QUE TEMPO É ESSE?
Paulo Paiva
Na solidão de seu palácio, fincado no planalto
central de um país de mais de 200 milhões de habitantes, com expressão de
espanto e ar de desaponto, pergunta a presidente para seu espelho: “que tempo é
esse?”
Que tempo é esse, se há poucos meses dizia ela, com
orgulho, que vivíamos um tempo de prosperidade nunca antes visto nessa terra?
Que era um tempo de crescimento econômico, com emprego para todos os
trabalhadores e expansão do consumo.
Orgulhava-se a presidente ao dizer que a crise
externa não afetou a economia brasileira. O seu antecessor chegou, inclusive, a
classificar a crise como “uma marolinha”.
Era um tempo em que o governo aumentara seus
gastos, dera isenções fiscais e reduzira as taxas de juros para níveis nunca
antes vistos. E a presidente, orgulhosamente, dizia que no seu governo os juros
serão sempre baixos. Quem não se lembra da taxa Selic a 7,25% em 2012?
Era um tempo em que o governo reduzira o custo da
energia para as famílias e as empresas. Dizia a presidente que, em vez de
elevar os preços, nós os baixamos. Um tempo em que o governo não permitira o
aumento do preço dos combustíveis, muito embora o do petróleo disparasse mundo
afora. Mas, lembra-se, a economia já não crescia tanto.
Na campanha para sua reeleição ela garantiu ao povo
que no seu novo governo avanços sociais e direitos dos trabalhadores seriam
intocáveis, “nem que a vaca tussa”. Corte de gastos e aumento de impostos são
coisas do passado. Passado que não queria ver de volta. Aumento dos juros tira
o pão da mesa dos trabalhadores e engorda os cofres dos banqueiros. Quem não se
lembra?
Que tempo é esse agora, pergunta a presidente ao
seu espelho, que a economia empacou de vez e os empregos estão indo embora?
Por que será que as pessoas não veem que o Brasil
foi afetado pela crise internacional e está “enfrentando a maior seca de nossa
história no Sudeste e no Nordeste”?
Ao contrário, nas ruas as pessoas veem, como
Bertolt Brecht, que vivemos em tempo sombrio.
Que tempo é esse que não se pode confiar no
governo? Governo que não admite seus erros e responsabiliza o mercado e Deus
pelos desacertos, que são seus?
Que tempo é esse que a corrupção destrói a maior
empresa brasileira?
Vivemos em tempo sombrio, pensam aqueles que,
jovens em 1992, seguiram nas ruas com suas caras pintadas, Lindbergh Farias,
então presidente da UNE e hoje senador pelo PT e, agora, veem-no ao lado de
Fernando Collor na lista de Janot. Todos corruptos.
Que tempo é esse? Por que devemos silenciar sobre
tantos crimes e tanta incompetência do governo?
Vivemos em tempo sombrio. Pouco se pode dizer sobre
o futuro, a não ser que caímos em uma estagflação. Estagnação que retira o
emprego dos trabalhadores. Inflação que corrói o poder aquisitivo dos
consumidores. Findou o sonho. Restou vazio o populismo.
Professor da Fundação
Dom Cabra, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo
FHC
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