sexta-feira, 14 de agosto de 2015

LIÇÕES DE VIDA



  

Luciano Luppi



Não sei ao certo o que muitos artistas fazem em tempos de crise. Quando falo em crise, não estou generalizando, apenas me referindo aos períodos em que a atividade econômica se reduz e os ganhos financeiros diminuem. Penso que todos esses momentos difíceis não passam de oportunidades, dependendo de como deitamos nosso olhar sobre o fato. Oportunidades para muitas coisas interessantes e necessárias ao ato de criar.

Nunca pesquisei, mas converso com um colega aqui, outro colega ali e chego à conclusão de que muitos artistas, assim como eu, aproveitam essas ocasiões para colocar a casa em ordem. É o momento de criar, de refletir, de organizar o seu espaço de trabalho, de jogar fora aquilo que só estava atrapalhando a criação, de conversar mais com pessoas ricas em ideias e valores, momento para ponderar, refazer algo que sempre deixamos de lado por preguiça ou falta de tempo. Aliás, é o tempo de ter tempo, de viver sem aquele corre-corre desenfreado, de evitar o estresse, de recusar algumas tarefas desagradáveis que sempre fazíamos para não aborrecer alguém, é o tempo de semear.

A vida de artista é tão cheia de altos e baixos, de projetos, de experiências (as que deram certo e as que deram errado), de ensaios, de tentativas, de glória e de fracasso, que não faz muita diferença passar uma temporada em estado de hibernação, em repouso, permitindo que o ócio produza mais criatividade. Depois, quando a situação melhorar e nos chamar para uma fase de mais ação, quando convocados para uma temporada de execução, teremos algumas obras ou ideias mais elaboradas nos servindo de base para uma nova produção artística.

A vantagem dessa situação de ociosidade é que a nossa mente pode se esvaziar por alguns instantes, livre de preocupações e paradigmas a serem seguidos, e permitir que as ideias apareçam, limpas, sem estarem contaminadas pela razão e pelo ego. Nem sempre precisamos do ócio para criar, pois existem inúmeras outras maneiras para isso, mas a inércia também faz parte do processo e é natural como os ciclos da vida.

Fiquei sabendo que a palavra “crise”, em japonês, tem dois significados básicos, são eles: perigo e oportunidade. É muito interessante, pois o que acontece nesses momentos pode nos levar para um lado ou para outro. Se ficarmos arrancando os cabelos, debatendo-nos como loucos, amaldiçoando tudo e todos, corremos o perigo de perdermos o nosso foco, o nosso objetivo e dificultar a nossa vida mais ainda. Mas se aquietarmos, esvaziarmos nossa mente, aceitarmos os desafios como dádivas e como aprendizes de um novo caminhar, perceberemos que a motivação sempre esteve presente, guardada e protegida num canto de nossa alma, junto à nossa natureza e essência.



O jeito japonês de resolver as crises

A palavra crise 危機 (lê-se Kiki) em japonês, possui dois significados básicos, são eles: situação difícil e oportunidade. Levando em conta que a linguagem tem uma forte influência na cultura de um povo, tal antagonismo gramatical exerce grande poder na forma como um indivíduo - bem como uma organização - enfrenta as dificuldades. Prova disso é a forma como o Japão encarou (e vem encarando) suas crises ao longo dos séculos, sobretudo aquelas vividas no período pós-guerra.
Para os japoneses, não importa quão difíceis sejam seus problemas. O segredo para sobrepujá-los não reside, necessariamente, na tentativa de mudar determinada situação, mas sim, em mudar a si mesmo. Quando você muda a si mesmo, tudo em sua volta muda também. E, foi exatamente o que eles fizeram depois da amarga e frustrante derrota para os americanos na segunda guerra mundial. Passaram a investir rigorosamente na educação, sem perder suas origens culturais. Essa inovação alavancou o país do caos pós-guerra, elevando-o a patamares inimagináveis não só na economia, mas também no índice de desenvolvimento humano.
Os que optam pelo significado negativo da palavra crise, costumam, quando enfrentam as dificuldades, culpar os outros; repetir os mesmos erros; achar que fracassará sempre. Ficam limitados pelos erros passados e acabam achando que eles (e não a situação) são os verdadeiros fracassos.
Já os que encaram a crise como oportunidades procuram assumir suas responsabilidades e aprendem com cada erro cometido. Sabem que a crise faz parte do progresso e procuram sempre manter uma atitude positiva. Gostam de desafiar as suposições antigas e conservadoras e, assumem novos riscos, quebrando todos os paradigmas tradicionais e ultrapassados. Aqueles que vencem as crises veem a dificuldade como algo temporário, mantêm expectativas realistas e acima de tudo, se concentram nos pontos fortes.
Outra grande lição ensinada pelo povo japonês quando deparado por uma crise, é mudar os meios, para modificar os fins. Ou seja, parar de insistir na tática errada, mesmo tendo a estratégia certa. Sobre isso, Albert Einstein dizia: “se você sempre faz o que sempre fez, então vai sempre alcançar o que sempre alcançou”. Para que isso não aconteça, é necessário quebrar antigos paradigmas, abandonar o que não serve e, claro, inovar, inovar e inovar.
Ter uma mentalidade positiva diante de uma crise, também é outro fator importante, porque ele põe o medo para correr. O medo, além de ser o mau uso da imaginação, é também uma energia altamente prejudicial ante uma crise, pois ela paralisa e congela quem fica à deriva no centro nervoso de uma situação crítica.
Outra praga, também combatida por aqueles que vencem as crises é a procrastinação. O hábito de adiar as coisas e deixar sempre para amanhã o que se pode fazer hoje, é sem dúvida, o fator que mais contribui para morrer no campo de batalha. Os juros cobrados pela danada da crise são elevadíssimos e suas conseqüências são mortais. Não há misericórdia nem compaixão para aqueles que procrastinam em meio a uma crise.
Recentemente o Brasil passou por uma reforma gramatical consistente. Foram modificadas diversas regras e palavras do nosso vocabulário, entretanto, a palavra crise continuou tendo o mesmo significado. Porém, nada impede que você e eu alteremos seu significado, procurando dar uma nova concepção para a crise, buscando sempre uma solução para superar os momentos difíceis.


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