DIA 15/10/2013 FOI COMEMORADO MAIS UM
“DIA DOS PROFESSORES”, ESTA DATA, PODERIA SER COMEMORADA POR ESSES
PROFISSIONAIS, NO BRASIL, COM MUITA FESTA, SE ESSA CATEGORIA PROFISSIONAL
MERECESSE A ATENÇÃO E A VALORIZAÇÃO QUE TODOS DESEJAM, NO ENTANTO, ESSES PROFISSIONAIS
ESTÃO ENTRE AS CLASSES SOCIAIS MENOS VALORIZADAS PELOS NOSSOS GOVERNANTES E,
PORTANTO, ESSA DATA É MOTIVO DE TRISTEZA E DECEPÇÃO PARA TODA A SOCIEDADE.
O ARTIGO ABAIXO DO NOSSO COMPANHEIRO
EULER CONRADO RETRATA COM PRECISÃO A SITUAÇÃO DOS PROFESSORES ESTADUAIS NO
NOSSO ESTADO DE MINAS GERAIS.
EDUCAÇÃO
BLOG DO EULER CONRADO
Por que os educadores de Minas desistiram de lutar?
Tenho um pensamento diferente de alguns bravos colegas que aqui no blog têm afirmado que os educadores são covardes e que não partem para a luta por seus direitos. Pode até ser que uma parte da categoria - de qualquer categoria, aliás - seja de fato acomodada, alienada ou coisa que o valha. Mas, vejo a apatia da categoria dos educadores de Minas por um outro ângulo. Na verdade, o que ocorre hoje em Minas é o resultado de uma política deliberada, por parte da gestão Aécio-Anastasia, de destruição da carreira dos educadores, e consequentemente, de destruição da perspectiva de uma Educação pública de qualidade.
Os educadores de Minas, que foram capazes de realizar grandes paralisações nos últimos 30 anos, pelo menos, simplesmente deixaram de acreditar num futuro melhor para as carreiras do magistério. A maioria dos educadores, não importa se efetivos, efetivados ou designados, não trata mais a Educação como uma carreira que se deva levar a sério. Muitos estão adoecidos, outros conseguiram outras fontes de renda ou empregos, ou estão prestes a se aposentar. Afinal, são 12 anos de gestão de ataques ininterruptos aos direitos dos educadores de Minas. É dose cavalar, até mesmo para uma categoria acostumada a sofrer e a ser mal remunerada, tratada como se fizesse parte de uma obra de caridade e não de uma profissão considerada por alguns como das mais nobres.
No Brasil, o professor (e demais educadores) é tratado como artigo fútil por uma elite mais fútil ainda, que não se compromete com o presente e com o futuro de gerações de brasileiros, especialmente os mais pobres. Trata-se de uma elite mesquinha, acostumada a tratar os mais pobres como escravos, e que enxerga na Educação um artigo de luxo para as camadas populares.
A categoria de educadores, acostumada a sofrer, a lutar e a conquistar, mesmo que pequenas migalhas, de repente, num dado momento aprendeu que poderia sonhar com uma carreira decente. Acreditou nisso piamente quando aprovaram a Lei do Piso em 2008, com algumas regras bem definidas no seu texto constitucional, embora com um ridículo valor nominal no salário inicial.
Contudo, nem este mínimo que seria o piso enquanto vencimento básico foi cumprido pelos governos, a exemplo do governo de Minas, que tratou de burlar descaradamente a norma federal, abolindo de uma só tacada o vencimento básico e todas as gratificações e vantagens (quinquênios, biênios, pó de giz) adquiridas pelos educadores ao longo de muitos anos de luta. A Minas Gerais do neto de Tancredo, que hoje aparece na TV dizendo cinicamente que investiu na qualidade da Educação, simplesmente destruiu a carreira dos educadores. Implantou um subsídio como valor total (teto) de dois salários mínimos congelados até 2016. Rebaixou, apenas para os educadores, os percentuais de promoção e progressão na antiga carreira; aboliu, para a maioria, o direito a férias-prêmio, depois de ter reduzido, apenas para os educadores, de três para dois meses o tempo que supostamente estes poderiam usufruir o suposto direito - com quase 10 anos de carreira e já tendo direito a férias-prêmio publicado no Diário Oficial, fui informado pela secretaria da escola que só depois de 2020 eu teria uma remota possibilidade de usufruir tal direito, situação aliás comum à maioria dos educadores mineiros.
Minas usou todo o seu aparato estatal - governo, legislativo, judiciário, ministério público, e incluindo a imprensa, que é parte integrante da dominação de classe da mesma elite que detém o poder do estado em Minas e no Brasil - para destruir a carreira dos educadores, e com isso, sucatear a própria Educação pública no ensino básico. Os educadores de Minas estão fora da Lei do Piso nacional, não têm carreira, estão divididos por políticas deliberadas do governo; e tiveram praticamente todos os seus direitos cassados por uma política de estado criminosa - sim, meus caros, quando se destrói deliberadamente uma carreira como a dos educadores comete-se crime contra milhares de pessoas que dependem do ensino público de qualidade para saírem da situação de miséria em que se encontram.
O governo de Minas - e de certa forma, o governo federal também, por omissão - é responsável direto pelo aumento da violência não só nas escolas, mas na sociedade como um todo; quando se destrói uma carreira como a dos educadores, aposta-se na destruição da possibilidade de se proporcionar a milhares de pessoas uma formação crítica, humanista e universal. Mas, para o governo de Minas e seus aliados, é mais importante investir em cadeias, na repressão, do que na educação dos seres humanos. É um governo que pensa em favor da elite dominante, a qual serve.
Talvez por terem percebido, diante de tantas perdas, de tantos ataques a seus direitos, de tanta insensibilidade por parte dos governantes, e de tanto sofrimento, que não mais vale a pena lutar pela valorização das carreiras do magistério é que os educadores se encontram apáticos. Não querem mais lutar. É um gesto que pode ser comparado com o suicídio coletivo de tribos indígenas quando atacadas pela cultura branca, ocidental, etnocêntrica. Os educadores mineiros não têm mais sonhos em relação à carreira deliberadamente destruída nos últimos 12 anos. Em Minas não existe mais sequer o direito de greve - outro direito constitucional que a gestão Aécio-Anastasia transformou em crime, sujeito à prévia punição.
A Educação em Minas e a realidade dos educadores só aparecem como boas na propaganda paga pelo governo. Nesta propaganda, Minas vive o paraíso, mais ou menos como no filme Matrix, uma projeção social de perfeita harmonia, ante um mundo real destruído.
Quando vejo as heroicas lutas dos professores do Rio de Janeiro, que recebem a solidariedade de milhares de pessoas, percebo que pelo menos lá eles ainda conseguem sonhar com um novo horizonte. Aqui, ao contrário, o sonho acabou para os educadores. Não há mais horizonte - logo num lugar com tão belos horizontes. O governo de Minas deixou um legado de destruição praticamente definitiva da carreira dos educadores, e dificilmente será possível mudar este quadro. Para a Educação pública básica, pelo menos, Minas não existe mais.
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória, que não se resume ao cenário da Educação-de-Minas!
FONTE: http://blogdoeulerconrado.blogspot.com.br/2013/10/por-que-os-educadores-de-minas.html#comment-form
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