Por: Paulo Paiva*
A economia e a política se entrelaçam
na vida real, para o bem e para o mal. De um lado, se a economia vai bem, as
relações políticas ficam facilitadas, o prestígio do governo cresce. Se a economia
vai mal, inflação e desemprego em alta, a tendência é cair a popularidade do
governo.
De outro lado, governo com alta
credibilidade pode ajudar a superar crises na economia, mas se o governo vai
mal, sem apoio político, perde também sua capacidade para recolocar a economia
nos eixos.
As perspectivas para a rápida
recuperação da economia, no atual momento, são mínimas ou nulas. O mercado
estima que este ano o PIB deva cair em torno de 2,5% e, no próximo ano, outros
0,5%. O desemprego continuará aumentando e a renda média per capita,
diminuindo.
Em que pese as mudanças na economia
internacional, como a queda nos preços de commodities, que afetam negativamente
a economia brasileira desde 2011, o agravamento da crise se deu pelos
desacertos na condução da política econômica que derrubaram a confiança do
mercado.
No primeiro governo Dilma, pela
insistência equivocada no estímulo ao consumo doméstico quando o endividamento
das famílias já chegava ao seu limite.
No segundo governo, pelos erros e desacertos
nas decisões de política econômica.
Primeiro, a começar pela composição da
equipe, sem a mínima coesão. Ministro da Fazenda por um lado, ministro do
Planejamento por outro, lembrando a imagem de dois burrinhos amarrados um ao
outro, querendo cada um comer a sua porção de ração. Os dois ficam com fome.
Segundo, o melancólico anúncio da
redução no número de ministérios para cortar gastos, sem qualquer estudo prévio
a justificar a possível medida.
Terceiro, a desastrada tentativa em
ressuscitar a CPMF, sem o mínimo de articulação no Congresso, onde a proposta
deveria ser votada.
Quarto, as patéticas mudanças nas
metas fiscais, em poucos meses. Em abril, na proposta de Lei de Diretrizes
Orçamentárias foi fixada, para 2016, a meta de superávit primário em R$ 104,5
bilhões; em julho, foi reduzida para R$43,8 bilhões; e em agosto, para R$ 34,5
bilhões. Finalmente, na proposta de Lei Orçamentária foi estabelecido um
déficit de R$30,5 bilhões. Quem põe fé nessa meta?
Talvez fizesse mais sentido seguir a
estratégia da meta ex-post, um achado da “moderna” gestão da presidente Dilma:
“Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas quando atingirmos a
meta, vamos dobrar a meta”.
É difícil imaginar como o governo sem
liderança e sem rumo retomará iniciativas para equilibrar o orçamento de 2016,
porque ninguém se entende por lá.
O PT quer a saída do ministro da
Fazenda, que quer aumentar impostos, mas o PMDB não quer, porque quer o corte
de gastos, que o ministro do Planejamento não quer, porque sonha em mudar de
pasta.
Mas, afinal, e o governo, o que quer?
Sua proposta de orçamento para 2016
tomou-lhe a última dose de credibilidade. Sobraram voluntarismo e incompetência
a conduzir a economia para um desajuste sem igual, com custosas consequências
para o Brasil.
*Professor da Fundação Dom Cabral, foi
ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

Nenhum comentário:
Postar um comentário