sexta-feira, 11 de setembro de 2015

BRASIL SEM CREDIBILIDADE



  

Por: Paulo Paiva*



A economia e a política se entrelaçam na vida real, para o bem e para o mal. De um lado, se a economia vai bem, as relações políticas ficam facilitadas, o prestígio do governo cresce. Se a economia vai mal, inflação e desemprego em alta, a tendência é cair a popularidade do governo.

De outro lado, governo com alta credibilidade pode ajudar a superar crises na economia, mas se o governo vai mal, sem apoio político, perde também sua capacidade para recolocar a economia nos eixos.

As perspectivas para a rápida recuperação da economia, no atual momento, são mínimas ou nulas. O mercado estima que este ano o PIB deva cair em torno de 2,5% e, no próximo ano, outros 0,5%. O desemprego continuará aumentando e a renda média per capita, diminuindo.

Em que pese as mudanças na economia internacional, como a queda nos preços de commodities, que afetam negativamente a economia brasileira desde 2011, o agravamento da crise se deu pelos desacertos na condução da política econômica que derrubaram a confiança do mercado.

No primeiro governo Dilma, pela insistência equivocada no estímulo ao consumo doméstico quando o endividamento das famílias já chegava ao seu limite.

No segundo governo, pelos erros e desacertos nas decisões de política econômica.

Primeiro, a começar pela composição da equipe, sem a mínima coesão. Ministro da Fazenda por um lado, ministro do Planejamento por outro, lembrando a imagem de dois burrinhos amarrados um ao outro, querendo cada um comer a sua porção de ração. Os dois ficam com fome.

Segundo, o melancólico anúncio da redução no número de ministérios para cortar gastos, sem qualquer estudo prévio a justificar a possível medida.

Terceiro, a desastrada tentativa em ressuscitar a CPMF, sem o mínimo de articulação no Congresso, onde a proposta deveria ser votada.

Quarto, as patéticas mudanças nas metas fiscais, em poucos meses. Em abril, na proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias foi fixada, para 2016, a meta de superávit primário em R$ 104,5 bilhões; em julho, foi reduzida para R$43,8 bilhões; e em agosto, para R$ 34,5 bilhões. Finalmente, na proposta de Lei Orçamentária foi estabelecido um déficit de R$30,5 bilhões. Quem põe fé nessa meta?

Talvez fizesse mais sentido seguir a estratégia da meta ex-post, um achado da “moderna” gestão da presidente Dilma: “Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta”.

É difícil imaginar como o governo sem liderança e sem rumo retomará iniciativas para equilibrar o orçamento de 2016, porque ninguém se entende por lá.

O PT quer a saída do ministro da Fazenda, que quer aumentar impostos, mas o PMDB não quer, porque quer o corte de gastos, que o ministro do Planejamento não quer, porque sonha em mudar de pasta.

Mas, afinal, e o governo, o que quer?

Sua proposta de orçamento para 2016 tomou-lhe a última dose de credibilidade. Sobraram voluntarismo e incompetência a conduzir a economia para um desajuste sem igual, com custosas consequências para o Brasil.

*Professor da Fundação Dom Cabral, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

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