terça-feira, 30 de maio de 2023

BASTIDORES DO CONVESTE POLÍTICO DE MINISTROS DO STF NO CHURRASCÃO DO LULA

 

Um luxo!

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Gilmar Mendes sorri pela primeira vez e Alexandre de Moraes conta piadas no Churrascão do Lula.| Foto: Montagem

Por Athayde Petreyze – Gazeta do Povo

Desesperado por recuperar o prestígio que só uma imprensa independente é capaz de lhe devolver, e cansado do rapapé sem imaginação dos jornalistas de sempre (um beijo, Reynaldo!), o venerável presidente Lula não hesitou em ligar para a Athayde P13 Produções e contratar este douto colunista social socialista que vos fala para contar os bastidores do Churrascão da República, que celebrou a cassação do deputado Deltan Dallagnol. O concorrido evento bovino-alcooleiro foi realizado na chiquérrima laje niemeyeriana do Palácio do Planalto.

O churrasqueiro

A grelha e os espetos ficaram a cargo do sempre prestativo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que trajava um belo avental vermelho com a estrela do PT na altura da hombridade. Uma pena o Mercado não estar ali para ver o maestro das finanças nacionais manejando o fogo e as facas com toda a experiência de seus dois meses de treinamento intensivo com o ministro e gaúcho assumido Paulo Pimenta.

Axé com consciência social

Assim que os primeiros convidados chegaram, a ministra Margareth Menezes começou a cantar seu axé com consciência social. Munido da primeira das muitas caipirinhas do dia, o ministro Gilmar Mendes foi visto batendo o pezinho ao som da música envolvente e “crítica na medida certa”, nas palavras dele. Especialista em código morse que sou, porém, decifrei a mensagem que o pezinho ritmado do ministro transmitia: “Moro é o próximo”. O que será que ele quer dizer com isso?

Na cozinha…

Assim que chegou, a ministra Simone Tebet se juntou à primeira-dama Janja e à ministra Carmem Lúcia na cozinha, onde ficaram preparando maionese e salada de alface, tomate e cebola. “A Margareth é fogo, hein? Em vez de vir ajudar fica lá cantando”, reclamou uma das mulheres. Não digo qual. Ao me verem ali fazendo este excelente trabalho de reportagem investigativa, porém, elas mudaram de assunto. “Viram o capítulo da novela ontem? Adoro o Toni Ramos. Pena que ele esteja fazendo papel de fascista, né?”, disse a Janja.

Flávio Dino vem aí!

Assim que Flávio Dino chegou ao churrasco, Lula foi informado pela Abin de que precisava de mais carne. Muito mais carne. Gestor hábil que é, o presidencialíssimo consultou Haddad e ali, usando sua Mont Blanc sobre um saco de pão Hermés, assinou um decreto mandando o Exército abater dez cabeças de gado. A imprensa golpista dirá que Flávio Dino comeu um boi inteiro, mas é mentira. Foram dois.

Vossa Majestade

De repente, ouço palmas no recinto. Não só! Ouço também foguetes e o espocar de fuzis – cortesia da ONG antiviolência policial PCC (Paz, Coração e Carinho), que também se prontificou a fazer a segurança do evento democrático. “Olha só quem chegou”, me diz Randolfe Rodrigues, subindo num banquinho para tocar meu ombro. Ao me virar para a esquerda, sempre à esquerda, quase fico cego com o brilho que a aura dourada de Alexandre de Moraes emana. Que homem!

Picanha

“Hei, Petreyze. Diz aí no seu texto que a carne era picanha, senão logo aparece alguém pra dizer que você esqueceu dessa informação óbvia por interesses escusos”, me aconselhou uma fonte anônima. Por falar em fonte anônima, já contei que Zé Dirceu permaneceu o churrasco todo atrás da churrasqueira, só observando? Pois.

Momento de crise

Na cozinha, Janja, Tebet e Carminha mudaram de assunto e agora falam mal, digo, fazem críticas construtivas a Gleisi Hoffmann. “Será que a Marina vem?”, pergunta uma delas bem quando Marina chega e, furiosa, vai até a churrasqueira. “O Lula me prometeu que teria carne vegana!”, diz ela, soltando fogo pelas ventas, indo embora e criando uma crise política no governo.

Supremas gargalhadas

Eduardo Appio, Cristiano Zanin e Mas-Será-o-Benedito Gonçalves escutavam atentamente o ministro Alexandre de Moraes. “Aí a Tabata disse: por que vocês não indicam uma mulher negra para o STF? Hahahahahahahahahaha”. As gargalhadas assustaram o cãozinho Resistência que, juntamente com um dogue alemão de olhar parvo e um pinscher invocado, esperava para roer os ossos da festança.

O ponto da carne

Haddad errou o ponto da carne. Errou feio. “Não tem problema, cara. A carne mal passada é uma ameaça à democracia”, disse Gilmar Mendes, a fala um tanto quanto embolada, mas sorrindo pela primeira vez em 67 anos. A caipirinha estava boa mesmo. Chamado a julgar o ponto da carne, Eduardo Appio não hesitou em dizer que a picanha estava per-fei-ta.

De olhinhos bem fechados

Margareth Menezes começou a cantar uma versão de Que País É Este. Equilibrando precariamente o copo de cerveja, de olhinhos fechados e expressão de enlevo, Toffoli cantava o refrão com a indignação mais sincera que o Zé Dirceu lhe ensinou.

“Missão dada…”

Entreouvido na mesa onde Alexandre de Moraes continua seduzindo a plateia com seu humor cáustico, mas em conformidade com o Estado Democrático de Direito: “Cassei mesmo. E agora ele vai ter que recorrer ao STF. Ao STF! Hahahahahahahaha”. Por precaução, todo mundo riu. Até eu.

“Ô, Lula, que churrasco é esse que não tem lagosta? Cuidado que eu te prendo de novo, hein?”, diz o ministro, todo empolgado. Por via das dúvidas, Lula pede encarecidamente ao ministro Benedito Gonçalves, que pouco depois volta com uma lagosta em cada uma das mãos. “Missão dada é missão cumprida”, cochicha ele, repetindo seu bordão preferido.

Munheca

Depois de muita insistência dos convidados, Lula imita a munheca dramática do chef turco Salt Bae e faz uma piada com cervídeos que não reproduzo aqui porque não.

Evidências

Aos poucos a animação se desfaz. Toffoli canta “Evidências”. Dino, muitos e muitos (e muitos) quilos de comunismo concentrado, pede que o ajudem a levantar. De bucho cheio, Alexandre de Moraes me olha como se fosse mandar me prender a qualquer momento. Eu, aliás, estou quieto num canto, bloquinho na mão, tentando pensar numa forma de incluir o ex-presidente Jair Bolsonaro neste churrasco sem atrair a fúria da direita mal-humorada.

Gilmar Mendes, que exagerou na caipirinha, dorme numa poltrona Sérgio Rodrigues milagrosamente salva do ira golpista do 8/1. Zé Dirceu só observa. E enquanto as mulheres lavam a louça, Haddad separa os ossos a serem disputados pelo vira-lata Resistência, o dogue alemão Parvo e o pinscher Serelepe.

Athayde Petreyze é colunista social socialista, caçador de nazistas, consultor de diversidade, sommelier de gravata borboleta e mixologista forense. Formado em Direito em Harvard e em Esquerdo em Dravrah, todos os anos ele é forte concorrente ao Prêmio Nobel da Paz. Os direitos de seu sua autobiografia “O Caminho da Borboleta Verde-Amarela: Memórias de um Fascista Arrependido” acabam de ser comprados pela Netflix. Na adaptação, Petreyze será interpretado por Seu Jorge.

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MINISTROS DO STF AMIGOS DE LULA PARTICIPARAM DE CHURRASCO OFERECIDO PELO GOVERNO

 

O STF tem sido alvo de ataques que buscam minar sua autonomia. Mas nem todas as críticas são infundadas: se quer que suas prerrogativas sejam respeitadas, deve se dar ao respeito

Por Notas & Informações – Jornal Estadão

Na sexta-feira, o presidente Lula da Silva recebeu ministros e congressistas aliados no Palácio da Alvorada para um churrasco. Mais do que mera confraternização, a festa era temática: os revezes do governo no Congresso. Não por acaso os presidentes das duas casas legislativas não foram convidados. Mas lá estavam dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes (também presidente do Tribunal Superior Eleitoral), além do recém-aposentado Ricardo Lewandowski.

A esta altura, ministros do Supremo já deveriam saber que toga não é traje esporte fino, desses que se usam em festas informais. É evidente que os dois ministros foram convidados não por suposta amizade com o presidente, e sim porque integram o STF, lugar por onde trafegam interesses do governo.

Assim, se já seria inadequada a presença dos ministros num convescote governista, tanto pior quando ele tem tinturas políticas. Em particular, foi uma oportunidade para alinhar as bases após as medidas do Congresso que evisceraram o Ministério do Meio Ambiente e outros. O caso pode parar no STF. Como fica a percepção de independência dos ministros? Lula aproveitou para comunicar aos comensais que indicará seu amigo e advogado, Cristiano Zanin, para a vaga de Lewandowski.

Não é de hoje que o Judiciário conspurca sua já precária reputação de isonomia mantendo relações esquisitas com o poder político e econômico. Ora, no poder público, em especial no Judiciário, a compostura é lei. Ela exige que os juízes sejam não só seus primeiros cumpridores, mas falem apenas nos autos, sejam conscienciosos com os limites de suas funções, não busquem holofotes nem usem o cargo para promover convicções pessoais. Não basta ao judiciário ser isento. É preciso parecer.

Pela lei, juízes podem, por exemplo, exercer atividade acadêmica, mas não “o comércio ou participar de sociedade comercial”. Há, porém, os que têm empresas de educação. Também frequentam todo tipo de eventos e “seminários” em resorts de luxo bancados por empresas que têm ações multimilionárias na Justiça. Recentemente, o ministro Nunes Marques viajou a Paris com as despesas pagas por um advogado para assistir a Roland Garros e à Champions League. Dias Toffoli passeou na casa de veraneio do então ministro Fábio Faria, genro do empresário Silvio Santos e filho do ex-governador Robinson Faria, que responde a uma investigação por corrupção no STF relatada por Toffoli.

Com a presença de empresários e ministros do STF, a diplomação do presidente Lula foi comemorada na mansão do advogado antilavajatista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay – aquele que tirou fotos desfilando de bermuda pela sede da Suprema Corte como se fosse a extensão de seu quintal. No dia seguinte a um almoço com Alexandre de Moraes, Lula indicou dois aliados do ministro para o TSE. Mais cedo ou mais tarde, a Corte se debruçará sobre os processos que pedem a inelegibilidade do maior adversário de Lula, Jair Bolsonaro. Qual será a percepção da população sobre sua isenção?

Por disfunções históricas do “presidencialismo de coalizão”, há muito tempo o STF tem sido instado a arbitrar impasses entre o Executivo e o Legislativo ou entre as próprias lideranças partidárias. O corolário é não apenas a judicialização da política, mas a politização da Justiça. Consolidou-se uma tendência dos ministros de interpretar as leis e a Constituição de modo extensivo e criativo, como se coubesse à Corte não só aplicar a lei, mas fazer a “justiça social” que os representantes eleitos não fazem. O ministro Dias Toffoli chegou a dizer que os ministros são “editores de um país inteiro”, e Luís Carlos Barroso, que seu papel é “empurrar a história na direção certa”.

Se as críticas excessivas de “ativismo judicial” têm tanta aderência na população é porque há um fundo de verdade genuíno nelas. O STF tem sido alvo de difamação, intimidações e ataques frontais, como no 8 de Janeiro, com o objetivo de tolher sua autonomia, independência e respeito junto à população. As forças republicanas têm se esforçado por defender essas prerrogativas. Mas é preciso que a Corte as ajude a ajudá-la. Quem quer ser respeitado precisa se dar ao respeito.

ESTRATÉGIA DE MARCAS E NEGÓCIOS PARA 2023

Por Cristiane Soethe, jornalista, sócia da Presse Comunicação, especialista em Comunicação Empresarial, mestranda em Administração de Empresas

Muito se fala sobre as mudanças no comportamento dos consumidores, sobretudo após um evento disruptivo como a Pandemia de 2020. Discutir a vulnerabilidade desse momento em que se percebeu que as barreiras geográficas não são intransponíveis e que existe uma cadeia global de consumo e dependência, é fundamental para entender a universalidade de comportamentos de consumo em um novo cenário e dentro de um novo contexto exigido pela pós-pandemia. Este é, portanto, um ponto fundamental para a estratégia de marcas e negócios em 2023. Tanto que a ciência comportamental tem ganhado cada vez mais força, buscando compreender a mente do consumidor, que agora procura experiências mais ricas, que combinem a fluidez digital da pandemia com a retomada da intimidade dos relacionamentos de tempos anteriores.

As tendências de consumo mundiais mostram que as novas formas de viver experimentadas pelos consumidores durante a pandemia – tanto de compra quanto de interação – podem fazer com que haja uma regressão a alguns velhos hábitos, otimizando a experiência. O impulso de gastar pode ser contido e as exigências podem ser maiores. Ou seja, os consumidores querem tirar o máximo de valor dos produtos ou serviços – seja em um bem de consumo ou um serviço de streaming. Essa tendência global se reflete também aqui no Brasil. Uma pesquisa divulgada pela Opinion Box/Dito revela que os consumidores brasileiros querem experiências personalizadas. A grande maioria dos entrevistados (72%) esperam que as empresas saibam reconhecê-los como indivíduos únicos e identificar seus interesses e um índice bem semelhante prefere comprar das marcas com as quais já teve experiências personalizadas e indica marcas que oferecem esse tipo de experiência.

Uma pesquisa do Sebrae, denominada “Principais Tendências de Consumo 2023”, corrobora com esses dados, enaltecendo um comportamento mais social e também mais cauteloso do consumidor. Algumas tendências listadas pelo levantamento são: Consumo intencional (menos compras por impulso); Consumo com consciência ambiental (upcycling, second hand); e Consumo de infoprodutos (materiais criados e distribuídos digitalmente, sobre assuntos que vão de educação a gastronomia). Levando em conta as pesquisas recentes relacionados ao comportamento do consumidor, ainda podemos citar como impulsionadores do consumo fatores como bem-estar físico e mental, respeito aos direitos dos indivíduos, alinhamento com valores e identidade, oportunidade de experiências estimulantes e conexões físicas e digitais. No entanto, somado à ampliação da consciência para consumo, é necessário levar em conta também o aumento do custo de vida, que continua crescendo em nível global em 2023. Dados da  Global Consumer Insights Pulse Survey 2023 da PwC mostram que a maioria (53%) dos consumidores globais reduziram gastos com compras não essenciais e 15% interromperam completamente os gastos não essenciais.

Consequentemente, é indispensável para as marcas nos dias atuais estabelecerem estratégias focadas em atender a essas novas premissas básicas. Elas devem oferecer ao consumidor a oportunidade de autoexpressão, entender e incentivar essas mudanças de hábitos, ajudá-los a explorar interesses que os tornem únicos e ao mesmo tempo mais conectados com a própria essência. A inteligência artificial é uma grande aliada – por entregar personalização requer um entendimento profundo de cada indivíduo. Também é preciso pensar em como ajudar os consumidores a se tornarem mais resilientes às mudanças, uma vez que as incertezas quanto ao futuro foram exacerbadas. A abordagem omnichannel, tendo em vista que os consumidores têm interagido com as marcas no ambiente físico e digital, também continua a ser uma estratégia relevante. A familiarização cada vez maior com a tecnologia também vai fazer com que as pessoas controlem melhor os espaços digitais, usando, por exemplo, o metaverso para desenvolver identidades únicas. Veremos, nesse sentido, um forte movimento relacionado à privacidade de dados. E, por fim, é preciso lembrar que o poder está cada vez mais nas mãos de quem consome. As marcas precisam permitir esse protagonismo, dando lugar ao consumidor dentro desse processo criativo.

20 coisas que eu gostaria de saber aos 20 anos (mas tive que aprender sozinho)

Karen Nimmo – Psicóloga

“Espírito primeiro. Porque isso é o mais importante. Não é o quão bem você pode executar ou quanto dinheiro você pode ganhar. Mas se você não é o ser humano que deveria ser, você não está fazendo isso corretamente.” — Gladys Knight.

Uma jovem cliente que estava terminando sua terapia tinha um pedido final.

Ela queria alguns conselhos genéricos de vida: que tal 20 coisas para 2020? ela disse, lançando um desafio.

Eu não tive que pensar sobre isso por muito tempo. Quanto mais velho você fica, mais você vê, mais você erra, mais você tem a dizer.

MAS…

Quanto mais medo você tem de dizer isso, porque sabe que não existe uma estratégia de tamanho único para a vida – que cada um de nós precisa seguir seu próprio caminho.

Ainda assim, eu estava pronto para o desafio. Aqui estão algumas coisas para ponderar.

20 coisas que eu gostaria de ter sabido nos meus vinte anos

1. Bons amigos valem ouro.

Ao longo da vida, apenas algumas pessoas realmente “pegarão” você. E alguns deles também não ficarão por aqui. Portanto, cuide de quem o faz. Mas também vale a pena saber que a amizade (e o amor) se desenvolve em lugares surpreendentes, em todas as idades e fases. Fique aberto a isso.

2. Ninguém se importa com o que você faz da sua vida.

Bem, alguns fazem um pouco – espero que isso inclua seus pais. Mas a maioria das pessoas está muito ocupada trilhando seus próprios caminhos para se preocupar com o que você está fazendo no seu. No final, até seus pais só querem que você seja feliz e autossuficiente. Aponte para isso.

3. A paixão por hambúrgueres com queijo e batatas fritas tem consequências.

Apenas dizendo.

4. A vida não dura para sempre.

Certa vez, tive um colega de apartamento cujo resumo da experiência humana era o seguinte: “você nasce, vive um pouco e depois morre”. Achei que ele era um Bisonho; Acontece que ele estava certo. Espero que você tenha um longo intervalo entre o começo e o fim. Mas nenhum de nós sabe o que está por vir. Use bem o seu tempo.

5. Nem o planeta.

Você não pode salvar tudo sozinho, mas pode fazer a sua parte.

6. A vida às vezes é entediante – precisa ser.

Tente viver em altas rotações 24 horas por dia, 7 dias por semana, e você saberá o que quero dizer. Tempo de inatividade, manchas planas, tédio – como você quiser chamar – é necessário para recuperar e recarregar, pensar e criar – e fazer mudanças.

O tédio crônico é um problema, portanto, se você se encontrar lá, faça tudo o que puder para mudá-lo.

7. Sua saúde mental é um trabalho em andamento.

Humores e emoções não são consistentes. É mais difícil do que você pensa ficar em um bom espaço mentalmente. Haverá altos e baixos, dias bons e ruins, então você precisa aprender ferramentas e estratégias para lidar com ambos. E você precisa continuar usando-os.

8. Assim como sua saúde física.

Os corpos também não se cuidam. Eles brincam, ficam doentes, precisam de remédios, exames de saúde e manutenção regular. Quanto mais velho você fica, mais alto “use-o ou perca-o” soa em seus ouvidos. Quanto mais cedo você prestar atenção nisso, melhor.

9. Mentiras são corredores rápidos.

Uma vez ouvi dizer: uma mentira pode dar meia volta ao mundo antes mesmo de a verdade calçar seus sapatos de salto alto. É verdade. As mentiras se espalham rapidamente – e machucam. Pense nisso por um tempo.

10. Você precisa usar tanto as mãos quanto a cabeça.

Passar muito tempo em sua cabeça o deixará louco – e fará de você um insone. Fazer coisas é a melhor maneira de combatê-lo – tira você da cabeça e o leva para o corpo. Isso é bom pra você.

11. A maioria das pessoas está fazendo o melhor que pode. Mas alguns não são.

Verdadeiramente, a maioria das pessoas está se esforçando com o que tem. A maioria das pessoas quer ser um ser humano bom, gentil e que contribui. Algumas pessoas são idiotas, e mesmo que tenham uma razão válida para isso, você precisa ficar longe delas.

12. Poder regular tudo é tudo.

Comida, álcool, substâncias, pornografia/sexo, humores, emoções, reações – ter propriedade sobre isso é possuir sua própria vida. NB: Não espere muito em breve, leva tempo e prática.

13. Tentar fazer os outros felizes é perda de tempo.

Você não pode. Você pode apoiá-los e estar lá para eles, mas criar uma vida boa é o trabalho deles. Assim como criar o seu é seu.

14. Ficar sozinho é legal. Estar sozinho é difícil.

Estar sozinho, para experimentar, pensar e sonhar, sustentará e até fortalecerá sua saúde mental. Mas sentir-se isolado o levará para o outro lado. Faça o possível para se manter conectado – com as pessoas, com os vizinhos, com os animais de estimação, com o caixa do supermercado. E se você não está sozinho, fique de olho nos que estão. Uma palavra gentil faz uma grande diferença.

15. O arrependimento é bom; pendurar no passado é ruim.

Ter arrependimentos mostra que você está ciente dos erros que cometeu, das maneiras não tão boas como tratou os outros ou a si mesmo. Apegar-se a coisas que você não pode mudar irá destruí-lo, então treine seus olhos na estrada à sua frente.

16. O luto é uma merda.

As pessoas que você ama e se preocupam estarão perdidas para você, e você terá que encontrar maneiras de lidar com isso. Leva muito mais tempo do que você pensa, às vezes para sempre. Mas você precisa saber que pode viver uma vida boa, até ótima, ao lado dela.

17. As pessoas são criaturas de hábitos E incrivelmente imprevisíveis. Incluindo você.

Abandone suas elevadas expectativas em relação às pessoas. Até de si mesmo.

18. Você vai se machucar — mas não precisa se agarrar a isso.

Mágoa, rejeição e dor fazem parte do trato humano. Mas continue aprendendo a deixar ir, ou pelo menos afrouxar seu controle sobre isso.

19. Coisas ruins acontecem com pessoas boas.

Sim, eles fazem. E grandes coisas acontecem para significar pessoas. Vai saber.

20. A diversão também está em toda parte – mas às vezes está escondida.

Para citar os atemporais Desiderata de Max Ehrmann: “Apesar de toda a sua farsa, labuta e sonhos desfeitos, ainda é um mundo lindo.”

Nem sempre parece assim, eu sei. Às vezes parece que a beleza foi sugada dele. Mas há muita coisa boa no mundo. Faça da sua missão continuar procurando por ele.

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segunda-feira, 29 de maio de 2023

FUNCIONÁRIOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS GANHAM SALÁRIOS ACIMA DO TETO MÁXIMO

 

Por
Lúcio Vaz – Gazeta do Povo


Prédio do Congresso Nacional.| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado


Cerca de 1,5 mil servidores ativos e inativos da Câmara têm renda igual ou superior ao teto remuneratório constitucional – 41.650,92 – que corresponde ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Incluindo os pensionistas de servidores, esse número chega a 1,6 mil. A remuneração média dos servidores que recebem supersalários é de R$ 42 mil.

Desse total, um grupo mais restrito de 142 servidores ativos recebe acima do teto, com renda máxima de R$ 48 mil e média de R$ 45,4 mil, graças ao reforço do abono permanência. Nesse grupo, estão 34 técnicos legislativos – servidores de nível médio – com renda média de R$ 44 mil. No grupo que recebe o teto ou um pouco mais estão 90 técnicos legislativos.

Entre os 2,6 mil servidores de carreira em atividade, com renda média de R$ 36 mil, 603 recebem o teto ou mais. A renda bruta de alguns deles chega a R$ 55 mil, mas eles sofrem o abate-teto e recebem R$ 48 mil líquido, incluindo o abono permanência. Dos 3.296 aposentados, com renda média de R$ 34,9 mil, 900 recebem exatamente o teto constitucional. Alguns têm renda bruta em torno de R$ 60 mil e sofrem abate-teto de R$ 17 mil.

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Quem tem as maiores rendas
Eugênio Greggianin, lotado na Consultoria de Orçamento, por exemplo, recebe remuneração fixa de R$ 36,7 mil, mais R$ 11,6 mil de vantagens especiais e R$ 8,6 mil do cargo em comissão. Com renda total R$ 56,9 mil, sofre abate-teto de R$ 15,3 mil. Como ele tem direito ao abono permanência de R$ 6,8 mil, fica com renda bruta de R$ 48,4 mil. Fábio Holanda, também da Consultoria de Orçamento, tem renda total de R$ 55,3 mil e sobre abate-teto de R$ 13,6 mil. Com o abono, alcança os mesmos R$ 48,4 mil bruto.

A Consultoria Legislativa também reúne supersalários. Gilvan Queiroz tem renda total de R$ 54 mil. Incluindo o abono e aplicando o redutor constitucional de R$ 12,3 mil, resta uma renda total de R$ 48,4 mil. Três servidores efetivos lotados na Liderança do PL têm renda total um pouco acima de R$ 48 mil. A maior renda é de Rosângela Borsari. Com remuneração fixa, vantagens e cargo comissionado, ela tem renda total de R$ 52,7 mi e sofre o redutor de R$ 11 mil. Com o abono permanência, tem renda total de R$ 48,4 mil.

O abono de permanência funciona como um reembolso da contribuição previdenciária, concedido ao servidor público que preencheu os requisitos para se aposentar, mas opta por continuar trabalhando. (veja abaixo lista das maiores rendas)

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Quanto custam os servidores
A maior despesa com folha de pagamento da Câmara é com os servidores inativos, um total de R$ 115 milhões por mês. Os servidores efetivos na ativa recebem 94 milhões. Os pensionistas de servidores consomem mais R$ 28 milhões. Os 9.595 secretários parlamentares, que trabalham nos gabinetes dos deputados, em Brasília ou nos estados de origem, com renda média de R$ 5,7 mil, custam mais R$ 55 milhões. Os ocupantes de cargos de natureza especial (CNEs), espalhados em cargos da Mesa Diretora, comissões e lideranças partidárias, com renda média de R$ 8 mil, recebem mais R$ 13,5 milhões.

No total, os salários dos servidores de carreira e comissionados, incluindo os pensionistas, custam R$ 305 milhões por mês. Considerando os salários de 12 meses mais o 13º, são R$ 3,9 bilhões por ano. Somando com os salários de deputados, aposentadorias e pensões parlamentares, são R$ 4,4 bilhões por ano.

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As maiores rendas
servidor salário abono abate-teto renda total
ROSÂNGELA BORSARI 52.724,00 6.802,34 -11.073,08 48.453
DEBORA BITHIAH AZEVEDO 54.125,00 6.802,34 -12.474,95 48.453
EUGENIO GREGGIANIN 56.949,00 6.802,34 -15.298,39 48.453
FÁBIO CHAVES HOLANDA 55.280,00 6.802,34 -13.629,16 48.453
FRANCISCO ROCHA SOUSA 46.327,00 6.802,34 -4.676,62 48.453
GILVAN  QUEIROZ FILHO 53.961,00 6.802,34 -12.310,06 48.453
MAGNO  CORREIA MELLO 54.950,00 6.802,34 -13.299,38 48.453
MARCELO FRANÇA MOREIRA 46.822,00 6.802,34 -5.171,29 48.453
MARIZA  LACERDA SHAW 54.208,00 6.802,34 -12.557,40 48.453
MAURICIO BORATTO VIANA 47.399,00 6.802,34 -5.748,39 48.453
ROSENDO MELO NETO 49.492,00 6.802,34 -7.841,53 48.453
JOSÉ PEIXOTO AFFONSO 46.421,00 6.802,34 -4.770,01 48.453
LEDA MARCIA RESENDE 41.632,00 6.798,78 0,00 48.431
ELI MARIA VIEIRA 44.802,00 6.546,00 -3.151,66 48.197
SONIA BARBOSA MONTEIRO 44.330,00 6.456,21 -2.679,08 48.107
Fonte: Câmara dos Deputados

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DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS PREJUDICA OS POSSEIROS

 


Retirada de não indígenas de área demarcada no Pará causa problemas sociais e afeta escolas
Por
Aline Rechmann – Gazeta do Povo


Após o início do processo de desintrusão da Terra Indígena Alto Rio Guamá, escolas foram desativadas. Algumas acabaram sendo saqueadas.| Foto: TV Piriá

A retirada de não indígenas de uma área no nordeste do Pará está causando uma série de problemas sociais nos municípios afetados pela ação do governo federal. A desintrusão na Terra Indígena Alto Rio Guamá (Tiarg) iniciou no começo do mês e tem prazo até o dia 31 de maio para ser concluída sem intervenção policial. A partir de 1° de junho, o Estado pode usar forças de segurança para retirar os não indígenas que continuarem morando na área.

Uma estimativa feita em 2010 aponta que pelo menos 1,6 mil pessoas devem ser afetadas pela ação. No entanto, este número pode ser maior, segundo as prefeituras dos municípios da região, que têm disponibilizado caminhões para fazer a mudança das famílias que precisam sair da Terra Indígena. Elas também lidam com as demandas de assistência social e de garantia de escolas para as crianças afetadas pela desintrusão (termo técnico usado para designar a retirada de não indígenas de áreas demarcadas). O governo do Pará também disponibilizou apoio aos não indígenas.

A ação de desintrusão envolve 18 entes do governo federal, entre eles a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Força Nacional e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mas não tem garantido aporte financeiro às prefeituras ou moradia para os não indígenas.

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Municípios foram obrigados a desmobilizar escolas em área indígena 
Como parte do processo de desintrusão, as prefeituras de Viseu e Garrafão do Norte foram obrigadas, pelo Ministério Público Federal (MPF), a desmobilizar escolas que atendiam quase 100 crianças e adolescentes não indígenas dentro da Terra Indígena Alto Rio Guamá. O MPF já se empenhava para desencorajar prefeituras da região a dar apoio aos invasores antes da ação de desintrusão.

Apesar da terra indígena não estar na área dos municípios de Viseu e Garrafão do Norte, as prefeituras atuavam nas vilas para garantir a educação e atendimentos básicos às famílias. “As escolas [do município de Garrafão do Norte] foram construídas por necessidade. No começo elas eram de madeira, sem condições de abrigar as crianças, e por isso foram reformadas há cerca de quatro anos. Independente das terras não pertencerem aos colonos, ali havia várias famílias vivendo em comunidade, precisavam de acesso à educação”, justifica a procuradora do município de Garrafão do Norte, Andressa Cristina Barbosa da Silva Lima.

As prefeituras de Viseu e Garrafão do Norte assinaram Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) junto ao MPF que previram o remanejamento dos estudantes para escolas do município fora da terra indígena e o oferecimento de transporte escolar. As matrículas foram garantidas aos estudantes em outras escolas da região, no entanto, devido às mudanças das famílias, a procuradora Andressa Cristina alerta que não há garantia de que as crianças estejam conseguindo acompanhar as aulas.

O município de Viseu teve que encerrar, no dia 31 de dezembro de 2022, as atividades da escola municipal de ensino fundamental Antônio Alexandre da Silva, localizada na Vila Pedão. A escola atendia 38 alunos com idades entre 3 e 14 anos. Já o município de Garrafão do Norte possuía quatro escolas dentro da área indígena que juntas atendiam 54 alunos, também com idades entre 3 e 14 anos.

Após o início do processo de desintrusão, as escolas foram esvaziadas e desativadas. Apenas a escola de Viseu teve a destinação do prédio indicada. De acordo com o procurador-geral do município, Agérico Vasconcelos, ela passará a servir como ponto de apoio para a Força Nacional que atua no processo de desintrusão. Algumas escolas, porém, foram saqueadas, tendo o telhado e as aberturas retiradas. Os autores dos saques não foram identificados.

Prefeituras fornecem apoio para famílias afetadas pela desintrusão 

A área da Terra Indígena Alto Rio Guamá é localizada no limite entre os estados do Pará e do Maranhão e abrange os municípios de Nova Esperança do Piriá, Paragominas e Santa Luzia do Pará. No entanto, a desintrusão mobiliza também as prefeituras de municípios vizinhos, como a de Garrafão do Norte e de Viseu.

As administrações municipais de Nova Esperança do Piriá, Viseu e Garrafão do Norte disponibilizaram caminhões para fazer as mudanças das famílias para locais fora da área indígena. Imagens registradas por veículos de comunicação local, como a TV Piriá, mostram caminhões com mudanças passando por áreas de difícil acesso, com estradas em condições precárias. Há ainda imagens de mudanças sendo realizadas com ajuda de pequenos barcos, já que há famílias vivendo em regiões isoladas.

A procuradora Andressa, de Garrafão do Norte, e o procurador de Viseu, Agérico Vasconcelos destacam que a maior parte das famílias que estão recebendo apoio das prefeituras para sair da TIARG tem como característica a prática da agricultura de subsistência. “São famílias que só tinham aquele pedaço de terra, que não tem para onde ir. Plantavam para sobreviver e, no máximo, tinham uma roça de mandioca para fazer farinha que era vendida no município”, destaca a procuradora de Garrafão do Norte.

Em relatório enviado ao MPF, a atual gestão municipal de Garrafão do Norte destacou que tem buscado parcerias com os governos estadual e federal para que sejam inseridos programas de habitação e opções para as famílias que residem nessas áreas.

Na última semana antes do fim da retirada pacífica dos não indígenas da área da Terra Indígena Alto Rio Guamá, o governo do Pará anunciou medidas para beneficiar as famílias. O anúncio foi feito pela vice-governadora Hana Ghassan, que esteve nos municípios de Nova Esperança do Piriá e Garrafão do Norte, acompanhada de secretários de Estado.

A assistência do governo do Pará será concretizada por meio do pagamento de um salário-mínimo às famílias em situação de vulnerabilidade social e recursos financeiros para compra de material de construção e pagamento de mão de obra a quem vai construir ou reformar – nesse caso, vale para aqueles que já tiverem lotes/terrenos em outros locais.

Processo de retirada de não-indígenas se desenrola desde a década de 90 
A terra indígena Alto Rio Guamá foi homologada em 1993, mas era reconhecida desde 1945. A área, com cerca de 280 mil hectares abriga indígenas das etnias Tembé, Timbira e Kaapor, distribuídos em 42 aldeias. Na época da homologação, havia não indígenas no território e o processo de retirada foi realizado no fim dos anos 1990 até começo dos anos 2000, com pagamento de indenização por construções feitas na terra e assentamento em projetos de reforma agrária.

Procuradores de municípios limítrofes à terra indígena afirmam, no entanto, que nem todos os não indígenas foram contatados na década de 90. “Pelo menos três comunidades do município de Viseu se formaram há mais de 80 anos naquela área. Depois, com as emancipações, parte da área passou a não fazer mais parte do nosso município. Alguns colonos realmente foram indenizados e reassentados e há os que acabaram voltando. Outros, no entanto, alegam que sequer foram contatados sobre o processo da terra indígena”, afirma o procurador-geral do município de Viseu, Agérico Vasconcelos.

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Governo federal assegura que há ocupantes de boa-fé na região 
O governo federal, em coletiva de imprensa sobre a desintrusão, pontuou que nem todos os ocupantes da área podem ser considerados invasores. Na coletiva, o procurador da República Felício Pontes Júnior disse que parte dos invasores é “de boa-fé”, já que são donos de propriedades regularizadas, há anos, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Na época da homologação, a autarquia ainda não fazia o processo de assentamento em conjunto com a então Fundação Nacional do Índio (Funai) e, portanto, ignorava princípios como a sobreposição de imóveis rurais ao território indígena. “Há pessoas com diferentes intenções lá dentro. E nós não executamos diretamente essa ordem, num primeiro momento, pois há pessoas que são ‘clientes do MPF’ que nós devemos defender também os direitos dos trabalhadores rurais sem terra, dos clientes da reforma agrária”, disse o procurador da República.

Parte das famílias já foram indenizadas e reassentadas a partir de ação do MPF em 2002 
Em 2002, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação de reintegração de posse pedindo a retirada de não indígenas do interior da Terra Indígena Alto Rio Guamá. Até 2007, foram efetivadas indenizações para 903 ocupações, que somaram R$ 3,1 milhões. Além disso, 522 famílias foram assentadas em projetos de reforma agrária para os quais o Incra destinou R$ 85 milhões em aquisição de terras. Dos assentados, 191 receberam créditos da ordem de R$ 1 milhão. A Justiça Federal deu ganho ao MPF em 2014.

Atualmente, o governo federal aponta que 2,5 mil indígenas estão vivendo na área. Em levantamento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) feito em 1990, três anos antes da homologação, havia pouco mais de 800 indígenas na área.

Alepa acompanhará a desintrusão 
O deputado estadual Rogério Barra (PL) propôs, no começo de maio, que a Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) acompanhasse o processo de desintrusão por meio de uma comissão externa formada por deputados. Ele salientou que o foco do colegiado será atuar na análise e fiscalização para saber se todos os requisitos da desintrusão estão sendo preenchidos e se as famílias não indígenas estão recebendo o apoio necessário, a partir de dados atualizados e com a previsão dos impactos sociais que serão causados pela saída da área.

Há menos de uma semana do fim do prazo para a saída voluntária dos não indígenas da área demarcada, a comissão foi oficialmente autorizada a iniciar os trabalhos. Ela é composta por cinco deputados e terá prazo de 90 dias para funcionar. De acordo com a assessoria do deputado Rogério Barra, na próxima semana será realizada a primeira visita nas comunidades atingidas.

Enquanto o acompanhamento da Alepa não é efetivamente iniciado, a situação é abordada nos discursos dos parlamentares. O deputado estadual Toni Cunha (PSC) reconheceu o processo jurídico da situação, mas apelou para que as pessoas não sejam retiradas de forma açodada.

“Seja como for, não podemos admitir que as pessoas que estão lá há décadas, pessoas simples, camponeses, pessoas que praticam agricultura de subsistência, sem nenhuma ofensa à integridade ambiental daquela região, possam ser retiradas, como se fossem bichos, sem alternativas”. Ele também pediu outra área para praticarem novamente a agricultura de subsistência. “Para sustentar a si, suas famílias e até produzirem um pequeno comércio”, considerou.


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VITÓRIA DE ERDOGAN NA TURQUIA PODE PREJUDICAR A OTAN

 

Geopolítica
Vitória de Erdogan na Turquia pode atrapalhar aliança militar do Ocidente e favorecer Moscou
Por
Gazeta do Povo


O presidente reeleito da Turquia, Recep Erdogan| Foto: EFE/SERGIO PEREZ


O presidente Recep Tayyip Erdogan superou seu maior desafio político em duas décadas no poder ao vencer a eleição na Turquia no domingo (28). O país passa por uma crise econômica que elevou a inflação a 45% e se recupera de um terremoto que deixou cerca de 50 mil mortos em fevereiro. Mas a permanência de Erdogan no poder não tem apenas consequências para o povo turco. Ela influi tanto nas relações de poder regionais como no jogo geopolítico da Europa.

A entrada de novas nações na Otan (aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos) exige a anuência de todos os países-membros. A Turquia faz parte da aliança e Erdogan vem dificultando e ameaça impedir a entrada da Suécia se o país não entregar suspeitos de pertencer ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (conhecido pela sigla PKK). A Finlândia e a Suécia pediram para entrar no Otan com medo do expansionismo territorial russo evidenciado pela invasão da Ucrânia. Erdogan chegou se colocar contra a entrada da Finlândia, mas mudou de opinião.

Além disso, a Turquia vem abrigando ao menos 4 milhões de refugiados da guerra na Síria desde 2011. Erdogan tem dado abrigo para a maior parte desses refugiados e a Europa teme que, se ele mudar sua política, uma nova onda de imigrantes possa se deslocar e desestabilizar o continente.

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O presidente turco vem pressionando países da União Europeia para enviar mais recursos financeiros para atender os refugiados – caso contrário ele vai “abrir a porta” da Europa para os imigrantes.

Erdogan tem recebido pressão de partidos de direita para mandar os refugiados de volta para a Síria. Mas ele deve adotar a posição de mantê-los na Turquia, mas deslocá-los para redutos políticos de seus opositores. Isso acontece em meio a relativamente frequentes operações militares realizadas pela Turquia em território sírio.

Com Erdogan no poder, Rússia e Turquia podem continuar se aproximando
Erdogan é responsável por estreitar as relações com a Rússia desde o início da invasão à Ucrânia. No início do conflito, o presidente turco não aderiu às sanções econômicas impostas à Rússia pelo grupo do G7, formado pelas democracias mais industrializadas do mundo.

Apesar de proibições dos Estados Unidos e de seus aliados, Erdogan continuou a importar petróleo dos russos e ainda sugeriu que o presidente Vladimir Putin visitasse o país. No passado, o presidente turco havia desafiado Washington ao adquirir armamentos russos (baterias antiaéreas) mesmo sendo um membro da Otan. Por isso, o país ficou de fora do programa ocidental da construção do avião de caça F-35.

Mas a relação de Erdogan com Moscou é ambígua. A Turquia forneceu os drones Bayraktar para a Ucrânia, que tiveram papel decisivo no início da guerra ao destruir com facilidade os blindados russos que avançavam para Kyiv.

A política de relativo equilíbrio alcançada por Erdogan permitiu a ele ser um intermediador, ao lado da ONU, do acordo que permitiu o escoamento da produção de grãos da Ucrânia e da Rússia pelo Mar Negro – a Turquia controla o estrito de Bósforo, que é a saída do Mar Negro para o Mar Mediterrâneo. Isso impediu uma crise mundial de alimentos e colocou o turco como um possível negociador em um acordo futuro de cessar-fogo elevando seu status diplomático regional.

O candidato derrotado nas urnas da Turquia, Kemal Kilicdaroglu, defendeu durante a campanha uma política de reaproximação dos Estados Unidos e da União Europeia. Por isso, a eleição de Erdogan, em tese, favorece a Rússia, que pode continuar se aproveitando do posicionamento independente do presidente turco.

Kilicdaroglu chegou a acusar o Kremlin de interferir nas eleições, mas não apresentou provas definitivas. Pelo Twitter, ele disse que a Rússia contribuiu para a reeleição de Erdogan produzindo conteúdo falso e travando uma guerra de informação para favorecer seu candidato. Suspeita-se que a Rússia tenha feito operação similar na eleição de Donald Trump, em 2016, nos Estados Unidos. A trama foi descoberta na época pelo Departamento de Estado.

Eleição no domingo foi maior teste político de Erdogan desde seu primeiro pleito
Aos 69 anos e após duas décadas no poder, Erdogan superou muitas crises em que seu fim político foi anunciado. Ele é o presidente que mais teve poder desde que Mustafa Kemal Atatürk fundou a República da Turquia, em 1923.

Erdogan começou sua meteórica carreira política como prefeito de Istambul, entre 1994 e 1998, cargo que executou de forma eficiente e serviu de trampolim para se tornar primeiro-ministro em 2003. Durante os 11 anos em que foi chefe de governo e os nove em que foi presidente, sua forma de exercer o poder tornou-se cada vez mais autoritária e o conteúdo religioso de suas políticas cada vez mais evidente.

Em 2013, uma série de protestos em massa, que duraram semanas, deixaram claro que grande parte da sociedade turca, a mais urbana e laica, estava cansada dos ataques à liberdade de imprensa, da moral religiosa afetando cada vez mais a vida cotidiana e da guinada autoritária.

Seu papel como único homem forte do país aumentou após a tentativa de golpe de 2016 e um ano depois com uma reforma constitucional que transformou a Turquia em um sistema presidencialista e deu a Erdogan enormes poderes executivos.

Nos últimos dois anos, a tendência de Erdogan de governar sozinho e decidir tudo se fez sentir na economia, impondo uma política de redução de juros para estimular os gastos, a produção e o emprego, o que contribuiu para que a inflação disparasse.

Agora, com a lira turca em níveis mínimos históricos em relação ao dólar e ao euro, o desemprego em 22,5% e inflação em 45% (embora economistas independentes a cifrem em mais que o dobro), Erdogan recorre a inaugurações de obras de infraestrutura e apresentações de armamento projetado e fabricado localmente para convencer a empobrecida classe média da Turquia do poderio econômico do país.

Seu último grande teste foi o terremoto que em fevereiro deixou mais de 50.000 mortos no sudeste do país, o que gerou críticas à má gestão do socorro às vítimas e denúncias à corrupção que permitiu que milhares de prédios fossem erguidos sem licença.

Para os observadores internacionais, as eleições que se encerraram neste domingo foram um caso à parte na história do país. Erdogan não conseguiu encerrar a disputa no primeiro turno, mesmo com todas as vantagens que ele tinha em relação às demais candidaturas. Seu principal opositor praticamente não tinha tempo de TV, enquanto os discursos do presidente eram transmitidos na íntegra. Além disso, ele aumentou o salário mínimo três vezes ao longo do último ano e meio.

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LULA REUNE EM BRASÍLIA DITADOR E PRESIDENTES DE ESQUERDA SULAMERICANOS

 

Nicolás Maduro
Por
Carinne Aparecida de Souza Carvalho – Gazeta do Povo


Ditador venezuelano Nicolás Maduro chega a Brasília com sua mulher Cilia Flores para encontro com Lula| Foto: Reprodução do Twitter de Nicolás Maduro

O ditador venezuelano Nicolás Maduro desembarcou na noite de domingo em Brasília com os objetivos de se reunir com o Luiz Inácio Lula da Silva e participar de uma cúpula na terça-feira (30) com dez chefes de Estado da América do Sul. A cúpula foi organizada pelo Itamaraty com o argumento de criar o que a pasta chama de “um diálogo franco” entre os países.

Quase todos os presidentes da América do Sul vão marcar presença em cúpula coordenada pelo governo brasileiro. A reportagem apurou que o convite foi feito a todos os presidentes da América do Sul e apenas a presidente do Peru, Dina Boluarte, havia informado sua ausência no encontro, pois seu país passa por uma séria de manifestações contrárias ao governo.

Maduro deve ter um encontro bilateral com Lula na segunda-feira (29) no Palácio do Planalto. A entrada do ditador no Brasil estava oficialmente proibida até o fim do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas a determinação foi revogada porque Lula queria convidá-lo pra sua posse em janeiro. O encontro não aconteceu porque Caracas não conseguiu organizar a viagem a tempo, depois que a restrição a Maduro foi levantada em dezembro de 2022.

O governo Bolsonaro reconhecia o dissidente Juán Guaidó como presidente da Venezuela, apesar do poder de fato nunca ter saído das mãos de Maduro.

No início do mês de março, o assessor especial do Lula, Celso Amorim, foi até o país e se encontrou com o ditador venezuelano. À época, Maduro disse que o Brasil e Venezuela estavam “comprometidos com a renovação de acordos de união e solidariedade”.

Na semana passada, o Itamaraty também enviou uma equipe da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) ao país para “identificar temas de cooperação bilateral”.

Em nota, a pasta informou que a equipe passou três dias na Venezuela e a interação fazia parte de um programa do governo para voltar a criar laços com outros países. Porém não é possível saber se há algum novo motivo que leva o Brasil a se aproximar da Venezuela além da identificação ideológica entre Lula e Maduro.

Dados do Observatório das Migrações Internacionais apontam que cerca de 400 mil venezuelanos fugiram de seu país para o Brasil desde 2017 devido à pobreza e repressão política que compõe o cenário da ditadura de Maduro, sucessor político de Hugo Chávez (1954_2013). A maioria deles foi recebida na Operação Acolhida.

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Lula tenta criar espaço para unir governos de esquerda da América do Sul
O encontro de chefes de Estado da América do Sul que ocorre nesta terça-feira (30) é mais um passo de Lula rumo ao desejo de unir governos de esquerda da América do Sul, segundo analistas. Atualmente, os países com governos de esquerda são: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Venezuela, Guana e Suriname.

Antes de assumir a presidência, Lula e integrantes do Partido dos Trabalhadores perseguiam esse objetivo por meio do Foro de São Paulo, entidade que organiza partidos de esquerda na América do Sul.

Mas a versão oficial do Itamaraty com Lula na presidência é que o encontro tem o objetivo o desejo em “voltar a falar com o mundo”, principalmente com o sub-continente americano.

O governo diz tentar estabelecer relações que classifica como estratégicas para Brasil. A ideia seria estabelecer um novo fórum de discussão ou investir no fortalecimento de iniciativas já existentes, como a Unasul (União das Nações Sul-Americanas. Lula anunciou o retorno do Brasil à Unasul no dia 6 de maio, após revogar o decreto de Jair Bolsonaro (PL).

Mas, analistas temem que a ideia do governo Lula seja conseguir apoio de presidentes que tenham alinhamento ideológico com o PT em troca de oportunidades de financiamento e subsídios, como já ocorreu com Venezuela e Cuba. O caso mais recente foi a tentativa de Lula de auxiliar a economia argentina, que ficou em frangalhos após o Estado intervir no mercado.

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LULA BRIGA COM O AGRO E PRESTIGIA O MST

 

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).| Foto: Andre Borges/EFE.

O presidente Lula anda muito irritado com a articulação política do seu governo, que está perdendo muita coisa no Congresso. Agora, a responsabilidade também é dele. Ele está brigando contra quem não poderia brigar, está brigando contra o agro. E ficando do lado do MST, isso já vem desde o início do governo, com a história do convite para João Pedro Stédile ir para China com ele.

O Stédile antes de ir pra China prega invasões, depois de ir pra China pregar invasões com o tal “Abril Vermelho”. E ainda Lula chamou o pessoal do agro de fascistas. Está brigando com agro, está brigando com quem está produzindo. Quem está garantindo o balanço de pagamento, a balança comercial e, sobretudo, está garantindo a reserva de divisas do Brasil, que está neste momento em US$ 320 bilhões.

Comparem com a Argentina que está a zero, não tem garantia para pagar importações. Se a Argentina precisar comprar comida do exterior não tem como pagar porque não tem reserva. Não tem fundo, está pedindo ajuda para o Brasil. O Brasil inclusive botou o BNDES nisso de uma forma para sustentar importações da Argentina com exportações brasileiras.

Então, está brigando com as pessoas erradas, está brigando com quem está trabalhando. E está apoiando quem está atrapalhando o trabalho de quem trabalha, que é o MST, que leva em incerteza, preocupação ao campo, que ameaça invadir, que não cumpre a lei que desrespeita o direito pétreo de propriedade, que está no caput do artigo 5º da Constituição, entre os direitos e garantias fundamentais, na mesma linha que o direito à vida.

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Vai haver briga feia entre o agro e o governo


Reação do Congresso
Então, está brigando errado, aí a Câmara e o Senado respondem. O presidente não se deu conta que existe essa bancada do agro, a bancada ruralista, que é muito forte e que houve mais de 60% de candidatos que foram eleitos sendo conservadores e apoiando o agro. E o agro está mobilizado.

Tanto que se mobilizou agora para aprovar nesta semana, o projeto de lei que deixa o Supremo Tribunal Federal (STF) de lado na ação do marco temporal. Porque há o risco de o Supremo dizer que são indígenas às terras que eles tradicionalmente ocuparam, aí de 1.500 para cá vamos ter que ir embora todo mundo.

Eu sou descendente de espanhol e de alemão vou ter que voltar, eu não sou povo original. Isso é desconhecer a realidade, a Constituição fala que “tradicionalmente ocupam”, presente do indicativo, ou seja, dia 5 de outubro de 1988, a data da promulgação da Constituição.

Impasse com MPs do governo
Bom, mas não é só isso que o presidente Lula está conseguindo. Ele está conseguindo que essa bancada forte, que tem maioria, está mudando as medidas provisórias dele. E se o governo achar que não pode mudar, que vai discutir, vai perder um tempo que não tem mais. Se chegar em 1º de junho, agora nesta semana, tem mais segunda, terça e quarta, 1º de junho quinta, aí a medida provisória que criou 17 ministérios deixa de existir, não dá pra fazer outra e desaparecem 17 ministérios e 17 ministros.

Estão tirando cadastro ambiental rural, Agência Nacional de Águas da Marina Silva (Meio Ambiente), tirando o Coaf do Ministério da Fazenda e botando onde deve estar que é no Banco Central, imagina só que Conab estava no Ministério da Reforma Agrária, do MST. A Conab tem que voltar para o Ministério da Agricultura, que é essencial previsão de safra para a logística das safras, para comercialização das safras. Demarcação de terra indígena estava com a indígena que é a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e estão tirando também.

Isso é que tem deixado o presidente da República muito inquieto. A situação dele neste Lula 3 está mais parecido com Dilma 3, do que com o Lula 1, por exemplo, em que os tempos eram outros e parece que o presidente não se deu conta de que muita coisa mudou nesse mundo que muda tão rápido em uma década.


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MANIFESTAÇÕES MARCADAS PARA O DIA 4/6

Só se não chover

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

São Paulo – Manifestação na Avenida Paulista, região central da capital, contra a corrupção e pela saída da presidenta Dilma Rousseff (Rovena Rosa/Agência Brasil)


Há motivos de sobra para ir às manifestações de 4/6. Apoiar Dallagnol não é o único. O problema é que os protestos foram convocados pelo MBL.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Já faz algum tempo que ouço por aí que o povo tem de voltar às ruas Tem que mostrar quem manda neste país. Tem que deixar claro que não vai aceitar isso e aquilo. Tem que esfregar a vontade popular na cara dos poderosos. Mas quem é que daria o primeiro passo? Ainda mais com um STF que criminaliza manifestações de descontentamento e um Exército dado à perfídia.

Pois o Movimento Brasil Livre, mais conhecido pela sigla MBL e pelas aventuras de seus membros na Guerra da Ucrânia, e o Vem Pra Rua, duas organizações essenciais na derrubada de Dilma Rousseff, convocaram para o próximo domingo, dia 4 de junho, atos contra… Contra o quê mesmo? A pauta das manifestações é meio etérea, mas inclui o apoio a Deltan Dallagnol e o repúdio à censura.

Como diria um jornalista afeito a lugares-comuns, as manifestações pretendem dar vazão à indignação que cada vez mais acomete a população brasileira. Pelo menos aquela que faz parte da minha bolha. Uma gente que não aguenta mais ver o Lula fazer lulice e o Congresso se submeter à vontade do STF e seu miniexército de déspotas disfarçados de democratas. Uma gente que teme aquilo que hoje me parece inevitável: que o Brasil se transforme numa autocracia de esquerda.

Motivos para sair de casa no próximo domingo, portanto, não faltam. Certo? Mas então o que explica a relutância de tanta gente? Já escrevi aqui que o conforto é uma incubadora de revolucionários de sofá. Gente que prefere ficar esbravejando diante da TV ligada na Globonews ou lendo “1984” debaixo das cobertas (ainda mais nesse friozinho de hoje!) a sair às ruas. E eu talvez faça parte desse grupo. Que vergonha!

Prós e contras
Mas há duas outras razões que explicam, mas não justificam!, o esvaziamento das manifestações dos anseios populares nas ruas. Por mais que esses anseios sejam, em tese, justos e virtuosos. O mais evidente deles é a falta de credibilidade do MBL e do VPR. Que passaram quatro anos fazendo oposição ao governo Bolsonaro, quase como se preferissem um governo do PT que os mantivesse em evidência, no papel de antagonista típico de vocês-sabem-quem. Isso sem falar em certa mentalidade, digamos, autoritária dos meninos do MBL.

O outra razão é a profunda crise de confiança que assola este país eternamente dividido entre malandros que não querem se passar por otários e otários que se consideram muito malandros. Na minha bolha, por exemplo, absolutamente todos consideram a cassação de Dallagnol injusta e digna de megamanifestações. Mas todos também temem que seu apoio a uma causa inegavelmente justa seja confundido com os valores de um grupo que… francamente!

Por fim, há a sensação para alguns (entre os quais me incluo) de que esse tipo de manifestação democrática não tem mais qualquer efeito sobre os políticos e os ministros do STF. Isto é, os políticos com e os sem toga. Eles não temem a população porque sabem que aquela coisa lá de “todo o poder emana do povo” é só uma frase decorativa. Como se a Constituição fosse uma agenda de adolescente. Eles sabem que não perderão votos (que, no mais, sequer existem no mundo físico). Eles sabem que o cala-boca não morreu e quem manda na nossa boca são eles.

De qualquer modo, no dia 4 de junho pretendo estar na manifestação. Ao lado de gente honesta, mas provavelmente também ao lado de malandros oportunistas. Para, seguindo meu instinto jornalístico, ver qual é. E, já que vou estar lá mesmo, aproveitarei para dar minha manifestadinha, exibindo para quem quiser ver e ouvir a indignação que carrego no lado direito do peito. Mas só se não chover.


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ALEXANDRE DE MORAIS O HOMEM MAIS PODEROSO DO BRASIL

 

Perfil
Por
Gabriel de Arruda Castro – Gazeta do Povo


Alexandre de Moraes durante a cerimônia de diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 12 de dezembro de 2022.| Foto: EFE/Andre Borges

O ministro do STF Alexandre de Moraes veio ao mundo numa sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. O dia em que o AI-5 foi promulgado.

As manchetes dos jornais matutinos noticiavam com surpresa o fato de a Câmara dos Deputados ter rejeitado a autorização para que o Supremo Tribunal Federal processasse o deputado Márcio Moreira Alves. A maioria dos parlamentares se opôs à permissão, o que significa que o STF não poderia levar adiante as acusações contra o parlamentar.

A queda-de-braço tivera início três meses antes, depois que Moreira Alves fez declarações contundentes contra o regime militar. “Creio haver chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia”, disse ele, que pedia um boicote aos militares e prosseguia: “Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.”

Sem a autorização ou “licença”, Moreira Alves não poderia ser responsabilizado. As repercussões políticas eram graves: por causa disso, o presidente Costa e Silva colocou as tropas do Exército de prontidão.

“Votei pela licença na presunção de optar por um mal menor. A atitude da Câmara, porém, foi corajosa, porque a maioria dos deputados assumiu o risco conscientemente”, elogiou o deputado Clóvis Stenzel ao jornal O Estado de S. Paulo.

No mesmo dia 13, o Executivo decidiria por uma das maiores violações dos direitos políticos praticada na história do país: o Ato Institucional número 5. Em nome da” ordem democrática” e com base “na liberdade” e no “respeito à dignidade humana”, o presidente fechava o Congresso Nacional e suspendia direitos básicos, como o habeas corpus.

A coincidência de datas talvez seja insignificante. Mas, como jurista e professor de Direito, Moraes certamente estudou com detalhes os acontecimentos daquele 13 de dezembro. Talvez ela tenha percebido que parte das pessoas está disposta a aceitar muita coisa em nome da democracia e à liberdade — até mesmo a dilapidação da democracia e da liberdade.

Jurista precoce, autor respeitado 

O jurista Alexandre de Moraes não aceitaria que o político Alexandre de Moraes se tornasse o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Em sua tese de doutorado, defendida em 2000, ele escreveu que o presidente da República não deveria ter o poder de indicar para a Suprema Corte alguém que tenha ocupado cargo de confiança em sua gestão. Mas foi exatamente assim que Moraes chegou ao STF: alçado por Michel Temer de ministro da Justiça a integrante da corte. Sem escalas.

Esta é uma das muitas contradições na trajetória do ministro que, tendo sido aluno exemplar, promotor implacável e político hábil, em pouco tempo se tornou o protagonista do Supremo Tribunal Federal.

De estudante de Direito a político a promotor de justiça a ministro do STF a (dizem alguns) “imperador absoluto” do Brasil, o paulistano Alexandre de Moraes já fez muito em seus 54 anos de vida.

Tanto que é fácil esquecer como, há apenas seis anos, ele era a esperança de um nome mais conservador para o STF, motivo pelo qual foi duramente atacado por figuras da esquerda.

A vida pública de Moraes tem suas raízes na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco,  a mais tradicional instituição de ensino superior brasileira. Alexandre de Moraes formou-se lá, na turma de 1990, e ainda hoje é tratado como o grande destaque da classe que também formou advogados e professores influentes.

Ele foi considerado um jurista precoce. Já em 1997, Moraes lançou a primeira edição de um livro que o tornaria conhecido entre alunos de graduação país afora: Direito Constitucional, hoje com mais de 30 edições, apresenta de forma objetiva os dispositivos constitucionais. Ele tinha apenas 29 anos quando a obra foi publicada.

Em 2000, Moraes obteve o título de doutor também pela USP, orientado pelo jurista Dalmo de Abreu Dallari — tão conhecido por sua obra acadêmica respeitada quanto por sua militância a favor do Partido dos Trabalhadores.

A tese de doutorado recebeu o título de “Teoria geral do direito constitucional administrativo — perfil constitucional da administração pública.” Nela, o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal faz uma sugestão curiosa: ele propõe que figuras com vínculo com o governo não possam ser indicadas ao STF — como ele, então ministro da Justiça, acabaria sendo 17 anos depois. “É vedado para o cargo de Ministro do STF o acesso daqueles que estiverem no exercício ou tenham exercido cargo de confiança no Poder Executivo […] durante o mandato do Presidente da República em exercício no momento da escolha, de maneira a evitar-se demonstração de gratidão política ou compromissos que comprometam a independência da nossa Corte Constitucional”, escreveu Moraes, em suas recomendações.

O antigo Moraes também se opunha à usurpação de prerrogativas pelo Poder Judiciário. Em entrevista dada em 2008 ao site Conjur, ele afirmou que uma intervenção excessiva da Justiça sobre os outros poderes levaria a uma crise de legitimidade.  “O Judiciário, por meio do Supremo Tribunal Federal, fica responsável por interpretar a Constituição. Pode extrapolar de vez em quando mas, se isso acontecer sempre, vai haver uma guerrilha institucional. Se o Judiciário começar a interferir muito nos outros dois Poderes, estes passam a não cumprir mais as decisões judiciais e o Judiciário perde sua legitimidade.”

O promotor do “frangogate” 
Um ano depois de se formar, Moraes passou em primeiro lugar no concurso para promotor de Justiça do Estado de São Paulo.

Olhando em retrospectiva, a escolha pelo Ministério Público em vez da advocacia ou a magistratura talvez fosse um indicativo do perfil de alguém que prefere acusar em vez de defender. Há quem diga que em Direito Constitucional, ainda hoje muito usado em cursos de graduação, dá relativamente pouco espaço a opiniões divergentes; Moraes apresenta suas ideias com eloquência, mas sem se preocupar em contemplar visões alternativas.

Em 1996, Moraes se envolveu no primeiro caso de grande repercussão na carreira. Ele e outros promotores pediram à Justiça a cassação do mandato do então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, por improbidade administrativa. Quando o juiz negou o pedido, Moraes não fez questão de esconder sua contrariedade. “A decisão é absurda e foi totalmente equivocada. A rapidez com que o juiz despachou causa muita estranheza”, ele insinuou ao jornal O Estado de S. Paulo.

Como promotor, Moraes aparecia nos jornais com frequência. Em 1999, por exemplo, ele abriu dois inquéritos contra fabricantes de cigarros. Um pedia o fim de propagandas que associassem o fumo a profissionais bem-sucedidos e a praticantes de esportes. O outro pedia uma indenização à Philip Morris e à Souza Cruz por não terem informado os clientes a respeito dos riscos oferecidos pelo cigarro.

Durante seu tempo na promotoria, ele também se envolveu em uma controvérsia. Em 1997, aos 29 anos de idade, Moraes convocou uma coletiva de imprensa para anunciar uma denúncia contra o prefeito Paulo Maluf. Moraes afirmou que a gestão do então prefeito havia comprado frangos superfaturados, e pior: de empresas ligadas a sua família.

O advogado Ênnio Bastos de Barros criticou Moraes: “Ele não guarda o necessário comedimento”, disse o defensor de Maluf. Na época, a insinuação era que Moraes teria agido politicamente para favorecer o PSDB ao lançar uma operação contra Paulo Maluf, possível adversário dos tucanos na disputa pelo governo estadual.

Maluf foi inicialmente condenado a ressarcir os cofres públicos em R$ 21,7 mil, além de ter os direitos políticos suspensos por cinco anos. Mas recorreu e saiu vitorioso.  “Há um grande abismo entre suspeitar de algo e perpetrar a condenação pretendida. Há a necessidade de provas mais robustas de fraude ou da existência de medidas tomadas sem a menor justificativa”, afirmou o desembargador Nogueira Diefenthaler, ao dar razão a Maluf.

Embora o caso propriamente dito seja prosaico (especialmente quando se leva em conta as outras denúncias que surgiriam contra Maluf), o episódio alimentou  a suspeita, até hoje sem provas, de que Moraes estivesse tentando tirar Maluf da disputa pelo governo de São Paulo em 1998 — o que favoreceria o tucano Márcio Covas.

O salto para a política pelas mãos de Alckmin 

Moraes continuaria sendo promotor de Justiça até 2002, quando deixou o cargo para se tornar Secretário de Justiça do governo de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin. O time também tinha Gabriel Chalita na Educação, Eduardo Guardia na Fazenda e Cláudia Costin na Cultura. Entre 2004 e 2005, Moraes acumulou o cargo com o comando da Febem. A acusação contra Maluf continuava sendo o ponto de maior destaque na sua carreira até ali. “Promotor do Frangogate assume a Justiça em SP”, noticiou o Diário do Grande ABC quando o futuro ministro do STF tomou posse.

Moraes não era o primeiro nome da lista para o cargo de secretário. Alckmin queria indicar Cláudio Lembro, professor de Direito reitor do Mackenzie. Mas uma reação de entidades de defesa dos direitos humanos contra Lembo, associado ao “retrocesso” por seu histórico no PFL.

No ano seguinte, Moraes também se filiaria ao PFL, a convite do mesmo Cláudio Lembo — uma figura peculiar que, sendo membro de um partido à direita, se notabilizou por defender bandeiras de esquerda. Moraes se aproximou Lembo quando este era reitor do Mackenzie e Alexandre era professor. Ambos tinham em comum a passagem pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Em 2005, indagado se existia uma contradição entre ser membro do PFL e atuar na defesa dos direitos humanos, Moraes respondeu assim: “Os ideais do liberalismo na área jurídica são ideais que não conflitam absolutamente em nada com essa postura. Se nós formos pegar historicamente quem sempre defendeu garantias individuais, princípios de defesa do ser humano, as liberdades públicas foram os liberais.” Ele prosseguiu: “Nos Estados Unidos o partido menos conservador, mais ligado ao liberalismo é exatamente o partido democrata, que tem as grandes bandeiras liberais”, disse ele, demonstrando não entender tão bem de política americana. A declaração foi dada no programa Roda Viva, da TV Cultura. Moraes já estava plenamente integrado aos holofotes da política, e parecia confortável nessa posição. Quem o ouvia falar podia identificá-lo como um centrista.

Como secretário, Moraes teve embates com Saulo de Castro Abreu Filho, responsável pela pasta da Segurança Pública. Linha-dura, Abreu Filho se irritava com a preocupação (a seu ver, excessiva) de Moraes com os direitos dos menores infratores.

“Ele teve desentendimentos bastante difíceis com o secretário Saulo de Abreu na época”, lembra Nagashi Furukawa, que comandava a Secretaria de Administração Penitenciária.

Furukawa tinha que lidar com Moraes com frequência. Ele diz que o futuro ministro se destacava como um gestor eficiente e de fácil trato. Ele destaca outra característica do ministro do STF: o traquejo político. “O talento de fazer política no bom sentido é imprescindível para o homem publico. A pessoa tem que saber se relacionar bem, manter bom contato com outras pessoas, e isso o Alexandre sabe fazer.”, afirma.

As imagens da época mostram Moraes quase sempre sisudo, sem sinais de calvície e com ternos com todos os botões fechados. Chefe de gabinete do então secretário de Justiça, o advogado e professor Claudio Tucci Junior descreve Moraes como um chefe que dava ordens objetivas e sabia ser exigente. “Naturalmente, com pressão do dia a dia e dos assuntos inerentes à secretaria em alguns momentos não se poderia esperar por uma resposta mais lenta, então se tinha uma exigência natural. Mas sempre com tranquilidade, receptividade e sempre ouvindo a todos nós”, ele diz. O ex-chefe de gabinete afirma que, além de bom jurista, Moraes era um gestor competente. “Eu sou testemunha de que ele aliava o conhecimento técnico jurídico e a visão ampla das políticas públicas de competência da secretaria”, diz Tucci Junior, que hoje é advogado e professor da Unisanta.

A agenda de Moraes à época mostra que ele se divida entre temas complexos, como o combate ao crime organizados, e eventos de pouca importância, como casamentos comunitários. Moraes também recebeu lideranças do MST para tratar da reforma agrária e criou a “Comissão de Promoção de Ações Afirmativas” em 2002. No ano seguinte, ele se declarou a favor das cotas. “Não se trata da hegemonia do negro sobre o branco, mas de justiça e igualdade de oportunidades.”

Moraes tirou a carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2005. No mesmo ano, deixou a Secretaria de Justiça após ser indicado pela Câmara dos Deputados para uma vaga no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), onde permaneceu até 2007.

Subalterno de Kassab 
Em 2007, depois da passagem pelo CNJ, Moraes foi indicado para outro cargo político: o de Secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo na gestão de Gilberto Kassab. No posto, ele chegou a acumular o cargo de presidente da CET, a Companhia de Engenharia de Tráfego paulistana.

Como secretário, Moraes lidou com temas prosaicos. Lançou, por exemplo, o Bilhete Amigão (quatro viagens em oito horas com um bilhete). A pedido da OAB do bairro de Pinheiros, ele também autorizou a criação de uma linha de microônibus ligando o Fórum de Pinheiros ao metrô Vila Madalena. Ele fez o mesmo com os advogados de Santana: criou uma linha conectando o Fórum de Santana ao metrô Santana. Neste período, Moraes aparecia nos jornais sobretudo como alguém que tentava colocar ordem no trânsito caótico da capital paulista.

Talvez por ser proativo, Moraes ganhou espaço e concentrou atribuições na gestão Kassab. Passou a comandar também a pasta de Serviços, que cuida da coleta do lixo. Mas, em 2010, o futuro ministro deixou o cargo por se opor à criação da Autoridade Metropolitana de Transportes. À época, outro motivo para a saída foi o desgaste causado pela demora na entrega da motofaixa da Rua Vergueiro, um corredor importante na região central de São Paulo.

Advogado do PCC? 
Fora de Prefeitura, Moraes decidiu advogar. Essa foi a sua ocupação principal entre julho de 2010 e dezembro de 2014.

Entre julho e 2010 e dezembro de 2014, atuou como advogado. O escritório “Alexandre de Moraes Sociedade de Advogados ocupava o nono andar de um prédio espelhado no bairro do Itaim Bibi, um dos mais caros da capital paulista.

Em abril de 2014, por exemplo, ele se reuniu com o então Secretário de Transportes da capital paulista, o petista Jilmar Tatto. Moraes também advogou para o PSDB e para Aécio Neves na campanha presidencial de 2014 e entregou um parecer jurídico encomendado pelo Conselho Federal de Farmácia por R$ 150.000.

Mas o caso mais controverso deste período envolve o PCC (Primeiro Comando da Capital).

A rigor, ninguém é “advogado do PCC” porque o PCC não existe formalmente. Mas a organização criminosa opera em muitas frentes. Uma delas, o transporte alternativo. E essa seria conexão de Moraes com a facção criminosa. O escritório de advocacia comandado por ele defendeu a Transcooper, uma cooperativa de transporte com vínculos com a organização criminosa.

O ministro nega saber de qualquer ligação entre a cooperativa e o bando. “Jamais fui advogado do PCC e de ninguém ligado ao PCC”, disse ele, na sabatina no Senado quando foi indicado ao STF.

Na mesma ocasião, Moraes fez comentários que hoje soam reveladores: ele se demonstrou incomodado com as afirmações de que ele tinha advogado para o PCC, e sugeriu algum tipo de controle sobre as “calúnias” divulgadas na internet. “É inegável que as redes sociais, a internet, foram, são e continuarão sendo um grande avanço de comunicação, de informação, mas é também inegável — isto é algo em que todos nós, em determinado momento, vamos ter de pensar, uma forma razoável de equilíbrio — que se proliferam calúnias, difamações e injúrias em relação a inúmeras pessoas.

“Quem, dentro desta Comissão e fora dela, está nos ouvindo e vendo e já foi caluniado, difamado ou injuriado pela internet sabe a dificuldade ou mais, eu diria, a quase impossibilidade de você retirar totalmente essas versões mentirosas.”

Em 2015, o período de Moraes como advogado chegou ao fim. Ele aceitou o convite do governador Geraldo Alckmin para assumir a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Ali, atuou como uma espécie de xerife: reprimiu protestos contra o impeachment de Dilma Rousseff na Avenida Paulista e foi incisivo contra manifestantes que haviam invadido escolas públicas paulistas.

Moraes sairia de lá para o Ministério da Justiça na gestão de Michel Temer.

Pai bolsonarista 
O ministro do STF é casado desde 1992 com a advogada Viviane Barci de Moraes. Formada na UNIP (tanto em Direito quando em Propaganda e Marketing), ela comanda o escritório Barci de Moraes, que já atuou em 23 processos no Supremo Tribunal Federal — muitos deles depois que Alexandre já havia se tornado ministro.

O endereço e o CPF do escritório de Viviani Barci de Moraes são exatamente os mesmos daquele comandado pelo marido na década passada. Na verdade, o escritório também é o mesmo: somente o nome mudou. O ex-deputado Gabriel Chalita também advoga lá. O time inclui dois ex-colegas de Moraes na prefeitura paulistana: Mágino Alves e Olheno Ricardo Scucuglia.

Com Viviane, o ministro do STF teve três filhos: Giuliana, Alexandre e Gabriela. Todos seguiram carreira no Direito. Mas as ceias de Natal na família Moraes não devem ser das mais harmônicas.

O pai do ministro, Leon Lima de Moraes, é apoiador declarado de Jair Bolsonaro. Ao lado da madrasta do ministro do STF, Elizete Gomes Lima, Leon exibe suas preferências políticas no Facebook. A madrasta disse estar de “luto” no dia que Bolsonaro perdeu a reeleição. No ano passado, o casal se mudou para Toledo, nos Estados Unidos, onde vive uma filha de Elizete.

Leon é conterrâneo e contemporâneo de Michel Temer: ambos se criaram na cidade de Tietê (SP). Do pai, o ministro do STF herdou a torcida pelo Corinthians.

A chegada ao STF 

Moraes sempre foi hábil em construir relacionamentos no poder. Ainda em 2002, quando lançou o livro “Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional”, ele convenceu o então ministro do STF Celso de Mello a assinar o prefácio da obra. Nele Mello afirma que o livro tem um “alto nível científico”. Moraes tinha 33 anos. Ainda em 2002, Moraes já estava sendo citado pelo mesmo Celso de Mello como integrante de um grupo de “eminentes autores.”

Na mesma época, Moraes  também assinou um artigo na Folha de S. Paulo em que apresenta medidas do governo paulista a favor dos direitos humanos. O artigo tem trechos de difícil leitura, como este: “A previsão dos direitos humanos fundamentais direciona-se basicamente para a proteção à dignidade humana em seu sentido mais amplo, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar.”

O grande momento da carreira de Moraes viria uma década e meia depois. A nomeação feita por Michel Temer para a Suprema Corte em 2017 seria a primeira a partir de um presidente não-petista desde 2002, quando Fernando Henrique Cardoso escolheu Gilmar Mendes para o cargo. A indicação se deu em circunstâncias incomuns: o ministro Teori Zavascki morreu em um acidente de avião na região de Angra dos Reis.

A relação de Moraes com os petistas não era das melhores. Em março de 2016, por exemplo, ele foi hostilizado por militantes petistas que se manifestavam contra o impeachment de Dilma Rousseff. Aos gritos de “fascista”, deixou o local cercado por policiais.

Por isso, não surpreendeu que, quando Moraes foi indicado à vaga na Suprema Corte, a Executiva do PT tenha reagido com uma nota incisiva: “A indicação do ministro da Justiça do governo golpista, Alexandre de Moraes, para a vaga no STF aberta com a morte do ministro Teori Zavascki é um profundo desrespeito à consciência jurídica do país e ao espírito republicano que deve reger esse tipo de indicação. Sua nomeação e resumida trajetória como ministro da Justiça do governo ilegítimo de Temer tornaram evidente seu despreparo, seu desprezo pelas instituições e sua parcialidade”, disse o comando do partido, em nota pública.

Diante de Moraes, na sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou: “Nunca houve, nas indicações ao Supremo Tribunal Federal, uma reação contrária, da sociedade civil organizada, tão grande quanto nesse caso da indicação do Dr. Alexandre de Moraes.” Dentro do Senado, não houve reação significativa. A indicação foi aprovada por 55 votos a 13 contra em plenário. Outros 13 senadores não votaram.

Ascensão rápida dentro do STF 
No Supremo Tribunal Federal, o tempo de casa produz uma espécie de hierarquia: os ministros mais novos prestam deferência aos mais antigos.

Com Moraes, as coisas aconteceram de forma mais rápida. Ele tem duas características únicas em relação a seus colegas: a ampla experiência política e o histórico de procurador de Justiça. Moraes é o único integrante da corte a ter sido membro do Ministério Público.

A mudança do status do ministro novato aconteceu de forma mais marcante em abril de 2019, quando o novato recebeu uma missão do então presidente da Corte, Dias Toffoli: investigar “ataques” e “ameaças” contra membros da corte.

O então presidente da corte — que, assim como Moraes, frequentou a Faculdade do Largo de São Francisco — se baseou numa argumentação frágil: o artigo 43 do Regimento Interno do STF afirma que o presidente poderá instaurar inquérito (tarefa que normalmente cabe ao Ministério Público) se a infração penal ocorrer “na sede ou dependência do tribunal.” O dispositivo foi criado para tratar de casos internos, como atos de vandalismo dentro do prédio da corte. Mas, em uma canetada, Toffoli passou a considerar que qualquer “ataque” publicado na internet era equivalente a um pedrada nas vidraças do prédio do Supremo.

“O objeto deste inquérito é a investigação de notícias fraudulentas (fake news), falsas comunicações de crimes, denunciações caluniosas, ameaças e demais infrações revestidas de animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros; bem como de seus familiares, quando houver relação com a dignidade dos Ministros”, escreveu Moraes, em seu primeiro despacho no inquérito.

O primeiro ato relevante de Moraes foi determinar que o site O Antagonista e a revista Crusoé retirassem do ar reportagens que ligavam o empresário Marcelo Odebrecht, envolvido em escândalos de corrupção, ao ministro Dias Toffoli. Na figura de defensor da honra dos ministros da corte, Alexandre de Moraes ganhou importância aos olhos dos colegas.

Mas o inquérito das “fake news” rapidamente se tornou o pretexto perfeito para abusos das prerrogativas.

Dali surgiram desdobramentos e mais desdobramentos que, junto com o inquérito dos “atos antidemocráticos”, permitiu que Moraes acumulasse poder de forma inédita. Ele censurou parlamentares e figuras públicas nas redes sociais, autorizou operações de busca e apreensão com base em conversas privadas e jocosas de Whatsapp, e reagiu às críticas à sua atuação como se elas fossem afrontas ao próprio Estado Democrático de Direito.

A investigação sobre a possível fraude no cartão de vacina do presidente Bolsonaro faz parte do mesmo mesmo inquérito que apura xingamentos a autoridades por perfis do Twitter. Tudo sob a condução de Moraes — ele mesmo acusador, juiz e vítima.

O inquérito aberto em 2019 é o mesmo que levaria à cadeia figuras como o blogueiro Oswaldo Eustáquio, acusado de disseminar notícias falsas.

Moraes também contou com a sorte para presidir o TSE justamente durante o período eleitoral, em 2022. A troca no comando da corte segue padrões pré-estabelecidos, mas, para o cada vez mais poderoso Alexandre de Moraes, não poderia vir em melhor momento. Na condução das eleições, ele repetiu o modus operandi: censura contra qualquer conteúdo que possa ser vagamente interpretado como “fake news”, que com Moraes deixou de significar “informação falsa propagada com o propósito de espalhar desinformação” para significar “afirmação de fato não 100% confirmado por todas as instâncias da Justiça.”

A essa altura, Moraes só poderia ser parado por Moraes — ou pelo Senado Federal, a quem cabe processar ministros do STF por crime de responsabilidade. O governo de Jair Bolsonaro tentou, em agosto de 2021, levar um processo de impeachment adiante. Mas a petição não encontrou apoio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Num Congresso onde vige o foro privilegiado, cada parlamentar pode facilmente se tornar alvo do STF. E não há instância superior a quem recorrer.

Moraes já foi promotor e político. Nunca foi juiz. Talvez isso explique porque costuma agir de forma imperiosa e com um permanente tom acusatório — e dificultar a vida dos advogados sempre que possível.

Para o advogado Renor Oliver, que representa o Canal Terça Livre, os problemas de Moraes vão muito além. “Muitos promotores viram juízes, mas são garantistas e jamais conduziriam uma investigação como essa. Não existe parâmetro no judiciário para o que está acontecendo”.

Em fevereiro de 2021, Moraes determinou a prisão do deputado Daniel Silveira sob a alegação de que ele havia ameaçado ministros da corte (inclusive ele próprio). Ao contrário do que aconteceu em 1968, o STF mandou prender primeiro e só depois perguntar à Câmara dos Deputados se autorizava a medida.

O advogado Roberto Mohamed, que atua no STF, foi aluno de Moraes em uma pós-graduação no Mackenzie. Ele diz que o futuro ministro do STF era respeitado como jurista e visto como alguém de perfil técnico, apesar de o carisma não ser o seu ponto forte. “Não era um cara muito simpático, mas nunca se recusou a abrir espaço para questionamentos”, diz Mohamed.

Agora, o advogado acredita que o ministro tem se excedido em algumas decisões. “Ele mudou bastante. Quando ele deu aula ele era promotor de Justiça e sempre foi um garantidor dos direitos individuais, e por isso me surpreendem algumas decisões dele”, diz.

Mohamed, que faz questão de deixar claro seu repúdio a Daniel Silveira, afirma que o ministro tomou uma decisão injustificada ao mandar o parlamentar à prisão. O próprio inquérito das fake news, afirma o advogado, surgiu com base em uma interpretação dúbia do regimento do STF, que foi tolerada em nome do que era então tido como o combate a um mal maior: Jair Bolsonaro e seus aliados. “Eu acho que ele atuou, no início como um defensor do tribunal; mas hoje é isto é desnecessário. Acabou a situação de emergência”, diz o professor.

A advogada Ana Paula Thabata Fuertes, que já ouviu com admiração uma aula magna de Alexandre de Moraes na faculdade e hoje critica a atuação do ministro, afirma que, embora tenha sido um professor competente e um autor capaz de explicar a Constituição em termios didáticos, Moraes não teria chegado ao cargo no STF se o saber jurídico fosse o único critério de seleção.

“Ele só mais um bom jurista. Você encontraria advogados com mais saber jurídico que ele no mínimo em 100 escritórios de SP”, compara. Para Ana Paula, a passagem pela promotoria deixou marcas no modo de atuação de Moraes. Para ela, Moraes continua atuando como promotor vinte anos após ter deixado o Ministério Público. “A formação dele foi na promotoria. Quem já foi promotor não perde o acusatório. Além disso, se ele se propôs a entrar numa promotoria, ele provavelmente já gostava de ser acusador”, diz ela.

Em muitos aspectos, incluindo o vocabulário e o preparo intelectual, o deputado Daniel Silveira está muito longe de ser um Márcio Moreira Alves. Mas a situação abstrata era a mesma: o Supremo Tribunal Federal, em nome da proteção da liberdade e da democracia, pedia que a Câmara dos Deputados entregasse um dos seus membros à mercê da Justiça. Desta vez, os parlamentares consentiram.

Se Moraes cumprir o tempo que lhe resta para a aposentadoria compulsória, ficará no cargo até 13 de dezembro de 2043. Ele — e o AI-5 — completarão 75 anos naquele dia.

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