Cristiano Martins
– (Toc, toc, toc) Silêncio no
Tribunal! Senhoras e senhores, esta Corte se reúne hoje para julgar, sob as
leis da Constituição Universal do Futebol, as acusações contra Ronaldinho
Gaúcho. Vamos à leitura dos autos.
– O Estado da Bola acusa o craque de lesar milhões de fãs e admiradores ao denegrir a própria história com o melancólico desempenho pelo modesto Querétaro.
– Com a palavra, a acusação.
– Senhores jurados, não é à toa que Ronaldinho ganhou no México o apelido de “Robaldinho”. Mesmo com salário de US$ 2 milhões ao ano, foi titular em apenas quatro das dez partidas da equipe na temporada. E foi substituído em duas. Não fez gols, e já foi até barrado pelo técnico. O time é o penúltimo no campeonato nacional.
– Qual o argumento da defesa?
– Meritíssimo, é fato notório que os custos da contratação, em si, já foram bancados pelas bilheterias desde a chegada do jogador. A taxa de ocupação do estádio subiu para mais de 65%, com média superior a 30 mil pagantes. O preço das camisas também aumentou quase 50%, alavancando a arrecadação. Além da exposição internacional da marca do clube, até então desconhecido. Quem saiu no lucro, indubitavelmente, foi o Querétaro.
– Protesto! O jogador sequer se esforça para voltar a ser ao menos um lampejo daquele craque de outrora. Pelo contrário, por diversas vezes foi flagrado em baladas e parece dar mais atenção à carreira de pagodeiro.
– Ordem no Tribunal! A defesa tem a palavra.
– Excelentíssimo, a acusação se esquece que Ronaldinho foi eleito duas vezes o melhor do mundo. Ganhou Copa como titular aos 22 anos. Reergueu o Barcelona numa das piores fases do clube e até hoje é ídolo na Catalunha. Ganhou Liga dos Campeões. Foi ovacionado no Santiago Bernabéu pelos rivais madrilenhos. Ganhou Libertadores como figura central no Atlético. O que mais precisa provar? Que culpa tem se o Querétaro não montou um elenco qualificado, enquanto outras equipes se reforçaram, inclusive para a Libertadores e a Copa Ouro?
– Convoco as testemunhas da acusação. Levir Culpi:
– É claro que fui um dos responsáveis pela saída dele. Fez o papel no Atlético melhor do que em outros lugares, mas o peguei num período pós-Libertadores, em outra situação. Ele não queria pagar o preço de ser um atleta profissional, até porque ele já alcançou tudo na carreira.
– Carlos Alberto Parreira:
– Não que ele tenha perdido o foco, mas não conduziu a carreira da melhor maneira, com dedicação plena.
– Agora, as testemunhas de defesa. Lionel Messi:
– Ele foi o responsável pela mudança no Barcelona, por isso o clube sempre será grato. Desde o primeiro momento, me acolheu e facilitou as coisas. E, principalmente, era a referência da equipe. Aprendi muito, tive a sorte de viver e compartilhar muitas coisas com ele. Posso dizer que é uma grandíssima pessoa, isso é o mais importante.
– Diego Armando Maradona:
– É lindo que queiram compará-lo comigo. Tem uma cabeça privilegiada. É muito rápido de pensamento. Antes de a bola chegar, já sabe o que quer fazer com ela. Está um degrau acima dos demais, e, muito jovem, ganhou o máximo que pode desejar um jogador.
– Todos de pé para a leitura da sentença.
– O jurado é você, leitor. Qual é o veredicto?
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