A CASA DO LADO
Eduardo Costa
Quando o país é tomado de um debate saudável – às
vezes exagerado – sobre o segundo turno das eleições presidenciais, eis que
somos despertos dos sonhos de dias melhores com mais uma canalhice no
Congresso. Um deputado – cujo nome não vem ao caso porque não é de Minas –
inclui no texto de Medida Provisória e aprova o parcelamento de dívidas
daqueles que roubaram dinheiro público. As palavras lá são outras, mas, no
fundo, querem dizer a mesma coisa: quem desviou, furtou, levou o nosso pode
devolver – se devolver – em suaves prestações. Flagrado, ele diz que foi o Gim
Argelo (um desses senadores que chegam lá sem dizer a que veio e saem sem
deixar saudades) que pediu... Que ele, o relator, não percebeu a gravidade...
Aquela conversa fiada que conhecemos de cor.
Nem Dilma, nem Aécio nem ninguém vai dar um jeito
nesse país se continuarmos abrigando em nosso vocabulário a palavra
governabilidade, que significa acordo de quem comanda o Executivo com o grande
e o baixo clero do Congresso Nacional, transformado em grande balcão de
negócios. É nojento, podre e indizível o comportamento da maioria dos que lá
estão e reelegemos, sem saber direito o que estávamos fazendo no último dia 5.
Eles só conjugam o verbo “Murici”, que se traduz em “cada um por si e quero
continuar aqui”.
Imagina você se ficar devendo o Imposto de Renda,
que já te leva quase 30% do seu salário, se a Receita vai parcelar em 15 anos.
Imagina o aposentado... se algum dia vão mudar o fator previdenciário que
retira do cidadão o direito a receber pelo que pagou a vida inteira. E esses
abutres do Congresso vão aprovando, na calada da noite, no calor da eleição, os
maiores absurdos. Eles não têm opinião alguma sobre coisa nenhuma, são capazes
das mais variadas adaptações, prontos a trair a própria sombra se isto convier
à satisfação dos seus mais mesquinhos interesses imediatos.
É preciso, mais uma vez, trazer a esse minifúndio a
advertência de Montesquieu, 400 anos atrás: “Se Legislativo e Executivo
estiverem juntos, não há liberdade”. Portanto, se a gente quer uma Nação
melhor, o remédio é exigir do (a) eleito (a) domingo um compromisso com reforma
política para valer que, a meu ver, só virá com assembleia exclusiva. É preciso
acabar com a promíscua distribuição de favores, com as chantagens e com a
desfaçatez dos que têm coragem de propor indecências do tipo parcelar a
devolução do que foi roubado, ou, de acordo com o que aprendi em casa, na
escola e na vida, roubar de novo o que já roubaram dos cofres públicos.
O pior é que, lá na frente, um bando de sem noção
exigem e um ou uma chefe da Nação ainda sanciona um negócio desses sob
argumento de que não pode perder apoio político no Congresso. Vou te falar,
viu!
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