quinta-feira, 3 de março de 2022

O BRASIL IMPORTA 50% DOS FERTILIZANTES PARA A SUA POTÊNCIA AGRÍCOLA

Guerra na Ucrânia
Por
Daniele Siqueira, especial para a Gazeta do Povo

Importação de fertilizantes segue em alta nos portos do Paraná – Paranaguá, 10/12/2021

Desembarque de fertilizantes no porto de Paranaguá (PR): 22% do adubo importado pelo Brasil em 2021 veio da Rússia.| Foto: Rodrigo Felix Leal/SEIL/AENPR

Um dos motivos apontados para a “neutralidade” do presidente Jair Bolsonaro diante da invasão da Ucrânia pela Rússia é a dependência brasileira da importação de fertilizantes. Em 2021, a Rússia foi a principal origem dos adubos importados pelo Brasil, suprindo 22% de nossa demanda externa. Somados aos fertilizantes vindos de Belarus (ex-república soviética alinhada a Moscou e que já sofre uma série de sanções econômicas desde o ano passado por desrespeito aos direitos humanos), a fatia cresce para 28%.

Potência agrícola, maior produtor e exportador mundial de soja, açúcar, café e suco de laranja e dono de posições de destaque na produção e exportação global de milho, algodão e carnes (que se beneficiam dos fertilizantes indiretamente), o Brasil também é gigante na importação de adubo não apenas para corrigir o solo pobre e ácido do Cerrado, onde ocorreu a maior parte da expansão da área de soja nas últimas décadas, mas também para melhorar a produtividade da agricultura das outras regiões do país.

Em 2021 o Brasil importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes, um novo recorde para o país, que se reveza com a Índia no posto de principal importador global. O estado que mais importou foi Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, milho e algodão, com 19% do total importado. Em seguida vieram Rio Grande do Sul (16%) e Paraná (13%), que são grandes produtores de soja, milho e trigo, e São Paulo (11%), maior produtor de açúcar e etanol de cana no país.

Responsável por um terço das importações brasileiras de fertilizantes (os outros dois terços ficam com nitrogênio e fósforo, seus companheiros na sigla NPK), o cloreto de potássio (amplamente utilizado na soja) é o principal fertilizante que compramos da Rússia. O país também é fornecedor importante de ureia e outros nitrogenados, fertilizantes fabricados a partir da exploração de gás natural e usados, por exemplo, na produção de milho e cana-de-açúcar.


Dificuldade para comprar fertilizantes é anterior à guerra
Encontros com empresários russos para assegurar o fornecimento de fertilizantes ao Brasil foram destaque na agenda de Bolsonaro em sua visita à Rússia em meados de fevereiro, poucos dias antes da invasão da Ucrânia. Apesar do recorde de importação em 2021, o Brasil (assim como o resto do mundo) enfrenta dificuldades desde o ano passado para comprar fertilizantes devido à crise energética na Europa e na China, interrupções das cadeias globais causadas pela pandemia de Covid-19, controle das exportações por parte de alguns países produtores e sanções contra Belarus.

Tudo isso, aliado à demanda firme, resultou em uma explosão dos preços internacionais dos fertilizantes em 2021. A alta não afetou significativamente a última safra do Brasil porque grande parte dos produtores compra os insumos muitos meses antes do plantio e isso os ajudou a fugir do pico dos preços. Na safra 2022/23, porém, o impacto deve ser pesado – e não apenas por causa dos preços, mas também devido à dificuldade de acesso aos produtos.


Governo prepara plano para incentivar produção local de fertilizantes
Já no começo de 2021 o governo criou um Grupo de Trabalho Interministerial para elaboração do Plano Nacional de Fertilizantes, cujas primeiras diretrizes devem ser apresentadas em breve. A ideia não é tornar o país autossuficiente em fertilizantes, e sim reduzir a dependência das importações de 85% para 60% da demanda total.

Não será tarefa fácil, já que aumentar a produção doméstica passa necessariamente por estímulos à mineração – algo de que a maioria dos ambientalistas não quer nem ouvir falar. E também não será tarefa rápida, pois calcula-se que essa diminuição da dependência possa levar de 20 a 30 anos.

O plano é mais do que bem-vindo, mas o plantio da safra 2022/23 de soja começa em setembro e medidas imediatas são necessárias. Logo após a invasão da Ucrânia, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que a guerra “preocupa”, mas que o Brasil tem “alternativas” para substituir a Rússia na importação de fertilizantes. Depois da Rússia (22%), os principais fornecedores do Brasil são China (15%), Canadá (10%) e Marrocos (7%).

Irã é parceiro do agronegócio brasileiro mesmo sob sanções
Na mesma semana da viagem de Bolsonaro à Rússia, por sinal, a ministra da Agricultura encabeçou uma comitiva brasileira que visitou o Irã, país que exporta 600 mil toneladas anuais de ureia para o Brasil e que pretende triplicar esse volume. Representantes da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT) também participaram da visita e voltaram de Teerã com negociações abertas para exportar 5 milhões de toneladas de milho para o país do Oriente Médio em troca do recebimento do equivalente em fertilizantes.

“A venda direta dos produtores de fertilizantes do Irã para os produtores brasileiros e vice-versa em relação à exportação será de grande benefício para os dois lados, tendo em vista mais agilidade e melhores negociações”, afirmou em nota o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore.

O Irã está entre os principais importadores do milho brasileiro e também é grande cliente da Ucrânia, cujas exportações tendem a ser prejudicadas pela guerra, abrindo mais espaço para o cereal brasileiro no exterior, especialmente se o conflito se estender até o segundo semestre.

Embora o comércio de alimentos fique de fora das sanções internacionais impostas ao Irã devido ao seu programa nuclear, o país tem dificuldades para importar milho e outros grãos porque a maioria das tradings que dominam o setor tem sede nos EUA.

Também há restrições à movimentação bancária iraniana, o que torna o pagamento das importações mais lento e complicado. Por isso, o país acaba recorrendo a empresas exportadoras de menor porte e a fornecedores que não colocam tantos empecilhos a suas compras, entre eles o Brasil.

Pragmatismo versus valores
A dúvida agora é se esse pragmatismo comercial que permite ao Brasil figurar entre os principais exportadores de alimentos para o Irã, um dos párias da política internacional conduzida por Estados Unidos e União Europeia, vai prevalecer também em relação à Rússia.

De um lado, a exclusão de bancos russos do sistema Swift, por si só, já é um entrave às importações brasileiras de fertilizantes da Rússia, com ou sem a neutralidade de Bolsonaro em relação à invasão da Ucrânia.

De outro, mesmo que o Brasil se coloque ao lado dos defensores da soberania ucraniana, os exportadores russos provavelmente não têm interesse em perder um cliente como o Brasil, que no ano passado pagou US$ 3,5 bilhões pelos fertilizantes russos. Ou seja, ser contra ou a favor da invasão da Ucrânia parece não ajudar, nem prejudicar nosso acesso aos fertilizantes russos neste momento.

O Brasil pode buscar países alternativos para substituir parte dos fertilizantes que não conseguir importar da Rússia, mas pagaria preços mais altos por isso, por uma simples questão de oferta e demanda, e sem conseguir uma substituição completa. O resultado seria uma safra menor em 2022/23, justamente num momento em que as commodities agrícolas atingem preços recordes e em que o Brasil pode aumentar ainda mais o seu protagonismo na produção mundial de alimentos.

A escolha brasileira, portanto, parece ser esta: ficar neutro na tentativa de garantir um suprimento que já está ameaçado não pela falta de vontade dos russos de vender, mas sim pelas sanções que dificultam o comércio internacional; ou juntar-se ao coro que condena a agressão à Ucrânia, defendendo valores que servem de base ao conjunto das democracias ocidentais.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/o-que-esta-em-jogo-na-importacao-de-fertilizantes-russos-pelo-brasil/
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MINISTRO AMIGO DE LULA LIVRA LULA DE ÚLTIMA AÇÃO PENAL

 

Caso dos caças suecos

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

O ministro do STF Ricardo Lewandowski.| Foto: Nelson Jr./STF

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), liberou o petista da última ação que corria contra ele na Justiça. As acusações eram de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa no caso da compra dos caças suecos Gripen.

Na decisão, o ministro citou as conversas entre os procuradores da força-tarefa da Lava Jato obtidas por hackers, ou seja piratas, invasores, ilegais, criminosos, que entraram nos celulares dos promotores e se verificou, depois disso, que eles teriam sido “parciais para condenar Lula”. Ora, todo promotor quer condenar, essa é a função dele. Assim como é função do advogado de defesa buscar a absolvição do réu.

Outra coisa que todo mundo sabe é que prova ilícita não vale. Mas o ministro Lewandowski alega que esse caso foi discutido por 15 anos sob a visão de companhias aéreas, dos concorrentes, das autoridades e principalmente da Força Aérea Brasileira e que não poderia ter havido nenhum tipo de ilegalidade no meio. E que, pela jurisprudência, a prova ilícita pode ser usada em defesa do réu.

Vale lembrar, ainda, que Lewandowski presidiu o julgamento da ex-presidente Dilma, em que foi rasgado o parágrafo único do artigo 52 da Constituição, que diz que o presidente condenado fica inelegível por 8 anos. Dilma não ficou inelegível.

A crise de potássio
Nesta quarta-feira (2), recebi do presidente Jair Bolsonaro (PL) uma mensagem que informa que, devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, o Brasil corre o risco de falta de potássio ou do aumento de preço do produto, fertilizante essencial nas lavouras brasileiras. O texto também afirma que a segurança alimentar, o agronegócio e a nossa economia exigem do Executivo e do Legislativo medidas que permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância.

O potássio triplicou de preço no ano passado e já está em falta, porque os grandes produtores do mundo são Canadá, Rússia e Belarus – e Belarus não consegue exportar por problemas com parceiros dos Estados Unidos. E temos esse mineral em abundância na foz do Rio Madeira, onde está parada, desde 2017, o projeto de exploração da companhia Potássio do Brasil por causa do Ministério Público, de decisão judicial e de um ambientalismo exacerbado.

O presidente me informou que tem um projeto de lei, de 2020, que permite a exploração e produtos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas e que, uma vez isso aprovado, se resolve esse problema.

Hipocrisia das máscaras no Rio
A Prefeitura do Rio de Janeiro disse que vai reunir, na segunda-feira (7), seu comitê científico para decidir se flexibiliza o uso de máscara contra a Covid-19. Isso depois das imagens feitas durante o Carnaval na cidade, inclusive do prefeito Eduardo Paes sambando sem máscara. É incrível. E quem paga por isso, com sérios efeitos, são as crianças, que são obrigadas a usar. Isso é o pior de tudo.


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OCIDENTE ESTÁ COM LIDERANÇAS FRACAS

 

Por
Flavio Quintela – Gazeta do Povo

| Foto: Reprodução Twitter

Quando o ano de 2020 terminou, depois de toda a loucura inicial da pandemia e com as vacinas já em início de aplicação, muita gente achou que 2021 seria um alívio. Não foi, como hoje sabemos. No entanto, ao final de 2021, com a pandemia já em seus últimos suspiros e a vida de volta ao normal, muita gente achou que 2022 seria um alívio. E eis que Putin decide fazer uma guerra e chacoalhar um mundo que mal havia saído do último chacoalhão.

Um breve estudo de geopolítica básica apontará duas razões principais pelas quais Putin decidiu invadir a Ucrânia. A mais óbvia tem a ver com a possibilidade de a Ucrânia se tornar parte da OTAN. Caso isso aconteça, a fronteira leste do tratado estará a menos de 500 quilômetros de Volgogrado, ponto nevrálgico da infraestrutura de transporte de petróleo e gás da Rússia, e não haverá mais uma zona neutra entre os dois lados. Por mais que nossas mentes de pessoas comuns não achem provável que a OTAN inicie um ataque a Rússia, tomando Volgogrado e dominando o acesso do pais ao Mar Cáspio, para o presidente russo essa possibilidade será sempre considerada como real, e por isso a admissão da Ucrânia na OTAN é um ponto inegociável na agenda de Putin.

A segunda razão tem a ver com a Crimeia. Quando Putin tomou a peninsula, em 2014, o objetivo era muito claro: dominar o acesso as reservas energéticas no Mar Negro e impedir que a Ucrânia se tornasse um competidor de peso no fornecimento de gas natural aos países europeus. Lembremos que a venda de gás e petróleo gera quase metade de todo o orçamento do governo federal, incluindo a manutenção e expansão do aparato militar russo. A última coisa que Putin deseja é um novo concorrente bem ali, na loja vizinha. Acontece que a Crimeia é um lugarzinho ruim de se viver. Não há muita água potável por ali. Antes da anexação russa, a população da Crimeia recebia 85% de sua água por meio de um canal construído na era soviética e que conecta a península ao rio Dnieper. Após a anexação, o governo ucraniano bloqueou o canal, cortando o fornecimento de água. E logo no primeiro dia da invasão, 24 de fevereiro, Moscou anunciou que as tropas russas haviam desbloqueado o canal.


Na dúvida, duvide
Obviamente que não sabemos o que se passa na cabeça do presidente que já foi agente da KGB. Pouquíssimas pessoas no planeta sabem até onde ele está disposto a ir. Ele poderia, por exemplo, ocupar a faixa sudeste do país, conectando a Crimeia às regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, garantindo o desbloqueio permanente do aqueduto e consolidando o domínio de mais da metade da costa ucraniana. Ele poderia ir além, avançando até Kiev e depois recuando até a altura da fronteira norte da Moldávia, tomando metade da Ucrânia e cortando por completo seu acesso ao Mar Negro. Ou ele poderia tomar o país inteiro. Em qualquer dos desfechos, no entanto, a Rússia manterá sua posição de principal fornecedor de gás e petróleo dos países europeus, principalmente da Alemanha, maior economia do continente. Essa dependência tem raízes no movimento irracional de banimento da energia nuclear, uma das formas mais limpas de energia que o homem já inventou. Não deixa de ser irônico que o desastre de Chernobyl tenha sido a faísca desse movimento.

Nos Estados Unidos, a situação é ainda mais irracional. Em seu primeiro dia de governo, Joe Biden assinou ordem cancelando a permissão de construção do oleoduto Keystone XL, que conectaria a província canadense de Alberta aos Estados Unidos. A decisão de Biden foi 100% política: o oleoduto havia recebido sua permissão no governo de Donald Trump, que tinha como plano o fim das importações de petróleo da Rússia, e Biden queria começar o mandato desfazendo aquilo que Trump construiu. Um ano depois, os Estados Unidos estão comprando mais de 650 mil barris de petróleo da Rússia por dia. Keystone XL traria mais de 800 mil barris por dia do Canadá.

Há uma razão clara para Putin ter escolhido esse momento para invadir. Não há alguém forte no ocidente para peitá-lo. Pode parecer simplista, mas não é. Biden é um fantoche e sua família tem conexões espúrias com a oligarquia russa. A resposta americana ao conflito deveria ser dada aqui dentro mesmo, com a retomada de Keystone XL e com novas usinas nucleares. E no tocante a Ucrânia, é necessário manter o país como zona neutra se há de se querer qualquer diálogo com o Kremlin. A preocupação militar de Putin é legítima, ainda que sua invasão seja cruel e desumana. Qualquer pessoa com o mínimo de moral tem a obrigação de condenar a ação russa, mas achar que Putin vai parar porque a Apple deixou de vender seus produtos por lá não passa de ingenuidade pueril.

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CENÁRIOS PARA O FIM DA GUERRA NA UCRÂNIA

 

  1. Internacional 

A batalha pode ser o acontecimento mais transformador na Europa desde 1945

Thomas L. Friedman, O Estado de S.Paulo

A batalha pela Ucrânia pode ser o acontecimento mais transformador na Europa desde a 2.ª Guerra e a confrontação mais perigosa para o mundo desde a Crise dos Mísseis em Cuba. Vejo três cenários possíveis para o fim desta história: um “desastre total”, “concessões sujas” e a “salvação”.

O cenário de desastre é o que se desenrola neste momento. A não ser que Vladimir Putin mude de ideia ou seja dissuadido, ele parece disposto a matar quantas pessoas for necessário, obliterar a Ucrânia enquanto Estado e cultura independentes e erradicar sua liderança. Esse cenário poderia ocasionar crimes de guerra numa escala não vista na Europa desde os nazistas – crimes que tornariam Putin, seus comparsas e a Rússia párias globais.

O mundo conectado e globalizado jamais teve de lidar com um líder acusado desse nível de crimes de guerra, cujo país detém um território que perpassa 11 fusos horários, é um dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás natural e possui um arsenal de ogivas nucleares maior do que qualquer outra nação.

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A cada vídeo de TikTok e imagem de celular que exibe a brutalidade de Vladimir Putin, fica cada vez mais difícil para o mundo ignorar o que está acontecendo. Foto: Alexander Ermochenko/REUTERS

A cada dia que Putin se recusa a parar nos aproximamos mais dos portões do inferno. A cada vídeo de TikTok e imagem de celular que exibe sua brutalidade, fica cada vez mais difícil para o mundo ignorar o que está acontecendo. Mas interferir arrisca detonar a primeira guerra na Europa envolvendo armas nucleares. E deixar Putin reduzir Kiev a cinzas – como ele fez com Alepo e Grozny – permitiria a ele criar um Afeganistão europeu, transbordando refugiados e caos.

Putin não tem capacidade de instaurar um fantoche na Ucrânia e deixá-lo por lá. Ele enfrentaria uma insurreição permanente. Então, a Rússia precisa estacionar milhares de soldados na Ucrânia para controlar o país – e os ucranianos vão atirar neles todos os dias. É assustador perceber o pouco que Putin pensou sobre como essa guerra vai acabar.

Gostaria que Putin estivesse motivado apenas pelo desejo de manter a Ucrânia fora da Otan, mas seu apetite cresceu para muito além disso. Ele se aferrou ao pensamento mágico. Como disse Fiona Hill, uma das principais especialistas em Rússia dos EUA, ele crê em algo chamado “Mundo Russo”: acredita que ucranianos e russos sejam “um só povo” e considera sua missão arquitetar “o reagrupamento de todos os russófonos, de todos os lugares, que em algum ponto pertenceram ao império czarista”.

Para concretizar essa visão, Putin acredita que é seu direito e dever desafiar um sistema com base em regras, em que os objetivos não são alcançados pela força. E, se os EUA e seus aliados tentarem impedi-lo, ele sinaliza que está pronto para cometer mais loucuras do que todos nós.

Ou, como Putin alertou, antes de colocar suas forças nucleares em alerta máximo, qualquer um que impeça seu caminho deve estar pronto para enfrentar “consequências jamais vistas”. Adicionando a isso o crescente relato que coloca em dúvida a sanidade de Putin, temos um coquetel assustador.

O segundo cenário é que, de alguma maneira, os militares e o povo da Ucrânia sejam capazes de resistir à blitzkrieg – e as sanções econômicas comecem a afetar a economia de Putin, para que ambos os lados se sintam compelidos a aceitar concessões sujas.

Em troca de um cessar-fogo e da retirada das tropas russas, os enclaves no leste da Ucrânia, atualmente sob controle russo, poderiam ser cedidos formalmente à Rússia, enquanto a Ucrânia se comprometeria a jamais aderir à Otan. Ao mesmo tempo, os EUA e seus aliados concordariam em suspender todas as sanções impostas recentemente.

Esse cenário é improvável, porque requereria que Putin admitisse que foi incapaz de concretizar sua visão de reabsorção da Ucrânia, depois de pagar um enorme preço em sua economia e com as vidas de soldados russos. Além disso, a Ucrânia teria de ceder parte de seu território e aceitar a condição permanente de uma terra de ninguém entre a Rússia e a Europa – apesar de manter nominalmente sua independência. Isso também requereria que todos ignorassem a lição já aprendida de que Putin jamais deixará a Ucrânia em paz.

Finalmente, o cenário menos provável, mas o melhor desfecho: que o povo russo demonstre bravura e comprometimento com a própria liberdade e opere a salvação depondo Putin. Muitos russos devem estar começando a se preocupar com a possibilidade de que, enquanto Putin for seu líder, eles não terão futuro.

Milhares estão tomando as ruas para protestar contra a guerra, arriscando a própria segurança. E, apesar de ser cedo para afirmar, sua reação faz a gente imaginar que a barreira do medo pode estar sendo rompida, e um movimento de massa poderia acabar com o reinado de Putin. Mesmo para os russos que estão quietos, a vida foi subitamente perturbada.

E há ainda a nova “taxa Putin” que cada russo terá de pagar indefinidamente pelo prazer de tê-lo como presidente. Estou falando dos efeitos das sanções. Na segunda-feira, o Banco Central da Rússia teve de fechar o mercado de ações para evitar um derretimento e foi forçado a elevar sua taxa básica de juro de 9,5% para 20%, para estimular as pessoas a manterem seus rublos. Mesmo assim, o valor do rublo caiu 30% em relação ao dólar – 1 rublo vale agora menos de US$ 0,01.

Por todas essas razões, tenho esperança de que neste exato momento alguns comandantes militares e graduados oficiais de inteligência russos próximos a Putin estejam se reunindo a portas fechadas no Kremlin e expressando o que devem estar pensando. Ou Putin perdeu a mão enquanto estrategista durante seu isolamento na pandemia ou está em negação sobre quão erroneamente calculou a força dos ucranianos, dos EUA, de seus aliados e da sociedade civil global como um todo.https://arte.estadao.com.br/uva/?id=21R4lz

Se Putin levar adiante a destruição das maiores cidades da Ucrânia, ele e todos os seus comparsas nunca mais verão os apartamentos que compraram em Londres e Nova York com as riquezas que roubaram. Não haverá mais Davos nem St. Moritz. Em vez disso, eles ficarão trancados em sua grande prisão chamada Rússia – livres para viajar apenas para Síria, Crimeia, Belarus, Coreia do Norte e China, talvez. Seus filhos serão expulsos de internatos, da Suíça a Oxford.

Ou eles colaboram para depor Putin ou todos compartilharão a mesma cela. O mesmo vale para a população. Imagino que este último cenário seja o mais improvável de todos, mas é o que atende melhor à promessa de alcançar o sonho que sonhamos quando o Muro de Berlim caiu, em 1989 – de uma Europa livre, das ilhas britânicas a Vladivostok. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

GUERRA E LIDERANÇAS POLÍTICAS

 

  1. Política 

A guerra na Ucrânia ressalta para os militares a importância da condução política

William Waack, O Estado de S.Paulo

Guerras oferecem excelentes lições sobre liderança política, algo que os militares brasileiros talvez estejam aprendendo com a invasão russa da Ucrânia. Na Eceme (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), que forma os futuros generais, um ponto central estudado no presente conflito é a “guerra informacional”, diz um de seus docentes, o professor Tasso Franchi.

Trata-se de qual lado num conflito manipula melhor as informações ao público. E qual lado no conflito toma as melhores decisões baseado em quais informações, evitando ser levado por desinformação. O mundo da revolução digital acentuou brutalmente a gravidade do problema, mas não alterou a sua natureza.

Como “desinformação” entende-se também subestimar a capacidade de resistência do adversário, ou superestimar a própria força – o noticiário sugere que Vladimir Putin estava desinformado ao iniciar a invasão da Ucrânia. É algo que ainda pode corrigir, embora já esteja pagando um preço altíssimo.

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Guerras oferecem excelentes lições sobre liderança política Foto: Roman Pilipey/EFE/EPA

Muito mais importante é a liderança política, que remete a clássicos como Clausewitz (que por esse motivo continua sendo lido na Eceme e em academias militares pelo mundo). Guerras e a sua condução têm de ser entendidas no contexto político e histórico, sujeito ao acaso. Sim, ao acaso, o que torna consequências às vezes imprevisíveis.

Por razões que ele considera objetivas (mas seus adversários consideram irracionais), Putin se dedicou a assegurar pela força bruta um espaço de vital importância estratégica para ele (e de bem menos importância para seus adversários). Conseguiu até aqui aumentar a própria dependência estratégica da China – que detém a capacidade de controlar o conflito sem ser parte direta dele – e devolveu ao inimigo da aliança militar ocidental um sentido de existência.

Mesmo conseguindo “negar” a Ucrânia ao adversário, território que Putin já inviabilizou como país por muitos anos adiante, a “liderança política” do autocrata em Moscou o deixou em situação mais perigosa e vulnerável do que antes da guerra. Para oficiais-generais estudando decisões políticas, a invasão da Ucrânia é a mais recente lição de que prevalecer no campo de batalha (que se antecipa que os russos consigam) não significa vencer a guerra, nem resolver a questão estratégica.

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Presidente da Rússia Vladimir Putin, em Moscou; para oficiais-generais estudando decisões políticas, a invasão da Ucrânia é a mais recente lição de que prevalecer no campo de batalha (que se antecipa que os russos consigam) não significa vencer a guerra, nem resolver a questão estratégica. Foto: Mikhail Klimentyev/EFE/EPA/Kremlin Pool/Sputnik

Há debate fascinante sobre o tamanho da desinformação (ou visão de mundo equivocada, pois se julgaram “donos da História”) de sucessivos líderes ocidentais ao lidar com o dilema milenar do equilíbrio entre potências, e seu tratamento da Rússia. E do tamanho da desinformação de Putin ao lidar com dados da realidade.

Resta saber o que oficiais-generais brasileiros acham que é “liderança política” quando olham para o Palácio do Planalto.

*JORNALISTA E APRESENTADOR DO JORNAL DA CNN

EMPRESAS, DIVULGUEM O SEU WHATSAPP

 

Equipe WhatsApp no Meu Negócio

Não entendeu o que a gente quis dizer sobre sua empresa ser uma vitrine? Então, preste atenção nestes dados.

98% dos brasileiros utilizam o WhatsApp no seu celular como meio de comunicação. E segundo o site Ecommerce Brasil, 83% dos brasileiros que fazem compras digitais utilizam o WhatsApp.

Para corroborar ainda mais com essa informação, temos outro dado importante: As vendas através do digital cresceram 66% no ano de 2020.

Logo, é importante termos em mente três fatores:

As mudanças que acontecem no mundo impactam nosso negócio diretamente;

As pessoas cada vez mais compram através do digital;

E a grande maioria dos brasileiros utiliza o WhatsApp para consumir.

Agora você deve estar se perguntando: Mas como posso estruturar esse canal de atendimento?

Primeiro precisamos garantir que as pessoas conhecem este canal de comunicação e o utilizam para falar com a sua empresa.

Algumas dicas para você fazer isto acontecer são as seguintes:

Crie um link de fácil acesso ao seu WhatsApp

Divulgue esse link nos perfis de suas redes sociais

Quando seu cliente estiver falando com você, seja por outro chat, telefone, ou mesmo dentro da sua loja, reforce que você atende pelo WhatsApp.

❗DICA EXTRA: Caso só haja espaço para um link, utilize as árvores de link como: LinkTree, Conecta Bio ou Conversation Pages como a que a Huggy disponibiliza. Elas irão te ajudar a organizar os links disponíveis para o seu cliente, como site, loja digital, link do Whatsapp, etc.

Vale lembrar que o WhatsApp Business, além de disponibilizar o link, também disponibiliza um QRCode para as pessoas começarem uma conversa com você a partir da leitura deste código.

Outra forma de fazer a captura dos leads é através da Conversation Page, uma solução gratuita para quem ainda não possui um site. Se quiser saber mais sobre ela, clique aqui abaixo e conheça.

Agora que você já capta seus clientes e já está usando o WhatsApp Business para fazer atendimentos, vamos falar de como utilizar os seus recursos para garantir agilidade no atendimento e ótimas experiência.

Gere uma ótima primeira impressão, disponibilizando as informações sobre o seu negócio e configurando o seu perfil → Identifique a sua empresa através da forma como você se comunica → Apresente seus produtos e soluções de forma profissional no WhatsApp utilizando os catálogos → Tenha agilidade no atendimento com as respostas rápidas para garantir boas primeiras impressões

Vantagens Competitivas da Startup Valeon

pandemia do Covid-19 trouxe consigo muitas mudanças ao mundo dos negócios. Os empresários precisaram lutar e se adaptar para sobreviver a um momento tão delicado como esse. Para muitos, vender em Marketplace como o da Startup Valeon se mostrou uma saída lucrativa para enfrentar a crise.

Com o fechamento do comércio durante as medidas de isolamento social da pandemia, muitos consumidores adotaram novos hábitos para poder continuar efetuando suas compras.

Em vez de andar pelos comércios, durante a crise maior da pandemia, os consumidores passaram a navegar por lojas virtuais como a Plataforma Comercial Valeon. Mesmo aqueles que tinham receio de comprar online, se viram obrigados a enfrentar essa barreira.

Se os consumidores estão na internet, é onde seu negócio também precisa estar para sobreviver à crise e continuar prosperando.

Contudo, para esses novos consumidores digitais ainda não é tão fácil comprar online. Por esse motivo, eles preferem comprar nos chamados Marketplaces de marcas conhecidas como a Valeon com as quais já possuem uma relação de confiança.

Inovação digital é a palavra de ordem para todos os segmentos. Nesse caso, não apenas para aumentar as possibilidades de comercialização, mas também para a segurança de todos — dos varejistas e dos consumidores. Não há dúvida de que esse é o caminho mais seguro no atual momento. Por isso, empresas e lojas, em geral, têm apostado nos marketplaces. Neste caso, um shopping center virtual que reúne as lojas físicas das empresas em uma única plataforma digital — ou seja, em um grande marketplace como o da Startup Valeon.

Vantagens competitivas que o oferece a Startup Valeon para esse Shopping:

1 – Reconhecimento do mercado

O mercado do Vale do Aço reconhece a Startup Valeon como uma empresa de alto valor, capaz de criar impactos perante o mercado como a dor que o nosso projeto/serviços resolve pelo poder de execução do nosso time de técnicos e pelo grande número de audiências de visitantes recebidas.

2 – Plataforma adequada e pronta para divulgar suas empresas

O nosso Marketplace online apresenta características similares ao desse shopping center. Na visão dos clientes consumidores, alguns atributos, como variedade de produtos e serviços, segurança e praticidade, são fatores decisivos na escolha da nossa plataforma para efetuar as compras nas lojas desse shopping center do vale do aço.

3 – Baixo investimento mensal

A nossa estrutura comercial da Startup Valeon comporta um baixo investimento para fazer a divulgação desse shopping e suas empresas com valores bem inferiores ao que é investido nas propagandas e divulgações offline.

4 – Atrativos que oferecemos aos visitantes do site e das abas do shopping

 Conforme mencionado, o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores tem como objetivos:

  • Fazer Publicidade e Propaganda de várias Categorias de Empresas e Serviços;
  • Fornecer Informações detalhadas do Shopping Vale do Aço;
  • Elaboração e formação de coletâneas de informações sobre o Turismo da nossa região;
  • Publicidade e Propaganda das Empresas das 27 cidades do Vale do Aço, destacando: Ipatinga, Cel. Fabriciano, Timóteo, Caratinga e Santana do Paraíso;
  • Ofertas dos Supermercados de Ipatinga;
  • Ofertas de Revendedores de Veículos Usados de Ipatinga;
  • Notícias da região e do mundo;
  • Play LIst Valeon com músicas de primeira qualidade e Emissoras de Rádio do Brasil e da região;
  • Publicidade e Propaganda das Empresas e dos seus produtos em cada cidade da região do Vale do Aço;
  • Fazemos métricas diárias e mensais de cada aba desse shopping vale do aço e destacamos:
  • Média diária de visitantes das abas do shopping: 400 e no pico 800
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quarta-feira, 2 de março de 2022

PUTIN É BILIONÁRIO?

 

Fortuna
Por
Jones Rossi – Gazeta do Povo

O presidente russo, Vladimir Putin (no centro da foto), e o bilionário Arkady Rotenberg (segundo da esquerda para a direita), posam para uma foto durante a visita as obras de construção da ponte da Crimeia sobre o Estreito de Kerch, na Rússia, no dia 14 de março de 2018.| Foto: EFE / Yuri Kochetkov

A se acreditar na versão oficial do governo russo, o presidente Vladimir Putin é um homem de posses modestas, que vive frugalmente, quase um asceta: ganha um salário anual de US$ 140 mil (R$ 722 mil), tem um apartamento de 74 metros quadrados, três carros e um trailer. Extraoficialmente, no entanto, diferentes fontes estimam sua fortuna na casa dos bilhões, dos muitos bilhões de dólares.

O economista sueco Anders Aslund é professor na respeitada Universidade Georgetown, em Washington D.C. Em 2019 escreveu o livro “Russia’s Crony Capitalism: The Path from Market Economy to Kleptocracy” [O Capitalismo Camarada da Rússia: O Caminho da Economia de Mercado para a Cleptocracia], publicado pela editora da Universidade de Yale. No livro, ele explica como o domínio da máquina estatal russa ajudou Putin e seus amigos a enriquecerem absurdamente, usando para isso informações privilegiadas, manipulação de ações nas bolsas, e extorsão pura e simples.

“À medida que a Rússia se tornou mais cleptocrática e autoritária, outra forma de enriquecimento da elite tornou-se mais importante – a saber, a extorsão pelo Kremlin e a aplicação da lei sobre os verdadeiramente ricos”, escreve. “Bill Browder argumenta que, após a condenação de Mikhail Khodorkovsky em 2005, Putin exigiu 50% da riqueza dos outros oligarcas. ‘Ele não estava dizendo 50% para o governo russo ou a administração presidencial, mas 50% para Vladimir Putin pessoalmente. A partir desse momento, Putin se tornou o maior oligarca da Rússia e o homem mais rico do mundo.” Isso é possível, mas não comprovado. O que sabemos de muitas entrevistas é que a extorsão do Kremlin é um procedimento padrão, e é pelo menos na casa das dezenas de milhões de dólares em doações para “caridade” de cada oligarca individual. As visitas ao Kremlin são caras, então a maioria dos oligarcas fica no exterior a maior parte do tempo. Grande parte da riqueza pertencente oficialmente aos oligarcas russos pode ser de propriedade ou pelo menos controlada por Putin.”

A fonte citada no livro de Aslund é o investidor americano Bill Browder, que comandou um fundo de investimentos na Rússia por 14 anos, onde lucrou bastante, até entrar em conflito com o governo Putin. Seu advogado, o russo Sergei Magnitsky, não viveu para contar a história. Foi preso, torturado e morto. Autor do livro “Alerta Vermelho – Como me tornei inimigo número 1 de Putin”, lançado no Brasil pela editora Intrínseca, Browder testemunhou no senado americano em 2017. “”O objetivo do regime de Putin tem sido cometer crimes terríveis para obter dinheiro”, afirmou. No mesmo depoimento ao senado, Browder, disse que a fortuna de Putin pode chegar aos US$ 200 bilhões (valor que se convertido daria a incrível soma de mais de R$ 1 trilhão), transformando Putin no homem mais rico do mundo, à frente de Bill Gates, Jeff Bezos e Elon Musk.

Apoio e traição
 Mikhail Khodorkovsky durante julgamento por evasão de divisas, em Moscou, em 2009. Ele acabaria condenado e posteriormente solto antes das Olimpíadas de Sochi, em 2016. EFE/Sergei Chirikov
Outro personagem citado é Mikhail Khodorkovsky, um ex-magnata do petróleo russo que ajudou Putin a se eleger presidente em 2000 junto com outros oligarcas à época, como Roman Abramovich (dono do clube de futebol Chelsea, da Inglaterra), e Boris Berezovsky (o homem por trás do dinheiro que montou o supertime do Corinthians campeão brasileiro de 2005, que tinha no elenco jogadores como Carlos Tevez e Javier Mascherano).

Khodorkovsky era dono da Yukos, a principal companhia petrolífera russa, ex-estatal, e junto com os outros oligarcas investiu dinheiro na eleição de Putin por temerem o adversário Gennady Zyuganov, que quase havia vencido Boris Yeltsin em 1996, e cuja principal plataforma era reimplantar o comunismo na Rússia — o que incluía reestatizar empresas como a Yukos, obviamente indo contra os interesses dos oligarcas.

Após vencer as eleições de 2000, Putin, no entanto, voltou-se contra seus financiadores. Khodorkovsky foi pra cadeia acusado por sonegação de impostos e assassinato, de onde só saiu em 2014, às vésperas das Olimpíadas de Inverno de Sochi, quando Putin o anistiou por causa da pressão da União Europeia. A prisão de Khodorkovsky, que hoje vive exilado em Londres, ajudou Putin a consolidar seu poder na Rússia. Depois do episódio, nenhum grande empresário russo mais ousaria se opor a ele.

“A vida de um escravo das galés”
Um dos mais ferrenhos adversários de Putin nas últimas décadas foi Boris Nemtsov, que escreveu, junto com Leonid Martynyuk, um relatório com os bens de Vladimir Putin, ao qual deram o título satírico “A vida de um escravo das galés”. De acordo com Nemtsov e Martynyuk, Putin tem à sua disposição 20 mansões, quatro iates de luxo (um deles, o Graceful, ficava ancorado na Alemanha, mas voltou para a Rússia duas semanas antes da invasão da Ucrânia), e uma coleção de relógios que vale US$ 600 mil. O livreto colocou os dois autores na mira de Putin. Nemtsov foi assassinado em plena luz do dia perto do Kremlin, em 2015. Martynyuk vive desde 2014 em Nova York.

Stanislav Belkovsky, ex-consultor do governo do governo russo, afirmou que o acúmulo de uma quantia tão grande de dinheiro e propriedades é uma forma de manter o poder. “Este é o princípio da plutocracia, o poder do dinheiro, que existe na Rússia hoje.” Aslunda complementa em seu livro: “Como os direitos de propriedade não são seguros na Rússia, você precisa de poder político ou fortes conexões políticas para manter a propriedade, o que exige muito dinheiro. Na Rússia de hoje, dinheiro é poder, e poder é dinheiro. Se você perder um, você pode perder muito. Pergunte a Khodorkovsky! Portanto, o grupo de Putin tenta manter ambos.”

De fato, Putin, após se livrar dos oligarcas que desejavam uma Rússia mais liberal e democrática, como Khodorkovsky, escolheu pessoas de confiança para tomarem o lugar da velha oligarquia. De acordo com Belkovsky, Putin amealhou US$ 40 bilhões nos primeiros oito anos de poder, principalmente por meio de seus camaradas, como Arkady Rotenberg, que ganhou contratos de mais de US$ 7 bilhões nas Olimpíadas de Sochi. Os irmãos de Arkady, Boris e Igor, também são bilionários. Rotenberg é dono de um resort em Sochi que vale, de acordo com estimativas, US$ 1,5 bilhão. Alexey Navalny, opositor de Putin que foi envenenado em 2020 e agora está preso, publicou um vídeo sobre a mansão no ano passado, que viralizou nas redes sociais russas, a chamando de “Palácio de Putin”.

“Presente” de milhões de dólares
Um dos maiores exemplos de que o Kremlin mente sobre o patrimônio de Putin foi revelado no escândalo dos Panama Papers. Foi identificado um “presente” do empresário Suleiman Kerimov para Putin no valor de US$ 259 milhões de dólares. Não se sabe se Kerimov foi extorquido por Putin ou faz negócios com ele. De qualquer forma, Aslund estima em seu livro que se as saídas totais de capital da Rússia para o exterior (bancos estrangeiros, offshores e paraísos fiscais) desde 1991 totalizaram US$ 780 bilhões, o próprio Putin teria se apropriado mais de um quarto.

Por causa das sanções levantadas pelas potências ocidentais na semana passada, muito do patrimônio que Putin mantém fora da Rússia deve ficar congelado. Mas aparentemente ele ainda tem muita lenha – e dólares – para queimar.


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