Paulo Haddad
Há uma certa perplexidade na opinião
pública brasileira quanto à rapidez com que a atual recessão econômica vai
espraiando os seus impactos perversos sobre todos os setores e regiões do país.
Trabalhadores veem os seus empregos evaporarem. Prefeitos e governadores veem a
sua arrecadação tributária e as suas transferências de recursos do governo
federal despencarem. Empresários veem suas encomendas e vendas encolherem. Fica
a pergunta: quais são os principais mecanismos de transmissão do processo
recessivo entre setores, regiões e mercados de trabalho?
Em 1939, o professor Paul Samuelson,
ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 1970, analisou as interações
circulares, no lado real da economia, entre os efeitos combinados do
multiplicador de renda e emprego com o princípio da aceleração econômica. Esses
efeitos são interdependentes tanto nas flutuações cíclicas de prosperidade
econômica quanto nas de recessão. A ideia é simples: os investimentos em bens
de capital dependem, dentre outros fatores, das mudanças sustentadas no nível
da demanda agregada. Máquinas, equipamentos e galpões industriais são duráveis,
e seria possível manter o nível do PIB sem novos investimentos, se a capacidade
produtiva estivesse adequada. Contudo, se a demanda se retrai, o sistema passa
a operar com capacidade ociosa, dispensando a necessidade de novos
investimentos que entram em colapso.
O princípio da aceleração estabelece
um elo causal entre as variações na demanda agregada e o nível de investimento.
Por outro lado, a redução de investimentos tem um efeito multiplicador negativo
sobre o emprego e a renda da economia, através da demanda induzida dos
consumidores. Se as exportações brasileiras se desaceleram, projetos de
investimento são cancelados ou postergados, reduzem-se as encomendas para as
indústrias de construção civil e de bens de capital, que desempregam mão de
obra de todos os níveis de qualificação. Caindo a renda e o emprego, reduz-se a
demanda de bens de consumo, cuja indústria irá jogar para frente os seus planos
de expansão. Dessa forma, vai se configurando o circuito completo de uma
recessão econômica, o qual fica melhor caracterizado quando se coloca o papel
das expectativas em torno de uma economia mundial que oscila entre uma recessão
de grande profundidade e uma depressão.
Além do mais, num ambiente econômico
de rigoroso ajuste fiscal, com elevação das taxas de juros além de cortes nos
gastos e de aumento da carga tributária, os investimentos tendem a cair de
forma muito intensa em função de expectativas desfavoráveis sobre o futuro da
economia. E a economia de mercado é fundamentalmente movida por expectativas.
Assim, mesmo se contarmos com o sucesso do ajuste fiscal em andamento, há que
se esperar por um longo tempo antes que se normalizem os programas de
investimentos. Como dizia Keynes: “O estado da expectativa a longo prazo, que
serve de base para as nossas decisões, não depende, portanto, exclusivamente do
prognóstico mais provável que possamos formular. Depende, também, da confiança
com a qual fazemos este prognóstico – à medida que ponderamos a probabilidade
de o nosso melhor prognóstico revelar-se inteiramente falso”.
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