sábado, 25 de abril de 2015

GASTOS COM O FUNDO PARTIDÁRIO



  

Aristoteles Atheniense*

Ao sancionar a elevação dos gastos com o fundo partidário, que passará de R$ 289,5 milhões a R$ 867,5 milhões, a presidente Dilma Rousseff demonstrou outra vez a sua indiferença às necessidades prementes do nosso povo. 

A sanção, inspirada em motivos espúrios, recebeu a acerba crítica de Renan Calheiros, que a considerou incompatível com o anunciado ajuste fiscal, reputando a aprovação presidencial como sendo o que “havia de pior”.

Causou indignação saber que alguns partidos como o PCB, PSTU, PCO e PPL irão abocanhar R$ 1,4 milhão, embora não tenham uma única cadeira no Congresso. Outras siglas, que não passam de “barriga de aluguel”, vão dividir um bolo de R$ 51,4 milhões. 

Enquanto isso ocorre, o governo cortou R$ 7 bilhões na educação, alterando repasses do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), contradizendo a promessa feita por Dilma em seu discurso de posse de que teríamos, doravante, uma “pátria educadora”. 

O fato de não haver vetado o projeto que triplicou o malsinado repasse, assegurou ao PT a condição de ser o maior beneficiário, embora o seu tesoureiro, João Vaccari Neto, esteja a ver o “sol nascer quadrado”, sem que possamos prever a duração da medida constritiva.

A conivência de Dilma Rousseff com as estripulias de sua base aliada, em permanente frangalho, conta com o apoio do vice-presidente e porta-voz, Michel Temer. Em entrevista concedida em Lisboa, Temer afirmou que o aumento de recurso ao fundo partidário não prejudicará o ajuste anunciado, tratando-se de verba “relevante para a atuação partidária”, que ainda poderia ser contingenciada.

Tão logo informado de que aquela ajuda, por sua natureza, era de execução obrigatória, tentou “consertar” a desfaçatez cometida, recomendando ao PMDB que receba o aumento e o devolva ao Tesouro, de modo a ficar bem com o Planalto, evitando frustrar a ação ministerial de Joaquim Levy. 

Enquanto este charivari assume proporções circenses, Renan Calheiros anunciou que a terceirização, projeto que tramitou durante 12 anos na Câmara dos Deputados, terá um curso normal no Senado, gerando pronta resposta do deputado Eduardo Cunha. 

O presidente da Câmara, nos últimos dias, foi colhido trocando afagos com Dilma Rousseff em jantar no Palácio da Alvorada, estando agora empenhado em cair nas boas graças presidenciais. A esta altura, é irrelevante a posição que assumiu ao derrotar Arlindo Chinaglia, candidato do PT, simulando uma independência que lhe propiciasse a presidência da Câmara dos Deputados. 

A sua disposição em engavetar os processos oriundos do Senado, partindo da premissa de que “pau que dá em Chico também dá em Francisco”, é o triste retrato do Estado brasileiro, onde os interesses pessoais, a voracidade partidária, a corrupção institucionalizada, sobrepõem-se aos anseios populares.

Neste país, a política foi convertida numa vergonhosa rifa, com os números sendo conhecidos na véspera do sorteio, onde só serão contemplados os que oferecerem maiores vantagens aos responsáveis pela extração.

Triste realidade, sem perspectivas de um desfecho virtuoso.

*Advogado, presidente da Academia Mineira de Letras Jurídicas 

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