Saiba
como funcionava o clube de empreiteiras na Petrobras
Daniel
Favero
As
empresas suspeitas de participação no esquema de desvio de recursos de obras da
Petrobras criaram um clube, articulado com a diretoria da estatal, para
organizar quem participaria e quem venceria as licitações. Mas como funcionava
isso?
Ao menos
sete empresas faziam parte do chamado “clube”, criado a partir do processo de
cartelização das obras da Petrobras, que tomou força entre 2004 e 2006,
segundo consta nos depoimentos coletados no decorrer das investigações.
Em comum, as empresas tinham o porte financeiro necessário para executar obras
bilionárias.
“Na
realidade o que acontecia dentro da Petrobras, principalmente mais a partir de
2006 pra frente, é um processo de cartelização (...) eu não tinha esse
conhecimento quando eu entrei, em 2004, ficou claro pra mim dessa, entre aspas,
'acordo prévio', entre as companhias em relação às obras. Ou seja, existia,
claramente, isto me foi dito por algumas empresas, pelos Presidentes das
companhias, de forma muito clara, que havia uma escolha de obras, dentro da
Petrobras e fora da Petrobras. Então, por exemplo, empre..., Usina Hidrelétrica
de tal lugar, neste momento qual é a empresa que tá mais disponível a fazer?”,
disse Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da estatal em seu
depoimento.
O
entendimento era de que as empresas que integravam o grupo tinham que fazer os
pagamentos de propina para as diretorias da Petrobras. O clube seria
responsável por decidir quais empresas deveriam ser convidadas para as
licitações da estatal, sendo que a lista era entregue para Paulo Roberto Costa
e Renato de Souza Duque (ex-diretor de Engenharia e Serviços), apesar de
eles não decidirem qual seria a escolhida.
Quem
fazia o “meio de campo” entre as diretorias da Petrobras e o clube, de acordo
com as investigações, era o presidente da UTC Ricardo Ribeiro Pessoa. Ele é
apontado como o coordenador do cartel e responsável pelo pagamento de propinas
a agentes públicos.
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“(Ricardo Pessoa)
tinha papel de destaque também como coordenador do cartel de empreiteiras,
sendo responsável inclusive pelo pagamento de propinas a agentes públicos”, diz
o parecer do Ministério Público Federal que pediu a prisão preventiva do
empresário.
“Era ele
quem convocava os representantes das empresas para as reuniões, entregava
as listas para Renato Duque e estabelecia o contato direto com ele; que Ricardo
Pessoa era ‘o meio de campo’, ‘o intermediário’ com Duque”, disse à polícia
Augusto Ribeiro Mendonça Neto, ligado a empresa Toyo-Setal, após acordo de
delação premiada.
Mas
apesar de supostamente coordenar o clube, a UTC de Pessoa também
participava de licitações. Em oito anos, as empresas do grupo firmaram
contratos de mais de R$ 14 bilhões com a Petrobrás, sendo que atualmente estão
vigentes negócios que somam mais de R$ 7 bilhões.
As
investigações mostram Pessoa como alguém precavido. Tanto que
nas vezes em que visitou o escritório do doleiro Alberto Youssef (um dos
responsáveis pela distribuição do dinheiro para agentes polítivcos) ele se
recusou a tirar foto na recepção ao se identificar.
Transporte
do dinheiro
O doleiro
Alberto Youssef era uma dos responsáveis pela distribuição do dinheiro. Ele
recebia os recursos por meio de empresas de fachada e depois o distribuía entre
os agentes políticos. Para isso ele contava com o apoio de subordinados que
viajavam pelo País com maletas e sacolas recheadas de Reais, Dólares e Euros.
As
investigações apontam ao menos três pessoas como as responsáveis por esse
serviço: Adarico Negromonte (irmão do ex-ministro das Cidades e o único
que ainda não se entregou à Justiça) o policial federal (agora afastado) Jayme
Alves de Oliveira, conhecido como Careca, e Rafael Angulo Lopes.
A
contabilidade apreendida com Alberto Youssef apontava que entre 2011 e 2012,
Jayme teria transportado R$ 13 milhões, US$ 991 mil e 375 mil euros. “Ele
atuava por delongado período de tempo, no transporte em espécie de grandes
quantidades de dinheiro de procedência ilícita, para o que se utilizava
das facilidades de seu cargo de agente de polícia federal”, diz trecho do
parecer do MPF.
Nos
escritórios Youssef Adarico e Rafael eram vistos carregando sacolas e malas com
valores de até R$ 700 mil segundo consta em um dos depoimentos.
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