parecido com tal nível de insatisfação.
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