O FATÍDICO HORÁRIO DE
VERÃO
Eduardo Costa (Jornalista)
O governo
federal anuncia amanhã se prorroga o horário de verão nas regiões onde a
mudança nos relógios já acontece desde o dia 19 de outubro. Quer que, em vez de
terminar no dia 22 deste mês, seja prorrogado até março. Já ouvi que tal
prorrogação vai ajudar pouco pela estimativa de que seriam economizados 0,4 por
cento dos reservatórios de hidrelétricas — cifra que, embora pareça pífia, é
importante, diante do cenário de crise hidrológica na região sudeste. Ocorre
que a justificativa de aproveitar a luz do dia e, assim, economizar energia
elétrica parece sem sentido, considerando que o pico está acontecendo por volta
de 2 da tarde quando ventiladores e aparelhos de ar condicionado estão à toda.
Mas, não sou técnico e nem quero discutir o assunto nestes termos, até porque haverá sempre um bom argumento dos bem pagos para criar um, dependendo da necessidade.
Eu quero é filosofar. Quero é saber por que quando se tem algo dessa natureza para discutir, o governo só chama meia dúzia de iluminados? Você pode ponderar, pois, se a cada decisão o governante tiver que consultar a nação inteira, não teremos resultados a tempo e hora. Só me pergunto é por que neste tipo de assunto, não chamam um operário que mora três horas distante do serviço, a enfermeira que precisa se deslocar as 4 da madrugada na escuridão para salvar vidas ou a dona de casa que, com o coração doendo, é obrigada a insistir com os filhos para levantar e ir para a escola. Será que os técnicos de Brasília sabem que aumenta o número de assaltos em pontos de ônibus nesta época? E que as vítimas – na maioria – sequer registram queixas, por não acreditar em apuração? Será que o ministro das Minas e Energia costuma sair de casa antes das 6?
Nessas horas, lembro-me de Jean-Jacques Rousseau e de uma de suas eternas afirmações: “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes de que os frutos são de todos e de que a terra a ninguém pertence.'"
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