segunda-feira, 3 de julho de 2023

APROVAÇÃO DO MARCO TEMPORAL DAS TERRAS INDÍGENAS SERÁ UM ÊRRO IMPEDOÁVEL DO SENADO

 


Deputados europeus e ativistas internacionais pressionam Senado contra o marco temporal
Por
Aline Rechmann – Gazeta do Povo


Ator e ativista Leonardo Di Caprio recentemente posou para fotos com a deputada Célia Xakriabá e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara| Foto: Reprodução / Twitter @LeoDiCaprio

A pressão internacional sobre pautas legislativas e ações do governo brasileiro têm se intensificado. O mais recente episódio se deu pela votação do projeto de lei que prevê o estabelecimento do marco temporal para a demarcação de terras indígenas no Brasil. Deputados de países como Alemanha e Holanda se manifestaram em cartas ao Senado Federal após a aprovação do projeto na Câmara dos Deputados. Endereçadas ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), as mensagens expressam “preocupação” com a possibilidade de aprovação da medida na Câmara Alta do Poder Legislativo Federal.

A Gazeta do Povo teve acesso à carta dos parlamentares do país europeu direcionada ao Senado em 6 de junho. Nela, nove deputados do Parlamento alemão reforçam a parceria e o interesse na cooperação entre os países. “Estamos altamente empenhados em apoiar e assumir a responsabilidade pelo alcance de nossas metas comuns de proteção ambiental e climática, e aprofundar e fazer cumprir as metas de direitos humanos e indígenas”, diz a carta dos alemães.

Na carta, eles também manifestam “preocupações com impactos ambientais e direitos indígenas de votos e decisões atuais”. No texto, os deputados destacam a cooperação internacional e as parcerias estabelecidas entre o Brasil e a Alemanha, e reforçam seu compromisso com metas de “proteção ambiental e climática”, além de “aprofundar e fazer cumprir as metas de direitos humanos e indígenas”.

Outro ponto destacado na mensagem é o apoio da Alemanha ao combate ao desmatamento. “Sabemos da importância global da preservação do meio ambiente no Brasil”, afirmam os parlamentares. A Alemanha, por meio do banco KfW, é a segunda maior doadora de recursos ao Fundo Amazônia, já tendo aportado anteriormente 54,9 milhões de euros. No início do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o país anunciou mais uma captação, a terceira doação do banco alemão. De acordo com o BNDES, banco gestor do Fundo, com esse apoio de mais 35 milhões de euros (R$ 194 milhões), o país europeu totalizará cerca de 90 milhões de euros ao Fundo Amazônia.

Além deles, outra deputada alemã que se manifestou sobre o marco temporal foi Anna Cavazzini, vice-presidente da delegação para relações com o Brasil do Parlamento Europeu. Junto de duas das deputadas que assinaram a carta endereçada a Pacheco, Kathrin Henneberger e Deborah Düring, ela gravou um vídeo divulgado em 7 de junho, dia da retomada do julgamento do marco temporal pelo STF.

No vídeo com legendas em alemão e português, as deputadas reforçaram seu posicionamento contra o marco temporal. “Seja no Bundestag [Parlamento Alemão] ou no Parlamento da UE [União Europeia], estamos comprometidos em preservar os direitos à terra dos povos indígenas e lutar contra o desmatamento destrutivo da Amazônia. Façamos um apelo a todos os decisores: Parem com este projeto!”, dizem elas nas publicações.

Recentemente, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também anunciou a intenção de doar 20 milhões de euros para o Fundo Amazônia. O montante representa pouco mais de R$ 100 milhões.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, a presidente da Comissão Europeia também relacionou os indígenas à preservação do meio ambiente. “Só posso encorajar todos os atores institucionais no Brasil a trabalharem juntos para proteger a Amazônia, bem como as comunidades indígenas que vivem lá”, que “desempenham papel central na preservação e no uso sustentável da floresta e no desenvolvimento do potencial de superpotência verde do Brasil”, disse von der Leyen.

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Presidente da CPI das ONGs critica pressão internacional contra votação do marco temporal no Senado
Senadores se posicionam sobre interferência de órgãos internacionais no marco temporal 
O projeto de lei do marco temporal chegou ao Senado após a aprovação na Câmara dos Deputados, em 1º de junho. Diante da pressão internacional e de parlamentares contrários à proposta, no entanto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sinalizou que a tramitação seguirá o rito normal, com “cautela e prudência”. Ou seja, o texto passará pelas comissões antes de ser votado no plenário.

Desde então, os senadores de oposição conseguiram se mobilizar para apresentar um requerimento de urgência, visando a votação mais rápida do projeto. No entanto, não há, até o momento, previsão de votação desse requerimento.

Para o senador Plínio Valério (PSDB-AM), presidente da CPI das ONGs, as cartas de deputados europeus são um “desrespeito total”. “Mostra a prepotência dessa gente que continua insistindo e querendo nos tratar como colônia. Por isso que a gente está pregando que a nossa luta é contra a nação colônia. Eles jamais fariam isso com o Parlamento Europeu. Essa pressão é vergonhosa, é desrespeitosa”.

Além disso, Valério acredita que acatar as intenções dos parlamentares europeus seria vergonhoso para o Senado. “Se depender do meu protesto, ele não vai ceder à pressão. A gente tem que protestar contra isso, dizer que está errado e que a gente não aceita. Daí a necessidade urgente da nossa CPI das ONGs, porque nós vamos mostrar que eles fazem isso já no meio do mato”, disse o senador amazonense.

Embora Pacheco tenha despachado o projeto do marco temporal para análise de duas comissões do Senado, a de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), há senadores que querem que a matéria seja analisada por mais comissões. É o caso do senador Fabiano Contarato (PT-ES). O petista apresentou requerimento para que a proposição tramite também na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e na Comissão de Meio Ambiente (CMA).

Contarato, ao contrário de Valério, concorda com os parlamentares europeus e reforça os argumentos apresentados por eles. “O que as ONGs e os líderes europeus têm falado é o que venho afirmando desde o início do debate e do andamento do projeto de lei do marco temporal: a proposta é uma tentativa de aniquilar os povos indígenas. Muito mais do que a retirada de direitos legítimos, é um ataque aos povos originários, historicamente violentados e expulsos de suas terras”, disse o senador capixaba. O petista destaca ainda a importância de “dar respostas ao mundo” sobre o projeto do marco temporal. “Ao dizer não ao marco temporal, o Brasil demonstrará ao mundo que deixou de retroceder e violentar os povos que são a origem da nossa história”, afirmou.

STF analisa marco temporal
Em paralelo à tramitação no Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve voltar a julgar em breve o recurso extraordinário com repercussão geral – efeito sobre demais casos semelhantes – sobre o marco temporal, e também tem sido destinatário de cartas e documentos de órgãos internacionais que sugerem direcionamentos para o julgamento.

De acordo com a tese do marco temporal, ficará garantida aos indígenas a posse da terra em que estavam na data da promulgação da Constituição Federal de 1988, seguindo o que diz o artigo 231 da Carta Magna. Em contrapartida, eles não terão direito às terras que ocuparam ou invadiram depois de 5 de outubro de 1988.

O STF havia ratificado essa interpretação em 2009, no julgamento sobre a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol. Naquela oportunidade, a Corte decidiu em favor dos indígenas e contra arrozeiros que chegaram à região nos anos 90 – depois da promulgação da Constituição. Naquele julgamento, o entendimento que prevaleceu foi o de que a data de 5 de outubro de 1988 era crucial para a definição da posse da terra.

Em 7 de junho, o ministro André Mendonça pediu vista – mais tempo para análise – e suspendeu o julgamento no STF. O placar está em: 2 votos contra o marco temporal e 1 a favor. Mendonça tem 90 dias para analisar o tema, após esse período o caso volta automaticamente para a pauta da Corte.

Atores ativistas somam-se ao coro contra o projeto 
Os atores norte-americanos Leonardo Di Caprio e Mark Ruffalo também têm feito pressão contra o marco temporal em suas redes sociais. Utilizando de seu alcance internacional, ambos têm alfinetado o Congresso Nacional e feito pedidos para que seus seguidores apoiem campanhas contra a votação do projeto sobre demarcação de terras indígenas.

Di Caprio recentemente posou para fotos com a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, às quais havia declarado apoio na luta pela preservação dos territórios e da cultura dos povos indígenas no Brasil. Em uma de suas postagens, o ator disse que o projeto do marco temporal, se aprovado, será “catastrófico para a Amazônia, os povos indígenas que vivem lá e nosso planeta”.

Ele divulgou uma petição do Avazz contra a votação e a consulta pública do Senado sobre o projeto de lei, que tem, até o momento, aproximadamente 17 mil votos. A maioria deles, cerca de 16 mil se posicionando como o ator sugere: contra o marco temporal.

Mark Ruffalo também divulgou o endereço da petição do Avazz em suas redes sociais. Ele usou a hashtag #nomarcotemporal e marcou Sonia Guajajara, Célia Xakriabá, e a primeira-dama, Janja da Silva, entre outras personalidades brasileiras. Ruffalo ainda republicou conteúdo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) com imagens de manifestações contra o marco temporal.

Deputada do PSOL busca apoio internacional contra marco temporal
A ativista e deputada indígena Célia Xakriabá (PSOL-MG) lidera também a petição, divulgada por Di Caprio e Rufallo, que está recolhendo assinaturas contra o marco temporal. A campanha já tem 713 mil assinaturas. É possível observar apoios de pessoas da Holanda, do México, dos Estados Unidos, da Venezuela e da Alemanha, por exemplo. Na apresentação da campanha, Xakriabá faz um apelo a brasileiros e “pessoas de todo o mundo para parar esta lei [do marco temporal]”. “…Nosso Congresso começou a votar um projeto de lei que permitirá que os garimpeiros e madeireiros ilegais invadam nossas florestas e terras sagradas, removendo os direitos dos povos Indígenas, como eu”, escreveu a deputada.

Em maio, durante um seminário promovido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Célia Xakriabá disse que a demarcação de territórios indígenas é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a principal alternativa para barrar a crise climática. “Negociar nosso território seria o mesmo que negociar nossas vidas. A defesa da terra e da vida não é somente uma pauta progressista, mas também humanitária. É um bem prestado à humanidade. Quem tem território tem lugar para onde voltar. E tem mãe, tem colo, tem cura”, argumentou a deputada indígena.

Célia Xakriabá foi eleita para o seu primeiro mandato nas eleições de 2022 e é a primeira deputada indígena de Minas Gerais. Em pouco mais de quatro meses de mandato, ela tem se dedicado, em especial, à defesa da demarcação de terras indígenas. Ela é a presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas, grupo que reúne 203 deputados e senadores interessados em defender as pautas de interesse dos povos originários no Congresso Nacional. Além disso, ela é a presidente da recém-criada Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais.

CIDH também faz pressão pelo fim da tese jurídica sobre o tema
Em maio de 2023, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou sua preocupação com a tese jurídica “marco temporal” que, de acordo com a análise de seus membros, “coloca em risco os direitos dos povos indígenas”. A CIDH é o órgão principal e autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), criado em 1959.

De acordo com nota divulgada pela CIDH, a aplicação do marco temporal para demarcação de terras indígenas “contrariaria disposições da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e da Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas”.

A nota cita ainda os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional. “Da mesma forma, urge o Estado a abster-se de avançar com projetos de lei e interpretações legais que possam gerar riscos para os povos indígenas e tribais, incluindo o Projeto de Lei 490/2007 e outros”, aponta o documento.

“O marco temporal é necessário para garantir segurança jurídica e direitos iguais”, diz presidente da FPA
Já o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), tem se manifestado a favor da aprovação do projeto sobre o marco temporal no Congresso e da validação da tese no julgamento no STF.

“A FPA, grupo de lidero no Congresso Nacional, defende a tese do fato indígena, ou seja, aquelas terras que foram mantidas pelos índios e na qual eles estavam vivendo com suas culturas e seus costumes no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, tem direito sobre a área para demarcação. Não somos contrários aos direitos indígenas, somos favoráveis aos direitos iguais e à segurança jurídica”, afirmou o parlamentar em sua coluna na Gazeta do Povo.

Anteriormente, a FPA já havia reforçado o seu posicionamento de que, se o texto for aprovado no Congresso, vai reafirmar a tese do marco temporal previsto na Constituição e o entendimento do STF com relação às 19 condicionantes para demarcação de terras indígenas. Além disso, para a entidade, dará mais transparência ao processo demarcatório.

Cooperação entre Brasil e Alemanha mira proteção de terras indígenas 
Um projeto de cooperação técnica entre o Brasil e a Alemanha foi tema de reunião entre a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a empresa alemã de consultoria GOPA. A reunião, realizada em fevereiro, contou com a presença da presidente da fundação, Joenia Wapichana. Em matéria publicada no site oficial da Funai, o órgão afirmou que o projeto tem como um de seus principais objetivos “promover a proteção e gestão sustentável de terras indígenas selecionadas na Amazônia”.

A cooperação entre Brasil e Alemanha foi questionada pela deputada federal Caroline De Toni (PL-SC) por meio de um requerimento de informação protocolado em abril. Já em maio, a cooperação também esteve entre os questionamentos feitos à ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, durante audiência pública da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). “Afinal de contas, por que a Alemanha vai proteger melhor as terras indígenas do que o próprio Brasil? O que a Alemanha ganha com isso? Qual é o interesse deles nas nossas terras indígenas?”, perguntou Caroline De Toni à ministra.

Em resposta, Sonia Guajajara disse apenas se tratar de um projeto de cooperação antigo, parado na gestão anterior e que estava sendo retomado. A presidente da Funai também participava da audiência e pontuou que a “legislação brasileira permite termos de cooperação”. “O termo de cooperação com o KfW [banco de desenvolvimento alemão, Kreditanstalt für Wiederaufbau – Instituto de Crédito para Reconstrução, em tradução literal], já existe desde 2009, mas, desde 2017, está paralisado”. Os detalhes sobre o projeto não foram abordados.


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COMPREENSÃO DA DOENÇA DA DEPRESSÃO

A causa da depressão provavelmente não é o que você está pensando

A depressão costuma ser atribuída aos baixos níveis de serotonina no cérebro. É uma resposta insuficiente, mas estão surgindo alternativas, mudando nossa compreensão da doença

Por Joanna Thompson – Jornal Estadão

Causas da depressão vão muito além da deficiência de serotonina, um importante neurotransmissor com os lendários efeitos de 'bem-estar'
Causas da depressão vão muito além da deficiência de serotonina, um importante neurotransmissor com os lendários efeitos de ‘bem-estar’ Foto: Harol Bustos/Quanta Magazine

QUANTA MAGAZINE – Muitas vezes as pessoas acham que sabem o que causa a depressão crônica. Pesquisas indicam que mais de 80% das pessoas culpam um “desequilíbrio químico” no cérebro. A ideia é difundida na psicologia pop e citada em artigos de pesquisadores e manuais de medicinaListening to Prozac, livro que descreve quanto foi transformador tratar a depressão com medicamentos que visam corrigir esse desequilíbrio, passou meses na lista dos mais vendidos do New York Times.

É real ou imaginado? Como seu cérebro sabe a diferença

A substância química em desequilíbrio no cérebro é a serotonina, um importante neurotransmissor com os lendários efeitos de “bem-estar”. A serotonina ajuda a regular os sistemas cerebrais que controlam tudo, desde a temperatura corporal e o sono até a fome e o desejo sexual. Por décadas, também foi apontada como o remédio infalível para combater a depressão. Medicamentos vastamente prescritos como o Prozac (fluoxetina) são feitos para tratar a depressão crônica aumentando os níveis de serotonina.

No entanto, as causas da depressão vão muito além da deficiência de serotonina. Estudos clínicos concluíram repetidas vezes que o papel da serotonina na depressão tem sido exagerado. De fato, toda a premissa da teoria do desequilíbrio químico pode estar errada, apesar do alívio que o Prozac parece trazer a muitos pacientes.

Uma revisão da literatura que apareceu na Molecular Psychiatry em julho foi a mais recente e talvez a mais grave sentença de morte para a hipótese da serotonina, pelo menos em sua forma mais simples. Uma equipe internacional de cientistas liderada por Joanna Moncrieff, da University College London, revisou 361 artigos de seis áreas de pesquisa e examinou cuidadosamente 17 deles. Não se encontraram evidências convincentes de que níveis mais baixos de serotonina causassem ou estivessem associados à depressão. Pessoas com depressão não pareciam ter menos atividade de serotonina do que pessoas sem o distúrbio.

Experimentos nos quais os pesquisadores reduziram artificialmente os níveis de serotonina de voluntários não chegaram a causar depressão com frequência. Estudos genéticos também parecem descartar qualquer conexão entre os genes que afetam os níveis de serotonina e a depressão, mesmo quando os pesquisadores tentaram considerar o estresse como um possível fator correlato.

“Se você ainda pensa que é simplesmente um desequilíbrio químico da serotonina, é melhor pensar de novo”, disse Taylor Braund, neurocientista clínico e pesquisador de pós-doutorado no Black Dog Institute, na Austrália, que não esteve envolvido no novo estudo. (Black dog, ou seja, “cachorro preto”, era a maneira como Winston Churchill se referia a seus próprios humores sombrios, que alguns historiadores especulam que fosse depressão).

A percepção de que os déficits de serotonina por si só provavelmente não causam depressão deixou os cientistas se perguntando sobre sua verdadeira causa. As evidências sugerem que talvez não haja uma resposta simples. Na verdade, estão levando os pesquisadores neuropsiquiátricos a repensar o que é a depressão.

Tratando a doença errada

O foco na serotonina começou com um medicamento para tuberculose. Na década de 1950, os médicos começaram a prescrever iproniazida, um composto desenvolvido para atacar a bactéria Mycobacterium tuberculosis nos pulmões. A droga não era particularmente boa para o tratamento de infecções por tuberculose – mas presenteava alguns pacientes com um efeito colateral inesperado e agradável. “A função pulmonar e todo o resto não melhoravam muito, mas o humor tendia a melhorar”, disse Gerard Sanacora, psiquiatra clínico e diretor do programa de pesquisa em depressão da Universidade de Yale.

Para avaliar as evidências de que os desequilíbrios da serotonina causam depressão, a pesquisadora psiquiátrica Joanna Moncrieff, da University College London, organizou uma revisão que analisou centenas de artigos em seis áreas de pesquisa.
Para avaliar as evidências de que os desequilíbrios da serotonina causam depressão, a pesquisadora psiquiátrica Joanna Moncrieff, da University College London, organizou uma revisão que analisou centenas de artigos em seis áreas de pesquisa. Foto: Acervo Pessoal

Perplexos com esse resultado, os pesquisadores começaram a estudar como a iproniazida e drogas relacionadas agiam no cérebro de ratos e coelhos. Eles descobriram que as drogas impediam que o corpo dos animais absorvesse compostos chamados aminas – os quais incluem a serotonina, substância química que transmite mensagens entre as células nervosas do cérebro.

Vários psicólogos proeminentes, entre eles os falecidos Alec Coppen e Joseph Schildkraut, agarraram-se à ideia de que a depressão poderia ser causada por uma deficiência crônica de serotonina no cérebro. A hipótese da serotonina passou a informar décadas de desenvolvimento de drogas e pesquisas neurocientíficas. No final dos anos 1980, levou à introdução de medicamentos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), como o Prozac. (As drogas aumentam os níveis de atividade da serotonina diminuindo a absorção do neurotransmissor pelos neurônios). Hoje, a hipótese da serotonina ainda é a explicação que se apresenta com mais frequência a pacientes com depressão quando são prescritos ISRSs.

Mas dúvidas sobre o modelo da serotonina já circulavam em meados da década de 1990. Alguns pesquisadores notaram que os ISRSs geralmente ficavam aquém das expectativas e não melhoravam significativamente em relação ao desempenho de medicamentos mais antigos, como o lítio. “Os estudos realmente não batem com a realidade”, disse Moncrieff.

No início dos anos 2000, poucos especialistas acreditavam que a depressão era causada apenas pela falta de serotonina, mas ninguém jamais tentou uma avaliação abrangente das evidências. Isso acabou levando Moncrieff a organizar tal estudo, “para que pudéssemos ter uma perspectiva sobre se essa teoria tinha fundamento ou não”, disse ela.

Ela e seus colegas descobriram que não, mas a hipótese da serotonina ainda tem adeptos. Em outubro do ano passado – apenas alguns meses depois da publicação da revisão –, um artigo publicado online na Biological Psychiatry afirmou oferecer uma validação concreta da teoria da serotonina. Mas outros pesquisadores continuam céticos, porque o estudo analisou apenas 17 voluntários. Moncrieff descartou os resultados, dizendo que são estatisticamente insignificantes.

Um desequilíbrio químico diferente

Embora os níveis de serotonina não pareçam ser o principal causador da depressão, os ISRSs mostram uma melhora modesta em relação aos placebos em ensaios clínicos. Mas o mecanismo por trás dessa melhoria continua escapando à compreensão. “Só porque a aspirina alivia a dor de cabeça, não significa que déficits de aspirina no corpo causam dores de cabeça”, disse John Krystal, neurofarmacologista e diretor do departamento de psiquiatria da Universidade de Yale. “Entender totalmente como os ISRSs produzem mudanças clínicas ainda é um trabalho em andamento”.

A especulação sobre a fonte desse benefício gerou teorias alternativas sobre as origens da depressão.

Apesar do “seletivo” no nome, alguns ISRSs alteram as concentrações relativas de outras substâncias químicas além da serotonina. Alguns psiquiatras clínicos acreditam que um dos outros compostos pode ser a verdadeira força que induz ou alivia a depressão. Por exemplo, os ISRSs aumentam os níveis do aminoácido triptofano, precursor da serotonina que ajuda a regular os ciclos do sono. Nos últimos quinze anos, essa substância química emergiu como forte candidata para combater a depressão. “Existem evidências muito boas de estudos de depleção de triptofano”, disse Michael Browning, psiquiatra clínico da Universidade de Oxford.

John Krystal, presidente do departamento de psiquiatria da Universidade de Yale, chamou o esforço para entender os efeitos clínicos dos medicamentos ISRS de “um trabalho em andamento”.
John Krystal, presidente do departamento de psiquiatria da Universidade de Yale, chamou o esforço para entender os efeitos clínicos dos medicamentos ISRS de “um trabalho em andamento”. Foto: Nicole Mele

Vários estudos de depleção de triptofano descobriram que cerca de dois terços das pessoas que se recuperam de um episódio depressivo têm recaída quando recebem dietas artificialmente baixas em triptofano. Pessoas com histórico familiar de depressão também parecem vulneráveis à depleção de triptofano. E o triptofano tem o efeito secundário de aumentar os níveis de serotonina no cérebro.

Evidências recentes também sugerem que tanto o triptofano quanto a serotonina podem contribuir para a regulação de bactérias e outros micróbios que crescem no intestino, e os sinais químicos dessa microbiota podem afetar o humor. Embora os mecanismos exatos que ligam o cérebro e o intestino ainda sejam pouco compreendidos, a conexão parece influenciar a forma como o cérebro se desenvolve. No entanto, como a maioria dos estudos de depleção de triptofano até agora foram pequenos, o assunto está longe de ser resolvido.

Outros neurotransmissores, como o glutamato, que desempenha um papel essencial na formação da memória, e o GABA, que inibe as células de enviar mensagens umas às outras, também podem estar envolvidos na depressão, de acordo com Browning. É possível que os ISRSs funcionem ajustando as quantidades desses compostos no cérebro.

Moncrieff vê a busca por outros desequilíbrios químicos na raiz da depressão como uma espécie de rebranding, e não como uma linha de pesquisa verdadeiramente nova. “Diria que eles ainda estão subscrevendo algo como a hipótese da serotonina”, disse ela – a ideia de que os antidepressivos funcionam revertendo alguma anormalidade química no cérebro. Em vez disso, ela acha que a serotonina tem efeitos tão generalizados no cérebro que temos dificuldade de separar seu efeito antidepressivo de outras mudanças em nossas emoções ou sensações que se sobrepõem temporariamente aos sentimentos de ansiedade e desespero.

Respostas genéticas

Nem todas as teorias da depressão giram em torno das deficiências de neurotransmissores. Algumas procuram culpados no nível genético.

Quando se anunciou o primeiro rascunho quase completo da sequência do genoma humano em 2003, ele foi recebido por toda parte como a fundação de uma nova era na medicina. Nas duas décadas desde então, os pesquisadores identificaram genes subjacentes a um enorme espectro de distúrbios – entre eles, cerca de duzentos genes que foram associados ao risco de depressão. (Identificaram-se várias centenas de outros genes como possíveis intensificadores do risco).

“É muito importante que as pessoas entendam que existe uma genética da depressão”, disse Krystal. “Até muito recentemente, só considerávamos fatores psicológicos e ambientais”.

Mas nosso conhecimento da genética é incompleto. Krystal observou que estudos com gêmeos sugerem que a genética pode ser responsável por 40% do risco de depressão. No entanto, os genes identificados atualmente parecem explicar apenas cerca de 5%.

Além disso, simplesmente ter os genes para depressão não garante necessariamente que a pessoa ficará deprimida. Os genes também precisam ser ativados de alguma forma, por condições internas ou externas.

“Às vezes, fazemos uma falsa distinção entre fatores ambientais e fatores genéticos”, disse Srijan Sen, neurocientista da Universidade de Michigan. “Para as características de interesse mais comuns, os fatores genéticos e ambientais desempenham um papel crucial”.

O laboratório de Sen estuda a base genética da depressão mapeando os genomas dos indivíduos e observando cuidadosamente como pessoas com diferentes perfis genéticos respondem a mudanças no ambiente. (Recentemente, eles analisaram o estresse causado pela pandemia de covid-19). Diferentes variações genéticas podem afetar se os indivíduos respondem a certos tipos de estresse, como privação de sono, abuso físico ou emocional e falta de contato social, ficando deprimidos.

Pesquisas sugerem que, no cérebro de pessoas com depressão crônica, as áreas de “substância branca” ricas em fibras nervosas têm menos conexões. A causa dessa diferença é incerta, no entanto.
Pesquisas sugerem que, no cérebro de pessoas com depressão crônica, as áreas de “substância branca” ricas em fibras nervosas têm menos conexões. A causa dessa diferença é incerta, no entanto. Foto: Ralph T. Hutchins/Science Sourc

Às vezes, influências ambientais, como o estresse, também podem dar origem a mudanças “epigenéticas” que afetam a expressão gênica subsequente. Por exemplo, o laboratório de Sen estuda mudanças epigenéticas nas extremidades dos cromossomos, conhecidas como telômeros, que afetam a divisão celular. Outros laboratórios analisam mudanças em marcadores químicos chamados grupos de metilação, que podem ativar ou desativar genes. Às vezes, as mudanças epigenéticas podem até ser transmitidas de geração a geração. “Os efeitos do ambiente são tão biológicos quanto os efeitos dos genes”, disse Sen. “Só a fonte é diferente”.

Os estudos desses genes um dia poderão ajudar a identificar a forma de tratamento a que um paciente responderia melhor. Alguns genes podem predispor um indivíduo a melhores resultados com terapia cognitivo-comportamental, enquanto outros pacientes podem se sair melhor com um ISRSs ou cetamina terapêutica. Mas é muito cedo para dizer quais genes respondem a qual tratamento, disse Sen.

Um produto da fiação neural

Diferenças nos genes de uma pessoa podem predispô-la à depressão; o mesmo acontece com as diferenças na fiação neural e na estrutura de seu cérebro. Vários estudos mostraram que os indivíduos diferem em como seus neurônios se interconectam para formar vias funcionais e que essas vias influenciam a saúde mental.

Jonathan Repple e Susanne Meinert, da Goethe University, e seus colegas estão explorando por que pessoas com depressão crônica têm menos conexões em seus cérebros. Possíveis explicações incluem neuroplasticidade e inflamação.
Jonathan Repple e Susanne Meinert, da Goethe University, e seus colegas estão explorando por que pessoas com depressão crônica têm menos conexões em seus cérebros. Possíveis explicações incluem neuroplasticidade e inflamação. Foto: Roberto Schirdewahn/WWU/R

Em uma conferência recente, a equipe liderada por Jonathan Repple, pesquisador em psiquiatria da Universidade Goethe em Frankfurt, na Alemanha, descreveu como escaneou o cérebro de voluntários com depressão aguda e descobriu que eles diferiam estruturalmente daqueles de um grupo de controle não deprimido. Por exemplo, pessoas com depressão mostraram menos conexões dentro da “substância branca” das fibras nervosas de seus cérebros. (No entanto, Repple observa que não é possível diagnosticar depressão examinando o cérebro de alguém).

Depois que o grupo deprimido passou por seis semanas de tratamento, a equipe de Repple fez outra rodada de exames cerebrais. Desta vez, descobriram que o nível geral de conectividade neural no cérebro dos pacientes deprimidos aumentara à medida que seus sintomas diminuíram. Não parecia importar que tipo de tratamento os pacientes recebiam.

Uma possível explicação para essa alteração é o fenômeno da neuroplasticidade. “Neuroplasticidade significa que o cérebro realmente é capaz de criar novas conexões, mudar sua fiação”, disse Repple. Se a depressão ocorre quando o cérebro tem poucas interconexões ou perde algumas, então aproveitar os efeitos neuroplásticos para aumentar a interconexão pode melhorar o humor da pessoa.

Inflamação crônica

Repple adverte, no entanto, que também é possível encontrar outra explicação para os efeitos observados por sua equipe: talvez as conexões cerebrais dos pacientes deprimidos tenham sido prejudicadas por inflamação. A inflamação crônica impede a capacidade de cura do corpo e, no tecido neural, pode degradar aos poucos as conexões sinápticas. Acredita-se que a perda de tais conexões contribua para os transtornos de humor.

Boas evidências apoiam essa teoria. Quando os psiquiatras avaliaram populações de pacientes com doenças inflamatórias crônicas como lúpus e artrite reumatoide, descobriram que “todos eles têm taxas de depressão acima da média”, disse Charles Nemeroff, neuropsiquiatra da Universidade do Texas, em Austin. É claro que saber que eles têm uma condição degenerativa incurável pode contribuir para os sentimentos de depressão, mas os pesquisadores suspeitam que a própria inflamação também seja um fator.

Charles Nemeroff, neuropsiquiatra da Universidade do Texas, em Austin, acredita que, no futuro, os tratamentos para depressão serão adaptados a pacientes individuais por meio de uma compreensão mais sutil de seus fatores de risco.
Charles Nemeroff, neuropsiquiatra da Universidade do Texas, em Austin, acredita que, no futuro, os tratamentos para depressão serão adaptados a pacientes individuais por meio de uma compreensão mais sutil de seus fatores de risco. Foto: UT Austin Health

Pesquisadores descobriram que induzir inflamação em certos pacientes pode desencadear depressão. O interferon alfa, que às vezes é usado para tratar hepatite C crônica e outras doenças, causa uma grande resposta inflamatória em todo o corpo, inundando o sistema imunológico com proteínas conhecidas como citocinas – moléculas que facilitam reações que variam de leve inchaço a choque séptico. O influxo repentino de citocinas inflamatórias leva à perda de apetite, fadiga e desaceleração da atividade mental e física – todos sintomas de depressão séria. Os pacientes que tomam interferon geralmente relatam se sentir repentinamente – às vezes gravemente – deprimidos.

Se uma inflamação crônica negligencia pode causar depressão, os pesquisadores ainda precisam determinar a fonte dessa inflamação. Distúrbios autoimunes, infecções bacterianas, alto estresse e certos vírus, incluindo o vírus que causa a covid-19, podem induzir respostas inflamatórias persistentes. A inflamação viral pode se estender diretamente aos tecidos do cérebro. A elaboração de um tratamento anti-inflamatório eficaz para a depressão vai depender de saber qual dessas causas está em ação.

Também não está claro se simplesmente tratar a inflamação será o bastante para aliviar a depressão. Os médicos ainda estão tentando analisar se a depressão causa inflamação ou se é a inflamação que leva à depressão. “É um tipo de fenômeno do ovo e da galinha”, disse Nemeroff.

A teoria do guarda-chuva

Cada vez mais, alguns cientistas estão tentando reformular a “depressão” como termo guarda-chuva para um conjunto de problemas relacionados, assim como os oncologistas agora pensam em “câncer” como uma legião de malignidades distintas, mas semelhantes. E assim como cada câncer precisa ser prevenido ou tratado de maneira relevante para sua origem, os tratamentos para depressão talvez precisem ser adaptados a cada indivíduo.

Os diferentes tipos de depressão podem apresentar sintomas semelhantes – como fadiga, apatia, alterações no apetite, pensamentos suicidas e insônia ou sono excessivo – mas talvez surjam de misturas completamente diferentes de fatores ambientais e biológicos. Desequilíbrios químicos, genes, estrutura cerebral e inflamação talvez tenham graus variados de atuação. “Daqui a cinco ou dez anos, não vamos falar de depressão como uma coisa unitária”, disse Sen.

Então, para tratar a depressão de forma eficaz, os pesquisadores talvez precisem desenvolver uma nova compreensão das maneiras pelas quais ela pode surgir. Nemeroff espera que um dia o padrão-ouro para o cuidado não seja apenas um tratamento – mas, sim, um conjunto de ferramentas de diagnóstico que possam determinar a melhor abordagem terapêutica para a depressão de determinado paciente, seja terapia cognitivo-comportamental, mudanças no estilo de vida, neuromodulação, bloqueio de gatilhos genéticos, medicação ou alguma mistura de tudo isso.

Essa previsão pode frustrar alguns médicos e desenvolvedores de medicamentos, pois é muito mais fácil prescrever uma solução única para todo mundo. Mas “estudar a verdadeira e real complexidade da depressão nos leva a um caminho que será mais impactante”, disse Krystal. No passado, disse ele, os psiquiatras clínicos eram como exploradores que desembarcavam em uma ilha desconhecida, montavam acampamento e ficavam confortáveis. “Mas aí descobrimos que a ilha na verdade é um enorme continente”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

História original republicada com permissão da Quanta Magazine, uma publicação editorialmente independente apoiada pela Simons Foundation. Leia o conteúdo original em The Cause of Depression Is Probably Not What You Think.

 

CRESCIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES A LONGO PRAZO

 

Orlando Ovigli, VP de Digital Solutions da FCamara

Em um cenário econômico desafiador para as empresas, é preciso contar com ajuda de evoluções estratégias para impulsionar o crescimento, pensando em estratégias holísticas que ajudam as organizações a se manterem no mercado competitivo.

Uma pesquisa realizada pela Harvard Business School revela que 84% dos executivos entrevistados concordam que novas oportunidades estão emergindo à medida que sua organização se transforma digitalmente, mas a mudança de cultura organizacional é o maior empecilho para 63% dos respondentes. E é esse conceito que Business Transformation emerge como pilar fundamental para superar obstáculos e alcançar resultados sólidos.

Desafios de um ano incerto: como a evolução estratégica pode impulsionar o crescimento das organizações

Em um período desafiador, empresas implementam estratégias holísticas para se manterem competitivas, adaptáveis e em constante crescimento

Diante das transformações econômicas e tecnológicas, as empresas se deparam com a necessidade de tomar decisões estratégicas para mitigar os impactos negativos e assegurar a sustentabilidade do crescimento a longo prazo. Uma pesquisa realizada pela Harvard Business School revela que 84% dos executivos entrevistados concordam que novas oportunidades estão emergindo à medida que sua organização se transforma digitalmente, mas a mudança de cultura organizacional é o maior empecilho para 63% dos respondentes.

É nesse contexto desafiador que os conceitos de melhoria contínua, business transformation e jornada de inovação emergem como pilares fundamentais para superar obstáculos e alcançar resultados sólidos. Embora, teoricamente, esses conceitos possam parecer distintos, na prática fica evidente que estão intrinsecamente interligados, formando uma base sólida para a adaptação e crescimento regular.

“A partir desses três pilares fundamentais, surge a Evolução Estratégica, uma abordagem holística e abrangente que permite às organizações se ajustarem de forma ágil às mudanças. Elas se tornam capazes de progredir em direção a uma transformação constante, envolvendo a capacidade de identificar oportunidades disruptivas e investir em tecnologias e processos inovadores, se preparando para os desafios e, consequentemente, prosperando em um ambiente de transformação”, destaca Orlando Ovigli, VP de Digital Solutions da FCamara, ecossistema de tecnologia e inovação que potencializa o futuro de negócios.

A implementação dos três métodos resulta no sucesso dos negócios, além de gerar sustentabilidade para a companhia. A seguir, o executivo discorre sobre os pilares que constituem essa Evolução Estratégica.

1) Melhoria Contínua

A melhoria contínua desempenha um papel fundamental no aumento da eficiência operacional das organizações. Ao adotar uma mentalidade de aperfeiçoamento diário, as empresas podem identificar oportunidades de desenvolvimento e implementar mudanças graduais para eliminar desperdícios, reduzir falhas e impulsionar a produtividade.

“Como pilar principal deste conceito, a busca pela agilidade e flexibilidade permite que as instituições se adaptem rapidamente às mudanças do ambiente, analisem continuamente os processos e identifiquem gargalos para promover melhorias. Como consequência, passam a fortalecer sua capacidade de resposta às demandas”, pontua Orlando.

2) Business Transformation

O conceito de business transformation envolve uma abrangente e estratégica mudança na organização, com o objetivo de reinventar seu modelo de negócio, cultura e forma de operar. Ele permite atender demandas do mercado em movimento, garantindo a relevância e o sucesso no longo prazo.

“Essa transformação dos negócios geralmente é uma resposta a mudanças disruptivas no mercado, avanços tecnológicos, preferências dos clientes ou outros fatores que demandam uma adaptação fundamental. Além disso, ela abarca a reestruturação de processos, a mudança de mentalidade e a reinvenção da companhia como um todo”, complementa Ovigli.

3) Jornada de Inovação

A chamada Jornada de Inovação é um processo estruturado no qual uma organização busca explorar novas ideias, conceitos e tecnologias para impulsionar a inovação em seus produtos, serviços ou processos internos, promovendo a criatividade, experimentação e implementação de soluções inovadoras para enfrentar desafios e buscar oportunidades de crescimento.

Com isso, se diferenciam da concorrência e conquistam vantagens competitivas, além de se conectarem de forma mais significativa com seus clientes.

No fim, são as pessoas

Para Orlando, no entanto, nada disso pode ser alcançado sem o envolvimento e capacitação dos colaboradores. “Ao fornecer às equipes ferramentas e conhecimento necessários, as empresas passam a promover um ambiente colaborativo, criando uma base para a disseminação de uma nova cultura de inovação que impulsiona resultados de sucesso a longo prazo. Em vez de a mudança de cultura se tornar um obstáculo, como muitos executivos apontaram na pesquisa a Harvard, é justamente ela que alavanca a expansão”, conclui o executivo.

Marketplaces em alta: o sucesso no mercado

Tiago Sanches, gerente comercial da Total IP

Certas estratégias são cruciais para alavancar as vendas e isso começa com o primeiro contato

Marketplaces são uma tendência no e-commerce. Isso porque, os benefícios existem tanto para quem tem seu próprio ambiente, quanto para os sellers, os quais vendem nas plataformas de outros empreendedores. Entretanto, apesar dessa alta, é fundamental as organizações se prepararem da melhor forma para receberem seus grupos alvo, independentemente da época do ano. Isso inclui uma elaboração iniciada pelo atendimento.

O que são marketplaces e qual a sua realidade no mercado?

Esse conceito se remete a uma noção mais coletiva de vendas on-line. Nessa plataforma, diferentes lojas podem anunciar seus artigos, dando ao cliente um leque de opções. Desse jeito, trata-se de uma rede cujos vendedores podem fazer suas ofertas dentro da mesma página. Ou seja, é como um shopping center virtual cujos visitantes têm acesso a vários estabelecimentos. Sites como Mercado Livre, Magalu, Americanas, Amazon e a Valeon são ótimos exemplos, inclusive, de acordo com o último relatório Webshoppers, 84% dos empreendedores brasileiros possuem canais ativos em ambientes como esses.

Conforme a ChannelAdvisor, na China, esse tipo de comércio já representa 90% do faturamento do varejo on-line e, nos EUA, 33%. Já no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o crescimento do setor em 2021 foi de 19%.

Principalmente em temporadas de forte atividade, como o Natal, Dia dos Namorados, das Mães e dos Pais, as movimentações tendem a ser significativas. O Dia do Consumidor, por exemplo, em 2022, chegou a um faturamento de R$ 722 milhões, com elevação de 22% em comparação a 2021, de acordo com dados da Neotrust. Contudo, para, de fato, chamar a atenção dos fregueses, apenas preços atrativos e propagandas não são o suficiente, é preciso oferecer uma experiência completa. “Para deixar uma marca positiva é necessário garantir um primeiro contato excelente, indo até o pós-venda. Os responsáveis por esse tipo de negócio tendem a pensar só no produto final entregue, mas toda interação importa”, explica Tiago Sanches, gerente comercial da Total IP.

Um destaque em meio à concorrência é fundamental

Ciente de como apenas qualidade final não é o suficiente, diversos quesitos tendem a ajudar uma empresa a se destacar em meio a tanta concorrência. Logo, diferentes fatores influenciam a posição ocupada nas buscas, seja preço, custo do frete, avaliações, etc. Além disso, é imprescindível identificar como chamar a atenção em detrimento de sellers ocupando o mesmo espaço. Nesse contexto, conhecimento nunca é demais para descobrir como planejar condições visando se sobressair.

Outra questão importante diz respeito aos parceiros mantidos por perto e a estrutura do negócio em geral. Para a quantidade de vendas alcançadas por um programa como esse, investir na atração de indivíduos para promover suas corporações lá dentro, diversificando e ampliando o portfólio torna tudo mais robusto. Além disso, deve haver uma atenção especial à otimização das operações.

Todavia, de nada adianta tomar cuidado com tudo isso e não promover uma boa gestão operacional. Dentre diversos benefícios, a transformação de um e-commerce em um marketplace proporciona ganho de escala das demandas. A partir desse ponto é crucial redobrar a cautela com estratégias adotadas no local omnichannel. Uma administração eficiente é o meio para a criação de modelos de vivência da persona para ela ter uma boa prática nessa aquisição. “Hoje em dia, uma pessoa transita por diferentes pontos de contato. É relevante, então, conseguir alcançar o preciso da melhor forma e naquele momento, assim, há grandes chances de fidelizar”, comenta o especialista.

Dicas para se sair bem no mercado

Antes de tudo é sempre interessante se colocar no lugar dos frequentadores, pois, somente conhecendo bem eles é viável proporcionar oportunidades e elementos favoráveis. Em circunstâncias assim, um bom levantamento de dados para analisar as dores e as necessidades é uma excelente alternativa, tendo em vista como, por meio dessas informações, é fácil identificar qual a busca e como agradar.

No entanto, o ditado é real e, de fato, a primeira impressão fica. Logo, a assistência inicial desse sujeito deve ser levada em consideração de forma primordial. Como anda o seu atendimento? Quais as abordagens utilizadas para lidar com esses interessados? Independentemente de qual seja, a Startup Valeon consegue auxiliar, incrementar e melhorar qualquer estratégia de forma inovadora.

A tecnologia de robôs tem sido cada vez mais utilizada em diversas esferas do cotidiano da população. No geral, essa indústria está em crescimento, de acordo com a VDMA (Associação Alemã de Fabricantes de Máquinas e Instalações Industriais), as vendas do setor aumentaram em 13% em 2022. Nos primeiros quatro meses, os pedidos recebidos foram elevados em 38%, também em relação ao ano anterior, na Alemanha.

Em todo o mundo, já existem mais de três milhões deles operando em fábricas e pelo menos US$ 13,2 bilhões foram gastos nos últimos anos em novas instalações utilizando esse tipo de modernização. Pelo menos 76% desses investimentos foram feitos por cinco países: China, Japão, Estados Unidos, Coreia do Sul e Alemanha. As indústrias automotiva, elétrica, eletrônica e metálica se destacam nesse uso em seus parques industriais. Porém, no caso do apoio ao consumidor esse artifício também não poderia ficar de fora. Com a Startup Valeon isso é possível para todos os âmbitos. “Nós enxergamos essa assistência como parte do processo de conquista e a colocamos como um pilar principal para os nossos usuários.

Dessa maneira, a firma oferece serviços baseados na aprimoração desse suporte para as companhias parceiras, seja com os tão comentados robôs, responsáveis por atender chamadas e responder mensagens automaticamente, ou com outras ferramentas. Ao todo, há uma flexibilidade sem igual para atender a todo tipo de instituição, com humanos, chat, voz, redes sociais e WhatsApp, o propósito é aumentar os resultados e promover atualização constante.

O que é marketplace e por que investir nessa plataforma

ÚnicaPropaganda e Moysés Peruhype Carlech

Milhares de internautas utilizam o marketplace diariamente para fazer compras virtuais. Mas muitos ainda desconhecem seu conceito e como ele funciona na compra e venda de produtos.

Afinal, o que é marketplace?

O marketplace é um modelo de negócio online que pode ter seu funcionamento comparado ao de um shopping center.

Ao entrar em um shopping com a intenção de comprar um produto específico, você encontra dezenas de lojas, o que lhe permite pesquisar as opções e os preços disponibilizados por cada uma delas. Além de comprar o que você planejou inicialmente, também é possível consumir outros produtos, de diferentes lojas, marcas e segmentos.

Leve isso ao mundo virtual e você entenderá o conceito de marketplace: um lugar que reúne produtos de diversas lojas, marcas e segmentos. A diferença é que no ambiente virtual é mais fácil buscar produtos, e existe a facilidade de comprar todos eles com um pagamento unificado.

Os principais marketplaces do Brasil

A Amazon foi a primeira a popularizar esse modelo de negócio pelo mundo, e até hoje é a maior referência no assunto

No Brasil, o marketplace teve início em 2012. Quem tornou a plataforma mais conhecida foi a CNova, responsável pelas operações digitais da Casas Bahia, Extra, Ponto Frio, entre outras lojas.

Hoje, alguns nomes conhecidos no marketplace B2C são: Americanas, Magazine Luiza, Netshoes, Shoptime, Submarino e Walmart. No modelo C2C, estão nomes como Mercado Livre e OLX. Conheça os resultados de algumas dessas e de outras lojas no comércio eletrônico brasileiro.

Aqui no Vale do Aço temos o marketplace da Startup Valeon que é uma Plataforma Comercial de divulgação de Empresas, Serviços e Profissionais Liberais que surgiu para revolucionar o comércio do Vale do Aço através de sua divulgação online.

Como escolher o marketplace ideal para sua loja

Para ingressar em um marketplace, é preciso cadastrar sua loja, definir os produtos que serão vendidos e iniciar a divulgação. Mas é fundamental levar em consideração alguns pontos importantes antes de decidir onde incluir sua marca:

Forma de cobrança: cada marketplace possui seu modelo de comissão sobre as vendas realizadas, que pode variar de 9,5% a 30%. O que determina isso é a menor ou maior visibilidade que o fornecedor atribuirá a seus produtos. Ou seja, o lojista que quer obter mais anúncios para seus produtos e as melhores posições em pesquisas pagará uma comissão maior.

Na Startup Valeon não cobramos comissão e sim uma pequena mensalidade para a divulgação de seus anúncios.

Público-alvo: ao definir onde cadastrar sua loja, é essencial identificar em quais marketplaces o seu público está mais presente.

Garantimos que na Valeon seu público alvo estará presente.

Concorrentes: avalie também quais são as lojas do mesmo segmento que já fazem parte da plataforma e se os seus produtos têm potencial para competir com os ofertados por elas.

Felizmente não temos concorrentes e disponibilizamos para você cliente e consumidores o melhor marketplace que possa existir.

Reputação: para um marketplace obter tráfego e melhorar seus resultados em vendas precisa contar com parceiros que cumpram suas promessas e atendam aos compradores conforme o esperado. Atrasos na entrega, produtos com qualidade inferior à prometida e atendimento ineficiente são fatores que afastam os usuários que costumam comprar naquele ambiente virtual. Ao ingressar em um marketplace, certifique-se de que a sua loja irá contribuir com a boa reputação da plataforma e pesquise as opiniões de compradores referentes às outras lojas já cadastradas.

Temos uma ótima reputação junto ao mercado e consumidores devido a seriedade que conduzimos o nosso negócio.

Vantagens do marketplace

A plataforma da Valeon oferece vantagens para todos os envolvidos no comércio eletrônico. Confira abaixo algumas delas.

Para o consumidor

Encontrar produtos de diversos segmentos e preços competitivos em um único ambiente;

Efetuar o pagamento pelos produtos de diferentes lojistas em uma única transação.

Para o lojista

Ingressar em um comércio eletrônico bem visitado e com credibilidade, o que eleva a visibilidade de seus produtos;

Fazer parte de uma estrutura completa de atendimento e operação de vendas com um menor investimento, considerando que não será necessário pagar um custo fixo básico, como aconteceria no caso de investir na abertura de uma loja física ou online.

Provas de Benefícios que o nosso site produz e proporciona:

• Fazemos muito mais que aumentar as suas vendas com a utilização das nossas ferramentas de marketing;

• Atraímos visualmente mais clientes;

• Somos mais dinâmicos;

• Somos mais assertivos nas recomendações dos produtos e promoções;

• O nosso site é otimizado para aproveitar todos os visitantes;

• Proporcionamos aumento do tráfego orgânico.

• Fazemos vários investimentos em marketing como anúncios em buscadores, redes sociais e em várias publicidades online para impulsionar o potencial das lojas inscritas no nosso site e aumentar as suas vendas.

Para o Marketplace

Dispor de uma ampla variedade de produtos em sua vitrine virtual, atraindo ainda mais visitantes;

Conquistar credibilidade ao ser reconhecido como um e-commerce que reúne os produtos que os consumidores buscam, o que contribui até mesmo para fidelizar clientes.

Temos nos dedicado com muito afinco em melhorar e proporcionar aos que visitam o Site uma boa avaliação do nosso canal procurando captar e entender o comportamento dos consumidores o que nos ajuda a incrementar as melhorias e campanhas de marketing que realizamos.

domingo, 2 de julho de 2023

6 MESES DESASTROSOS DO GOVERNO LULA 3

 

Terceiro mandato
Derrotas no Congresso, ataques ao agro e diplomacia desastrada marcam os 6 meses de Lula 3
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo

Por
Tatiana Azevedo – Gazeta do Povo
e

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo
Brasília


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante Foro de São Paulo| Foto: EFE/ Andre Borges

Os seis primeiros meses do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se revelaram um atoleiro político. Mesmo após distribuir R$ 5,3 bilhões em emendas para deputados, o governo sofreu derrotas e tem na Câmara o principal entrave para seus projetos estratégicos. Lula também tratou empresários do agronegócio como “fascistas”, desapontou os evangélicos e desgastou a imagem do Brasil no Ocidente ao apoiar a Rússia e relativizar a invasão da Ucrânia.

Principal gargalo de Lula, a relação com a Câmara foi alvo de diversos atritos nesses seis primeiros meses de governo. Sem apoio da maioria dos deputados, o Executivo se viu derrotado em diversas matérias, como a derrubada do decreto do marco do saneamento e a retirada de pauta do Projeto de Lei das Fake News, por exemplo.

Além disso, Lula se viu obrigado a ampliar as liberações de emendas parlamentares para que a Medida Provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios não perdesse a validade.

O líder da oposição na Câmara, deputado Carlos Jordy (PL-RJ) afirma que Lula não tem base no governo para aprovar projetos. Segundo ele, apenas 136 parlamentares se mantêm fiéis ao presidente, e por isso ele “busca a todo momento comprar apoio, votos, numa reedição do Mensalão através do orçamento secreto”.

Na avaliação de Jordy, Lula governou por meio de Medidas Provisórias e decretos, e os projetos seriam muito ruins, em sua opinião. “Mesmo assim, ele [governo] tem dificuldade de aprovar, porque não tem articulação política”.

O governo reconhece a dificuldade, mas diz que o cenário será revertido no próximo semestre.

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“Eu vivi o maior drama como articulador político do governo com a medida provisória da reestruturação dos ministérios. Parecia que o teto do plenário [da Câmara] Ulysses Guimarães ia cair sobre a nossa cabeça, porque foi grave. Houve uma tensão de grandes proporções. Imagina se essa medida provisória não tivesse sido aprovada? O caos que estaria que estaria o governo”, disse o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).

Presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), foi o responsável pelos principais recados ao presidente Lula de que o governo poderia sofrer ainda mais derrotas na Casa diante do perfil mais conservador e liberal dos deputados. Após os embates, Lula resolveu entrar na articulação política do governo e ampliar o espaço para deputados do centrão no intuito de consolidar uma base de apoio.

Nessa estratégia, além de rifar a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, para abrigar o deputado Celso Sabino (União-PA), no intuito de ampliar o apoio dentro do União Brasil, Lula pretende se reunir quinzenalmente com os líderes do Congresso. De acordo com o líder do governo, até o fim do ano, a administração petista vai ter uma relação “azeitada” com a Câmara.

“O ministro [Alexandre] Padilha [das Relações Institucionais] é quem tem a responsabilidade de comandar articulação pública do governo nas duas Casas. Mas é bom o presidente estar próximo dos líderes. Enfim, eu acho que é uma mudança muito substantiva o que aconteceu nesse semestre. Nós queremos aprimorar na relação do Executivo com a Câmara”, afirmou Guimarães.

Nova configuração de blocos partidários deve impedir Lula de impor sua agenda pessoal

O fato do Congresso estar dividido é outra barreira para o petista, segundo o cientista político Adriano Cerqueira, da Universidade Federal de Ouro Preto. Segundo ele, isso ficou claro logo no início do primeiro semestre, com a formação dos blocos partidários na Câmara.

Cerqueira diz que os blocos são fruto de uma reestruturação partidária que está em curso desde a eleição de Bolsonaro, e que ficou mais evidente na composição do novo Congresso.

“Partidos que até então eram muito fortes e formavam a agenda no Congresso, como PSDB, MDB e até o PT perderam força, perderam composição de bancada majoritária; e aqueles outros partidos pequenos, medianos, que formavam bloco de apoio ao governo de plantão – que a gente tem chamado de Centrão – muitos desses parlamentares agora fazem parte de partidos fortes, que definem a agenda do Congresso, como Republicanos, PP e PL”, explica.

Na análise de Cerqueira, “PP e PL estão disputando claramente o poder na Câmara. Foi iniciado esse processo de grandes blocos, um deles beneficiando mais o Arthur Lira (PP), e o União Brasil, que é o chamado super bloco, com mais de 170 deputados, e que garante a Lira o poder de articulação política dentro da Câmara dos Deputados”.

O outro bloco, com cerca de 140 deputados, em torno do Republicanos, disputa influência na Câmara; além do PL, com 99 parlamentares.

“Esse cenário, conservador e de direita, explica a dificuldade do Lula de definir a agenda de votações e a agenda temática no Congresso Nacional. Fica claro que o Lula quer usar esse terceiro mandato para impor a sua agenda pessoal, e ele tem um perfil de esquerda. Só que a Câmara já deixou claro que não vai permitir isso, e que tem sua própria agenda”, completa Adriano Cerqueira.

Lula tenta mitigar desgaste após chamar agronegócio de fascista 
Outro ponto de crise para Lula nesses seis primeiros meses de governo veio por parte do setor do agronegócio, que majoritariamente apoiou o governo do ex-presidente Bolsonaro. O principal embate ocorreu quando ministros do Executivo ameaçaram cortar o patrocínio do Banco do Brasil à Agrishow, maior feira agrícola da América Latina, o que não ocorreu.

Neste episódio, Lula se referiu aos organizadores da Agrishow como “alguns fascistas, alguns negacionistas”. Além disso, a crise com o agronegócio foi ampliada depois que Lula e demais integrantes do governo não só se mantiveram em silêncio diante das invasões de propriedades privadas por parte do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como agraciaram suas lideranças com cargos públicos estratégicos.

A crise acabou resultando na instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pela Câmara dos Deputados.

Para tentar mitigar a resistência do setor ao governo, Lula passou a fazer diversas sinalizações numa estratégia de aproximação. Recentemente, cobrou que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) trabalhe para se antecipar às invasões. Além disso, Lula disse que, para reduzir invasões, o governo fará ”prateleira de terras improdutivas” para assentamentos.

Vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), avaliou positivamente os acenos do petista. “Acho que a declaração do Lula de que não se precisa invadir terras no Brasil e que esse é um governo que trabalha pelo desenvolvimento do agro foram muito importantes. Achei que ambas as declarações foram muito oportunas e um bom sinal para uma boa convivência do setor com o governo”, afirmou.

Desaprovação do governo cresceu entre os evangélicos 
A aprovação do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seis meses de governo está estagnada na margem de votos válidos recebidos na eleição de 2022, de acordo com dados da pesquisa PoderData divulgada nesta quinta (29).

O levantamento aponta que 51% dos brasileiros aprovam o presidente, apenas 0,1% acima da quantidade de votos válidos recebidos no segundo turno da eleição presidencial, de 50,9%.

O descontentamento com Lula é maior no segmento evangélico, onde sua desaprovação começou com 56% em janeiro, subiu para 60% em abril e, agora, está em 62%. Neste grupo, o atual presidente é aprovado por apenas 34% dos eleitores. A pesquisa foi realizada entre os dias 23 e 25 de junho, com 2,5 mil eleitores.

No início de junho, o presidente Lula foi vaiado ao ser citado pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, durante a Marcha para Jesus, um dos maiores eventos para o público evangélico do país. O petista foi convidado a comparecer ao evento, mas recusou ao convite.

Ainda durante o governo de transição, foi articulada a criação de uma secretaria para os evangélicos no Planalto, destinada a assessorar Lula no trato com o grupo. O órgão seria chefiado pelo pastor Paulo Marcelo Schallenberger, mas sua criação não ocorreu. Tampouco Lula incluiu lideranças evangélicas no “Conselhão”, composto por empresários, sociedade civil e movimentos sociais, inclusive o MST.

Ao apoiar a Rússia, Lula perdeu a chance de ser protagonista no cenário internacional
Em apenas seis meses de mandato, Lula ficou mais de 30 dias no exterior. Nesse período proferiu incontáveis declarações desastradas, que mostraram seu profundo desconhecimento do cenário internacional.

O petista disse equivocadamente que a Ucrânia é tão culpada pela guerra quanto a Rússia e que os Estados Unidos e a União Europeia estão prolongando o conflito ao fornecer armas para os ucranianos se defenderem.

Ao não levar em conta que a Rússia é o país agressor e a Ucrânia a nação invadida, Lula prejudicou a imagem do Brasil no Ocidente e diminuiu consideravelmente suas próprias chances de se tornar um protagonista na diplomacia global.

Sua proposta de mediar o conflito da Ucrânia foi desconsiderada pelas potências mundiais. Além disso, na maioria dos países em que esteve, o petista criticou a política ambiental de seu antecessor, Jair Bolsonaro. Analistas afirmaram que ele poderia exercer protagonismo global na área de defesa do meio ambiente.

Mas Lula não só teve uma passagem apagada como sofreu críticas da própria esquerda ao viajar para a França para debater como países ricos poderiam ajudar nações mais pobres a enfrentar os desafios das mudanças climáticas. O protagonismo que Lula pretendia assumir foi dado a líderes como a premiê de Barbados, Mia Mottley, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

O petista aposta agora em recuperar prestígio na área em 2025, quando o Brasil deve sediar a COP 30, a conferência internacional sobre o clima.

Mas a política externa desastrada não criou problemas para Lula apenas no cenário internacional. As estadias em hotéis luxuosos com sua mulher Janja Lula da Silva durante as viagens oficiais e a recepção calorosa feita para o ditador da Venezuela, Nicolas Maduro em junho prejudicaram a imagem do presidente internamente.

Resta agora a Lula tentar reverter os erros do início de governo ou se conformar com um isolamento cada vez maior que pode estender o atual atoleiro político até 2026.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/derrotas-no-congresso-ataques-ao-agro-e-diplomacia-desastrada-marcam-os-6-meses-de-lula-3/
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COPOM PROMETE INICIAR OS CORTES NA TAXA DE JUROS DESDE QUE O GOVERNO TOME PROVIDÊNCIAS COM A INFLAÇÃO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante audiência no Congresso em abril de 2023 para discutir a taxa de juros.| Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A divulgação, na terça-feira, da ata da última reunião do Copom, realizada em 20 e 21 de junho, dissipou algumas dúvidas a respeito do tema que mais exasperou o governo quando da divulgação do comunicado, ao fim da reunião: a ausência de referências a um futuro corte nos juros, que haviam sido mantidos em 13,75%. A ata, que amplia a análise feita no comunicado, deixa claro que a maioria dos membros do colegiado trabalha com a possibilidade de iniciar os cortes já na próxima reunião, que ocorre no início de agosto.

Os membros foram unânimes ao considerar que um eventual corte tem como condição a “confiança na trajetória do processo de desinflação”, já que uma redução prematura pode levar a inflação a reagir, forçando uma reversão na política monetária e novas elevações da Selic. A divergência opôs o grupo – majoritário – para o qual o corte nos juros pode começar já em agosto caso os indicadores se mantenham na trajetória atual e os membros que julgam necessário acompanhar os números por um período mais longo para afastar de vez as incertezas sobre a possibilidade de iniciar o afrouxamento monetário. A favor desta tese, por exemplo, pesam as constatações de que “os núcleos de inflação, que respondem mais à demanda agregada e à política de juros, se reduzem em menor velocidade” e de que o segundo semestre deve ser marcado por “uma maior inflação acumulada em 12 meses, como consequência da exclusão, nesse indicador, do efeito das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 e da manutenção dos efeitos das medidas tributárias deste ano”.

O governo enxergou na ata do Copom uma aprovação da política que vem desenvolvendo. A ata, no entanto, é muito mais uma exortação que um endosso

Para além das análises, que dão ao governo, a seus aliados na gritaria contra a Selic alta e ao setor produtivo as respostas que Lula adora exigir de Roberto Campos Neto, os trechos mais relevantes da ata são aqueles que descrevem as condições necessárias para alimentar tanto o processo de “desinflação” quanto a chamada “ancoragem das expectativas” em relação à inflação futura. E esses trechos mostram claramente que a responsabilidade é dos poderes Executivo e Legislativo. “Decisões que induzam à reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação contribuiriam para um processo desinflacionário mais célere e menos custoso, permitindo flexibilização monetária”, afirmam os membros do Copom.

Mereceram menção especial “a apresentação e a tramitação do arcabouço fiscal”, que “reduziram substancialmente a incerteza em torno do risco fiscal”, segundo a ata. No entanto, “permanecem desafios para o cumprimento das metas estipuladas para o resultado primário”, e o comitê fez questão de reafirmar que “não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, uma vez que a trajetória de inflação segue condicional à reação das expectativas de inflação e das condições financeiras”. É preciso lembrar que a reunião do Copom terminou poucas horas antes que o plenário do Senado aprovasse uma versão do arcabouço que afrouxou ainda mais a âncora fiscal, aumentando as preocupações sobre as reais chances de os resultados primários previstos serem obtidos e de a dívida pública interromper sua trajetória de elevação.

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Senado deixa o arcabouço fiscal ainda mais fraco (editorial de 23 de junho de 2023)
Apesar da gritaria de Lula, Copom opta pela cautela (editorial de 22 de junho de 2023)
Um Banco Central à imagem e semelhança de Lula (editorial de 11 de maio de 2023)


Embora não tivesse sido mencionada nem no comunicado nem na ata, a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) – formado por Campos Neto e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet – marcada para esta quinta-feira trazia um componente adicional de incerteza, já que o governo, por ter maioria garantida no CMN, poderia forçar uma alteração nas metas de inflação. O presidente Lula defendera essa mudança no início do mandato, argumentando que, com uma meta maior, os juros não precisariam ser tão altos. No entanto, na economia real, aquela dos livros que Lula disse estarem obsoletos, o resultado seria o inverso: uma elevação, sinalizando uma tolerância maior com a inflação, teria o efeito de deteriorar ainda mais as expectativas, o que exigiria novas altas nos juros, em vez de sua redução. Na reunião de fevereiro do CMN, a meta nem foi discutida, dando a entender que os dois ministros teriam mais consciência que seu chefe; neste fim de junho, o trio manteve o alvo em 3% para 2024 e 2025, estendendo-o também para 2026. A alteração mais significativa foi a adoção da “meta contínua”, em vez do modelo de ano-calendário, mudança que Campos Neto disse ser um “aperfeiçoamento”. Com essa definição, fica removido um fator de dúvida que poderia exigir mais cautela dos membros do Copom.

O governo enxergou na ata do Copom uma aprovação da política que vem desenvolvendo. O texto “mostra que eles já reconhecem o trabalho da equipe econômica”, disse Tebet na terça-feira. “Ficou claro que estamos no caminho certo”, afirmou Haddad no mesmo dia. A ata, no entanto, é muito mais uma exortação que um endosso. O arcabouço ainda não está aprovado, e da maneira como está segue inspirando dúvidas. Reformas importantes como a tributária e a administrativa são igualmente necessárias – especialmente esta última, aquela que o governo Lula mais abomina. Deixar a economia nos trilhos para que os juros possam baixar exigirá de governo e Congresso muito mais que o que vem sendo feito até agora.


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AS MESMAS EMPREITEIRAS DA LAVA JATO ESTÃO VOLTANDO PARA A PETROBRAS TUDO COMO DANTES

 

Após a Lava Jato
Empreiteiras envolvidas na Lava Jato são autorizadas a disputar contratos na Petrobras
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Gazeta do Povo


Petrobras habilitou empreiteiras envolvidas na Lava Jato para disputar contratos| Foto: André Coelho/EFE


As empreiteiras Odebrecht, Andrade e Gutierrez e UTC já podem voltar a disputar contratos na Petrobras. Em maio elas foram habilitadas e passaram a constar na lista de fornecedores pré-qualificados da petroleira. Anteriormente, essas construtoras haviam sido impedidas de fazer negócios com a estatal por envolvimento no esquema de corrupção bilionário desvendado pela Lava Jato, conhecido como “petrolão”. A informação foi revelada pela Folha de S. Paulo e confirmada pela Gazeta do Povo.

“As três empresas citadas se candidataram e comprovaram o atendimento aos requisitos técnicos solicitados, assim como outras empresas, que totalizaram trinta e uma, conforme lista de fornecedores Pré-Qualificados divulgada no dia 23/05/2023 na Petronect”, informou a assessoria de imprensa da Petrobras.

Segundo a Petrobras, a pré-qualificação de fornecedores antes do processo licitatório permite que a empresa já tenha uma lista de empresas que reúnam as “condições de habilitação técnica necessárias para que o fornecimento de bem ou a execução do serviço ou obra ocorra nos prazos e demais condições previamente estabelecidas”.

A estatal também informou que as empresas que mantém relacionamento com a Petrobras devem “demonstrar conformidade ao Programa de Compliance da Petrobras, assumir o compromisso de cumprir as leis anticorrupção e as políticas, procedimentos e regras de integridade aplicáveis, bem como estar livre de quaisquer sanções impeditivas”.

Visita à seleção feminina
Lula afirma que não foi comprovada corrupção nas obras dos estádios da Copa de 2014
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Gazeta do Povo


Presidente foi ao treino da seleção feminina e disse que espera que o Brasil sedie o Mundial da categoria em 2027| Foto: Reprodução/YouTube/TV Brasil

Em visita a um treino da seleção feminina de futebol no estádio Mané Garrincha, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse neste sábado (1º) que não foi comprovada corrupção nas obras dos estádios para a Copa do Mundo masculina de 2014, realizada no Brasil.

Lula fez as declarações ao afirmar que espera que o país sedie a Copa do Mundo feminina de 2027.

“Em 2014, eu fiquei frustrado, porque nós conseguimos trazer a Copa do Mundo aqui no Brasil [sic] e 2013 foi um inferno nesse país [ano em que foram realizados grandes protestos em várias cidades brasileiras], e a Copa do Mundo [de 2014], ela foi banalizada. Porque nem os patrocinadores divulgavam a Copa do Mundo [de forma] correta e foi uma Copa do Mundo feita num clima muito negativo. Tudo se dizia que tinha corrupção nos estádios, tudo, e não se provou corrupção em nenhum estádio. Já faz dez anos [sic] que houve a Copa do Mundo e, em nenhum estádio, foi provado que teve corrupção. Mas as denúncias aconteceram. Dessa vez, parece que vai ser mais fácil porque a gente não tem mais que gastar dinheiro para fazer estádio”, afirmou Lula.

Ao contrário do que afirmou o presidente, as obras dos estádios da Copa de 2014 tiveram várias provas de corrupção. Por exemplo, em 2017, o Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) apontou superfaturamento de R$ 211 milhões em valores atualizados na reforma do Maracanã. Executivos da Odebrecht admitiram em delação premiada que a empreiteira pagou propina de R$ 7,3 milhões para fraudar a licitação do estádio.

No final de 2022, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) condenou o ex-governador Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice Tadeu Filippelli (MDB) por enriquecimento ilícito pelas obras no Mané Garrincha. Ambos foram condenados a pagar mais de R$ 16 milhões aos cofres públicos cada e tiveram os direitos políticos suspensos por dez anos. Segundo valores atualizados até 2017, o superfaturamento teria sido de quase R$ 560 milhões.

Também foi apontado superfaturamento e/ou ocorreram condenações de envolvidos em obras de outros estádios do Mundial de 2014, como a Arena das Dunas, em Natal, e a Arena Pernambuco.

A seleção feminina enfrenta o Chile em Brasília neste domingo (2), em amistoso preparatório para a Copa do Mundo de 2023, que será realizada na Austrália e na Nova Zelândia a partir da segunda quinzena de julho.


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PARA LULA A DEMOCRACIA É UM MEIO E NÃO O FIM

 

Esquerda

Por
Leonardo Coutinho – Gazeta do Povo


Relativização dos abusos da ditadura de Maduro na Venezuela mostra que, para Lula, a democracia é um meio, não o fim| Foto: EFE/André Coelho

A cada cinco anos, a Coreia do Norte realiza eleições. Na festa da democracia norte-coreana, 100% dos eleitores comparecem para votar. Algo extraordinário e singular, que se torna ainda mais fantástico e único depois da apuração. Os candidatos vencedores recebem algo próximo de 100% dos votos.

Ninguém ocupa um cargo eletivo na Coreia do Norte sem ser uma unanimidade. Sabe por quê? As cédulas eleitorais vêm com um nome apenas. Disputa é coisa de capitalista. No mundo perfeito da democracia norte-coreana, há o consenso. Somente neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez várias referências à (super) ocorrência de eleições na Venezuela para atestar que por lá existe uma democracia vibrante. Tão vibrante que os líderes não temem o escrutínio eleitoral.

Cuba, a ilha rebelde, também realiza eleições. Sendo assim, como chamar aquela ditadura de ditadura? Os arquivos das entrevistas das duas últimas eleições presidenciais no Brasil são ricos em mostrar como a esquerda brasileira usa as eleições como sinônimo de democracia. Lamento, mas não é.

Em Cuba, a idílica Cuba, as eleições são um palco no qual o povo é coadjuvante. Os cubanos têm que simplesmente escolher entre um candidato do Partido Comunista de Cuba e outro do Partido Comunista de Cuba, previamente indicados pelos dirigentes do Partido Comunista de Cuba. Esses delegados vão compor a Assembleia Nacional que elege o presidente. Na realidade, o verbo correto é validar.

Muita gente ficou chocada com uma declaração do presidente Lula em uma entrevista à Rádio Gaúcha, na qual ele definiu a democracia como um valor relativo, não apenas para defender o amigo Nicolás Maduro, mas para justificar o que a Venezuela se tornou. Para Lula, as ações de Maduro e seus comparsas são como uma democracia autóctone que expressa suas características únicas no ecossistema político, que, na cabeça do presidente brasileiro, é convenientemente fluído.

A presidente do PT tentou corrigir. Disse que democracia só é democracia quando social. Uma falsa dicotomia recorrente entre esquerdistas dos tempos da Guerra Fria, que perguntavam para gente faminta: “Vocês preferem o pão ou a liberdade?”.

Uma artimanha que pretendia ilustrar a velha imagem de que no comunismo tudo era de todos, enquanto no capitalismo alguns têm tudo e muitos não têm quase nada. Portanto, a supressão da liberdade seria um preço justo a ser pago para as coisas funcionarem bem e todos terem direito ao seu naco de “democracia social”. Um negócio tão sem pé nem cabeça que nunca conseguiu se comprovar na prática, mas que até hoje embala a alucinação de líderes políticos, acadêmicos e militantes.

A relativização da democracia não é um fato isolado. Lula vocalizou algo que já está sendo embutido no debate e na cabeça das pessoas há tempos. A tese de que não existe uma democracia, mas democracias. E que a democracia como patrimônio da humanidade, construída sob fundamentos que vêm desde a antiguidade e foram se ajustando ao longo de séculos, não serve para comportar “as novas formas de democracia”. O melhor exemplo disso é a jocosa “Democracia com características chinesas”.

Xi Jinping colocou seus diplomatas em campo para retrucar as críticas ao seu regime. Quis mostrar para o mundo livre que ninguém tem autoridade para falar em democracia. Portanto, ninguém pode impor o que é democracia. No Brasil, foram várias ocorrências de assédio conceitual. Em 2021, a ex-presidente Dilma Rousseff condenou as democracias ocidentais e disse que o futuro é a China. Um ano antes, os presidentes dos principais partidos políticos brasileiros se reuniram em um webinar para absorver o conceito chinês de democracia, em um dos eventos on-line mais surreais produzidos durante a pandemia de Covid-19.

Na abertura do 26º encontro do Foro de São Paulo, o presidente Lula relembrou quando barrou o desejo do então coronel golpista Hugo Chávez de participar do segundo encontro do Foro de São Paulo, em El Salvador, por Chávez ter sido um golpista. Lula relembra que Chávez tentou tomar o poder à força em 1992 em um golpe fracassado, que o levou para a prisão até 1994.

Algumas coisas chamam a atenção. Lula erra alguns detalhes. Diz que o evento do Foro de São Paulo em El Salvador era o segundo da história, sendo que na verdade era o sexto. Seria apenas uma bobagem, pois afinal já se passaram anos e ninguém é obrigado a se lembrar com precisão de datas e locais.

Mas a história que Lula conta, para atestar o espírito democrata do Foro de São Paulo, é uma falsificação. Assim que Chávez saiu da cadeia em 1994, um jato cubano pousou em Caracas e o levou para uma reunião pessoal com Fidel Castro, que o apadrinhou.

Ao contrário do que disse Lula, o golpista Hugo Chávez fez, sim, parte da sexta reunião do Foro de São Paulo, em San Salvador. O relato sobre a primeira participação do venezuelano na agremiação está registrado no livro “Foro de São Paulo: construindo a integração latino-americana e caribenha”, de autoria dos petistas Valter Pomar e Roberto Regalado. A obra foi publicada em 2013 pela Editora Fundação Perseu Abramo, que é do PT.

Lula manipula uma história para tentar mostrar uma face inventada do Foro.

O que aconteceu naquele ano foi o seguinte: Chávez não se contentava em não ser uma estrela. Queria fazer um dos seus longos discursos para o plenário do Foro. Algo que lhe foi negado, pois ninguém quis renunciar a seu tempo para cedê-lo para o venezuelano, que ainda não tinha sido alçado ao posto de estrela do esquerdismo latino-americano e mundial, ao direito de brilhar. Mas Chávez não ficou apagado. Ganhou de presente dos amigos guerrilheiros da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional o acesso à tribuna para discursar em uma das comissões do Foro.

A frouxidão de Lula com a história, com a democracia, com a moral reaparece impunemente, pois, como ele mesmo disse na já referida entrevista à Rádio Gaúcha, a democracia que ele gosta é a que o conduziu ao terceiro mandato. Para Lula, a tal democracia que ele usou para vencer foi um meio. Não o fim.


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O AGRONEGÓCIO TRÁS DÓLARES PARA O BRASIL

 

Sem o agronegócio o Brasil quebra – e até Lula e a esquerda sabem disso

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou Plano Safra no Planalto| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto

O presidente Lula não gosta, e nunca gostou, da agricultura e da pecuária brasileiras; sua ideia sobre o que deve ser a produção rural e a vida no campo é ficar repetindo, como faz há décadas, que o Brasil precisa de uma “reforma agrária” e que o MST, com suas invasões de terra, agressões físicas e destruição de propriedade, é um “movimento social” que vai salvar a lavoura deste país.

O agronegócio, para ele, para o PT e para a esquerda em geral, não é a área da economia brasileira que funciona melhor, tem mais capacidade de competir de fato no mercado externo e fornece ao país os dólares indispensáveis para pagar as suas importações e manter o sistema produtivo em funcionamento. É um mal, ou um “inimigo do povo”. Lula acha, e já disse mais uma vez, que o agronegócio brasileiro é “fascista”, ou “direitista”; também afirma que, “ideologicamente”, ele e os produtores rurais estão em “campos opostos”. É claro que encheu o Incra, de alto a baixo, com empregos para os militantes políticos do MST e suas redondezas.

O discurso da esquerda é de guerra contra o que chamam de “ruralistas”, como numa acusação, mas o agronegócio brasileiro continua mais vivo do que nunca.

Mas uma coisa é o que Lula diz. Outra, bem diferente, é o que o seu governo faz em relação ao campo. A última ação concreta, dessas que são capazes de produzir resultados no mundo das realidades, é o anúncio do financiamento para a safra de 2023/24 – um valor de 365 bilhões de reais, mais que o do ano passado, e essencial para manter o agronegócio em plena atividade.

A safra de grãos deste ano deve passar dos 300 milhões de toneladas, um recorde. Seu ministro da Agricultura é um entusiasta da produção rural, tem consciência de quanto o agronegócio é essencial para o Brasil e dá a impressão de ter um compromisso real com o progresso no campo. Enfim: o discurso da esquerda é de guerra contra o que chamam de “ruralistas”, como numa acusação, mas o agronegócio brasileiro continua mais vivo do que nunca. O próprio Lula, na última vez em que tocou no assunto, proclamou-se “responsável” e diz desejar que a “agricultura brasileira continue plantando cada vez mais”. Foi um gesto de paz, ao contrário do tom de suas declarações anteriores – um bom sinal, porque o contrário seria puro suicídio.

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As exportações do agronegócio brasileiro em 2022 chegaram a 160 bilhões de dólares e, neste ano, o avanço da produção na área rural foi o responsável direto pelo crescimento da economia no primeiro trimestre e à estabilidade no câmbio. Onde o Brasil iria arrumar essa quantidade de dólares? Com certeza, não é com as abóboras do MST – ou com o seu arroz orgânico, cuja produção anual não daria para alimentar a população brasileira nem por 12 horas.

Sem o campo, o país quebra; o próprio equilíbrio do fornecimento mundial de alimentos seria abalado. Nenhum governo pode abrir mão dessa fonte de riquezas, diga o que disser a “ideologia” do presidente e do seu círculo de extremistas políticos. Guerra ao agro, de verdade, seria reduzir os recursos do Plano Safra 23/24 e fechar as portas do Banco do Brasil para os produtores rurais. É o contrário do que está acontecendo.


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INELEGIBILIDADE DE BOLSONARO VAI BENEFICIAR A DIREITA

O futuro da direita
Bolsonaro está inelegível. E agora?

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Parece até estranho perguntar, mas aí vai: Bolsonaro perde ou ganha com a inelegibilidade?| Foto: EFE/ João Guilherme Arenazio

Hoje foi difícil escolher o assunto da coluna. Será que eu falo sobre a confissão do sem-vergonha Lula, que sem vergonha nenhuma se assumiu comunista? (Finalmente, né?!). Ou será que falo sobre a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro – sinal de que o Judiciário já perdeu o bom senso e agora milita desavergonhadamente? Como meus amigos da nobilíssima editoria Ideias já trataram de expor o lado patético e assustador da fala de Lula, optei por tratar de Bolsonaro.

Se fiz uma boa escolha? Ainda não sei dizer. Primeiro porque o texto está só no comecinho. Depois porque discutir as consequências da inelegibilidade de Bolsonaro é arriscado. Algo me diz que alienarei parte da plateia ao assumir um lado e a fazer certos pressupostos. Mas paciência! Mesmo sabendo que o diálogo está em baixa e que todas as palavras são lidas com uma ênfase violenta nunca intencional por parte do autor, decidi contar com a generosidade dos que discordarem de mim. Veremos.

Pois a esta altura você já sabe que o TSE tornou Bolsonaro inelegível até o distante ano de 2030. Se bem que meu leitor e espectador assíduo já sabe disso desde o dia 7 de junho. Mas isso não vem ao caso. Bolsonaro já avisou que vai recorrer ao STF. Faz-me rir, né? Uma vez estabelecido o fato, aqui é que começam as querelas. Porque tem muita gente de direita e até bolsonarista que está celebrando a decisão do TSE. Para eles, Bolsonaro só tem a ganhar com a inelegibilidade.

Politicamente, discordo. Porque essas pessoas partem de um pressuposto até admirável, mas ingênuo: o de que a injustiça nesse caso é tão evidente que Jair Bolsonaro será capaz de eleger qualquer um que se associar a ele. Outra vertente dessa mesma ideia sorri de orelha e orelha, depositando todas as suas esperanças em Michelle Bolsonaro. Mas esses dois castelinhos de cartas eu desmonto com uma brisa: quem garante que haverá eleições em 2026? Por sinal, acabei de perceber aqui outra contradição da turma do “fica frio que em 2026 a gente volta”: quem não acredita na lisura das eleições de ontem e hoje, por que acreditaria nas eleições de amanhã?

Aula de botânica
Sempre posso estar enganado, claro, mas me parece que a única direita que poderá concorrer nas próximas eleições presidenciais, nem que seja como um desses figurantes deslumbrados que se consideram protagonista, será a “direita permitida”. Talvez um enfraquecido PSDB ou um minúsculo NOVO. E essa direita permitida, sabemos, não faz nem cosquinhas no monstro que controla o Sistema. Será interessante, mas também triste, ver essas esperanças novamente canalizadas para o nada.

Pareço pessimista? Bati a cabeça? Usei drogas? Nada disso. É que acredito que o trabalho dessa tal direita é um esforço de longo prazo. Talvez longuíssimo para muita gente que quer a imposição de sua vontade para ontem. Isso não vai acontecer. Antes, é preciso ocupar espaços – sobretudo na cultura. Resgatar, de alguma forma, o Judiciário. Impor-se nas universidades. Fomentar a ideia da virtude como missão. Meu lado otimista, portanto, está em tentar subir num mirante para avistar a paisagem daqui a vinte ou trinta anos. A mentalidade de toda uma geração não muda assim, num vapt-vupt.

E neste momento você talvez esteja indignado aí. Espero que não, mas, se estiver, me desculpe. Porque o que escrevi no parágrafo anterior pressupõe muito sofrimento. Eu sei. Pressupõe também – e isso é bem difícil de engolir – um trabalho cujos frutos serão colhidos apenas por nossos filhos e netos. Até lá, alguns de nós aqui já teremos voltado ao pó [BATE NA MADEIRA]. Mas é a tal coisa. A gente planta a árvore hoje para ter sombra daqui a décadas. Enquanto isso, é regar, esperar que a semente germine – e admirar o brotinho.

Agora, se for para analisar assim rápida e superficialmente o ser humano Jair Bolsonaro, aquele que respira sob algumas camadas de personagem, diria que a inelegibilidade é uma ótima notícia para ele. Porque tenho a impressão de que Bolsonaro não é frouxo, como alguns insistem em dizer; ele apenas não estava à vontade como presidente. Ele encarava o cargo como um sacrifício – que, aliás, é como deve ser encarado. Daí é que vem boa parte da popularidade de Bolsonaro. Só espero que agora, atuando nos bastidores, sem o peso de uma corrida eleitoral sobre os ombros e com a sensação de ter pelo menos tentado, ele encontre algo parecido com a paz.


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ESCOLHA DE PIMENTA CRIA CONFLITO COM GESTÃO DE LEITE

Brasil e Mundo ...