domingo, 23 de agosto de 2015

BONS JUIZES




  

Márcio Doti




A forma de escolher ocupantes de altos cargos na Justiça, no Ministério Público e nos tribunais de contas precisa ser revista. Há muito que o método atual é questionado e nem é exagero afirmar que ao se adotar no Brasil o instituto da reeleição, nossos planejadores deveriam ter imaginado que a sequência de oito anos patrocinada por uma recondução de governantes, presidente e governadores, seria prejudicial ao país. A escolha em si guarda riscos e deveria ser substituída, ainda mais quando se permite que os mesmos governantes possam preencher grande número de cadeiras de colegiados importantes como as altas cortes.

Se tomarmos por base o Supremo Tribunal Federal, vamos perceber que a quase totalidade das cadeiras foi preenchida por governos do PT, de Lula a Dilma. Não que isto implique em comprometimentos, estamos falando de brasileiros de elevados níveis intelectual e moral, todavia, é preciso insistir na tese segundo a qual a melhor postura para adotar regras para a vida pública deve ser aquela que permite o mínimo, senão, a impossibilidade de erros ou desvios. Não é impossível que em um grande empate entre o coração e a razão, a gratidão acabe por dar um empurrãozinho e decidir questões de alta relevância.

As tais listas tríplices nascidas de votações internas entre procuradores e que, em seguida, são submetidas ao presidente da República, para que escolha então aquele que será o procurador-geral, o critério de nomear o primeiro da lista votada pela categoria não é uma regra, uma lei, mas vem sendo obedecido e presidentes têm respeitado a votação, nomeando, ainda que desobrigados, aquele apontado em primeiro lugar. E essa votação? Como se processa? Que tipo de política deve praticar aquele que almeja com justa razão o cargo mais alto da profissão que escolheu, já que a sua escolha passa pela aprovação de seus colegas? O mesmo raciocínio se aplica a outros cargos e posições, define escolhas de desembargadores, de ministros de tribunais de contas e assim por diante. Parece claro que não estamos tratando de algo fácil de ser definido. Mas o desafio tem a grandeza dos riscos nascidos da forma atual de escolha.

Esse tipo de escolha privilegia o exercício da política que não é apenas aquela reação vivida entre postulantes e ocupantes de cargos públicos e os cidadãos brasileiros como eleitores. A política é a arte da convivência. Não é à toa que se define o homem como sendo um animal político. Faz-se política em todos os ambientes, inclusive no próprio lar. Sendo também indispensável na vida de uma nação, é preciso que a política seja usada com sabedoria e seja, de fato, controlada por normas. Quem almeja subir e chegar ao topo dos cargos de sua profissão não pode ser estimulado a fazer isso a qualquer custo, praticando a política como o plantador que semeia e cuida para depois colher os frutos do seu esforço. Ainda que fazendo da política uma ferramenta da convivência, é preciso que se dê a esse processo o valor do mérito, da competência e da produtividade como formas de se alcançar os postos mais altos como recompensa e exclusivamente pelo mérito demonstrado ao longo de uma carreira. Hoje, isto não é necessariamente o que acontece. Devemos observar que nem sempre o mais competente é aquele que pratica melhor a política da boa vizinhança.



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