terça-feira, 24 de março de 2015

RONALDINHO GAÚCHO



  

Cristiano Martins



– (Toc, toc, toc) Silêncio no Tribunal! Senhoras e senhores, esta Corte se reúne hoje para julgar, sob as leis da Constituição Universal do Futebol, as acusações contra Ronaldinho Gaúcho. Vamos à leitura dos autos.

– O Estado da Bola acusa o craque de lesar milhões de fãs e admiradores ao denegrir a própria história com o melancólico desempenho pelo modesto Querétaro.

– Com a palavra, a acusação.

– Senhores jurados, não é à toa que Ronaldinho ganhou no México o apelido de “Robaldinho”. Mesmo com salário de US$ 2 milhões ao ano, foi titular em apenas quatro das dez partidas da equipe na temporada. E foi substituído em duas. Não fez gols, e já foi até barrado pelo técnico. O time é o penúltimo no campeonato nacional.

– Qual o argumento da defesa?

– Meritíssimo, é fato notório que os custos da contratação, em si, já foram bancados pelas bilheterias desde a chegada do jogador. A taxa de ocupação do estádio subiu para mais de 65%, com média superior a 30 mil pagantes. O preço das camisas também aumentou quase 50%, alavancando a arrecadação. Além da exposição internacional da marca do clube, até então desconhecido. Quem saiu no lucro, indubitavelmente, foi o Querétaro.

– Protesto! O jogador sequer se esforça para voltar a ser ao menos um lampejo daquele craque de outrora. Pelo contrário, por diversas vezes foi flagrado em baladas e parece dar mais atenção à carreira de pagodeiro.

– Ordem no Tribunal! A defesa tem a palavra.

– Excelentíssimo, a acusação se esquece que Ronaldinho foi eleito duas vezes o melhor do mundo. Ganhou Copa como titular aos 22 anos. Reergueu o Barcelona numa das piores fases do clube e até hoje é ídolo na Catalunha. Ganhou Liga dos Campeões. Foi ovacionado no Santiago Bernabéu pelos rivais madrilenhos. Ganhou Libertadores como figura central no Atlético. O que mais precisa provar? Que culpa tem se o Querétaro não montou um elenco qualificado, enquanto outras equipes se reforçaram, inclusive para a Libertadores e a Copa Ouro?

– Convoco as testemunhas da acusação. Levir Culpi:

– É claro que fui um dos responsáveis pela saída dele. Fez o papel no Atlético melhor do que em outros lugares, mas o peguei num período pós-Libertadores, em outra situação. Ele não queria pagar o preço de ser um atleta profissional, até porque ele já alcançou tudo na carreira.

– Carlos Alberto Parreira:

– Não que ele tenha perdido o foco, mas não conduziu a carreira da melhor maneira, com dedicação plena.

– Agora, as testemunhas de defesa. Lionel Messi:

– Ele foi o responsável pela mudança no Barcelona, por isso o clube sempre será grato. Desde o primeiro momento, me acolheu e facilitou as coisas. E, principalmente, era a referência da equipe. Aprendi muito, tive a sorte de viver e compartilhar muitas coisas com ele. Posso dizer que é uma grandíssima pessoa, isso é o mais importante.

– Diego Armando Maradona:

– É lindo que queiram compará-lo comigo. Tem uma cabeça privilegiada. É muito rápido de pensamento. Antes de a bola chegar, já sabe o que quer fazer com ela. Está um degrau acima dos demais, e, muito jovem, ganhou o máximo que pode desejar um jogador.

– Todos de pé para a leitura da sentença.

– O jurado é você, leitor. Qual é o veredicto?

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