segunda-feira, 25 de maio de 2015

RECESSÃO ECONÔMICA



  

Paulo Haddad
 
Há uma certa perplexidade na opinião pública brasileira quanto à rapidez com que a atual recessão econômica vai espraiando os seus impactos perversos sobre todos os setores e regiões do país. Trabalhadores veem os seus empregos evaporarem. Prefeitos e governadores veem a sua arrecadação tributária e as suas transferências de recursos do governo federal despencarem. Empresários veem suas encomendas e vendas encolherem. Fica a pergunta: quais são os principais mecanismos de transmissão do processo recessivo entre setores, regiões e mercados de trabalho?
Em 1939, o professor Paul Samuelson, ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 1970, analisou as interações circulares, no lado real da economia, entre os efeitos combinados do multiplicador de renda e emprego com o princípio da aceleração econômica. Esses efeitos são interdependentes tanto nas flutuações cíclicas de prosperidade econômica quanto nas de recessão. A ideia é simples: os investimentos em bens de capital dependem, dentre outros fatores, das mudanças sustentadas no nível da demanda agregada. Máquinas, equipamentos e galpões industriais são duráveis, e seria possível manter o nível do PIB sem novos investimentos, se a capacidade produtiva estivesse adequada. Contudo, se a demanda se retrai, o sistema passa a operar com capacidade ociosa, dispensando a necessidade de novos investimentos que entram em colapso.
O princípio da aceleração estabelece um elo causal entre as variações na demanda agregada e o nível de investimento. Por outro lado, a redução de investimentos tem um efeito multiplicador negativo sobre o emprego e a renda da economia, através da demanda induzida dos consumidores. Se as exportações brasileiras se desaceleram, projetos de investimento são cancelados ou postergados, reduzem-se as encomendas para as indústrias de construção civil e de bens de capital, que desempregam mão de obra de todos os níveis de qualificação. Caindo a renda e o emprego, reduz-se a demanda de bens de consumo, cuja indústria irá jogar para frente os seus planos de expansão. Dessa forma, vai se configurando o circuito completo de uma recessão econômica, o qual fica melhor caracterizado quando se coloca o papel das expectativas em torno de uma economia mundial que oscila entre uma recessão de grande profundidade e uma depressão.
Além do mais, num ambiente econômico de rigoroso ajuste fiscal, com elevação das taxas de juros além de cortes nos gastos e de aumento da carga tributária, os investimentos tendem a cair de forma muito intensa em função de expectativas desfavoráveis sobre o futuro da economia. E a economia de mercado é fundamentalmente movida por expectativas. Assim, mesmo se contarmos com o sucesso do ajuste fiscal em andamento, há que se esperar por um longo tempo antes que se normalizem os programas de investimentos. Como dizia Keynes: “O estado da expectativa a longo prazo, que serve de base para as nossas decisões, não depende, portanto, exclusivamente do prognóstico mais provável que possamos formular. Depende, também, da confiança com a qual fazemos este prognóstico – à medida que ponderamos a probabilidade de o nosso melhor prognóstico revelar-se inteiramente falso”.
 

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