sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PÁTRIA QUE DESEDUCA



À respeito das aposentadorias milionárias dos Senadores, Deputados, Ministros, Desembargadores, Juízes, Governadores, Prefeitos, Vereadores,  etc., registradas na reportagem desse blog sob o título  “Aposentadorias Privilegiadas”,  relato o contraste existente entre esta casta privilegiada e o cidadão comum que trabalha em várias profissões e quando aposenta recebe um salário de fome que não lhe permite nem a compra de remédios. Esta situação acontece comigo por ser aposentado pela Secretaria de Educação de Minas Gerais como Professor concursado com Cursos Superior de Engenharia Mecânica, Física e Matemática e que recebe mensalmente um salário mínimo braçal de R$ 788,00, isso mesmo, o mesmo salário de um analfabeto aposentado. Para ilustrar ainda mais este fato, transcrevo uma carta escrita por mim e publicada no dia 02/12/2012 em alguns órgãos da mídia no sentido de alertar as autoridades e os colegas sobre a real  situação da educação e dos professores nesse país. Por falar em educação, a propaganda oficial do governo federal é a “Pátria Educadora”, que representa uma mentira deslavada e evidente para todos nós, pois não existe uma política oficial para a educação e os seus problemas, existe sim, uma pátria que deseduca, pátria que desestimula, pátria que oprime, pátria que joga para as traças os seus colaboradores.

"PROFESSOR NO FUNDO DO POÇO

Esta é a minha situação como Professor Efetivo do Estado de Minas Gerais, aposentado no mês de Junho/2012 com “Proventos por média” no valor de R$ 622,00 , brutos, isto mesmo, salário mínimo, ao completar 70 anos e com 15 anos de trabalho como Professor Efetivo de Física no ensino médio, com os descontos normais e de um empréstimo consignado no valor de R$396,91, recebo líquido apenas R$150,00 mensais. 
 
E agora, José? Se você gritasse se você gemesse se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! O que eu posso fazer? Você marcha José! José, para onde?”

Até o mês de Julho/2012 estava recebendo mensalmente R$ 3.121,10 trabalhando em dois períodos, não é um grande salário, mas, comparando com a situação atual é infinitamente melhor. 
 
Prevendo a situação atual, tentei continuar lecionando, pois a saúde me permite, mas, o sistema não me deixa continuar, devido à idade. E agora, o que eu vou fazer para sobreviver e ter uma vida digna? Quem vai empregar um velho de 70 anos?

Optei pela educação desde o ano de 1994 e naquela época os professores podiam aposentar com o último salário que estavam percebendo quando estavam na ativa. E hoje? O estado economiza nas costas de uns para sobrar para outros. 
 
Esta minha situação é uma alerta para os professores que estão trabalhando, pois, quando se aposentarem, irão perceber o mínimo do mínimo e não o necessário para a sua sobrevivência. 
 
Esta situação precária dos professores vem de há muito tempo, minha mãe, hoje com 95 anos, era professora do estado/MG e vendo que não poderia sobreviver com R$ 1.000,00 por mês quando fosse aposentar, fez concurso no próprio estado para outra área para ganhar mais e ter uma aposentadoria um pouco mais tranqüila, isto ocorreu há mais de trinta anos. 
 
A projeção do estado para o salário de um professor que hoje ganha R$ 1.524,59 mensais para o ano de 2015 é de R$ 1.550,00, enquanto um soldado da PM que hoje percebe R$ 2.500,00 irá ganhar em 2015 R$ 4.000,00. Não tenho nada contra, apenas pergunto, por que fazem isto com a educação e seus profissionais?

Não há na educação um plano de progressão dos seus profissionais, como na PM, quando um soldado, teoricamente, pode chegar ao posto de coronel, através de concursos e promoções, dando-lhe direito de aposentar com proventos integrais correspondentes ao último posto ou da última promoção. 
 
E o que consta no Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 1º de outubro de 2003, no Art. 3º: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Será que o poder público está me assegurando todas essas garantias e prerrogativas, como professor e cidadão, ora em fim de carreira e agora aposentado?

Alguns podem argumentar que muitos ganham salário mínimo neste país e não morrem de fome, sabe lá Deus se isto é verdade. Infelizmente, estes, não têm instrução suficiente para almejar uma situação melhor. No meu caso, é totalmente diferente, não estou acostumado a ganhar salário mínimo, pois luto desde a minha maioridade para almejar um futuro melhor, para isto estudei e me formei em: Engenharia Mecânica na PUC/BH (1966/1970), tenho cursos de Licenciatura Plena em Matemática e Física (1994/1996) e Pós-Graduação em Física na UFV (2001/2002), além de vários cursos de aperfeiçoamento e participação em vários eventos como na VII FEBRACE (USP/SP) em 2007. Para o estado, nada disso é importante, nós, os mais experientes, somos equiparados salarialmente aos iniciantes. 
 
Trabalhar no estado/MG, hoje, como professor, só é um bom negócio para aqueles que estão ganhando salário mínimo. Basta fazer um curso presencial ou não de Licenciatura de 2 ou 3 anos e imediatamente, sem comprovação se estão aptos ou não para darem aula, pois não existe uma “prova” como na OAB, já podem lecionar no Estado como contratados e são muitos nesta situação, percebendo o mesmo valor salarial igual àqueles professores que lá estão há 15 ou 20 anos e até mais. Esta é uma das causas da má qualidade do nosso ensino: professores despreparados para a função “fingindo que ensinam e os alunos fingindo que aprendem” e todos ganhando mal. O estado quer alguém na frente dos alunos dizendo que é professor, se é bom ou ruim não importa. 
 
Dizem que se conselho fosse bom, valeria dinheiro, mas, mesmo assim, aconselho aos mais jovens para optarem por carreiras mais sólidas e valorizadas que lhes garantam uma aposentadoria mais digna no futuro, tais como: Carreira Militar, Judiciário e Carreira Política. São profissões intocáveis, pois não há leis para diminuir os seus salários, ao contrário, sempre percebem aumentos substanciais e aposentam com salários integrais e com gordas vantagens. 
 
Este meu protesto não é apenas um protesto solitário de um professor prejudicado por ações e leis injustas que relegam os profissionais da educação às piores situações de abandono e desvalorização do ser humano. É um clamor de toda a nação para rever este sistema de injustiça e descaso por que passa a educação neste país, no sentido de valorizar o ensino e os seus profissionais, pois, se o Brasil quiser entrar para o primeiro mundo, tem que valorizar a educação. A educação é o princípio de tudo, qualquer profissão precisa de um “bom professor”.
(...)
Há um provérbio coreano que diz: “Nem sequer pise na sombra de um professor.”
O respeito ao professor é uma questão cultural.

Aqui no Brasil, além de pisarem na sombra do professor, pisa-se nele mesmo. Sinto que pisaram não foi só no meu corpo e sim também na minha alma.

É desumano o tratamento dado ao professor no Brasil, seja de qualquer grau de escolaridade ou de posição cultural. Esta vulgarização do professor ocorreu após 1960, antes, não era assim, lembro-me que os professores do Colégio Estadual da minha terra, onde estudei o ginasial, eram respeitados tanto dentro da sala de aula como na sociedade em geral.

O meu sentimento de frustação e decepção por eu ter escolhido a profissão de professor num determinado momento da minha vida, é enorme, mas, normalmente escolhemos os caminhos que sabemos que não nos levarão onde gostaríamos de chegar, talvez por teimosia, talvez por esperança, talvez por querer acreditar que aquilo que queremos é possível.

A dor se torna maior quando a decepção é esperada e não queria admitir essa possibilidade, pois a esperança é maior do que a própria certeza e, consequentemente fiquei abalado com esta situação que inconscientemente antevia que poderia acontecer e de fato ocorreu.

Que os deuses olímpicos que moravam em um imenso palácio, em algumas versões de cristais, construído no topo do monte Olimpo, uma montanha que ultrapassaria o céu. Alimentavam-se de ambrósia e bebiam néctar, alimentos exclusivamente divinos, ao som da lira de Apolo, do canto das Musas e da dança das Cárites e o nosso Deus que cremos,  ilumine os nossos governantes para mudarem radicalmente e de imediato o “status quo” vigente e tomem atitudes mais humanas.
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Ipatinga(MG), 02 de outubro de 2012

Moysés Peruhype Carlech

Masp: 881.292-7"

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