MAIS UMA FONTE DE
CORRUPÇÃO?
Horário
eleitoral custará R$ 839 milhões aos cofres públicos
Alex
Rodrigues
Divulgada
sem custos para partidos e políticos que disputam uma eleição, a chamada propaganda eleitoral gratuita
custa milhões de reais aos bolsos dos contribuintes.
Só este
ano, a estimativa da Receita Federal é de que a União deixe de arrecadar R$
839,5 milhões em impostos com as inserções veiculadas entre 19 de agosto e 24
de outubro.
A quantia
será descontada do total de tributos pagos pelas empresas de rádio e TV de
sinal aberto, obrigadas a veicular a publicidade obrigatória. Prevista no
Projeto de Lei Orçamentária Anual, a renúncia fiscal é tratada como gasto tributário.
Já o
horário eleitoral é elencado como direito à cidadania, ao lado de fundos como o
da Criança e do Adolescente e do Idoso que, juntos, receberão, em 2014, R$ 380
milhões em isenções, anistias, subsídios e benefícios tributários e
financeiros.
Os R$
839,5 milhões de renúncia fiscal destinados a custear o horário eleitoral gratuito
deste ano representam um aumento de quase 39% em relação aos R$ 604.2 milhões
que deixaram de ser recolhidos aos cofres públicos em 2010, quando também foram
eleitos presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. O
cálculo não leva em conta a inflação do período.
Em 2008,
quando a eleição limitou-se a prefeitos e vereadores, as concessionárias
autorizadas a explorar os serviços de radiodifusão descontaram, a título de
ressarcimento pela divulgação do horário eleitoral, R$ 420,3 milhões dos
impostos devidos.
O valor
da restituição às empresas é calculado a partir de uma fórmula complexa, cuja
aferição depende do acesso às tabelas de preços de mercado cobrados pela
exibição publicitária.
Valores
que variam conforme a audiência do veículo, o horário de exibição, a região e a
época. As variáveis estão detalhadas no Decreto nº 7.791, de
2012, que regulamenta o assunto. Os preços cobrados pelos veículos de
comunicação devem ser públicos e previamente fixados.
Para
alguns especialistas, o valor pago para que os eleitores conheçam candidatos e
propostas não é um problema, mas, sim, o fato de a sociedade ter pouco acesso e
controle sobre os valores ressarcidos.
O
pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio
Vargas (FGV), José Roberto Afonso, por exemplo, defende a importância da
divulgação do custo do horário eleitoral em renúncias fiscais. Entretanto,
sugere que órgãos públicos devem aferir com regularidade os resultados
alcançados com a iniciativa.
"Isso
deveria valer para todos os benefícios fiscais e não só para o horário
eleitoral que, em nada, é gratuito", disse o economista, afirmando não ser
contrário à publicidade partidária.
A
propaganda em rádio e TV é restrita ao horário eleitoral obrigatório. Nos
locais onde houver segundo turno, a propaganda no rádio e na TV começa 48 horas
depois da publicação dos resultados do primeiro turno e termina na antevéspera
da votação Leia mais Stefan Pastorek/UOL
"Cada
incentivo fiscal deveria ter a justificativa de sua criação cotejada com os
resultados, após os incentivos concedidos. No caso do horário eleitoral,
sabemos que está sendo transmitida nas rádios e TVs, mas isso não dispensa uma
avaliação técnica e transparente [para avaliar os resultados alcançados]",
concluiu o economista.
Em
parceria com a também economista do Ibre Érica Diniz, Afonso divulgou, em
janeiro deste ano, texto sobre o conjunto dos benefícios fiscais concedidos
pelo governo federal e seu impacto na economia brasileira.
No
documento, apontam que não se pode confundir transparência fiscal com mera
publicidade dos atos e números oficiais. "Além de conhecer, é preciso
compreender o que está por trás das estatísticas, ou seja, uma explicação
oficial sobre o porquê, quando e como o gasto foi realizado.
Também
deveria ser possível, a quem se interessar, repetir essa análise e formar sua
própria opinião", acrescentou José Roberto Afonso.
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