Escândalos
na Petrobras: Crise já afeta os três Poderes, dizem especialistas
Para eles, políticos envolvidos
no esquema de corrupção da Petrobras e embate entre o Executivo e o Legislativo
criam desconfiança na população e desprestigiam o regime democrático
Carolina Benevides
RIO - Na
véspera da divulgação completa da lista do procurador-geral, Rodrigo Janot, que
relaciona políticos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras e foi
entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma fonte da Procuradoria afirmou ao GLOBO que 10% do Senado - oito
senadores dos 81 parlamentares - deve ser investigado. Dias antes, já havia
vazado que o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o também
peemedebista Eduardo Cunha (RJ), que preside a Câmara, estavam entre os listados
e ainda nomes de ex-ministros, governadores e ex-governadores. Para Roberto
Romano, cientista político da Unicamp, mesmo que a íntegra da lista não seja
conhecida, a crise por conta dos desvios na estatal já afeta os três Poderes e
não mais só os partidos.
- Há
desconfiança do eleitorado em relação aos três Poderes e às instituições do
Estado. O Executivo tem hegemonia com a compra de votos, com uma espécie de é
dando que se recebe na relação com o Congresso, que, por sua vez, coloca os
interesses nacionais abaixo dos regionais e trabalha com a ideia de que se
tiver recurso não importa de onde vem. Mesmo o Judiciário vem aparecendo por
conta de situações complicadas, como a do juiz que era responsável pelo
processo envolvendo o Eike Batista. Agora, o preocupante é que essa crise não é
só perda de prestígio da presidente, que aparece mal avaliada, ou dos políticos
e dos juízes. É o desprestígio do regime democrático - diz Romano.
A
situação delicada entre o Executivo e o Legislativo, que vem fazendo o Planalto
ter uma derrota atrás da outra neste segundo mandato da presidente Dilma,
contribui, segundo Romano, para que "a crise seja de longo prazo".
Ele lembra que o PMDB, que preside a Câmara e o Senado e é o principal aliado
do PT, tem bases em todo o Brasil, o que o torna imprescindível para qualquer
sigla que chegue ao poder. Para ele, mesmo que os nomes de Renan e Cunha sejam
confirmados na lista de Janot, o partido não perderá o poder nas duas Casas e
continuará mostrando sua insatisfação com o Planalto. Cientista político da
PUC-RS, Emil Sobottka também avalia que o governo não conseguirá "faturar
em cima" mesmo que Cunha e Renan sejam investigados pelo STF e diz ser
necessário buscar uma saída para o impasse:
- O
Planalto já não tem encontrado amparo também no Judiciário. No Legislativo,
chegou a um nível de rompimento, e mesmo os ministros do Supremo, que de modo
geral são mais contidos, já demonstram em público o descontentamento com a
presidente. Fora isso, tem ainda a crise econômica, e agora parece difícil o
ajuste fiscal passar no Congresso. Talvez Dilma tenha que propor uma aliança
dos afogados, com aqueles aliados que estiverem na lista. Mas aí é sabendo que
não é na base da confiança e sim até a próxima oportunidade de aplicar mais um
golpe, de impor nova derrota.
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