sábado, 12 de setembro de 2015

AFOGANDO AS MÁGOAS



  

José Eutáquio de Oliveira





Tá feia a coisa. A inflação do ano beira passar dos 10%; o desemprego anda pela casa dos 9%; a indústria cresce para baixo, como rabo de cavalo; os 40 ministérios da Ali Babá continuam a nos irritar com sua gastança inútil; a toda hora operação Lava-Jato descobre colecionadores de pixulecos nos terrenos das estrelas e de sua base aliada; e a relação dívida bruta/PIB esperada para 2016 é de 70% do PIB. Não se assuste ainda, caro leitor. É só o começo.

Veja só. Há duas semanas, a pessoa que deveria presidir o país encaminhou ao Congresso a proposta orçamentária de 2016 contendo inédito déficit primário de R$ 30,5 bilhões, para espanto dos brasileiros normais. Poucos dias depois, a imperatriz prometeu encaminhar para o Legislativo um adendo com ideias (?) para cobrir a diferença que o rombo do orçamento encaminhado anteriormente apresentou. As tais ideias (?) nada mais são do que a cobrança de mais impostos para compensar a farra gastadora dos “companheiros”. Quem terá sido o autor de outra derrama sobre os nossos combalidos bolsos? Do Joaquim Barbosa ou do Nelson Levy? Só sei que nós, ó!

O jeito é dar um jeito de esquecer as agruras da economia para evitar infarto ou AVC. Os preços absurdos da medicina privada – dado a falência do sistema público de saúde tupiniquim –, além de quebrar o cidadão de vez, podem levá-lo para o beleléu. Pois é, não existem mais amenidades que nos aliviem a barra. Futebol? Só se o sujeito for corintiano. Aí, tudo bem. Caiu na área, é pênalti para o timão. E nós, os outros milhões de cidadãos que torcemos pelas demais equipes, sifu – como dizia a turma do Pasquim. Acompanhar a “Seleção do Dunga”? Acho que ninguém tem mais saco para aguentar as grossuras do técnico e de seus comandados.

Desopilar o fígado está difícil mesmo. Como não sou de assistir a novelas – não gosto de seriados extensos – ando sem rota de fuga para escapar da merda que virou morar neste país-tropical-esquecido-por-Deus-de-políticos-corruptos-e-destruidor-da-natureza. A solução que sobrou é afogar as mágoas numa mesa de bar, bem à moda do falecido roqueiro brega Reginaldo Rossi. Convenhamos, uma atitude coerente para quem vive em BH, a capital nacional dos botecos.

O problema é que frequentar um dos 18 mil bares de BH também está ficando complicado: eles estão ficando raros. De acordo com o sindicato do setor, cerca de 500 casas fecharam as portas neste ano, entre pequenos bares, lanchonetes, e até restaurantes de grande porte. A crise econômica aumentou os preços dos aluguéis, os custos com mão de obra, das bebidas e dos alimentos. Mais a carga tributária dos tempos da derrama...

O jeito é beber nos botecos que sobraram. Outro problema: são poucos os colegas de copo e de cruz disponíveis para compartilhar o falar mal do futebol brasileiro, da política, da carestia. É bem das mulheres – que ainda fazem o Brasil valer a pena. Puxar papo com o dono do bar? Inútil. Sua única conversa é xingar a decisão dos vereadores de proibir que bares e restaurantes coloquem mesas e cadeiras nas calçadas depois das 23 horas, em respeito à Lei do Silêncio. A saída é afogar as mágoas em silêncio. Enquanto isso ainda é possível.

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