terça-feira, 28 de junho de 2022

A TENTATIVA DE PUNIÇÃO DO EX-PROCURADOR DELTAN DALLAGNOL É A COISA MAIS INJUSTA DO MUNDO

 

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo

O ministro da Justiça, Sergio Moro, em Curitiba, para inaugurar uma delegacia modelo para investigações de crimes financeiros e de corrupção na Superintendência da Polícia Federal. com a presença do governador do Paraná Ratinho Junior, do Diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, Luciano Flores de Lima, superintendente da Policia Federal do Paraná e Coronel Romulo Marinho Soares, secretário de segurança Publica do Paraná. Procurador da república Deltan Dallagnol


Ex-procurador da República Deltan Dallagnol.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O Brasil, definitivamente, juntou-se a um dos piores clubes a que um país pode pertencer no mundo de hoje: aquele dos que, em pleno século XXI, tem presos e perseguidos políticos. O mais recente deles, para piorar as coisas, nem é um militante político que age em grupos de “direita”. É um funcionário do Estado que está sendo hostilizado por cumprir o seu dever funcional de acusar perante a justiça indivíduos que considera autores de infrações ao Código Penal Brasileiro. Trata-se do procurador Deltan Dallagnol, um dos principais membros da equipe de acusação na Operação Lava Jato – a maior, mais corajosa e mais eficaz operação de combate a corrupção jamais executada pelo sistema judiciário brasileiro em toda a sua história.

A situação, como se sabe, ficou de cabeça para baixo: por ação direta do Supremo Tribunal Federal e do alto aparelho de justiça que opera logo abaixo dele, os criminosos condenados pela Lava Jato foram transformados, por razões políticas que nada têm a ver com a ciência do Direito, em vítimas e heróis da sociedade. Os promotores e juízes que os condenaram, ao contrário, se viram jogados ao papel que deveria ser dos condenados – passaram a ser o bandido. Num primeiro momento, essa guerra santa em favor dos corruptos e da corrupção se preocupou em salvar a ladroagem. Assim que os autores dos crimes tiveram a sua liberdade garantida, passou-se à fase atual: a vingança contra os que combateram os ladrões.

O procurador Dallagnol é um caso extremo. Inventaram, contra ele, a acusação de que teria gastado verbas oficiais de maneira indevida, em viagens e conferências durante a Lava Jato. Ele foi inocentado de todas as acusações na primeira instância, na justiça do Paraná. Sua inocência foi confirmada na instancia imediatamente superior, o Tribunal Federal Regional de Porto Alegre. O próprio Ministério Público isentou Dallagnol de qualquer procedimento incorreto. Mas o Tribunal de Contas da União, que normalmente abençoa os escândalos mais espetaculares deste país – o “consórcio do Covidão”, por exemplo, para se ficar no caso mais agressivo – não larga o osso. Escolhido como o instrumento dos vitoriosos para “pegar” o procurador, o TCU recorreu de cada decisão, e agora está no STJ. Esse tribunal, que já foi capaz de confirmar por 5 a 0 a condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, hoje funciona como uma área de serviço do Supremo, encarregada de cuidar das suas sobras.

Num primeiro momento, essa guerra santa em favor dos corruptos e da corrupção se preocupou em salvar a ladroagem. Assim que os autores dos crimes tiveram a sua liberdade garantida, passou-se à fase atual: a vingança contra os que combateram os ladrões

Dallagnol foi escolhido pelo PT como o inimigo preferencial de Lula, da esquerda, do “progressismo” em geral – é ele, depois do juiz Sérgio Moro, que tem de pagar pelos maus momentos que passaram na época em que foi exposto à luz do dia o sistema de corrupção que comandavam, o maior da história do Brasil. Lula lhe exige uma “indenização” – e o público, em poucas horas, doou ao procurador 750 mil reais para a sua defesa. Agora, estão atrás dele no STJ. É a hora da forra. Um dos peixes graúdos do PT, o mesmo que queria o fechamento do STF na época em que Lula foi preso e hoje é amigo de infância dos ministros, diz que os combatentes contra a corrupção devem preparar “o bolso” e “os punhos” para receberem o castigo que a esquerda vai lhes aplicar. É o mundo virado do avesso.

O QUE O GOVERNO PODE FAZER PARA CONTER OS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS

 

Com mudanças realizadas no governo Temer, margem para interferir na Petrobras e segurar os preços da gasolina e do diesel ficou limitada

José Fucs, O Estado de S.Paulo

O novo aumento dos combustíveis, anunciado pela Petrobras no dia 17, deu uma turbinada violenta nas críticas à empresa, que já vinha sendo responsabilizada pela escalada dos preços da gasolina e do diesel no País e censurada pelos lucros recordes obtidos em 2021 e no primeiro trimestre de 2022.

Em Brasília, com as eleições já no radar, o reajuste deixou a turma à beira de um ataque de nervos, ao neutralizar, em grande parte, o trabalho realizado para a aprovação de um teto para a alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que incide sobre os combustíveis, antes mesmo de a medida ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, o que só aconteceu uma semana depois.

Com o revés precoce, que acabou por levar à renúncia do presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, o pessoal passou a defender o aumento da tributação sobre o lucro da companhia e a taxação das exportações de petróleo, em busca de recursos para tentar amenizar o impacto da alta de preços no bolso do consumidor. Até a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a Petrobras e a revisão da Lei das Estatais, que estabelece princípios de governança para as empresas controladas pela União, entraram em pauta nos últimos dias.

“É inconcebível se conceder um reajuste (agora), com (o preço do) combustível lá em cima e com os lucros exorbitantes que a Petrobras está tendo”, afirmou Bolsonaro. “Enquanto tentamos aliviar o drama dos mais vulneráveis nessa crise mundial sem precedentes, a estatal age como amiga dos lucros bilionários e inimiga do Brasil”, disse o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. “A situação dos preços dos combustíveis está saindo de controle”, declarou o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.

Alguns dos principais adversários de Bolsonaro nas eleições de outubro aproveitaram a oportunidade para dar o seu “pitaco” no assunto. O pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, classificou o novo aumento como “absurdo e escárnio”. O ex-presidente Lula, pré-candidato do PT, voltou a defender a ideia de “nacionalização” dos preços dos combustíveis, em linha com suas propostas protecionistas para a economia. “Por que impor um preço internacional a um produto nacional? Isso é perda de soberania”, afirmou.

Gasolina Diesel
A Lei das Estatais, aprovada pelo Congresso Nacional em 2016, tornou-se um obstáculo poderoso para o uso político da Petrobras  Foto: Tiago Queiroz/Estadão -17/6/2022

Paixão nacional

Agora, até que ponto é possível realmente o governo interferir na gestão da Petrobras e controlar os preços dos combustíveis no País? Será que o crescimento do lucro da Petrobras se deve apenas à alta dos preços da gasolina e do diesel nas bombas? 

As respostas a estas perguntas, que prometem concentrar boa parte das atenções na campanha eleitoral, revelam que há um enorme abismo entre o que se ouve por aí a respeito do lucro da Petrobras e dos aumentos nos preços dos combustíveis e as limitações impostas pela legislação e pela realidade do mercado.

“Por que existe essa paixão nacional em cima dos preços do diesel e da gasolina? Porque existe no imaginário coletivo a ideia de que o governo tem um botão e a qualquer hora pode apertá-lo e dizer que o preço do litro de gasolina vai ser R$ 5 e não R$ 10”, diz o analista sênior do UBS BB, Luiz Carvalho, um dos mais respeitados do mercado na área de petróleo e gás.

Segundo Carvalho, a percepção de que o governo pode fazer o que quer com os preços dos combustíveis se deve à própria existência da Petrobras e ao seu controle pela União. “O Brasil é um dos maiores exportadores de commodities do mundo. A gente exporta açúcar, café, milho, soja, algodão, carne, frango, laranja, minério de ferro, petróleo bruto. A única discussão que existe sobre preço de commodity no País é em relação ao diesel e à gasolina”, afirma. “Você já viu alguém falar que tem de segurar o preço do filé mignon? Ou o preço da soja? Ou do açúcar? Ou do café? Não. Sabe por quê? Porque a gente não tem uma Carnebras, uma Sojabras, uma Açúcarbras, uma Cafébras.”

Na visão do economista e consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e colunista do Estadão, essa mentalidade tem raízes históricas, que remontam à época da criação da Petrobras, nos anos 1950. “O melhor slogan criado no Brasil que eu conheço – ou o pior, conforme o ponto de vista – é ‘o petróleo é nosso’. Isso está no imaginário do brasileiro. Quando vê a gasolina cara nas bombas, o diesel caro, ele diz: ‘Mas o petróleo não é nosso? Então, a gasolina e o diesel tinham que estar baratos’”, afirma. “O brasileiro acha que a culpa de ele pagar caro pelos combustíveis é da Petrobras e do governo, que não intervém na companhia.”

Megaprejuízo

Até alguns anos atrás, o governo até conseguia interferir, de um jeito ou de outro, na gestão da Petrobras, para segurar os preços dos combustíveis. No governo Dilma, quando o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, ocupava também a presidência do conselho de administração da companhia, essa prática se transformou em política de Estado.

Isso gerou um megaprejuízo para a Petrobras, de US$ 40 bilhões (R$ 208 bilhões, em valores atuais) entre 2010 e 2014, segundo Carvalho. Mas até hoje ninguém foi penalizado pela manipulação de preços, porque a Lei das S.A., que regula a atuação das companhias de capital aberto, tem uma brecha que permite ao governo agir com base no “interesse público” em empresas de economia mista como a Petrobras —  que, apesar de ser controlada pela União, tem ações negociadas na Bolsa.

Desde o governo Temer, porém, após as investigações da Lava Jato e a descoberta do petrolão, o esquema de corrupção em escala industrial que prosperou na Petrobras nos governos petistas, a situação mudou de figura. Novas medidas de governança foram implementadas para dificultar a interferência política não apenas na Petrobras, mas em todas as companhias controladas pela União.

A Lei das Estatais, que foi aprovada pelo Congresso em 2016 e agora está sob o risco de ser descaracterizada para permitir a ingerência do governo na Petrobras, tornou-se um obstáculo poderoso para o uso político das empresas, ao blindá-las contra a indicação de ministros, secretários de Estado e dirigentes sindicais e partidários para cargos de direção e determinar que elas sigam as práticas de gestão do setor privado, centradas no aumento da eficiência e na maximização dos resultados.

Também em 2016 o conselho de administração da Petrobras aprovou a inclusão em seu estatuto de um dispositivo que obriga a União a reembolsar a empresa por eventuais prejuízos causados por interferências políticas. Além disso, a Petrobras adotou uma nova política de preços, em vigor até hoje, para balizar a venda de combustíveis nas refinarias e evitar a repetição das perdas bilionárias causadas pela contenção dos reajustes.

Conhecida como PPI (preço de paridade internacional), ela vincula os preços dos derivados de petróleo no País aos praticados no exterior, em dólar, acrescidos dos custos de frete, seguro e taxas portuárias, como ocorre com as demais commodities negociadas no mercado global.

“Hoje, o governo não consegue mais falar ‘Petrobras, você vai vender gasolina e diesel a um preço mais baixo’”, diz Carvalho. “O político que está em campanha pode até dizer que vai fazer isso, mas, se ele for eleito, não vai conseguir cumprir o que prometeu.”

Fechamento de capital

É por isso que, agora, Bolsonaro não consegue repetir a estratégia usada sem constrangimento no governo Dilma, por mais que ele esbraveje e demita um presidente da Petrobras atrás do outro. É por isso também que ele quer alterar tanto o PPI quanto a Lei das Estatais e faz malabarismos, com apoio de sua tropa de choque no Congresso, para encontrar formas alternativas de conter os preços da gasolina e do diesel antes das eleições.

Se as mudanças nos dois dispositivos se concretizarem, elas podem até render votos para Bolsonaro e os parlamentares que o apoiam, mas deverão ter um custo pesado para a Petrobras e para os seus acionistas, inclusive a União. Além de comprometer o fluxo de caixa, os investimentos e os resultados da empresa, arruinando o trabalho feito nos últimos anos para reconstruí-la após o petrolão, as mudanças deverão levar à redução do valor destinado ao pagamento de dividendos e à desconfiança  dos investidores em relação à gestão da companhia, dificultando a realização de novas operações de captação de recursos no mercado de capitais.

Neste cenário, de acordo com Adriano Pires, o melhor seria fechar logo o capital da Petrobras, tornando-a 100% estatal, para o governo poder “abrasileirar” os preços dos combustíveis, como defende Lula, e definir quando haverá reajuste e de quanto ele será, sem se preocupar com o impacto que a medida terá no lucro da empresa. Ou, então, privatizá-la de vez, para que ela possa buscar os melhores resultados para os acionistas, sem ser “vilanizada” por causa disso.

Como a União tem apenas 37,5% do capital total da Petrobras, embora detenha o controle, por possuir a maior parte das ações com direito a voto, o governo teria de fazer uma oferta de compra dos papéis que estão nas mãos de cerca de 750 mil investidores privados, do Brasil e do exterior – uma fatia correspondente a 62,5% do capital, com valor estimado hoje na faixa de R$ 260 bilhões – se quiser fechar o seu capital.

“Empresa de economia mista como a Petrobras não funciona aqui. No Brasil, tem de ser ou 100% estatal ou 100% privada”, afirma Pires. “Do jeito que está, o sócio majoritário, que é a União, nunca está preocupado se a Petrobras produz petróleo e vende gasolina com eficiência. Ele sempre vê a Petrobras como um instrumento de política econômica e eleitoral.”

“Demonização” do lucro

De repente, até o bom desempenho da empresa, que deveria ser encarado como uma demonstração de que a crise causada pelo petrolão ficou mesmo para trás, foi “demonizado” e tratado por Bolsonaro como “um estupro”, com apoio de lideranças do Congresso e políticos de diferentes tinturas ideológicas.

A divulgação dos lucros extraordinários obtidos pela companhia, de R$ 106,6 bilhões em 2021 e de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre de 2022, alavancou a ideia de que a Petrobras está se aproveitando do aumento de preços do petróleo no mercado internacional, para multiplicar os seus ganhos “às custas do povo brasileiro”.

Ninguém lembrou – ou quis lembrar – de que a União, como principal acionista da empresa, é a maior beneficiária do lucro da Petrobras, por meio do recebimento de dividendos bilionários. Só neste ano, para se ter uma ideia, a União deverá receber da empresa cerca de R$ 14 bilhões em dividendos, quase a metade do que rendeu para o governo a privatização da Eletrobras, a segunda maior operação do gênero no mundo em 2022.

Aparentemente, nessas horas, dá mais ibope, muito mais, esbravejar contra a “ganância” da Petrobras do que reconhecer a complexidade da questão e procurar analisá-la com serenidade. “Toda petroleira do mundo gosta de petróleo caro. A única petroleira que eu conheço que não gosta de petróleo caro é a Petrobras”, diz Pires. “Na Petrobras, o presidente fica triste quando o preço do barril do petróleo chega a US$ 100 dólares, porque ele sabe que vai ser demitido.”

Exportações

De certa forma, dá até para entender que se estabeleça uma relação de causa e efeito entre o aumento de lucro da empresa e a disparada dos preços dos combustíveis nas bombas. Com o barril de petróleo cotado acima dos US$ 100 no mercado internacional e a Petrobras seguindo os preços praticados lá fora, é claro que ela vai ganhar muito mais agora do que quando o barril estava na faixa de US$ 30 ou US$ 40, como antes da pandemia e da guerra na Ucrânia. 

Se a gente considerar que o custo médio de produção da Petrobras é de US$ 5 por barril (sem contar as despesas com impostos, refino, distribuição e revenda), não dá para dizer que o aumento dos preços do petróleo não contribuiu para o seu resultado. “O custo de produção da Petrobras é muito baixo”, afirma Pires. É por isso que ela tem um lucro proporcionalmente maior que o de outras grandes petroleiras do mundo, como a Exxon e a Shell.”https://arte.estadao.com.br/uva/?id=QB4Dmz

No entanto, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, essa relação não é tão direta quanto se imagina. Uma parcela considerável do lucro da Petrobras veio de outras fontes e não da alta dos preços nas bombas. Segundo Pires, boa parte veio das exportações de petróleo cru, que hoje equivalem a cerca de 25% das receitas da empresa. Como o País não tem capacidade de refinar tudo o que a Petrobras produz e como a produção da empresa é crescente, em razão da progressiva entrada em operação dos poços do pré-sal, ela se tornou uma grande exportadora de petróleo bruto, por preços internacionais, com uma lucratividade excepcional, ao mesmo tempo em que tem de importar derivados para suprir a demanda do mercado interno.

Redução de custos

Outra parcela importante do lucro veio dos ganhos de eficiência alcançados nos últimos anos, especialmente nas gestões de Pedro Parente, no governo Temer, e de Roberto Castello Branco, antes de ele ser demitido por Bolsonaro por resistir à interferência na política de preços da Petrobras.

Segundo um ex-dirigente da companhia, o custo da Petrobras para extração de petróleo teve uma queda de 51% de 2014 para 2022. No mesmo período, o custo do refino caiu 29%, o administrativo, 62%, principalmente em razão da redução do quadro de pessoal, e os juros pagos sobre a dívida, 65%. Em 2014, a Petrobras gastava US$ 8 bilhões por ano com o pagamento de juros. Hoje, gasta US$ 3 bilhões. “O crescimento do lucro da Petrobras se deve muito mais à redução de custos e ao aumento da eficiência do que aos preços mais elevados do petróleo no mercado internacional”, diz o ex-executivo.

Luiz Carvalho, do UBS BB, lembra que houve também uma importante revisão no portfólio de ativos da empresa, com impacto significativo nos resultados. Desde o governo Temer, a Petrobras vendeu muita coisa que não tinha relação direta com o produção de petróleo, além de pequenos poços em terra cuja produção havia se tornado antieconômica para uma companhia do seu porte. “A Petrobras passou por um processo de reconstrução desde 2016 que levou a uma maior competitividade e a uma menor estrutura de custos.”

Mesmo com todas estas ressalvas, “demonizar” a Petrobras pela alta de preços dos combustíveis e pelo crescimento de seu lucro se tornou uma espécie de fetiche nacional nos últimos tempos. Talvez o País ganhasse mais se essa discussão se concentrasse na destinação dos gordos dividendos pagos pela companhia, hoje usados pelo Tesouro para abater a dívida pública, no financiamento de programas sociais. Mas, para quem quer continuar no poder e para os que querem tomar os seus lugares, isso não vai trazer resultados imediatos nem benefícios nas urnas, que é só o que parece contar no momento.

LUCRO DA PETROBRAS DIMINUIU COM A SOCIALIZAÇÃO

 

‘Estadão’ realizou exercício contábil, com o apoio do economista e consultor Adriano Pires, para conferir quanto cairiam os preços dos combustíveis se a Petrobras pudesse distribuir os seus ganhos para os consumidores

José Fucs, O Estado de S.Paulo

Com a divulgação dos lucros extraordinários obtidos pela Petrobras, de R$ 106,6 bilhões em 2021 e de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre de 2022, prosperou por aí a ideia de que a empresa se aproveitou da explosão dos preços do petróleo no mercado internacional para alavancar os seus ganhos “às custas do povo brasileiro”.

Segundo essa percepção, a Petrobras deveria ter lucro um lucro menor – definido sabe-se lá por quais critérios – e o grosso do dinheiro deveria ser destinado a reduzir os preços dos combustíveis nas bombas. Mas o que aconteceria na prática se a Petrobras pudesse realmente “socializar” o seu lucro com os consumidores, sob a forma de descontos nos preços da gasolina e do diesel?

Para responder a esta pergunta, o Estadão realizou um exercício contábil, com o apoio do economista e consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), e chegou à conclusão de que o impacto nos preços seria considerável, mas talvez nem tanto quanto muita gente imagina.

É certo que, no mundo real, isso não seria possível. Primeiro, porque a União detém apenas 37,5% do capital da Petrobras, apesar de ter o controle, por possuir a maioria das ações com direito a voto, e a empresa precisaria dividir o lucro com os acionistas privados, que respondem pelos demais 62,5% do capital.

Gasolina Diesel
Com ‘socialização’ do lucro da Petrobras, preços da gasolina e do diesel cairiam 20,9%  Foto: Tiago Queiroz/Estadão 17/6/2022

Depois, porque isso comprometeria o fluxo de caixa da empresa e a realização de novos investimentos, destinados à modernização do processo produtivo e à melhoria da produtividade. Trata-se, portanto, apenas de uma conjectura, só para conferir qual seria o resultado aproximado da medida, e não de uma solução efetiva para a alta dos preços dos combustíveis.

Pelos cálculos de Pires, se a Petrobras tivesse usado 100% do lucro que obteve em 2021 em benefício dos consumidores, o preço médio do litro de gasolina no País ao longo do ano passado, de R$ 5,769, teria sido R$ 1,20 menor. No caso do diesel, o preço médio do litro no período, de R$ 4,559, teria sido R$ 0,95 mais baixo. Em ambos os casos, a queda seria de 20, 9% em relação aos preços médios cobrados nas bombas em 2021.

No caso de um veículo popular, com tanque de 48 litros e autonomia de 504 km na cidade, isso representaria uma economia de R$ 57,60 a cada abastecimento completo ou R$ 230,40 por mês, considerando um tanque cheio por semana. No caso de um caminhão com tanque de 400 litros e autonomia de 1.200 km na estrada, o desconto seria de R$ 380 por abastecimento completo, ou R$ 633 numa viagem de São Paulo a Salvador, de cerca de 2 mil quilômetros.

Para chegar a esses números, Pires partiu da premissa de que o diesel e a gasolina eram os dois únicos combustíveis consumidos no País, sem levar em conta a mistura de 27% de etanol na gasolina e de 10% de biodisel no diesel. Em seguida, ele multiplicou o total de litros de gasolina e de diesel efetivamente vendidos pela Petrobras em 2021 pelos preços médios de cada um dos dois combustíveis no período, segundo dados da ANP, para saber quanto a companhia teria faturado, e calculou também a participação de cada um no faturamento total.

Depois, ele dividiu o lucro da Petrobras em 2021 entre o diesel e a gasolina, respeitando a mesma proporção deles nas vendas totais e subtraiu o resultado dos respectivos faturamentos. Por fim, para chegar ao preço médio com desconto em ambos os casos, dividiu o resultado da operação pelo total de litros de diesel e de gasolina vendidos no ano passado.

Pires também calculou qual seria o desconto nos preços dos dois combustíveis, partindo das mesmas premissas, se a Petrobras usasse apenas parte de seu lucro, correspondente à  fatia de 37,5% da União em seu capital, em benefício dos consumidores. Neste caso, a conclusão foi de que o desconto no preço do diesel e da gasolina seria de apenas R$ 0,36 e de R$ 0,46 por litro, respectivamente, o equivalente a 7,9% do preço médio efetivo registrado em 2021.

NAS EMPRESAS TEM MUITO PICA-PAU QUE BICA POSTES DE CONCRETO

 

Autor: Virgilio Marques dos Santos, CEO da FM2S Educação e Consultoria

Em nossa carreira, toda melhoria requer mudança, mas nem toda mudança é melhoria

Hoje quero contar uma história. Por isso, peço que libere sua imaginação e leia até o fim. Essa passagem tem a ver com a nossa capacidade de aplicar um conhecimento que adquirimos, mas que ainda temos pouca experiência na aplicação. É algo que ocorre muito quando assistimos uma aula, palestra ou lemos um livro focando apenas nos exemplos práticos e não na teoria. Na pressa de irmos logo para a aplicação, acabamos não ligando para entender o porquê das coisas. Vamos lá.

Observação do fenômeno

Imagine que você está caminhando e se depara com vários postes de madeira perfurados. Por alguns minutos tenta elaborar alguma teoria para explicar o porquê os postes estão assim. Ventila algumas ideias, como chuva de granizo, cupins, formigas, etc, até que se depara com a causa: um pássaro. Você dá sorte e observa um pássaro sentar-se nos postes e perfurá-lo com seu poderoso bico.

Depois de alguns minutos observando o pássaro efetuar o seu trabalho, você registra que o causador do estrago nos postes foi aquela ave. E, por se tratar de um ser não conhecido, você o chama de bica-postes. Pelo nome, é fácil notar que você atribuiu ao pássaro a capacidade de bicar e fazer estragos em postes.

Como em todo conto, o tempo passa e um dia você dá de cara com um problema: está instalando postes de concreto e precisa efetuar alguns furos para passagem de cabos de fibra óptica. Como a área é extensa, você calcula que o investimento para perfurá-los será muito alto.

Ao buscar uma alternativa melhor, lembra-se daquela ave: bica-postes. Ao recordar do ocorrido e do nome, sua memória é reconstruída de forma a fazer você acreditar que aquela ave seria a melhor solução para a execução do trabalho. Com isso em mente, você solicita ao pessoal de suprimentos que adquira algumas aves e as solte na região para os furos serem executados.

Pelo relatório que lhe enviam, os pássaros tem um custo muito menor do que as brocas especiais para a perfuração. Animado, você consegue aprovação e adquire 50 aves para o trabalho. 5 dias depois, as solta e de repente, os pássaros não conseguem bicar o concreto. Ao tentar fazê-lo, a maioria acaba se machucando e o poste de concreto fica intacto. Mas afinal, onde foi que você errou? Por que o bica-postes consegue fazer furos com facilidade nos postes de madeira, mas não nos de concreto?

A resposta racional é óbvia, à posteriori. O que a ave consegue bicar é a madeira, não o poste. Qualquer coisa de madeira pode ser vencida pelo poderoso bico e pelo engenhoso sistema de contrapesos que ela possui na cabeça. Mas para você, que não teve tempo para se aprofundar no processo pelo qual a ave realiza os furos nos postes de madeira e nem a testar em pequena escala com os postes de concreto, a ideia lhe pareceu boa no início, mas descartável agora.

Os poderes mágicos do pica-pau

Ao ouvir essa história, é comum rirmos do tamanho da hipérbole. É claro que ninguém confundiria um pica-pau com um bica-postes, afinal, sabemos que o concreto possui características diferentes da madeira. Porém, se mudarmos essa parábola para algo do nosso cotidiano, seja uma teoria ou um software, veremos que confundir o pica-pau não é algo tão difícil assim. Perdi as contas das vezes que vi um pica-pau ser contratado para bicar os postes

Quer ver? Aposto que você irá se lembrar de alguma vez em que já presenciou isso. Os exemplos geralmente começam pela constatação de um problema. Em seguida, alguém da liderança declara o desafio como urgente, importante e meta. Com isso, todos os seus subordinados tomam conta de que aquele desconforto é algo sério que irá ocasionar demissões ou promoções.

Em seguida, os grupos começam a se organizar para buscar soluções para alcançar a meta. Alguns vão estudar, outros buscam benchmarkings, fazem visitas, vão à palestras – até que, aleatoriamente, se deparam com um case perfeito. Nele, a empresa em análise implantou um poderoso software sem dor nenhuma e conseguiu, num prazo recorde, alcançar a meta.

De repente, a meta super desafiadora fica dependente apenas da aquisição de um sistema. Diante de tal constatação, a única coisa a ser feita é defender o orçamento e comemorar o resultado pós-implantação. Ao iniciar a implantação, depois da defesa e comprometimento pessoal perante toda liderança, o bica-postes adquirido torna-se um pica-pau. Vários nuances da realidade da sua empresa não se adequam ao sistema vendido e a decepção é enorme.

Mas, pensando no seu caso, o vendedor então lhe oferece uma customização. Há uma maneira de fortalecer o bico do pica-pau e torná-lo um bica-postes. Mais dinheiro é investido e o desafio se estende. Mais esforço é necessário. Mudanças de time devem ser feitas, processos, procedimentos, consultorias, enfim, a empresa vai se transformando de maneira não planejada para utilizar os pica-paus adquiridos, nem que para isso os postes de concreto sejam trocados pelos antigos de madeira, só para a implantação terminar.

Depois de muito sofrimento, há geralmente três saídas. A empresa:

● Desiste de perfurar os postes de concreto e cria um viveiro para os pica-paus;

● Vende os pássaros e desiste de resolver o problema, já que agora não é tão importante mais;

● Compra postes de madeira e elabora um novo case de sucesso, mesmo que para isso mudanças não tão boas tenham sido feitas.

Por isso, ao se deparar com pica-paus, pense muito bem na sua função e em quando devem ser utilizados. Avalie também todas as mudanças necessárias para que aquilo funcione corretamente.

Ao fim, gostaria de deixar claro: isso não é uma ode à não mudança. É apenas um relato de quem adora as mudanças que se tornam melhoria, mas que tem certeza de que não há almoço de graça ou pudim instantâneo. Toda melhoria requer mudança, mas nem toda mudança é melhoria. E, mesmo que a mudança leve à melhoria, ela muitas vezes será árdua e a sua constância de propósito será fundamental para ter êxito.

Diante disso, faça suas escolhas muito bem, para ter a tranquilidade de bancá-las, haja o que houver. Em nossa carreira, isso é muito importante para o sucesso no longo prazo.

STARTUP VALEON – CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES

Olá tudo bem?

Você empresário que já escolheu e ou vai escolher anunciar os seus produtos e promoções na Startup ValeOn através do nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace aqui da região do Vale do Aço em Minas Gerais, estará reconhecendo e constatando que se trata do melhor veículo de propaganda e divulgação desenvolvido com o propósito de solucionar e otimizar o problema de divulgação das empresas daqui da região de maneira inovadora e disruptiva através da criatividade e estudos constantes aliados a métodos de trabalho diferenciados dos nossos serviços e conseguimos desenvolver soluções estratégicas conectadas à constante evolução do mercado.

Ao entrar no nosso site você empresário e consumidor terá a oportunidade de verificar que se trata de um projeto de site diferenciado dos demais, pois, “tem tudo no mesmo lugar” e você poderá compartilhar além dos conteúdos das empresas, encontrará também: notícias, músicas e uma compilação excelente das diversas atrações do turismo da região.

Insistimos que os internautas acessem ao nosso site (https://valedoacoonline.com.br/) para que as mensagens nele vinculadas alcancem um maior número de visitantes para compartilharem algum conteúdo que achar conveniente e interessante para os seus familiares e amigos.

                                                             VOCÊ CONHECE A VALEON?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!

A ValeOn é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso propósito é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a Valeon é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Nos orgulhamos de tê-los como parceiros esse tempo todo e contamos com o apoio e a presença de vocês também agora em 2021.

O QUE OFERECEMOS E VANTANGENS COMPETITIVAS

  • Fazemos anúncios de publicidade para vários tipos de Empresas, Serviços e para Profissionais Liberais;
  • Temos excelente custo x benefício;
  • Nossos sites: (https://valedoacoonline.com.br/ e https://valeonnoticias.com.br/) têm grande penetração no mercado consumidor com um bom marketing fit que satisfaz esse mercado;
  • A nossa Plataforma Comercial ValeOn permite total flexibilidade de anúncios, promoções e de produtos, além de oferecer serviços de divulgação de Ofertas de Supermercados e de Veículos;
  • Os resultados são mensurados através de métricas diária/mensal;
  • O seu negócio estará disponível para milhares de Internautas através de uma vitrine aberta na principal avenida do mundo, 24 horas por dia, 7 dias da semana;
  • A sua empresa fica visível para milhares de pessoas que nem sabiam que ela existe;
  • Somos altamente comprometidos com os nossos clientes no atendimento de suas demandas e prazos e inteiramente engajados para aumentar as suas vendas.

Essa é uma forma de fortalecer nossa comunidade em torno de um propósito muito forte: despertar as pessoas para serem melhores e ajudarem a nossa comunidade empresarial para progredir cada vez mais com um comércio da região fortalecido e pujante.

A introdução da nossa Startup nessa grande empresa, vai assegurar modelos de negócios com métodos mais atualizados, inovadores e adaptáveis, características fundamentais em tempos de crise, porque permite que as empresas se reinventem para continuarem as suas operações.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

segunda-feira, 27 de junho de 2022

CRISE DE COMBUSTÍVEL NO MUNDO E A SUA ELEVAÇÃO DE PREÇOS

 

Mundo

Por
Célio Yano – Gazeta do Povo


Veículos em posto em Frankfurt, na Alemanha, um dia após entrar em vigor uma redução nos impostos sobre diesel e gasolina| Foto: Constantin Zinn/EFE/EPA

O aumento nos preços dos derivados de petróleo não é um desafio enfrentado exclusivamente pelo governo brasileiro. De modo semelhante ao que ocorre por aqui, diversos países têm buscado soluções para conter a inflação de combustíveis e energia.

O movimento de alta deriva da escalada na cotação do barril de petróleo provocada principalmente pelas sanções à Rússia após o início da guerra na Ucrânia e pela retomada da demanda pela commodity após a pandemia de Covid-19. As medidas adotadas pelos governos ao redor do mundo incluem cortes de impostos, congelamento de preços e subsídios a consumidores e empresas do setor.

Todas as alternativas implantadas ou aventadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) ou pelo Congresso Nacional para enfrentar o problema no Brasil estão em linha com experiências internacionais, guardadas as diferenças de disponibilidade de recursos para execução.

A redução temporária de tributos, uma das principais apostas do governo brasileiro, está em vigor, por exemplo, na Alemanha, Reino Unido, Índia e México. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden enviou proposta ao Congresso para cortar impostos federais e clamou a governadores que façam o mesmo com as taxas estaduais.

Por aqui, Bolsonaro sancionou na sexta-feira (24) o projeto de lei complementar (PLP) 18/2021, zerando até o fim do ano as alíquotas dos tributos federais PIS, Cofins e Cide-Combustíveis, além de limitar o ICMS, de responsabilidade dos estados, a 17%. Em março, uma emenda ao PLP 11/2020 já havia zerado PIS e Cofins sobre diesel, gás de cozinha e querosene de aviação também até o fim de 2022.

O Planalto se propõe, ainda, a compensar com até R$ 29,6 bilhões governos estaduais que aceitem zerar o ICMS até o fim do ano. A medida está prevista na proposta de emenda à Constituição (PEC) 16/2022, que deve ser votada no Senado nos próximos dias.

Subsídio para compra de gás de cozinha, instituído no Brasil no fim do ano passado, foi adotado em países como Tailândia e Índia. Já um vale-combustível, previsto no PL 1.472/2020, aprovado no Senado e tramitando na Câmara, foi levado a cabo em Portugal por seis meses entre novembro do ano passado e abril deste ano.

A ideia de aumentar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) da Petrobras, que foi defendida publicamente pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), nos últimos dias, também não é inédita. Países como Espanha, Itália, Reino Unido e Finlândia criaram impostos adicionais sobre lucros extraordinários de empresas do setor de óleo e gás, que foram impactadas positivamente com a inflação do setor.

Outros países seguiram caminhos diferentes. Na Tailândia, o gás de cozinha e o diesel tiveram tabelamento de preços. Na França, o governo também limitou o reajuste tarifário da estatal de energia. Já o governo japonês optou por subsidiar as distribuidoras de combustíveis para evitar a alta nos postos.

Confira abaixo a seguir que estão sendo executadas em alguns países para enfrentar o aumento nos preços provocado pela crise no setor de óleo e gás.


Estados Unidos
Embora o modelo de mercado de combustíveis norte-americano seja bastante diferente do brasileiro, a situação enfrentada por Biden se assemelha em grande medida à observada no Brasil. A inflação dos derivados de petróleo tem impactado fortemente os índices de aprovação do governo, o que tem feito o presidente buscar saídas de curto prazo.

Em meados do mês, a média do preço da gasolina chegou aos US$ 5,006 (cerca de R$ 25,86) por galão (equivalente a 3,78 litros) nos postos norte-americanos, segundo a Administração de Informação sobre Energia dos Estados Unidos. O valor corresponde a aproximadamente R$ 6,84 por litro do combustível. Já o diesel alcançou a média de US$ 5,718 (R$ 29,53) por galão, o equivalente a R$ 7,81 por litro.

Na quarta-feira (22), a Casa Branca anunciou uma proposta, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso, de suspender por três meses os impostos federais que incidem sobre gasolina e diesel. Biden também pediu aos estados que adotem medida semelhante “suspendendo suas próprias taxas sobre combustíveis ou ajudando os consumidores de outras maneiras”.

Por lá, o galão da gasolina é taxado em US$ 0,18 (R$ 0,93) em impostos federais. O diesel é tributado pelo governo federal em US$ 0,24 (R$ 1,24) por galão. Já os impostos estaduais variam no território americano dependendo da unidade federativa. Enquanto o Alasca taxa o galão do diesel em US$ 0,08 (R$ 0,41), a Pensilvânia recolhe US$ 0,741 (R$ 3,83) sobre o mesmo volume do combustível.

Segundo a Casa Branca, governadores de Connecticut e Nova York já suspenderam temporariamente a cobrança de impostos sobre combustíveis, enquanto Illinois e Colorado adiaram reajustes tarifários que estavam programados. Outros estados, como Michigan e Minnesota, discutem medidas como isenções fiscais, subsídios e a criação de um auxílio-combustível.

As ações se somam a esforços anteriores já promovidos pelo governo norte-americano. No fim de março, a Casa Branca anunciou a liberação de até 1 milhão de barris de petróleo de suas reservas estratégicas, que são mantidas desde 1974 por razões econômicas e geopolíticas. Ao todo, serão retirados 180 milhões de barris, a maior quantidade da história, ao longo de seis meses, em uma tentativa de atenuar o desequilíbrio entre oferta e demanda interna.

Os Estados Unidos juntaram-se ainda a outros 30 países aliados para liberar mais 60 milhões de barris de reservas estratégicas, injetando no mercado global um total de 240 milhões de barris.

Alemanha
Na Alemanha, a coalizão de governo, formada pelos partidos Liberal Democrático (FDP), Social-Democrata (SPD) e Verde, fechou um acordo ainda em março para ajudar a população a enfrentar os efeitos da guerra na Ucrânia na economia, em especial nos setores de combustível e energia. Na Europa, a geração elétrica é fortemente dependente do gás natural, também utilizado para aquecer as casas no inverno, e a Rússia é o principal fornecedor do composto.

O pacote de medidas, que entrou em vigor em 1.º de junho, inclui um pagamento único de 300 euros (cerca de R$ 1.645,92) para contribuintes do imposto de renda; um complemento, também em parcela única, de 200 euros (R$ 548,64) para quem recebe benefícios sociais; e 100 euros para quem recebe seguro-desemprego.

Além disso, até o fim de agosto, os cidadãos alemães podem comprar um bilhete que dá direito a usar todos os trens e ônibus do país durante um mês por apenas 9 euros (R$ 49,40). No mesmo período, o imposto sobre a gasolina ficará reduzido em 0,30 euro (R$ 1,64), enquanto a tributação sobre óleo diesel terá um corte de 0,14 euro (R$ 0,76).

A renúncia fiscal deve superar 3 bilhões de euros (R$ 16,47 bilhões), segundo o Ministério das Finanças alemão. O litro da gasolina é encontrado no país, em média, a 1,974 euro (R$ 10,80), segundo boletim da Comissão Europeia de segunda-feira (20). No dia 30 de maio, antes da desoneração, o combustível custava 2,193 (R$ 12,03). O diesel, por sua vez, era encontrado por 2,037 euros (R$ 11,18) no fim de maio, e agora, mesmo com a redução tributária, está mais caro, a 2,061 euros (R$ 11,27).

Apesar disso, o ministro das Finanças do país, Christian Lindner, disse em entrevistas recentes que os preços dos combustíveis estariam “muito maiores” sem a redução nas taxas.

No início do mês, membros do SPD, do chanceler Olaf Scholz, e do Partido Verde sugeriram ainda taxar o que chamaram de “lucros excessivos” de companhias petrolíferas, o que foi recusado por Lindner, que é do FDP, partido que se posiciona historicamente contra o aumento de impostos.

Em uma entrevista coletiva no último dia 7, Lindner argumentou que aumentar a tributação sobre empresas do setor poderia elevar a inflação do país, que fechou o mês de maio em 7,9% no acumulado de 12 meses.

Reino Unido
No Reino Unido também houve desoneração fiscal sobre derivados de petróleo. Em 23 de março, o governo britânico anunciou uma redução de 5 pences (R$ 0,32) em impostos sobre combustíveis que vigorará por 12 meses. Segundo o chanceler Rishi Sunak, foi o maior corte de tributos da história do setor no país.

Dois meses depois, no dia 26 de maio, o governo anunciou ainda planos de criar um imposto adicional de 25% sobre os lucros extraordinários que o setor de óleo e gás tem obtido com a disparada da cotação do petróleo. A estimativa é que a medida gere uma arrecadação adicional de 5 bilhões de libras (R$ 31,84 bilhões), que ajudará a subsidiar um programa de ajuda de custo para todas as famílias do Reino Unido.

Ao todo, cada residência receberá um desconto de 400 libras (R$ 2.546,15) em suas contas de luz no mês de outubro para compensar a inflação dos combustíveis. Cerca de oito milhões de famílias em situação de vulnerabilidade terão direito ainda a um pagamento de 650 libras (R$ 4.137,50). Pensionistas terão um adicional de 300 libras (R$ 1.909,61), e haverá um pagamento único para indivíduos com invalidez de 150 libras (R$ 954,81).

O custo total do pacote é estimado em 37 bilhões de libras (R$ 171,87 bilhões) pelo governo do Reino Unido. Representantes do governo disseram esperar que a tributação sobre lucros também sirva para estimular as petroleiras a reinvestir suas receitas na extração de óleo e gás em território britânico.

No país, o litro da gasolina é vendido, em média, a 189,33 pences (R$ 12,03), enquanto o diesel é encontrado a 197,11 pences (R$ 12,55), de acordo com a consultoria RAC Foundation.

Portugal
Em Portugal, duas grandes políticas públicas foram adotadas para enfrentar a ascensão nos preços dos combustíveis. A primeira teve início em novembro de 2021, meses antes do início da guerra na Ucrânia, mas já em um cenário de alta na cotação do petróleo em razão da retomada econômica pós-pandemia.

Por meio de um programa chamado Autovoucher, os portugueses passaram a ter direito a um subsídio de 0,10 euro (R$ 0,55) por litro de gasolina ou diesel, até um total de 50 litros por mês, ou seja, um desconto de até 5 euros (R$ 27,45) mensais. Com o início do conflito no Leste europeu e a nova disparada nos preços do petróleo, o benefício foi ampliado de 5 para 20 euros (R$ 109,79) a partir de março.

O voucher vigorou até 30 de abril, quando foi substituído por uma política de redução da carga tributária dos combustíveis. O governo pretendia baixar o Imposto de Valor Agregado (IVA), atualmente em 23%, para 13%, mas, enquanto aguarda autorização da Comissão Europeia para a desoneração, optou por reduzir o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) de modo que a composição do preço final seja equivalente ao corte de dez pontos no IVA.

Desde o início de maio, o governo de Marcelo Rebelo de Sousa revisa semanalmente o ISP para manter a correlação. No último dia 17, baixou em mais 1,2 centavo de euro o tributo sobre o litro da gasolina, e em 0,4 centavo sobre o diesel – no total, a redução já chega a 26,3 centavos (R$ 1,44) e 22,2 centavos (R$ 1,22) por litro de cada um dos combustíveis, respectivamente.

Segundo boletim da Comissão Europeia de segunda-feira (20), o litro da gasolina é encontrado no país, em média, a 2,12 euros (R$ 11,59). Já o diesel é vendido por 2,08 euros (R$ 11,38) por litro.

Japão
No Japão, a estratégia adotada foi o pagamento de um subsídio às distribuidoras de combustíveis, depois que a retomada de uma política de corte de impostos a partir de gatilhos de preços, proposta pelo oposicionista Partido Democrático do Povo, foi rejeitada.

No fim de janeiro, o governo, formado pela coalizão do Partido Liberal Democrático e do Novo Komeito, instituiu um programa temporário de repasses a empresas que são reajustados semanalmente. A ajuda inicialmente era de 3,4 ienes (cerca de R$ 0,13) por litro de gasolina, óleo diesel e querosene de aviação.

Esse valor subiu gradativamente, acompanhando a evolução na cotação do petróleo no mercado global. A partir desta quinta-feira (23) até a próxima quarta (29) ficará fixado em 40,5 ienes (R$ 1,54), depois de ter chegado a 41,4 ienes (R$ 1,57) na semana anterior. Ao todo, 33 empresas recebem o subsídio, de acordo com o governo japonês.

O programa ajudou a segurar os preços da gasolina, que era vendida, em média, a 173,9 ienes (R$ 6,64) por litro na segunda-feira (20), segundo dados do Ministério de Economia, Comércio e Indústria do país. Sem a assistência, o valor estaria, em média, em 215,8 ienes (R$ 8,25), conforme a pasta.

O diesel, por sua vez, é comercializado no arquipélago por 153,7 ienes (R$ 5,87). Sem o subsídio, o governo estima que estaria sendo vendido a 195,7 ienes (R$ 7,48).

Tailândia
Na Tailândia, o governo tem adotado uma política de tabelamento de preços para o diesel e o gás de cozinha, utilizando recursos do Oil Fuel Fund para subsidiar a medida. Mesmo assim, no dia 8 de fevereiro, centenas de caminhoneiros bloquearam uma das principais vias de Bangkok em protesto contra os valores dos combustíveis. O movimento, liderado pela Federação de Transporte Terrestre da Tailândia, reivindicava à época que o litro do diesel, tabelado em 30 bahts (R$ 4,40), fosse limitado a 25 bahts (R$ 3,67).

A manifestação levou o Conselho de Ministros a anunciar, uma semana depois, uma redução por três meses do imposto sobre o diesel, que caiu de 5,99 bahts (R$ 0,88) para 3 bahts (R$ 0,44) por litro. A medida custou aos cofres públicos cerca de 17,1 bilhões de bahts (R$ 2,52 bilhões), segundo o Ministério das Finanças do país.

A partir de 21 de maio, quando a medida expiraria, o governo promoveu um corte ainda maior no imposto, de 5 bath (R$ 0,73) por litro. A taxa reduzida deve vigorar por dois meses, encerrando-se no dia 20 de julho. A renúncia fiscal com a nova desoneração deve chegar a 19,8 bilhões de bahts (R$ 2,9 bilhões), segundo o fisco tailandês.

Ainda assim, quatro reajustes no valor do diesel já foram anunciados desde maio, segundo o serviço público de radiodifusão do país. No último dia 14, o litro do combustível passou de 33,94 bahts (R$ 4,98) para 34,94 bahts (R$ 5,12). Na véspera, o diretor do Oil Fuel Fund, Wisak Watanasap, explicou que o fundo estava com um saldo negativo de 91,089 bilhões de bahts (R$ 13 bilhões).

No caso do gás de cozinha, o cilindro de 15 quilos ficou tabelado em 318 bahts (R$ 46,63) até abril deste ano, quando subiu para 333 bahts (R$ 48,83). Em junho, o valor passou para 363 bahts (R$ 53,22), mas o governo já anunciou que o produto deve subir gradativamente para 408 bahts (R$ 59,82) até setembro. Até lá, cerca de 4 milhões de pessoas que recebem assistência social terão direito a um benefício adicional no valor de 100 bahts (R$ 14,66) mensais para a compra do botijão.

Em Bangkok, a mistura de gasolina com 20% de etanol custava em média 40,98 baht (R$ 6,01) por litro no mês de maio, segundo levantamento do Departamento de Política e Planejamento Energético do país.

Índia
Duas rodadas de redução da carga tributária sobre combustíveis já foram adotadas na Índia desde o fim do ano passado. Em novembro de 2021, o governo anunciou a redução de 5 rúpias (R$ 0,33) nos impostos federais sobre a gasolina e de 10 rúpias (R$ 0,66) nos tributos do diesel. Ao menos dez estados governados por aliados do primeiro-ministro Narendra Modi, do partido Bharatiya Janata (BJP), também cortaram taxas locais à época.

Mais recentemente, no mês passado, a ministra de Finanças indiana, Nirmala Sitharaman, anunciou, pelo Twitter, uma nova redução de impostos, de 8 rúpias (R$ 0,53) por litro da gasolina, e de 6 rúpias (R$ 0,40) por litro do diesel, que entrou em vigor no dia 22 daquele mês. Segundo ela, a medida custará 1 trilhão de rúpias (R$ 66,3 bilhões) por ano ao governo.

“Quero exortar todos os governos estaduais, especialmente os estados onde não foi feita redução na última rodada (novembro de 2021) a também adotar um corte semelhante e dar um alívio ao homem comum”, escreveu a ministra.

Além disso, foi criado um subsídio de 200 rúpias (R$ 13,27) para a compra de gás de cozinha, com um limite de 12 botijões para cada um dos 90 milhões de beneficiários de um programa de assistência a mulheres que vivem abaixo da linha da pobreza. O auxílio deve implicar em um gasto público de outros 61 bilhões de rúpias (R$ 4 bilhões), de acordo com Sitharaman.

Nesta quinta-feira (23), o preço médio da gasolina era de 96,72 rúpias (R$ 6,42) por litro em Nova Délhi. O valor do diesel era de 89,62 rúpias (R$ 5,95), segundo levantamento do jornal India Times. Os preços chegavam, respectivamente, a 111,35 rúpias (R$ 7,39) e 111,30 rúpias (R$ 7,39) em Mumbai, a 1,4 mil km da capital.

México
No México, o governo de Andrés Manuel López Obrador desde o início do ano mantém zerada a alíquota do Imposto Especial sobre Produção e Serviços (IEPS) que incide sobre combustíveis. “Todo o ano o temos garantido. Não temos problema porque no balanço nos permite manter a gasolina sem aumento, o diesel sem aumento. Eu digo ao povo do México que não vão aumentar esses preços, nem da luz”, disse o presidente em uma coletiva na semana passada.

O governo também tem buscado promover a produção interna de combustíveis, com o restabelecimento de seis refinarias e um investimento de 36 bilhões de pesos (R$ 9,29 bilhões) na tentativa de dobrar o processamento de petróleo cru.

Segundo a Comissão Reguladora de Energia do país, o preço médio da gasolina normal em território mexicano é de 21,78 pesos (R$ 5,62) por litro, enquanto o mesmo volume da gasolina premium é vendido por 23,76 pesos (R$ 6,13). O diesel custa, em média, 23,33 pesos (R$ 6,02) por litro. Os valores variam conforme a entidade federativa.

Outros países
Em geral, as medidas adotadas por outras economias ao redor do mundo não fogem muito desses modelos. Países europeus voltaram os esforços principalmente à contenção da alta no preço da energia elétrica, fortemente dependente do gás fornecido pela Rússia.

Impostos sobre combustíveis foram cortados também na Irlanda, Romênia e Suécia. Já países como Hungria e Croácia estabeleceram congelamentos temporários de preços.

Itália, Espanha e Finlândia criaram taxas adicionais sobre lucros extraordinários de empresas de energia, cujos resultados foram impactados positivamente com a inflação do gás. Italianos também receberam um auxílio para aliviar os efeitos da alta nos gastos com luz e combustíveis, enquanto espanhóis viram o IVA sobre energia cair de 21% para 10% e o imposto sobre geração, de 7% para 0,5%.

Houve cortes de tributos sobre energia ainda na Bélgica, Polônia, Noruega e Países Baixos. Na França, o governo, que já havia anunciado um pagamento de 100 euros (R$ 546,70) para 5,8 milhões de famílias e reduzido impostos sobre eletricidade, limitou os aumentos de preços da estatal Électricité de France (EDF) para 4% por um ano, ao custo de 8,4 bilhões de euros (R$ 45,92 bilhões).


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/o-que-outros-paises-estao-fazendo-para-conter-os-precos-dos-combustiveis/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

LULA E SUAS INTERFERÊNCIAS A FAVOR DE BANDIDOS E ASSASSINOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Lula disse em Maceió que convenceu FHC a soltar sequestradores do empresário Abílio Diniz em 1998.| Foto: Agência Brasil

“A greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade.” Esta era a avaliação que Lula fazia do recurso à greve de fome – uma “insanidade”, segundo o petista – em 2010, último ano de seu segundo mandato. Doze anos antes dessa declaração, em 1998, o mesmo Lula dissera ao então presidente Fernando Henrique Cardoso: “Fernando, você tem a chance de passar para a história como um democrata ou como o presidente que permitiu que dez jovens que cometeram um erro morressem na cadeia, e isso não vai apagar nunca” – os “jovens”, no caso, estavam justamente em greve de fome para que fossem soltos. E neste 2022, ou seja, outros 12 anos depois de atacar greves de fome, o pré-candidato Lula agora se gaba de ter conseguido articular a libertação daqueles presos que fizeram exatamente o que o petista criticara em 2010. O que aconteceu? Lula retornou ao modo “metamorfose ambulante”, como se definira em 2007?

A explicação é bem mais simples, e repete o método habitual na loucura petista: a avaliação que Lula e o PT fazem de qualquer ato depende não da ação propriamente dita, mas apenas de quem a pratica e com que finalidade. Assim como os maiores esquemas de corrupção da história recente do país, por terem sido cometidos com o objetivo de perpetuar o projeto de poder petista, rendem aos seus protagonistas e operadores lugar no panteão dos “guerreiros do povo brasileiro”, quaisquer crimes cometidos em benefício da esquerda recebem o mesmo tratamento. Pois aqueles por quem Lula intercedeu junto a FHC eram ninguém menos que os sequestradores do empresário Abílio Diniz, em 1989: cinco chilenos, dois canadenses, dois argentinos e um brasileiro, membros do Movimento de Esquerda Revolucionária-Político (MIR-Político) e das Forças Populares de Libertação (FPL) de El Salvador. Como eles queriam usar o dinheiro para financiar a guerrilha no país centro-americano, o fato de terem sequestrado uma pessoa e a mantido por uma semana em cárcere privado, sob ameaça constante de morte, importa pouco: eram apenas “meninos” que “cometeram um erro”. Praticamente “guerreiros do povo salvadorenho”.

Ao narrar com orgulho o que fez em benefício de criminosos, Lula consegue o que parecia impossível: descer mais um degrau na escala de degradação moral da vida pública

E aqueles que optaram pela “insanidade”, quem eram? Dissidentes da mais carniceira das ditaduras latino-americanas, a cubana. Orlando Zapata Tamayo, Guillermo Fariñas e outros presos não sequestraram nem ameaçaram a vida de ninguém; apenas se colocaram contra Fidel Castro e pediram liberdade em seu país. Zapata morreu em fevereiro de 2010, após 85 dias de greve de fome, na véspera da chegada de Lula a Havana para uma visita presidencial e um mês antes da entrevista em que o petista criticou o protesto dos prisioneiros cubanos. Aparentemente, Lula não se preocupou em advertir seu ídolo Fidel para a possibilidade de a morte de um dissidente ficar gravada como uma mancha na biografia do ditador, como fizera 12 anos antes ao avisar FHC.

Lula não se incomodou nem mesmo com a chance de carregar uma morte por greve de fome no próprio currículo, pois, quando era presidente da República, não cedeu ao protesto de dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra (BA), que em 2007 se colocou contra a transposição do Rio São Francisco. A greve de fome durou 24 dias e terminou quando dom Cappio desmaiou, passou meia hora desacordado e foi internado em uma UTI. “Se o Estado cede, o Estado acaba. E o Estado precisa funcionar”, justificou Lula à época – o máximo que o petista fez foi procurar o Vaticano para que interferisse e pedisse ao bispo o fim da greve de fome.


A greve de fome é um recurso extremo; concorde-se ou não com ela, é ponto pacífico que um preso político injustamente encarcerado e um líder religioso contrário a uma obra por ele considerada prejudicial ao povo (esteja tal avaliação correta ou equivocada) têm motivos muito mais dignos para fazer uma greve de fome que um bando de sequestradores interessados em sair mais cedo da cadeia onde pagavam por seus crimes. Qualquer um deveria ser capaz de reconhecer isso – menos Lula, que intercedeu pela vida dos bandidos de esquerda, mas não dispensou o mesmo tratamento a quem ousou enfrentar governos de esquerda: os dissidentes cubanos e um bispo que já havia sido até apoiador do petista, a ponto de dom Cappio ter dito ao então presidente, em 2005, que “minha vida de militante foi vestindo sua camisa”. Ao narrar com orgulho o que fez em benefício de criminosos, Lula consegue o que parecia impossível: descer mais um degrau na escala de degradação moral da vida pública.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/lula-greve-de-fome-sequestradores-abilio-diniz/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

CPI DAS ONGS QUE OCUPAM A AMAZÔNIA ESTÁ PARADA NO SENADO

Investigação

Por
Alexandre Garcia


Requerimento de criação da CPI das ONGs, aguarda apenas a deliberação do presidente do Senado para começar as investigações.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Quero fazer duas perguntas sobre esse caso do ex-deputado Roberto Jefferson ter virado réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por homofobia. Primeiro: o que o processo está fazendo no STF se ele não tem foro privilegiado? Se fosse deputado federal, aí sim seria no Supremo, mas Jefferson não é deputado, é presidente do PTB.

Foi o Supremo que começou o processo e depois entrou o Ministério Público para fazer a denúncia. No STF foram só dois votos contra a aceitação da denúncia: dos ministros Nunes Marques e André Mendonça. Agora, por ordem do Supremo, o processo deve ser enviada para a primeira instância da Justiça Federal em Brasília, de onde nunca deveria ter saído, se é que havia algum motivo para existir esse processo.

A segunda pergunta é: o STF pode mudar a lei do jeito que quiser? Por que Roberto Jefferson virou réu por homofobia com base no artigo 20 da Lei 7716/2018. Eu fui ler esse artigo e não há citação sobre homofobia nele. O artigo fala que é crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Só isso!

Mas vi que foi o Supremo que incluiu homofobia nesse artigo. Mas alto lá: o STF não é órgão legislativo, é Judiciário. Só quem pode mudar, fazer ou alterar a lei é quem tem legitimidade para isso, ou seja, que foi eleito pelo voto conferido pelo povo. Eu não consigo entender isso.

O jurista Ives Gandra costuma lembrar o seguinte: na França, foram pedir na Suprema Corte o casamento entre dois homens e duas mulheres. A Suprema Corte francesa então falou: olha, isso não é com a gente, isso é com o Parlamento; é só mudar a lei; nós não podemos mudar a lei, nós só a interpretamos e aplicamos. Simples, né!

Segurança morto em assalto no Rio
Tenho outra pergunta a fazer. O segurança Jorge Luiz Antunes, que devia estar no aniversário de um dos quatro netos, mas foi substituir um amigo no trabalho, foi morto com um tiro no rosto durante o assalto a uma joalheira do shopping Village Mall, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Um mês atrás, colegas meus, jornalistas, lamentaram que nenhum policial tinha sido morto naquela operação policial na Vila Cruzeiro, também no Rio. Quero saber se agora eles vão lamentar que nenhum bandido tenha sido morto. Eram 12 assaltantes, mas só foi morto o vigilante.

Fico curioso pra saber também se o Supremo Tribunal Federal vai dar cinco dias para a polícia descobrir o paradeiro dos 12 assaltantes, como fez no caso das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, em plena floresta amazônica. Por analogia, o STF deveria fazer o mesmo. Quem sabe os assaltantes foram se abrigar em algum lugar onde a polícia foi proibida de entrar pelo Supremo.

CPI das ONGs está engavetada
Quero perguntar também que fim deu a CPI das ONGs da Amazônia? Ela estava pronta para começar, mas aí o Supremo interferiu e mandou o Senado abrir aquele circo da CPI da Covid. A CPI das ONGs já tem todas as assinaturas necessárias, falta só que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), diga aos líderes partidários que indiquem os integrante das CPI.

Assim será possível começar a investigar por que tem uma ONG no município de Coari (AM) em cima de terra de gás e petróleo, e outra em cima de terra com jazidas de nióbio? Também para saber por que tem ONG que recebe dinheiro de governo europeu e outra que tem uma “laranja” no comando, mas na verdade quem manda são europeus?

E também por que 85% do dinheiro das ONGs sustentam a diretoria dessas organizações, como diz o Tribunal de Contas da União (TCU)? Por que tem uma rede de televisão que não quer essa CPI das ONGs, segundo o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que é o autor do requerimento? São muitas perguntas que esperam respostas.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/que-fim-levou-a-cpi-das-ongs-na-amazonia-que-estava-pronta-para-comecar/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

 

PROPAGANDA IRREGULAR DAS BRIGADAS DIGITAIS DO PT

 

Disparos por WhatsApp
Por
Gabriel Sestrem


Em denúncias ao MPE, deputados federais sustentam que CUT feriu legislação eleitoral para impulsionar pré-candidatura da chapa Lula e Geraldo Alckmin| Foto: Reprodução Facebook Lula

A estratégia criada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) para fazer disparos de mensagens de apoio à pré-candidatura de Lula (PT) pelo WhatsApp durante o período pré-eleitoral, que envolve a contratação de empresas para auxiliar no disparo das mensagens eletrônicas, gerou pedidos ao Ministério Público Eleitoral (MPE) para que a entidade sindical seja investigada por suposta violação à legislação eleitoral.

Segundo um dos denunciantes, o deputado federal Paulo Martins (PL-PR), há suspeitas de que a CUT, por meio da estratégia denominada Brigadas Digitais, tenha contratado empresas com o objetivo de realizar disparos em massa em favor da campanha do ex-presidente petista à presidência – o que, caso provado, configuraria crime eleitoral.

Para o também deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), autor de outra denúncia, haveria duas irregularidades na ação da entidade sindical: extemporaneidade da propaganda eleitoral e realização de propaganda eleitoral por pessoa jurídica. A deputada Carla Zambelli (PL-SP), outra a pedir investigação à CUT, também anunciou que o Partido Liberal (PL), sigla à qual pertence o presidente Jair Bolsonaro, irá acionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nos próximos dias pedindo cassação do registro do Partido dos Trabalhadores.

Em vídeo divulgado na semana passada pelo jornal Metrópoles, diretores da CUT revelam que a entidade sindical contratou empresas para auxiliar no envio de mensagens de cunho eleitoral relacionadas ao ex-presidente petista. Em evento que contou com a presença de Lula, realizado no início de abril pela CUT para apresentar propostas da entidade para as eleições deste ano, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, reforçou o teor eleitoral da iniciativa: “Queria dizer da importância das brigadas digitais que a CUT está fazendo. Nós precisamos estar mobilizados nas ruas, neste período, mas também nas redes. Então as brigadas digitais são muito importantes. Peço à companheirada para realmente colocar prioridade nisso”, disse a parlamentar.

Além da CUT, denúncias buscam responsabilização de Lula e do PT
Na representação protocolada na última sexta-feira (17), Kim Kataguiri e o vereador da capital paulista Rubinho Nunes (União) denunciam ao MPE suposta campanha eleitoral antecipada e irregular. No documento, os parlamentares pedem, além da punição à CUT e a Lula, como beneficiário da ação, “a imediata e urgente suspensão dos disparos em massa patrocinados por pessoa jurídica em favor do pré-candidato Lula”.

“Os representados veicularam – e ainda veiculam – propaganda eleitoral antecipada e irregular, uma vez que realizada antes do período permitido e por entidade sindical (pessoa jurídica)”, afirmam os autores da representação. Em ano eleitoral, a legislação autoriza propaganda de candidatos com pedido explícito de votos somente após o dia 16 de agosto. Kataguiri e Nunes alegam que há pedido explícito de votos na estratégia das brigadas digitais por meio das chamadas “palavras mágicas” que, na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referem-se a “pedidos subliminares” de voto entendidos de maneira contextualizada e não verbalizada diretamente como pedido explícito.

“Ingressamos com a ação porque se trata de um caso criminoso de uso de centrais sindicais para sistematicamente ter uma milícia digital apoiando um candidato, o que está em completo desacordo com nossa lei eleitoral. E não concordar com as regras do jogo é uma violação à própria democracia e ao processo eleitoral, e configura uma vantagem ilegal que o candidato Lula está tendo em relação aos outros”, disse Kataguiri à Gazeta do Povo.

Na representação protocolada por Carla Zambelli, na quarta-feira (15), junto à Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE), a deputada aponta uma série de condutas ilícitas que teriam sido cometidas, como apoio direto de entidade sindical a partido político e distribuição massiva automatizada de conteúdo. A deputada também pediu à PGE suspensão do recebimento de valores dos fundos partidários por parte do PT, cassação do registro do partido e impugnação de eventual requerimento de registro de candidatura de Lula.

Na mesma data, o deputado Paulo Martins fez pedido semelhante ao MPE. De acordo com o parlamentar, há suspeita de abuso do poder econômico e utilização indevida dos meios de comunicação social. “Sindicato não existe para fazer campanha. Se isso de fato está acontecendo dessa forma, a punição precisa ser exemplar. Estamos num momento crucial para a nossa democracia. Tem gente sendo presa por crime de opinião nesse país. As nossas liberdades estão ameaçadas. Por isso, cada vez mais, temos que lutar para garantir um processo eleitoral limpo, sem vantagens indevidas, sem desconfianças”, afirma o deputado.

Brigadas têm ações coordenadas e articuladas para fortalecer pré-candidatura de Lula
Conforme explicação do secretário de comunicação da CUT, Roni Barbosa, no vídeo divulgado pelo Metrópoles, a estratégia das Brigadas Digitais consiste na criação de grupos de WhatsApp por parte de militantes, nos quais são inseridos administradores externos responsáveis pelo disparo das mensagens pró-Lula e contra a pré-candidatura de Jair Bolsonaro.

“Organizar uma brigada digital é nada mais, nada menos que organizar um grupo de WhatsApp. Organizar os principais amigos, seja do trabalho, da igreja, do futebol. Organizar os amigos dentro do grupo. Organiza os mais vermelhinhos dentro de um grupo, e vamos convencer toda a turma aí que esse ano é Lula, precisamos derrotar o Bolsonaro”, disse Barbosa no vídeo.

Em outro momento, o secretário afirma que foram contratadas agências de publicidades e empresa especializada para “ajudar nessa tarefa de mandar as mensagens”. “Preparamos toda essa ‘infra’ para que isso dê certo”, afirma Barbosa.

Faz parte da estratégia as chamadas “ações coordenadas”, isto é, o alinhamento de militantes a partir de mensagens enviadas pelos administradores externos para que um grande número de pessoas poste as mesmas mensagens nas redes sociais em dias determinados a fim de que os assuntos ganhem relevância nas plataformas e, consequentemente, tenham maior visibilidade.

Na mesma reunião, o secretário adjunto de comunicação da CUT, Admirson Medeiros, reafirma o cunho eleitoral das brigadas digitais ao explicar o funcionamento da estratégia: “As próximas eleições vão ser as mais importantes da nossa vida, e perder, pra gente, não é opção”. Ele cita que desde o início da ação, já teriam sido efetuados 52 disparos no WhatsApp, porém ressalta que os números estão desatualizados e devem ser maiores.

No manual criado pela Central Única dos Trabalhadores para nortear a aplicação da estratégia, a entidade cita argumenta que o objetivo das brigadas digitais seria “combater as fake news”. Como objetivo paralelo explicitado no material está “fortalecer a candidatura Lula para as eleições de 2022”.

Em trecho do manual, a entidade cita que as brigadas digitais se tratam de um “Exército digital, composto por militantes digitais” que “atua de forma organizada e articulada”, cuja tarefa é “conquistar corações e mentes para nosso projeto político”.

Para especialistas, eventual punição dependerá da análise individual das postagens pela Justiça Eleitoral
A Lei das Eleições (9.504/97) proíbe que entidades sindicais doem dinheiro, inclusive indiretamente por meio de publicidade, a partidos e candidatos. Em dezembro de 2021, o TSE também proibiu oficialmente propagandas eleitorais “por meio de disparo em massa de mensagens instantâneas sem consentimento da pessoa destinatária ou a partir da contratação expedientes, tecnologias ou serviços não fornecidos pelo provedor de aplicação e em desacordo com seus termos de uso”.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, uma eventual responsabilização da CUT e do ex-presidente petista quanto à estratégia das brigadas digitais está relacionada à interpretação da Justiça Eleitoral sobre o teor das mensagens – isto é, se configuram, de fato, pedido explícito de voto – e à existência de disparo massivo, e não orgânico, das mensagens eletrônicas.

Para Volgane Carvalho, mestre em Direito e secretário-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), apesar de haver restrições à ação de entidades sindicais quanto à propaganda e ao financiamento eleitoral, há alguns anos o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF) mantêm posição mais liberal quanto à atuação de entes de representação classista. Segundo ele, há maior tolerância quanto a manifestações sobre quais candidatos ou qual linha de pensamento político está alinhada aos valores das entidades. Reportagem recente da Gazeta do Povo mostrou que o TSE tende a manter uma postura de maior tolerância em relação a manifestações políticas na pré-campanha.

“Seria como uma entidade sindical apontar quem são os candidatos, partidos ou propostas que estão mais alinhados com os interesses dos filiados, da categoria. Isso não deve se materializar como um pedido explícito de voto”, afirma Carvalho.

Quanto à jurisprudência relacionada às “palavras mágicas”, ele explica que a interpretação atual do TSE é de que não basta apenas o uso de palavras determinadas, mas deve haver uma interpretação mais contextualizada sobre a existência do pedido de voto. Na prática, seria necessária a análise, pela Justiça Eleitoral, do teor de cada uma das postagens feitas pela CUT para concluir sobre a ocorrência ou não das ilegalidades.

Na avaliação de Alberto Rollo, mestre em Direito e especialista em Direito Eleitoral, uma vez que a CUT é uma pessoa jurídica, está impedida de doar para campanhas eleitorais, com a medida se aplicando também às pré-campanhas. “Dependendo dos valores pode ter havido abuso do poder econômico e talvez até abuso relacionado aos meios de comunicação social. Vale lembrar que o ministro Alexandre de Moraes falou, no caso do deputado Francischini, que aquele era o primeiro processo que o TSE julgava entendendo que as redes sociais são equiparadas aos meios de comunicação social”, aponta.

Quanto à aplicação do pedido explícito de voto, Rollo explica que o artigo 36-A da lei eleitoral determina que apenas mediante tal pedido é configurada a propaganda eleitoral antecipada. Para ele, a CUT, em relação às brigadas digitais, busca evitar o pedido explícito, porém fala em ajudar a eleger Lula e em fomentar apoio massivo à candidatura dele. “Então cabe à Justiça Eleitoral olhar o caso concreto, analisando um por um os conteúdos enviados, e decidir se é ou não propaganda eleitoral antecipada”, afirma. “Me preocupa esse discurso de dizer que os disparos são em apoio ao trabalhador. Isso, para mim, é mascarar uma campanha eleitoral antecipada”, prossegue.

Moraes: “Mau uso do WhatsApp não será tolerado nas eleições de 2022”
Em outubro de 2021, o TSE rejeitou, por unanimidade, duas ações do Partido dos Trabalhadores que pediam a cassação dos mandatos do presidente Jair Bolsonaro e do vice, Hamilton Mourão, por suposto abuso de poder e uso de indevido dos meios de comunicação na campanha de 2018. O PT alegava que a chapa de Bolsonaro havia se se beneficiado de disparos em massa de mensagens de WhatsApp contendo ataques ao então candidato do PT, Fernando Haddad.

No julgamento, o TSE fixou tese que permite o enquadramento de aplicativos de mensagem como meios de comunicação social; na prática, o uso indevido dos serviços de mensagens eletrônicas passa a configurar abuso de poder político e econômico. Em seu voto, Alexandre de Moraes – que assumirá a presidência do TSE em agosto –  afirmou que, apesar de o Tribunal ter julgado improcedentes as denúncias, não há dúvidas de que houve mau uso do WhatsApp durante as eleições de 2018 e que isso não será admitido em 2022.

Posicionamento CUT
Após a divulgação dos vídeos em que diretores da Central Única dos Trabalhadores (CUT) explicam os métodos das brigadas digitais, a entidade sindical divulgou em seu site uma nota oficial em que nega que a estratégia esteja relacionada à propaganda político-partidária. A CUT afirma também que “todos os integrantes das brigadas digitais são pessoas físicas que se inscreveram e se cadastraram voluntariamente na ferramenta e deram consentimento para receber tudo que é produzido pelo setor de comunicação da CUT”.

Sobre a contratação de empresas para auxiliar no disparo de mensagens, a entidade sustenta que “a CUT conta com assessoria especializada na gestão de redes sociais e comunidades digitais para ajudar a otimizar o uso dessas ferramentas junto ao nosso público, devidamente adequada às legislações em vigor. Essa assessoria especializada em nada difere das inúmeras empresas do mercado que prestam serviços a empresas, órgãos públicos e personalidades”.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/brigadas-digitais-parlamentares-denunciam-cut-suposta-propaganda-irregular-pro-lula/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

O BRASIL VIROU POTÊNCIA MUNDIAL NO COMBATE A PRAGAS E DOENÇAS DAS LAVOURAS

Bioinsumos

Por
Marcos Tosi – Gazeta do Povo


Fixação biológica de nitrogênio: nódulo em raiz de feijão| Foto: Ana Lúcia Ferreira / Divulgação Embrapa
Ouça este conteúdo

Alguns anos atrás seria uma parceria impensável. Mas em 2021 a multinacional de sementes e defensivos Corteva se associou à empresa gaúcha Simbiose, maior produtora de insumos biológicos no Brasil, para vender nos Estados Unidos pacotes de micro-organismos que ajudam no controle de pragas e doenças.

Este “casamento da roça” entre as indústrias química e biológica surpreende não só pela envergadura das empresas envolvidas, como também por desafiar o senso comum de uma suposta competição mutuamente excludente entre as duas áreas da ciência quando se trata de soluções para a agricultura.

O fato, no entanto, é que os agricultores brasileiros há muitos anos se mantêm antenados, e receptivos, a novas tecnologias que alcançam resultados práticos no campo. Prova disso, desde os anos 1960, foi a adesão maciça à inoculação de bactérias fixadoras de nitrogênio nas lavouras de soja, o que praticamente viabilizou a leguminosa no país. No processo de simbiose, as bactérias bradyrzobium criam nódulos nas raízes da planta que são fundamentais para capturar o nitrogênio e produzir um grão com 40% de proteína. O controle biológico também já é feito há quase 70 anos nas lavouras de cana de açúcar, a partir de insetos que parasitam e matam a broca-da-cana. Antes ainda, na década de 1920, fruticultores usaram vespinhas Encarsia belesei e Aphelinus mali como parasitas da cochonilha-do-pessegueiro e o pulgão-da-macieira.

Dezenas de biodefensivos chegaram ao mercado em poucos anos

A diferença do momento atual é que não se está falando de cinco ou seis novos produtos biológicos, mas de dezenas deles, que dão um novo status a insetos, ácaros, nematoides, vírus, bactérias e fungos, agora colocados na linha de frente da defesa e promoção do crescimento vegetal. Essa nova geração de bioinsumos conseguiu “virar a chave” e deixar de ser vista como produto de nicho ligado ao discurso ambientalista ou à produção orgânica, alcançando eficiência em larga escala. No âmbito do governo, o segmento ganhou impulso em 2020, com o lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos. Somente na Embrapa, mais de 600 pesquisadores trabalham em 73 projetos relacionados ao tema.

Exemplos desses novos tempos não faltam. Um dos bioinsumos mais promissores de 2021 foi desenvolvido em apenas cinco anos por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente que isolaram bactérias presentes na raiz do cacto mandacaru, típico da caatinga, responsáveis pela resistência à falta d’água. O Auras, nome comercial do produto vendido pela empresa Nooa Ciência e Tecnologia, de Minas Gerais, é aplicado em forma líquida às sementes. As bactérias colonizam e hidratam o sistema radicular das plantas com exopolissacarídeos. Essas substâncias ajudam o milho, por exemplo, a se desenvolver mesmo em condições de seca. Simplesmente não existe concorrente similar registrado no Ministério da Agricultura.

Bactérias ajudam a extrair o fósforo indisponível nas rochas
É tecnologia para tempo de guerra. O conflito na Ucrânia, e a crise logística para fornecimento de fertilizantes minerais, fez com que um biofertilizante pesquisado pela Embrapa por duas décadas ganhasse mercado em velocidade exponencial. Um dos grandes problemas dos solos brasileiros, aponta Sólon Cordeiro de Araújo, pioneiro das pesquisas com inoculantes no país, é que apenas 30% do fósforo dos adubos são aproveitados pela planta. O que as bactérias do Biomaphos fazem é solubilizar o fósforo, aproveitando a “poupança” do mineral estocada nos solos brasileiros.

“Esses solubilizadores de fósforo e potássio e os promotores de crescimento é que estão mudando o jogo. Estão fazendo que a planta aproveite mais o que já temos retido no solo. Isso não vai eliminar futuras fertilizações do produto químico, mas existem estudos que projetam que poderemos reduzir em 30% a 40% o uso de fertilizante anual nas culturas”, aponta Araújo. “Se antes o produtor usava 100 toneladas de adubo, esse ano vai usar 50 a 60 com o biológico, o que é mais barato e vai acabar tendo, no final, o mesmo rendimento”, assegura o pesquisador.

Na safra de 2019-20, o Biomaphos – nome comercial do produto solubilizador de fósforo no solo – foi utilizado para desprender o mineral em 300 mil hectares de plantações no país; na safra seguinte, 1,5 milhão de hectares; em 2021-22, bateu na casa dos 3,5 milhões de hectares. No próximo ciclo, a projeção é que a tecnologia alcance 10 milhões de hectares. Vendido de forma líquida, o pacote de bactérias custa cerca de meia saca de soja para aplicação em um hectare. E entrega produtividade, em média, de 5 sacas a mais por hectare.

Para o gerente de pesquisa da empresa Simbiose, Artur Soares, é um caminho sem volta. “Estamos falando de demanda mundial para uma agricultura mais verde, mais limpa. A gente tira da natureza ativos que estão ali e transforma em tecnologia e produto. Hoje uma das maiores empresas do mundo, a Corteva, fala a mesma língua que a gente”. Na última década, a média de crescimento da empresa gaúcha tem sido de 52% ao ano. Uma nova fábrica, a um custo de R$ 280 milhões, está sendo erguida em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba.

Joaninha é predadora voraz de diversas espécies de cochonilhas e pulgões | Alessandra de Carvalho / Divulgação Embrapa

Koppert quadruplicou faturamento no Brasil em dois anos
A concorrência está acirrada. A empresa holandesa de bioinsumos Koppert, que tem unidade em Piracicaba (SP), viu o faturamento crescer 93% ao ano nos últimos dois anos. Ou seja, praticamente quadruplicou de tamanho no período. Nas duas últimas safras, um dos carros-chefes do portifólio biológico foi o fungo Isaria fumosorosea, utilizado para parasitar e matar a cigarrinha do milho em 2,5 milhões de hectares de plantações. O crescimento do mercado, segundo Rodrigo Rodrigues, agrônomo e diretor da Koppert, se dá por conta da “pressão de todos os lados”. “Tem a pressão do mercado consumidor e do mercado comprador. O produtor está no meio e é quem puxa essa demanda. Ele começou a entender que as ferramentas biológicas hoje são tão importantes como as químicas. A eficácia dos produtos gerou confiança nas empresas e isso tem levado o mercado a dar uma rampada nos últimos anos”, relata.

Uma praticidade dos biológicos é que, diferente dos produtos agroquímicos, podem ser utilizados para todas as culturas após o registro. “O registro é feito por alvo de ação. Se for para a lagarta helicoverpa armígena, por exemplo, tanto faz se é aplicado na soja ou no algodão”, aponta a diretora da área de Biológicos da associação agrícola de pesquisas CropLife Brasil , Amália Borsari. Ela acrescenta que hoje, no País, todas as empresas desenvolvedoras de agroquímicos estão trabalhando também com o registro de produtos biológicos. “Estão por vir inúmeras novas tecnologias que vão fornecer uma solução integrada, do químico e do biológico, para os produtores”, emenda.

Químico ou biológico, não existe “bala de prata”

A lição, repetida por pesquisadores e produtores, é que na agricultura não existe uma “bala de prata” ou tecnologia que resolva todos os problemas. A tônica é o manejo integrado, com uso de inimigos naturais de pragas e doenças, boa genética, fertilidade do solo, rotação de culturas e aplicação de defensivos químicos e biológicos.

O mercado de bioinsumos no Brasil é recente, só foi regulamentado em 2006. Ainda movimentam apenas R$ 1,8 bilhão anuais, contra R$ 50 bilhões dos agroquímicos. Mas cresce a uma taxa de 35% ao ano. A projeção da Croplife é que as vendas dos insumos biológicos alcancem R$ 16 bilhões em 2030. O pioneiro da fixação de nitrogênio Sólon Cordeiro de Araújo se diz otimista. “O Brasil é líder mundial no uso de inoculantes e o mais avançado na parte de fixação biológica de nitrogênio. E será também no uso de bactérias para liberar potássio e fósforo. É algo da nossa produção agrícola ambiental que pouco se fala. Uma vantagem que temos e que é pouco explorada em nível de comunicação”.

Celso Moretti, presidente da Embrapa, conclui: “Estamos diante de um crescimento exponencial da demanda. O Brasil pode se tornar uma das maiores potências mundiais de bioinsumos nos próximos anos”. Em 2014, apenas dois novos produtos biológicos tinham sido registrados no País; no ano passado, foram 87. Atualmente, já são 514 registros ativos à disposição do mercado.

Veja, abaixo, alguns dos bioinsumos que estão sendo desenvolvidos pela Embrapa Agrobiologia (www.embrapa.br/agrobiologia), que estão no estágio de “ativos para parceria” com a iniciativa privada.

Bacillus para controle da broca gigante da cana-de-açúcar
Inoculante de rizóbios para leguminosas florestais
Insumo à base de fungo dark septate para promoção do crescimento de tomate ou arroz
Gluconacina – proteína recombinante para controle de bactérias na cana
Bactérias fixadoras de nitrogênio e promotores de crescimento para braquiária
Bactéria fixadora de nitrogênio e promotora de crescimento para o milho
Bactérias fixadoras de nitrogênio e promotores de crescimento para a cana-de-açúcar
Grupo de cinco bactérias diazotróficas para fixar nitrogênio e promover crescimento da cana-de-açúcar
Inoculantes para melhoria da resposta da fixação de nitrogênio em feijão comum
Bactérias inoculantes para braquiária, adaptada a solos ácidos
Seleção de estirpes de Bradyrhizobium para feijão-mungo
Inoculante misto para pastagem consorciada e manejo de carne de baixo carbono
Inoculante para 30 espécies florestais com potencial de uso em áreas degradadas
Desenvolvimento de produto composto de Rhizobium e microorganismos para controle de Fusarium e Sclerotinia

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/como-o-brasil-virou-potencia-global-no-combate-a-pragas-e-doencas-no-agro/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

 

GOVERNO CONTA COM O APOIO DO STF PARA EMPAREDAR O CONGRESSO

  Brasil e Mundo ...