Tem muitos motivos para
os políticos não abolirem o voto obrigatório, pois, aproveitam da ignorância da
maioria dos eleitores (50%) com baixa escolaridade e por consequência sem
consciência política para dar o seu voto e exploram esta condição para a sua eleição
prometendo casa própria, bolsa família, pequenas coisas em troca do voto. O
partido político PT aproveita desse eleitorado para se eleger e governa para os
outros 50% dos eleitores mais esclarecidos que cobram os seus direitos como no
Movimento de Junho de 2013.
Perfil do eleitor no Brasil
Se antes era prática comum prometer cestas básicas, emprego ou
tratamento médico em troca de votos para conquistar um mandato, com o aumento
da escolaridade do eleitor brasileiro essas propostas começam a perder espaço
para um voto de mais qualidade. Para especialistas, há um novo eleitor em
construção e a melhora no nível educacional pode se transformar em mais
consciência política no médio prazo.
Apesar de a maior parte dos eleitores ainda ter baixa escolaridade (50%),
houve aumento no número de pessoas com superior completo e incompleto e ensino
médio completo e incompleto. Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram
que dos 142,8 milhões de eleitores aptos a votar no pleito de outubro, 5,6% (8
milhões) terminaram a graduação — 2,8 milhões de pessoas a mais que nas
eleições de 2010.
O número de pessoas com superior incompleto também subiu em relação a
2010 — aumentou em 1,5 milhão, passando de 2,7% para 3,6%. O número de cidadãos
com ensino médio completo aumentou em 5,9 milhões de pessoas, de 13,1% para
16,6%. Já o número de eleitores com ensino médio incompleto teve um incremento
de 1,8 milhão, de 18,9% para 19,2%.
Em contrapartida, o número de analfabetos e dos que apenas leem e
escrevem (analfabetos funcionais) diminuiu. São cerca de 700 mil analfabetos a
menos que na eleição de 2010, passando de 5,8% dos eleitores para 5,1%. No caso
dos analfabetos funcionais, são 2,5 milhões a menos no pleito de 2014, de 14,5%
do eleitorado para 12%.
Para o cientista político Leonardo Barreto, especialista em
comportamento eleitoral, o índice de desenvolvimento educacional do eleitor é
reflexo da evolução dos indicadores de educação da população brasileira.
— As pessoas melhoraram a capacidade de buscar e processar informações
porque é isso que, basicamente, o nível de educação mais elevada proporciona.
O Censo Demográfico 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) indicou que o nível de escolarização, de um modo geral, tem
melhorado no país. No grupo acima de 25 anos, idade considerada suficiente para
conclusão da graduação, o número de pessoas sem instrução ou com ensino
fundamental incompleto caiu de 64% em 2000 para 49,3% em 2010. Com ensino médio
completo passou de 12,7% para 14,7% e a proporção de pessoas com ensino
superior completo passou de 6,8% para 10,8%.
Para Barreto, ainda não é possível dizer que o país já tem um eleitor
mais crítico e consciente.
— É um eleitor híbrido, que combina a necessidade de propostas novas
para ele, de políticas públicas mais universais, com práticas antigas. Era uma
pessoa que até ontem estava dentro de um contingente populacional que era muito
suscetível a trocas e a propostas clientelistas. É uma pessoa que está migrando
de um lugar para outro, mas que ainda está no meio do caminho porque essa é uma
mudança de uma geração.
De acordo com o especialista, com o aumento da escolarização e da renda,
fazer campanha em uma região pobre não significará encontrar um eleitor
desprovido de capacidade crítica e de informação.
— Na periferia, você vai encontrar pessoas cujos filhos estão fazendo ou
fizeram faculdade. Uma geração abastece a outra. O filho que fez faculdade é o
orgulho da família, vai influenciar quem não fez. Tem um efeito de dispersão
desse conhecimento. Isso torna o processo político mais complexo. Abre uma
janela de oportunidades para uma nova geração de políticos. Quem interpretar e
conduzir bem esse processo vai sair na frente.
O professor do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de
Brasília) Paulo Roberto Kramer também avalia que o eleitorado brasileiro está
em fase de transição. Para ele, os dados do TSE comprovam o gradual avanço nas
condições de vida e de educação da população.
— Um eleitor mais instruído costuma ser mais exigente. Esse eleitor
tende a transcender o nível mais básico de expectativas e necessidades, como o
alimento e o teto, e passa a querer políticas públicas mais amplas, de
educação, saúde e mobilidade urbana de qualidade.
Na opinião do especialista, os políticos vão se deparar com uma parcela
cada vez maior da população que vai cobrar seus direitos.
— Esse novo eleitor certamente vai lançar um desafio para os políticos,
que é repaginar suas propostas, suas maneiras de abordagem, pois está mais
crítico ao confrontar as promessas que são feitas com a possibilidade de
concretização.
Para a coordenadora-geral da organização não governamental (ONG) Ação
Educativa, Vera Masagão, à medida que o país mude o perfil educacional da
população, a tendência é que o perfil do eleitorado também seja alterado no
sentido de um voto mais consciente.
— Pessoas com mais escolaridade se sentem mais empoderadas, sentem menos
o político como alguém de quem precisam para ter um favor. Tendem a romper essa
visão do clientelismo, daquele pobrezinho que precisa ir lá pedir favor para o
político. Aumentam a consciência cidadã de que eu estou exercendo meu direito
votando e que o meu dever também não acaba na hora do voto. Tenho que continuar
cobrando e é dever desse gestor público cumprir as promessas que fez. Esse
caráter da cidadania é reforçado.
Segundo Vera, ao lado da educação formal, é preciso ampliar a educação
cidadã.
— Essa é uma educação que se dá principalmente no engajamento político.
Então são pessoas participando de partidos, de ONGs, engajadas, acompanhando
causas de interesse público e políticas públicas. É dessa forma que a gente
vai, de fato, mudar a política, com mais gente participando e exercendo o
controle social.
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