domingo, 3 de dezembro de 2023

DECISÕES DE HOJE DA PETROBRAS SÃO AS MESMAS DO PASSADO

 

História por ALEXA SALOMÃO  • Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Lenta volta ao passado. É assim que especialistas da área de óleo e gás definem os movimentos da Petrobras na largada do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As mudanças ficaram mais claras nas últimas semanas, com a divulgação do Plano Estratégico 2024-2028. O sinal amarelo do ano foi acionado apenas na quinta-feira (30).

A União é majoritária no capital votante e, em assembleia de acionistas, aprovou a supressão de trechos do estatuto da companhia que blindavam indicações políticas à alta chefia da estatal.

No mercado, há quem chame a mudança de risco Lava Jato, em uma associação ao temor de que a estatal volte a ter os loteamentos que no passado propiciaram desvios de conduta e de bilhões de reais, apurados pela operação.

“Foi uma mudança intempestiva, inoportuna e que abre margem para especulações desnecessárias”, afirma Helder Queiroz, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ que foi diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo).

A primeira alteração relevante, anunciada ainda na campanha, foi a suspensão do PPI (preço de paridade de importação), que fazia o reajuste automático no mercado interno em relação ao valor internacional. Adotou-se uma espécie de “PPI light”, em que o repasse ocorre, mas de forma mais gradual, seja para cima, seja para baixo.

A leitura no mercado é que a gestão dos preços dos combustíveis tem sido profissional, mas ninguém arrisca cravar o que pode ocorrer em caso de repique nas cotações internacionais do óleo, momento em que a tensão para segurar a alta sempre aparece.

Ainda prevalece um certo desconforto com a imprevisibilidade e a falta de transparência na formação dos valores que chegam à bomba.

“A Petrobras é o price maker [fazedor de preços] e baliza o comportamento de outros integrantes do mercado, como os importadores” diz Queiroz.

“Fica todo o mundo, inclusive o governo, aguardando se, quando e de quanto pode ser o reajuste. Eu mesmo, que sou da área, confesso que, a cada reajuste, até tento calcular algum critério ou parâmetro, mas não consigo encontrar.”

O sinal forte de revisão de rota é o aumento dos investimentos.

Como a Petrobras é uma empresa listada em Bolsa, há consenso no setor de que deve remunerar os acionistas. Efeitos positivos sobre a economia –geração de emprego e fomento da indústria– não seriam um fim, mas uma consequência de seu sucesso empresarial. Como o governo é acionista, pode usar os seus dividendos para fazer política pública.

Historicamente, no entanto, as gestões petistas veem a Petrobras como um agente indutor de política pública. Reduzem a distribuição de dividendos para que a companhia possa investir mais.

O auge dessa estratégia ocorreu no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT). A estatal investiu R$ 565 bilhões e distribuiu R$ 335 milhões em dividendos.

Vieram, então, a fase dos excessos e a crise financeira. Congelamentos do preço de combustíveis, superinvestimentos nos mais diversos setores com baixo retorno, denúncias de corrupção e a Lava Jato comprometeram os resultados. A petroleira registrou prejuízo bilionário de 2014 a 2017, período em que teve uma das maiores dívidas corporativas do mundo, que chegou a US$ 133 bilhões (R$ 654 bilhões).

Ao assumir a Presidência, Michel Temer (MDB) iniciou uma reversão dessa lógica, que foi levada ao extremo oposto por Jair Bolsonaro (PL). O governo passado distribuiu R$ 299 bilhões em dividendos, cerca de seis vezes mais do que a média dos quatro governos anteriores, e investiu R$ 133 bilhões.

O plano da companhia para os próximos cinco anos resgata o protagonismo da estatal. De 2024 a 2028, prevê o desembolso de US$ 102 bilhões (R$ 501,7 bilhões), um aumento de 30,7% em relação à proposta anterior.

Quem acompanha a Bolsa já identificou o efeito sobre o retorno para os acionistas.

“Os números mostram que os dividendos ainda são altos, mas já indicam uma reversão na relação com os investimentos”, afirma o consultor de dados financeiros Einar Rivero (veja infográfico).

lula/infografico1.html *** A reformulação dos negócios está dada também. O governo anterior priorizou a exploração de grandes poços do pré-sal, elevando a geração de caixa e a rentabilidade. Agora, volta a diversificação, que tende a reduzir o retorno.

Está no radar a retomada da atuação internacional, que tinha sido quase suspensa. América do Sul e África são o foco. A Petrobras planeja ainda para 2024 a licitação de 36 embarcações de estaleiros nacionais.

A companhia anunciou a volta aos fertilizantes, com a retomada das obras da fábrica de nitrogenados em Três Lagoas (MS), interrompidas em 2014. O refino já está em expansão.

Neste ano, a estatal intensificou a produção nacional de diesel. É uma tentativa para reduzir a dependência externa. O país importa de 23% a 27% do diesel que consome. Em 2023, a produção desse combustível bateu dois recordes, indo em outubro a 2,38 milhões de metros cúbicos.

Galeria Nova chance para a indústria naval Governo tenta reativar setor que foi alvo de conturbada política de apoio em gestões anteriores https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1778047305360730-nova-chance-para-a-industria-naval *** Esse esforço poderia ocorrer com a atração de empresas privadas, mas já se configurou a opção por concentrar a atividade –e tanto é assim que a companhia tenta rever os parâmetros do plano de desinvestimento fixados em 2019 em um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

O termo de compromisso estabeleceu a venda de oito refinarias justamente para reduzir a concentração da Petrobras nesse segmento e atrair investidores internacionais.

“As grandes refinarias da Petrobras estão no Sudeste. Essas incluídas no acordo do Cade para desinvestimento são menores. Do ponto de vista do grupo, a venda não gera perda substancial de valor econômico para a companhia”, afirma Marcio Couto, pesquisador da FGV Energia (Instituto de Estudos em Energia da Fundação Getulio Vargas).

“Mas existe uma orientação no sentido de ter a Petrobras inteira. Ou seja, é muito mais uma opção de política pública do novo governo do que uma discussão econômica do ponto de vista de negócio da empresa.”

Citação Foi uma mudança [no estatuto] intempestiva, inoportuna e que abre margem para especulações desnecessárias Helder Queiroz professor da UFRJ e ex-diretor da ANP **** As refinarias que já foram privatizadas estão na mira da estatal. A Lubnor (Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste), em Fortaleza, uma operação pequena, teve a venda suspensa.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sinalizou que pode negociar com o Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes, a recompra da refinaria Mataripe Acelen, na Bahia.

No mercado se diz que quem compra Petrobras compra risco político. Em termos econômicos, o pagamento de dividendos continua em alta e as mudanças de rota até agora estão ocorrendo dentro do esperado para um governo do PT. O comportamento das ações, em alta de 60% desde a eleição, é o sinal disso.

Arte HTML5/Folhagráfico/AFP https://arte.folha.uol.com.br/mercado/2023/12/02/petrobras-desde-eleicao-lula/infografico2.html *** É consenso que há uma mudança importante que mira o futuro: o ingresso da Petrobras na transição energética.

A empresa criou uma diretoria só para essa área e colocou no comando Mauricio Tolmasquim, um técnico respeitado. A estatal vai investir em eólicas em alto-mar, por exemplo.

Ao mesmo tempo, mostra que não vai frear a exploração de energias fósseis. A estimativa é que as reservas do pré-sal podem durar uns 15 anos antes de decaírem. A estatal busca alternativas.

Na lista está prospectar a margem equatorial, trecho entre a foz do rio Oiapoque e o litoral norte do Rio Grande do Norte, o que já gerou divergências com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

O mercado também aguarda com expectativa como a Petrobras vai proceder o leilão da bacia de Pelotas, que fica entre Santa Catarina e o extremo do Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai. O certame está marcado para o dia 15 de dezembro.

Como a diretriz será implementada é outra questão. Já se criam dúvidas sobre a permanência de Prates. O mercado já percebe que o executivo é alvo do fogo amigo e de opositores. “Mas até agora tem demonstrado capacidade para equilibrar divergências”, afirma Couto.

*Outro lado: Ações são voltadas para o futuro, diz Petrobras*

Prates tem ido a público para contemporizar críticas a esses movimentos. Em resposta à Folha, a assessoria de imprensa enviou um dos vídeos que ele gravou e distribuiu sobre os temas no trajeto para a COP28 –28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

Galeria Refinarias a serem alienadas conforme acordo entre Petrobras e Cade: Estatal precisará pedir mais tempo ao Cade para vender ativos https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1734654075496863-refinarias *** Sobre a alteração no estatuto que poderia abrir margem a indicações políticas, Prates disse foi retirado um trecho que estava duplicado.

“O item basicamente repete o que está na Lei das Estatais, e repetir não faz sentido”, afirmou. No entanto, ele admite que esse item está suspenso por liminar do STF (Supremo Tribunal Federal). Se cair por decisão da corte, a Petrobras perde a blindagem.

“No Cade, não está havendo qualquer tipo de discussão sobre retomada de refinaria”, afirmou.

“Estamos discutindo o aprimoramento e a atualização dos termos de conduta relacionados às atividades de refino e gás natural. Esse processo está em curso há muitos meses.”

Ele também negou que tenha ocorrido uma reestatização da refinaria no Ceará. Disse que não houve, dentro do prazo previsto no contrato, uma regularização fundiária importante para a conclusão do negócio, o que levou à devolução do ativo. “A Lubnor fica com a Petrobras. A Petrobras fica no Ceará.”

Em nota, a assessoria reforçou o posicionamento afirmando que as mudanças em curso olham para a frente.

“Entendemos que as ações adotadas pela gestão da Petrobras neste ano visam preparar a companhia para o futuro de forma responsável, contribuindo para o desenvolvimento do país, garantindo a sustentabilidade da empresa e o retorno para seus acionistas a longo prazo.”

Destacou que o fim da paridade trouxe benefícios para o país. “Foi possível promover períodos de estabilidade para os brasileiros.”

Disse ainda que nova gestão dinamizou a operação para atuar em plena capacidade e fortaleceu a governança.

“As alterações no estatuto aprovadas em assembleia na quinta-feira em nada reduzem o alinhamento da companhia à legislação vigente. A Petrobras continuará a seguir todos os requisitos da Lei das Estatais para a indicação dos administradores.”

SINAIS DA MUDANÇA

*Adoção do PPI light*

O PPI (preço de paridade de importação) foi adaptado, com a troca do repasse automático por reajustes mais graduais, mas imprevisíveis

*Ampliação do investimentos*

Entre 2024 e 2028, a petroleira prevê o desembolso de US$ 102 bilhões, aumento de 30,7% ante o plano em vigor; a tendência é de redução da distribuição dos dividendos

*Revisão do desinvestimento*

Estatal foi ao Cade para reavaliar a venda de oito refinarias e a atuação na logística de transporte

*Diversificação dos negócios*

Depois de focar na exploração em grande poços no pré-sal, volta a áreas como fertilizantes, da qual tinha se retirado, e amplia operações de refino

NA COP-28 PELA PRIMEIRA VEZ A FLORESTA FALA POR SI

 

História por Ana Carolina Peliz  • RFI

COP28: Lula se emociona em evento com Maria Silva; “pela primeira vez, a floresta fala por si”© REUTERS – THAIER AL-SUDANI

Durante o evento “Florestas: protegendo a natureza para o clima”, neste sábado (2), durante a Conferência da ONU para o clima, a COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu a palavra a Marina Silva, se emocionou e chorou ao falar sobre o percurso da ministra do Meio Ambiente. 

Ao se levantar para discursar no palco do evento, Lula chamou Marina Silva para acompanhá-lo. Logo de início, o presidente pediu licença para “quebrar o protocolo”. “Aqui está tudo muito arrumado, tudo muito burocrático”, disse ele.

“Eu, embora seja o presidente do Brasil, não vou falar sobre floresta porque eu acho que esse encontro de hoje é uma reunião sem precedentes na história das COPs”, disse Lula. 

“Nós precisamos 28 edições da COP para que pela primeira vez a floresta viesse falar por si só. E eu não poderia utilizar a palavra sobre a floresta se eu tenho no meu governo, uma pessoa da floresta. A Marina, nasceu na floresta, se alfabetizou aos 16 anos”, neste momento, o presidente não conteve as lágrimas e foi abraçado por Marina Silva.

“Eu acho que é justo, que para falar da floresta, ao invés de falar o presidente que é do Estado, que não é da floresta, a gente tenha que ouvir ela que é responsável pelo sucesso da política de preservação ambiental que nós estamos fazendo no Brasil”, disse abraçado à ministra.

“A Marina tem um discurso por escrito aqui que ela pode ler, mas eu acho que você deveria falar com o seu coração sobre a floresta, porque o encontro de hoje é inédito, porque é a primeira vez que a floresta vem falar por si. É a primeira vez que nós estamos dizendo, não basta evitar o desmatamento, é preciso cuidar da floresta, cuidar das pessoas que moram na floresta e cuidar da biodiversidade da floresta. Isso custa muito dinheiro e os países ricos tem que ajudar a pagar essa conta”, disse o presidente, ao ceder a palavra à ministra do Meio Ambiente. 

Por sua vez, Marina Silva agradeceu Lula. “Muito obrigada por essa honraria presidente, e eu vou dizer, que tudo que está acontecendo no Brasil, é graças ao seu compromisso, com a democracia, com o combate à desigualdade e com a proteção do meio ambiente, e o enfrentamento da mudança do clima”, afirmou. 

Ela disse que se sentia honrada pelo espaço cedido por Lula no evento e lembrou que eles começaram a trabalhar juntos, “quando eu tinha 18 anos”. 

Vitórias e derrotas 

Marina foi escolhida por Lula para mostrar à Comunidade Internacional seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a batalha contra a emergência climática. Mas já durante este ano, ela teve embates com o Congresso e colegas do governo. 

Ministra pela terceira vez em um governo de Lula, desde o começo deste mandato do presidente e de sua volta ao ministério do Meio Ambiente, em janeiro deste ano, Marina não colecionou apenas vitórias. 

Ela conseguiu relançar o Plano de Combate ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAM), desativado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, ressuscitou o Fundo Amazônia e já conseguiu, apenas neste ano, a redução de 22% do desmatamento da floresta, segundo o PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, além de 59% da Mata Atlântica. 

Mas a ministra perdeu parte das funções de seu ministério, após a  aprovação da medida provisória da reestruturação do governo, entre elas, o Cadastro Ambiental Rural, levado par ao ministério da Gestão. 

O presidente brasileiro não foi o primeiro líder a se emocionar e chorar durante uma Conferência da ONU pelo clima. Em 2009, o choro de Ian Fry, negociador do Tuvalu, uma pequena ilha do Pacífico, entrou para a história como um dos momentos mais célebres da COP 15, realizada em Copenhague, na Dinamarca.

O STF VAI PUNIR A IMPRENSA POR FALA DE ENTREVISTADO

 

A liberdade deixou de ser um direito universal e passou a ser uma concessão do Estado, como um alvará para se abrir uma loja

Por J.R. Guzzo – Jornal Estadão

Um ataque do poder público à liberdade, quando é tratado como a coisa mais normal do mundo, tem a tendência de levar a outro ataque – e este a um outro ainda pior, e a mais outro, até se chegar à democracia que o ministro Alexandre de Moraes e seus colegas de STF impuseram ao Brasil de hoje. A liberdade deixou de ser um direito universal. Passou a ser uma concessão do Estado, como um alvará para se abrir uma loja. Seu uso virou uma espécie de “ameaça” à sociedade. Precisa ser combatido com medidas de prevenção, como um vírus – pois no entender do Supremo e de quem exige o “controle social” dos meios de comunicação, a pior delinquência que um cidadão brasileiro pode cometer hoje em dia é “usar mal” a liberdade. Quando se trata da liberdade de expressão, então, exige-se o cuidado que se deve às advertências de uma bula de remédio tarja preta. Tudo é contraindicado.

Decisões do STF colocam em risco a liberdade no Brasil
Decisões do STF colocam em risco a liberdade no Brasil Foto: Dida Sampaio/Estadão

O Brasil vive a ficção de que o STF é um tribunal de justiça como os que existem nos países democráticos, com magistrados sábios e imparciais como o Rei Salomão. Não é nada disso. Eles querem, em parceria com Lula e a esquerda nacional, um Brasil que se submeta aos seus desejos. A liberdade de expressão está atrapalhando muito esse “projeto de país”? A saída é reprimir ao máximo a atividade jornalística – e ninguém se dedica tanto a isso como o ministro Alexandre de Moraes.

O ministro acaba de tomar uma das suas decisões mais assombrosas: em cima de um caso ocorrido 30 anos atrás, determinou que os órgãos de imprensa agora são responsáveis pelo que dizem os seus entrevistados. Veículos têm de responder, é claro, pelas afirmações que fazem – mas não pelas afirmações dos outros. Moraes disse que a “proteção constitucional” à imprensa se baseia no “binômio liberdade com responsabilidade”. Que binômio? Não há “binômio” nenhum na Constituição. Não se diz ali, como quer o ministro, que a imprensa tem de ser “responsável”. Não diz que tem de “checar” nada. Não diz que tem de tomar cuidado, ou de dizer a verdade. Diz apenas, nos artigos 5 e 220, que a imprensa é livre, sendo vedado o anonimato, e que a informação, “sob qualquer forma”, não pode sofrer restrições.

Constituição brasileira é incompatível com regime STF-Lula. “Esse tempo da liberdade de expressão como um valor absoluto acabou no Brasil”, já disse o futuro ministro Flávio Dino, com voz de deboche nas palavras “liberdade de expressão”. A ministra da Saúde acaba de dizer na Câmara de Deputados que “as dúvidas” sobre a vacina anti-Covid para crianças “são criminosas”. Vem agora o ministro Moraes com a censura para as entrevistas. Cada vez mais, é proibido pensar.

LIÇÕES DE CHARLIE MUNGER OFERECEM UMA RICA FONTE DE SABEDORIA PARA OS QUE BUSCAM O SUCESSO

 

Autor: Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria

Charlie Munger, um ícone no mundo dos negócios e investimentos, foi uma figura que personificou a interseção de inteligência, trabalho duro e temperança. Sua parceria de longa data com Warren Buffet, na Berkshire Hathaway, e sua abordagem perspicaz nos negócios o destacaram como uma influência duradoura.

Neste texto, exploro não apenas a história de Munger, mas como suas lições continuam a ressoar, oferecendo uma rica fonte de sabedoria para os que buscam acelerar suas carreiras e alcançar sucesso sustentável.

Quem foi Charlie Munger?

Charlie Munger, formado em Direito pela Harvard Law School, construiu uma carreira impressionante não apenas como advogado, mas também como investidor e empresário. Ele é conhecido por seu foco em investimentos de longo prazo e sua filosofia de “paciência e disciplina”.

Lições de Munger para acelerar a carreira

Aqui, listo seis principais lições do empresário que podem ajudar na carreira de qualquer profissional:

1. Constância de propósito: Munger sempre enfatizou a importância da perseverança, o que se traduz em estabelecer metas claras de carreira e se manter firme no caminho para alcançá-las, mesmo diante de obstáculos;

2. Trabalho duro e preparação: dedicar tempo ao aprendizado contínuo e ao desenvolvimento de habilidades;

3. Temperança: manter a calma sob pressão e tomar decisões ponderadas, uma habilidade crucial para qualquer profissional em ascensão;

4. Aprendizado interdisciplinar: para alunos e profissionais de qualquer campo, isso implica em buscar aprender além de sua área de especialização, entendendo como diferentes campos de conhecimento se conectam;

5. Realismo e honestidade: é importante ser realista e honesto, principalmente em relação às próprias competências e limitações. Isso é crucial para o desenvolvimento pessoal e profissional;

6. Investimento em si mesmo: transpondo à carreira, é investir tempo e recursos em educação e desenvolvimento pessoal.

A partida de um visionário

No dia 28 de novembro, Charlie Munger partiu aos 99 anos, deixando um legado não apenas como uma lenda nos investimentos, mas como um exemplo brilhante de como trabalho duro, dedicação e uma mentalidade equilibrada podem levar ao sucesso a longo prazo. Suas lições continuam relevantes para qualquer pessoa que busca excelência em sua carreira, servindo como um guia valioso para o desenvolvimento pessoal e profissional.

À medida que nos despedimos de um visionário, suas lições nos instigam a refletir sobre como podemos aplicar seu legado em um mundo de negócios em constante evolução. Seja na constância de propósito, no trabalho árduo ou na busca constante pelo conhecimento, Munger nos deixa um caminho valioso para acelerar nosso crescimento profissional e alcançar objetivos sustentáveis. Ele foi a prova viva de que o sucesso é um processo contínuo de aprendizado, adaptação e perseverança.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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sábado, 2 de dezembro de 2023

PROJETO APROVADO NO SENADO QUE LIMITA O PODER DO STF PODE SER MODIFICADO NA CÂMARA

 

História por Gabriel de Sousa  • Jornal Estadão

BRASÍLIA – Para tentar segurar o máximo possível a votação da proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2021, que limita os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), busca resgatar um projeto de lei alternativo que é mais ameno do que o texto aprovado no Senado no último dia 22 de outubro.

Em resposta a aprovação da PEC 8/2021 pelo Senado, Lira busca resgatar PL alternativo mais brando Foto: DIV© Fornecido por Estadão

O projeto de lei em questão é o 3.640/2023, que foi apelidada como a “PL da Moderação dos Poderes”. A proposta é de autoria do vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), e surgiu como resultado de sugestões feitas em 2020 por uma comissão de juristas presidida pelo ministro do STF Gilmar Mendes. O magistrado tem feito reuniões com Lira na tentativa de engavetar a PEC.

A PEC aprovada no Senado é de autoria do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e impõe que os ministros do STF se tornem impedidos de suspender, por meio de decisões individuais, a vigência de leis aprovadas pelo Legislativo. Para que essas ações sejam feitas, pelo menos seis dos 11 magistrados devem votar em conjunto.

Já o texto de Pereira é bem mais ameno e não impede que as decisões monocráticas aconteçam. O projeto de lei discorre que essas ações dos ministros devem ocorrer apenas em situações “de extrema urgência, perigo de lesão grave, excepcional interesse social ou, ainda, em período de recesso”.

Além disso, o projeto estabelece que a decisão individual deve ser pautada automaticamente para a sessão seguinte do STF, onde necessitará da aprovação da maioria do magistrados para que possa continuar em vigor.

Enquanto que a PEC do Senado busca alterar a Constituição Federal a partir de uma emenda, as mudanças propostas pelo projeto de lei alternativo pretende modificar a Lei nº 13.105, de 2015, do Código de Processo Civil, que discorre sobre as decisões monocráticas em tribunais.

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  • Entenda o que diz o projeto alternativo que Arthur Lira articula para moderar na Câmara poder do STF© Fornecido por EstadãoPEC que limita poderes do STF foi aprovada com ‘traições’ no Senado; veja como votou cada senador

A proposta do vice-presidente da Câmara também prevê a possibilidade de resolução de ações no STF a partir de acordos entre as partes. Também é priorizada a intervenção de outras instituições nos processos a partir de convites do relator, o chamado amici curiae. A prática busca garantir a participação de múltiplos setores da sociedade nas decisões do Supremo.

O relator do projeto é o deputado Alex Manente (Cidadania-SP). O parlamentar afirmou que o texto deve entrar na pauta da sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do próximo dia 12. O PL tem caráter terminativo, isto é, caso seja aprovado pelo colegiado ele não precisará passar pelo plenário da Casa, indo direto para o Senado.

Proposta permite aumentar o ‘sarrafo’ para partidos pequenos, o que é desejado por Lira

A proposta também dificulta que partidos pequenos possam ingressar no STF com Ações de Declaração de Inconstitucionalidade (ADI’s) e Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC’s).

Segundo o texto do PL, somente terão direito a acionar o STF as siglas que alcançaram nas eleições gerais mais recentes o percentual de 3% dos votos válidos ou quinze deputados federais distribuídos em pelo menos um terço dos Estados.

No dia 6 de novembro, Lira disse que seria necessário “subir o sarrafo” para quem tem direito aos recursos no Supremo. Na época, o presidente da Câmara defendeu que um partido político somente deveria ter o direito de apresentar uma ação direta de inconstitucionalidade se conseguisse o apoio de um quinto dos membros do Legislativo.

A declaração de Lira foi rechaçada pela presidente do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Segundo Gleisi, a limitação da atuação dos partidos pequenos contraria a “legitimidade e a autonomia” das legendas.

“Uma coisa é estabelecer cláusulas para o funcionamento legislativo dos partidos, seu acesso aos fundos públicos e tempo de propaganda. Outra, bem diferente, é retroagir no direito de livre organização e representação, inclusive o direito, importante, de provocar a ação do STF. Não se confunde Centrão com Constituição!”, afirmou a presidente do PT.

Lira deve segurar votação da PEC até o fim do recesso parlamentar

A PEC 8/2021 foi aprovada por 52 votos a 18 no Senado e aguarda por uma aprovação da Câmara dos Deputados para entrar em vigor. Em conversas reservadas, Lira disse que deve segurar a apreciação da proposta até o fim do recesso parlamentar. Aliados do presidente da Câmara avaliam que ele não deve entrar em confronto com o STF.

A proposta aprovada no Senado não é o texto original de Oriovisto e sofreu alterações do relator, senador Esperidião Amin (PP-SC). A versão inicial da previa que as medidas administrativas do governo só poderiam ser derrubadas pela maioria do STF e também estabelecia um prazo de validade de 180 dias para pedidos de vista. Ambos os trechos foram removidos.

Os ministros da Suprema Corte receiam que, com a aprovação da PEC, investidas mais radicais sejam feitas contra o Judiciário, como pedidos de impeachment de ministros da Corte. Após a votação no Senado, ministros do Supremo reagiram durante uma sessão, classificando a proposta de emenda como uma afronta aos magistrados. Em resposta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a reação foi ‘desproporcional’.

O ministro Gilmar Mendes chegou a reclamar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da posição do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que votou a favor da proposta.

STF DECIDE PUNIR A IMPRENSA E AO MESMO TEMPO FALA QUE ISSO NÃO IMPEDE A LIBERDADE DA IMPRENSA

 

História por Marina Amaral  • Agência Pública

Liberdade de imprensa não se discute; erros, sim© Fornecido por Agência Pública

Depois de uma semana carregada de troca de acusações entre os próprios jornalistas, que transformaram críticas em ofensas nas redes sociais, a notícia de que o STF decidiu que a imprensa pode ser responsável por falas de seus entrevistados deixou gregos e troianos apreensivos. 

Acredito que a maioria dos brasileiros – e de jornalistas – endossa a tese do ministro Alexandre de Moraes, aprovada pelo tribunal, de que a liberdade de imprensa não é um valor absoluto, tem de ser exercida “com responsabilidade”. 

Mas o ministro defende também, embora não admita censura prévia, que é possível retirar conteúdo do ar e responsabilizar a publicação por “informações comprovadamente injuriosas, difamantes, caluniosas, mentirosas”. 

Ok. Mas, se as ações contra jornalistas e publicações já são corriqueiras – quando não se configuram em verdadeiro assédio judicial –, por que então uma decisão que restringe ainda mais a liberdade de imprensa? 

O caso em julgamento no plenário do STF era a publicação de uma entrevista em 1995 com imputações falsas de terrorismo feitas por um entrevistado a um militante de esquerda durante a ditadura, que morreu antes de o processo ser concluído. A decisão foi pela condenação do jornal que divulgou a entrevista, o Diário de Pernambuco

Uma decisão que parece adequada nesse caso, até porque o entrevistado era envolvido com a repressão, inimigo dos militantes contra a ditadura, e, portanto, longe de ser fonte confiável e isenta para uma acusação desse quilate – publicada e não investigada.  

A questão é: como a tese aprovada é de repercussão geral, os juízes de primeira e segunda instância vão julgar toda a imprensa e todas as reportagens e entrevistas com base na tese do STF, que peca, também, por não trazer critérios suficientemente claros. 

A partir de agora, todos os veículos podem ser punidos pelo que dizem seus entrevistados se: “i) à época da divulgação, havia indícios concretos da falsidade da imputação; ii) se o veículo deixou de observar o dever de cuidado na verificação da veracidade dos fatos e na divulgação da existência de tais indícios” (os negritos são meus).

A imprensa reagiu. “STF decide por liberdade de imprensa vigiada”, tascou o jornal condenado em sua manchete de ontem. A Associação Nacional dos Jornais (patronal), mais discreta, disse que a aprovação da tese é um “avanço”, mas fez ressalvas em nota publicada na quarta-feira. “A modulação dos votos reforça a natural responsabilidade dos veículos com o que divulgam, mas ainda pairam dúvidas sobre como podem vir a ser interpretados juridicamente os citados ‘indícios concretos de falsidade’, e a extensão do chamado ‘dever de cuidado’.”

Para além da conhecida falta de autocrítica da imprensa e da arrogância das empresas de mídia, vale a pena prestar atenção nesses pontos, também levantados pelas organizações de jornalistas. Em especial, a possibilidade de ter que retirar entrevistas do ar antes mesmo do final do julgamento – o que pode ser visto, sim, como censura – e a subjetividade dos critérios estabelecidos: afinal, quem vai determinar, por exemplo, o que são “indícios concretos de falsidade” ou se o veículo deixou de observar o “dever de cuidado”? E como fica o contraponto ao que diz o entrevistado no caso de entrevistas ao vivo?

Indo um pouco mais além do que disseram as entidades de jornalismo: e as denúncias de mulheres estupradas, comunidades atacadas, trabalhadores que relatam atos ilícitos de empresas? Terão que provar o que dizem, o que inviabilizaria muitas denúncias, às vezes sem outras testemunhas? A imprensa não pode ser obrigada a seguir o rito dos inquéritos policiais e processos judiciais. Isso é com os operadores da Justiça. 

Claro que é obrigatório ouvir o outro lado e investigar ao máximo e o mais profundamente possível, além de publicar todas as informações apuradas. Mas quem vai avaliar se o trabalho jornalístico foi o suficiente ou se cumpriu “o dever de cuidado”? O juiz?

Ontem mesmo a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) anunciaram que vão enviar um informe endereçado ao relator especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (vinculada à Organização dos Estados Americanos, OEA) sobre a intromissão do STF nos limites da liberdade da imprensa no país. 

Paralelamente a isso, porém, jornalistas e sociedade têm que se entender sobre a importância da liberdade de imprensa para a democracia, unidos na exigência pela qualidade da informação e pela necessidade de o jornalismo ter o interesse público como o seu único norte. 

Não cabe ao STF aprovar tese de repercussão geral que restringe a priori a liberdade de imprensa e vulnerabiliza o jornalismo, que passa a se sujeitar a interpretações de magistrados de instâncias inferiores. Com o agravante de que juízes locais frequentemente estão envolvidos nos conflitos retratados nas reportagens, são corporativistas quando as denúncias atingem membros do Judiciário, além de tenderem a beneficiar homens brancos, poderosos ou abastados. O recente caso da condenação da repórter Schirley Alves está aí para comprovar os abusos da Justiça. 

Que os crimes reais sejam punidos de forma imparcial, analisados caso a caso, com os ministros do STF cumprindo o papel de juízes e de guardiões da democracia e da Constituição, que entroniza a liberdade de imprensa. Afinal, como sabemos, quer na Justiça, quer na imprensa, o diabo mora nos detalhes.

FUNDO PARA BENEFICIAR ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO É UMA CONTABILIDADE CRIATIVA DO GOVERNO COMO MANOBRA PARA ATRAPALHAR AS REGRAS FISCAIS

 

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

O governo Lula da Silva editou uma medida provisória que cria um programa de bolsas para incentivar alunos de baixa renda a concluírem o ensino médio. A proposta é meritória, sem sombra de dúvidas, haja vista os elevados índices de evasão e abandono escolar registrados no ensino público, especialmente entre jovens vulneráveis.

Um estudo do Serviço Social da Indústria no Rio de Janeiro (Firjan Sesi), realizado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), constatou que 500 mil jovens acima dos 16 anos desistem dos estudos anualmente. A probabilidade de que um jovem na faixa dos 20% mais pobres termine o ensino médio é de apenas 45%, ante 94% entre os 20% mais ricos.

A evasão tem múltiplas causas, mas aumenta muito no primeiro ano do ensino médio. Fica claro, portanto, que os jovens que chegam até essa etapa precisam de incentivo para não abandoná-la. Concluir o ensino médio não é garantia de condições de vida melhores, mas certamente torna a mobilidade social um pouco menos desafiadora.

Dito isso, há formas e formas de propor políticas públicas para solucionar um mesmo problema. E o governo não escolheu a melhor delas. Em vez de inserir o programa no Orçamento e tratá-lo com a prioridade e a transparência que ele requer, o Executivo optou por criar um fundo privado para financiar as bolsas. Administrado pela Caixa, ele receberá até R$ 20 bilhões em aportes da União, ações de estatais e recursos arrecadados em leilões de petróleo.

O governo se limitou a publicar a medida provisória que cria o programa em edição extra do Diário Oficial da União. Não detalhou como o fundo será gerido, quanto pretende aportar neste ano e se esses recursos serão contabilizados dentro ou fora do limite de despesas. Mas o Senado respondeu a todas essas questões ao aprovar um projeto de lei complementar nesta semana. Serão R$ 6 bilhões neste ano fora do limite de gastos, na primeira deturpação no arcabouço fiscal.

Supõe-se que Lula da Silva decidiu cumprir a promessa de campanha que garantiu a ele o apoio da então candidata Simone Tebet no segundo turno da eleição. Mas o programa de bolsas defendido pela atual ministra do Planejamento tinha como base o Projeto de Lei de Responsabilidade Social (PL 5343/2020), do ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Parece a mesma coisa, mas não é. Em vez de um fundo privado, a proposta do ex-senador mantinha tudo dentro do Orçamento, com total observância das metas fiscais. Os benefícios teriam múltiplas fontes de financiamento, entre as quais recursos de emendas parlamentares. O projeto previa, também, o corte de subsídios para abrir espaço para o programa no Orçamento. Isso demanda tempo para debate e negociação – tudo que uma medida provisória não oferece.

O ex-senador nunca escondeu que sua fonte de inspiração era uma proposta dos economistas Fernando Veloso, Marcos Mendes e Vinícius Botelho, publicada pelo Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP). É justamente por essa razão que não se deve ignorar a crítica de Marcos Mendes à iniciativa do governo, uma desfiguração da ideia original das bolsas.

Em entrevista ao Estadão, Mendes questionou a sistemática do fundo e a forma como o benefício será financiado. “Isso tem nome: se chama contabilidade criativa, despesa extraorçamentária, política parafiscal. Esse filme a gente já viu”, disse.

A baixa escolaridade está na origem de muitos outros obstáculos que se interpõem na passagem da infância e adolescência para a vida adulta. Dificulta a inserção no mercado de trabalho, empurra os jovens para a informalidade, impõe rendimentos menores e não proporciona uma rede de proteção social.

Por tudo isso, enfrentar a evasão no ensino médio é urgente. É algo que beneficiará não apenas os jovens vulneráveis, mas toda a sociedade brasileira. Reconhecer um grave problema social, no entanto, requer escolhas, ou seja, criar condições para custeá-lo no Orçamento sem recorrer a manobras e atropelar as regras fiscais. Essa alternativa sinaliza a escolha de um caminho perigoso, e o País sabe onde ele termina

MINA DE SAL GEMA EM MACEIÓ AMEAÇA COLÁPSO QUE AFETA VÁRIOS BAIRROS

História por Fabio Grellet  • Jornal Estadão

A Defesa Civil de Maceió divulgou nota sobre o risco iminente de colapso de uma mina da petroquímica Braskem, situação que gerou alerta máximo de órgãos da prefeitura, do governo de Alagoas e do Serviço Geológico do Brasil. Segundo a informação divulgada às 9h56 desta sexta-feira, 1.º, o deslocamento vertical acumulado da mina é de 1,42 metro e a velocidade vertical é de 2,6 centímetros por hora.

A equipe de análise da Defesa Civil disse se basear em dados contínuos, incluindo análises sísmicas. A Braskem, por sua vez, diz que vem “tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências”.

“Por precaução, a recomendação é clara: a população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil, enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o perigo”, diz a nota da Defesa Civil.

Área de risco iminente de colapso em mina da Braskem no bairro do Mutange, em Maceió Foto: Ailton Cruz/Estadão© Fornecido por Estadão

Esta semana, Maceió decretou estado de emergência após o alerta de “risco iminente de colapso” da mina 18, que é operada pela Braskem e fica no bairro de Mutange. A Defesa Civil de Maceió afirma que o colapso da mina da Braskem pode ocorrer a qualquer momento.

Estudos têm mostrado o aumento significativo na movimentação do solo na mina, indicando a possibilidade de rompimento e surgimento de um sinkhole, ou seja, uma enorme cratera pode ser aberta na região afetada. Após um período de estabilização, o deslocamento da mina começou a se intensificar nos últimos dias.

  • Risco de colapso em Maceió e minas da Braskem: deslocamento é de 2,6 cm por hora, diz Defesa Civil© Fornecido por EstadãoRisco de colapso em Maceió e minas da Braskem: veja o antes e depois de bairros afetados

Os problemas na capital alagoana começaram em 3 de março de 2018, quando um tremor de terra causou rachaduras em ruas e casas e o afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Mais de 55 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas naquele ano. Agora, uma decisão judicial determinou a saída de 27 famílias da área de risco. Dessas, 14 ainda não tinham saído de casa até a noite de quinta-feira.

Está agendada uma reunião para o dia 5 de dezembro entre o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, e o governador Paulo Dantas, que pedirá para que o governo federal esteja preparado para ajudar Alagoas em caso de necessidade.

Em nota, a Braskem declarou que “continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange, tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências”. O texto acrescenta que “todos os dados colhidos estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades, com quem a Braskem vem trabalhando em estreita colaboração”.

Ainda segundo a empresa, a extração de sal-gema (um cloreto de sódio que é utilizado para produzir soda cáustica e PVC) em Maceió foi totalmente encerrada em maio de 2019. A fabricação na região teve início em 1976.

“A Braskem vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Esse plano registra 70% de avanço nas ações, e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2025?, diz o texto.

Ibama

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que está em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde participa da Conferência do Clima da ONU, COP-28, afirmou nesta sexta-feira, 1.º, que o Ibama acompanha de perto a situação envolvendo a mina da Braskem em Maceió.

“É um licenciamento feito pelo governo do Estado, mas o Ibama está acompanhando. Os nossos especialistas em risco ambiental estão acompanhando de perto. A orientação do Ministério do Meio Ambiente é: mesmo sendo algo de responsabilidade do governo estadual, nós não nos furtamos em suplementarmente apoiar os Estados quando se trata de questões de alto risco”, disse a ministra.

Segundo Marina, neste caso, o órgão do governo federal atua de maneira suplementar.

 

CÂMARA DOS DEPUTADOS CRIA NOVO FERIADO DA CONSCIÊNCIA NEGRA

História por Alex Braga  • Jornal Estadão

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 29, o projeto de lei que torna feriado nacional o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. A iniciativa teve 286 votos favoráveis e 121 contra. Como a proposta já foi analisada e aprovada pelo Senado Federal, o próximo passo é a sanção presidencial.

Plenário da Câmara dos Deputados aprovou Dia da Consciência Negra como feriado nacional Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados© Fornecido por Estadão

Com o nome de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a data que já é considerado feriado em seis Estados (Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo) – e em mais de 1.000 cidades por meio de leis municipais e estaduais, será estendida a todo o território nacional.

De autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) a proposta dividiu a opinião dos parlamentares durante a votação na Câmara. Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) a data é fundamental para “celebrar a negritude” da população brasileira. Já para Otoni de Paula (MDB-RJ) a medida é um “erro” e trará malefícios a economia do País, porque o mês de novembro já tem muitos feriados.

 

VENEZUELA AMEAÇA INVADIR ESSEQUIBO NA GUIANA

História por Leandro Prazeres – Da BBC News Brasil em Brasília  

Cartaz de campanha para o referendo sobre a região de Essequibo convocada pela Venezuela. Votação será no domingo (3/12)© Reuters

No domingo (3/12), milhões de venezuelanos deverão ir às urnas do país para se manifestar em um referendo sobre a região conhecida como Essequibo, na divisa entre a Venezuela e a República da Guiana, uma área conhecida por suas riquezas em ouro, diamantes e petróleo.

O referendo convocado pelo regime de Nicolás Maduro tem cinco perguntas, mas o cerne é sobre se a população apoia ou não a criação de um Estado venezuelano dentro da região conhecida como Essequibo, uma área de pouco mais de 159 mil quilômetros quadrados (maior que o Estado do Ceará) que é alvo de uma disputa territorial com mais de 100 anos e que é hoje administrado pela Guiana.

A preocupação com o resultado do referendo se dá por conta das suas possíveis consequências práticas. A criação do Estado venezuelano poderia implicar na perda, pela Guiana, de pouco mais de 70% do seu território.

Na sexta-feira (30/11), a Corte Internacional de Justiça expediu uma decisão sobre um pedido feito pela Guiana que solicitava que a corte impedisse a realização do referendo. A corte não se manifestou sobre a suposta ilegalidade do referendo, mas disse, em sentença, que a Venezuela não poderia tomar nenhuma medida que “modificaria a situação que atualmente prevalece no território em disputa”.

Analistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que o resultado deverá ser favorável à criação do novo Estado venezuelano em terras hoje sob administração da Guiana e a principal dúvida é: até onde o regime de Maduro estaria disposto a colocar o plano em prática

Em visita à região no final de outubro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, declarou que o país não abriria mão de Essequibo.

“Que ninguém cometa um único erro. Essequibo é nosso, cada centímetro quadrado”, disse.

Em meio a esse cenário de tensão entre dois países sul-americanos, o governo brasileiro mobilizou tropas e diplomatas para evitar uma escalada na crise.

Na quarta-feira (28/11), a poucos dias do referendo, o Ministério da Defesa anunciou que acompanha o caso e que aumentou as ações na região.

“O Ministério da Defesa tem acompanhado a situação. As ações de defesa têm sido intensificadas na região da fronteira ao Norte do país, promovendo maior presença militar”, disse a pasta em nota enviada à BBC News Brasil.

Especialistas e duas fontes diplomáticas brasileiras ouvidas em caráter reservado dizem que a realização do referendo preocupa o governo brasileiro por colocar em risco o que classificam como tradição de resolução pacífica de conflitos territoriais na América do Sul.

Os diplomatas avaliam que a perspectiva de uma iniciativa militar dos venezuelanos sobre o território é vista como remota, mas que o tema deve ser tratado com cautela, especialmente porque a Venezuela realizará eleições presidenciais em 2024 e o assunto poderia ser usado politicamente por Maduro como plataforma de sua campanha.

Essequibo: por que disputa entre Venezuela e Guiana fez Brasil colocar tropas e diplomatas de prontidão?© BBC

Consultas e tropas mobilizadas

Fontes diplomáticas ouvidas pela BBC News Brasil contam que a preocupação do Brasil com o assunto tem alguns meses. No dia 9 de novembro, o presidente brasileiro e da Guiana conversaram por videoconferência e, segundo um diplomata brasileiro, o presidente guianense expressou suas preocupações sobre o referendo a Lula (PT).

Duas semanas depois, no dia 22 de novembro, Lula enviou o assessor-especial para assuntos internacionais, o embaixador Celso Amorim, a Caracas. Ele se reuniu com Nicolás Maduro na capital venezuelana e ambos teriam, segundo as duas fontes, conversado longamente sobre o assunto.

Uma das fontes ouvidas pela BBC News Brasil disse que, ao longo da conversa, Maduro teria tentado tranquilizar Amorim sobre as reais intenções do seu governo em relação à região. O brasileiro, por sua vez, teria expressado sua preocupação com o tema e reforçado a posição de que a disputa seja resolvida de forma pacífica.

Dias depois, integrantes dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa passaram a analisar, conjuntamente, a crise na região.

Foi a partir dessa análise que, na quarta-feira, o Ministério da Defesa divulgou a nota em que anuncia a intensificação das ações de defesa na fronteira. A região de Essequibo faz divisa com a fronteira norte do Brasil, especificamente com o Estado de Roraima.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, houve o deslocamento de 200 militares e veículos blindados sobre rodas para um pelotão de fronteira localizado na cidade de Pacaraima, em Roraima, no extremo norte do país. Também teria havido o transporte de munição.

Um dos diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avalia que a crise preocupa o Itamaraty porque um conflito entre os dois países romperia com a tradição pacífica de disputas territoriais na região e porque aconteceria em uma área extremamente próxima ao Brasil.

Estima-se que 300 mil pessoas vivam em Essequibo e um conflito poderia ter impactos econômicos e sociais nas áreas brasileiras próximas.

Havia a previsão de que Lula e o presidente guianense se encontrassem em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, durante a passagem de ambos pelo país para a cúpula do ONU sobre o clima (COP 28), mas a reunião bilateral acabou não ocorrendo.

Um elemento que também causa preocupação junto ao governo brasileiro é a incerteza sobre o processo decisório dentro do governo Maduro.

Em novembro, segundo o jornal Folha de S. Paulo, emissários do governo Venezuelano disseram que, a depender do resultado do referendo, o governo de Caracas poderia “ser forçado pelo povo” a agir.

As declarações teriam sido dadas durante um encontro de ministros da Defesa e de Relações Exteriores da América do Sul, em Brasília.

Logo após a decisão da Corte Internacional de Justiça sobre a disputa, Maduro foi às redes sociais dizer que não reconhece a instância como instrumento para resolver a disputa com a Guiana e voltou a convocar a população a participar do plebiscito.

“Não podem minar o direito da comunidade venezuelana de se expressar através do voto”, disse Maduro.

O temor entre parte da diplomacia brasileira é que Maduro explore a disputa sobre Essequibo de forma política para tentar mobilizar mais votos nas eleições do ano que vem.

Essa possibilidade também é cogitada pelo professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Carlos Lima.

“Sem dúvida a decisão do referendo e o discurso de recuperação de um território supostamente perdido por uma ilegalidade é algo que move o espírito nacional e pode ser um argumento nas eleições. Sabemos que apelos ao nacionalismo podem ser fatores extremamente decisivos numa eleição. Isso pode também servir de teste da popularidade do atual governo”, disse à BBC News Brasil.

Em outubro deste ano, o governo e a oposição da Venezuela assinaram um acordo prevendo regras para as eleições presidenciais de 2024 que incluem a atuação de missões de observação da Organização das Nações Unidas e da União Europeia.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, defendeu a realização do referendo apesar da oposição feita pela Guiana© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Conflito na vizinhança?

Especialistas em Relações Internacionais ouvidos pela BBC News Brasil se dividem quanto à possibilidade de que a crise em torno de Essequibo possa resultar em um conflito armado.

“Acredito que o custo político de uma ação militar da Venezuela é muito alto. Ao fazê-lo, a Venezuela estaria violando o Direito Internacional e poderia gerar diferentes reações tanto da comunidade internacional quanto dos países da região”, disse o professor Lucas Carlos Lima. “Acredito que o custo é muito alto para ser factível”, complementou.

Já para o professor aposentado de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria e ex-representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, Ricardo Seitenfus, o referendo colocaria Maduro sob pressão, o que poderia levá-lo a escalar a crise.

Ele chama o referendo convocado pela Venezuela de “consulta” por considerá-lo “ilegal” do ponto de vista do Direito Internacional uma vez que o território sobre o qual ele se destina não pertenceria, atualmente, à Venezuela.

“Maduro terá um problema pós-consulta: o que fazer com uma vitória que se anuncia acachapante? Desconhecer o resultado é impossível. Ele pode aumentar a pressão na fronteira? Sim. Invadir, no que seria um passeio militar? É provável. Esse day-after (dia seguinte) está carregado de perigos, pois os Estados Unidos, o Reino Unido, a Colômbia e o Brasil reagirão”, disse Seitenfus à BBC News Brasil.

Seitenfus comparou Maduro ao ditador argentino Leopoldo Galtieri que, em 1982, determinou a ocupação das Ilhas Malvinas e foi derrotado militarmente por tropas inglesas. A derrota é vista como um dos elementos que antecipou o fim da ditadura militar na argentina que durou entre 1976 e 1983.

“Caso não se contenha, Maduro será o futuro Leopoldo Galtieri”, disse.

O que é o Essequibo?

Essequibo é como ficou conhecida uma área de aproximadamente 159 mil quilômetros quadrados (equivalente a pouco mais que o Estado do Ceará) situada entre a Venezuela e a Guiana.

A região é rica em minerais como ouro, cobre, diamante e, recentemente, lá também foram descobertos enormes depósitos de petróleo e outros hidrocarbonetos.

O referendo que ser realizado neste domingo remonta uma disputa iniciada ainda no século 19 durante o processo de independência das ex-colônias espanholas. Em 1811, a Venezuela tornou-se independente e a região de Essequibo passou a fazer parte do país.

Três anos depois, porém, o Reino Unido comprou a então Guiana Inglesa por meio de um tratado com os Países Baixos. O tratado de compra, no entanto, não definiu com precisão qual seria a linha de fronteira do país com a Venezuela.

Em 1840, o Reino Unido nomeou o explorador Robert Shomburgk para definir essa fronteira e uma linha, chamada Linha Schomburgk, foi inaugurada.

Com ela, a então Guiana Inglesa passou a ter 80 mil quilômetros quadrados adicionais em relação ao território inicialmente adquirido dos Países Baixos.

Em 1841, começou oficialmente a disputa pelo território com denúncias sobre uma incursão indevida do Reino Unido no território.

Nas décadas seguintes, a controvérsia em torno de Essequibo passou a fazer parte da disputa por influência na América do Sul entre os Estados Unidos, uma potência então em ascensão, e o então poderoso Império Britânico.

Os norte-americanos expandiram seus interesses pela região e usavam como argumento a chamada Doutrina Monroe ,cujo slogan era “América para americanos”. A postura representava, na prática, uma tentativa de limitar a influência das potências europeias sobre o continente.

Em 1886, uma nova versão da Linha Schomburgk foi traçada, incorporando uma nova porção de território à Guiana Inglesa.

Nove anos depois, em 1895, os Estados Unidos, então aliados da Venezuela, denunciaram a definição da fronteira e recomendaram que o caso fosse definido por meio de uma arbitragem internacional.

Três anos mais tarde, em 1899, foi emitida a Sentença Arbitral de Paris, que decidiu de forma favorável ao Reino Unido.

Meio século depois, em 1949, porém, veio a público um memorando de um advogado norte-americano que atuou na defesa da Venezuela no processo de arbitragem em Paris.

O documento denunciava uma suposta imparcialidade dos juízes do caso. A divulgação desse memorando e de outros documentos do processo passaram a ser usados pela Venezuela para pedir que a Sentença de Paris fosse considerada “nula e sem efeito”.

Em 1966, porém, o país e o Reino Unido firmaram o Acordo de Genebra, que reconheceu a reivindicação venezuelana e se comprometeu a buscar soluções para resolver a disputa.

Mais recentemente, a Guiana solicitou que a Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia, na Holanda, arbitre a disputa, mas o governo venezuelano vem, reiteradamente, negando a legitimidade da instituição para decidir o futuro de Essequibo.

Essequibo: por que disputa entre Venezuela e Guiana fez Brasil colocar tropas e diplomatas de prontidão?© BBC

Reinício da disputa

Apesar de a disputa territorial entre os dois países ter mais de um século de existência, as tensões passaram a se intensificar a partir de 2015, quando a petroleira norte-americana ExxonMobil anunciou ter encontrado enormes depósitos de petróleo na costa da área disputada.

Até o momento, a multinacional americana ExxonMobil e os seus parceiros fizeram 46 descobertas que elevaram as reservas de petróleo da Guiana para cerca de 11 bilhões de barris, representando cerca de 0,6% do total mundial.

As descobertas, consideradas surpreendentes, tornaram a Guiana, um país de 800 mil habitantes, numa das economias que mais crescem no mundo. O produto interno bruto (PIB) do país deverá crescer 25% este ano. Em 2022, o aumento no PIB foi de 57,8%.

A exploração de petróleo na costa de Essequibo é um dos pontos mais criticados pelo regime venezuelano nos últimos anos.

O governo questiona, por exemplo, a emissão de licenças de exploração para multinacionais que atuam na costa da região em disputa.

“A Guiana não é uma vítima, não tem títulos sobre o território em disputa, é uma ocupante de fato e tem violentado reiteradamente o acordo de Genebra e a legalidade internacional, outorgando unilateralmente concessões no território terrestre e em águas de delimitação pendente”, disse o governo venezuelano.

A equipe jurídica da Guiana, que denunciou o referendo perante o tribunal internacional, descreve-o como uma “ameaça existencial” que procura preparar o caminho para a anexação de Essequibo pela Venezuela.

A costa da região de Essequibo contém vastas reservas de petróleo© Reuters

O papel do Brasil

Os diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que o país vem enviando mensagens claras ao governo venezuelano sobre a inviabilidade de uma escalada na crise com a Guiana.

Uma demonstração disso, segundo eles, seria a manifestação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante a reunião em que enviados da Venezuela teriam elevado o tom sobre o referendo, em Brasília.

“O nosso compromisso comum com a integração da América do Sul é reiterarmos — cada um de nossos doze países — o nosso compromisso com a solução pacífica das controvérsias”, disse o chanceler na ocasião.

Para Lucas Carlos Lima, da UFMG, o Brasil tem tentado evitar um aumento nas tensões na região.

“O Brasil também tem uma parte de suas fronteiras com a Guiana determinada por arbitragem e acredito que não deseja que esse tipo de assentamento pacífico se transforme em contestações. Os bastidores diplomáticos sugerem que o Brasil está interessado em restabelecer relações estáveis com a Venezuela e, para isso, está voltado a não escalar o conflito”, disse o professor.

Já o professor Ricardo Seitenfus avalia que o país deveria ser mais contundente em suas manifestações sobre o referendo venezuelano.

“O Brasl não pode ser conivente com nada que venha a abalar o princípio da paz sul-americana […] O Brasil precisa se manifestar de forma contundente a respeito desse referendo e deixar claro que essa consulta é nula, pois só quem pode decidir sobre o destino de Essequibo é a população de Essequibo e não o povo da Venezuela”, conclui o profess

 

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