sexta-feira, 13 de março de 2015

QUE TEMPO É ESSE?



 QUE TEMPO É ESSE?

Paulo Paiva


Na solidão de seu palácio, fincado no planalto central de um país de mais de 200 milhões de habitantes, com expressão de espanto e ar de desaponto, pergunta a presidente para seu espelho: “que tempo é esse?”

Que tempo é esse, se há poucos meses dizia ela, com orgulho, que vivíamos um tempo de prosperidade nunca antes visto nessa terra? Que era um tempo de crescimento econômico, com emprego para todos os trabalhadores e expansão do consumo.

Orgulhava-se a presidente ao dizer que a crise externa não afetou a economia brasileira. O seu antecessor chegou, inclusive, a classificar a crise como “uma marolinha”.

Era um tempo em que o governo aumentara seus gastos, dera isenções fiscais e reduzira as taxas de juros para níveis nunca antes vistos. E a presidente, orgulhosamente, dizia que no seu governo os juros serão sempre baixos. Quem não se lembra da taxa Selic a 7,25% em 2012?

Era um tempo em que o governo reduzira o custo da energia para as famílias e as empresas. Dizia a presidente que, em vez de elevar os preços, nós os baixamos. Um tempo em que o governo não permitira o aumento do preço dos combustíveis, muito embora o do petróleo disparasse mundo afora. Mas, lembra-se, a economia já não crescia tanto.

Na campanha para sua reeleição ela garantiu ao povo que no seu novo governo avanços sociais e direitos dos trabalhadores seriam intocáveis, “nem que a vaca tussa”. Corte de gastos e aumento de impostos são coisas do passado. Passado que não queria ver de volta. Aumento dos juros tira o pão da mesa dos trabalhadores e engorda os cofres dos banqueiros. Quem não se lembra?

Que tempo é esse agora, pergunta a presidente ao seu espelho, que a economia empacou de vez e os empregos estão indo embora?

Por que será que as pessoas não veem que o Brasil foi afetado pela crise internacional e está “enfrentando a maior seca de nossa história no Sudeste e no Nordeste”?

Ao contrário, nas ruas as pessoas veem, como Bertolt Brecht, que vivemos em tempo sombrio.

Que tempo é esse que não se pode confiar no governo? Governo que não admite seus erros e responsabiliza o mercado e Deus pelos desacertos, que são seus?

Que tempo é esse que a corrupção destrói a maior empresa brasileira?

Vivemos em tempo sombrio, pensam aqueles que, jovens em 1992, seguiram nas ruas com suas caras pintadas, Lindbergh Farias, então presidente da UNE e hoje senador pelo PT e, agora, veem-no ao lado de Fernando Collor na lista de Janot. Todos corruptos.

Que tempo é esse? Por que devemos silenciar sobre tantos crimes e tanta incompetência do governo?

Vivemos em tempo sombrio. Pouco se pode dizer sobre o futuro, a não ser que caímos em uma estagflação. Estagnação que retira o emprego dos trabalhadores. Inflação que corrói o poder aquisitivo dos consumidores. Findou o sonho. Restou vazio o populismo.
 

Professor da Fundação Dom Cabra, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC
 


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