segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

PUTIN É UM ESTRATEGISTA CALCULISTA E FRIO

 

Conflito na Rússia

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

| Foto: EFE/EPA/SERGEY GUNEEV/KREMLIN POOL/SPUTNIK

Bolsonaro está fazendo, obviamente, porque é adulto, o contrário do que sugerem seus adversários. Ou melhor, do que exigem seus adversários, que querem, claro, que ele cometa erros. Bolsonaro está conseguindo administrar bem uma neutralidade, sem deixar de registrar também a amizade entre ele e Putin.

Eu lembro que quando eu cobria a guerra no Atlântico Sul, a Guerra das Malvinas, eu vi que o Brasil estava ajudando a Foça Aérea argentina com munição, com especialistas e equipamento. Quando eu voltei para descansar em Brasília por dois ou três dias, eu fui procurar o presidente Figueiredo. Eu disse a ele: “O senhor está apoiando o agressor?”. E ele me disse: “Estou”.  E eu insisti: “Mas o Galtiere – o presidente argentino na época – é um bêbado, a Argentina é que a agressora!”. Aí o Figueiredo me respondeu: “É, mas eu sou amigo dele e a Argentina, olha aqui no mapa, é nossa vizinha, sempre vai ser nossa vizinha. A Inglaterra está a 10 mil quilômetros de distância, mas a Argentina é nossa vizinha e vai nos dever favores”.

E ele tinha toda razão. O chefe de Estado deve pensar no país, o interesse do país está em primeiro lugar. Várias nações da OTAN dizem que a Amazônia tem que ser do planeta, que ela não é do Brasil. Mas Putin disse “não, a Amazônia é do Brasil, sim”. Essas coisas têm de ser consideradas. Bolsonaro e Putin, quando se reuniram, falaram de multipluralidade, ou seja, que não querem um mundo entre os Estados Unidos e a China. Queremos ter a  nossa posição de brasileiros.

Mas, além disso, Bolsonaro resgatou os brasileiros da Ucrânia, essa primeira obrigação do governo brasileiro. Tirou da zona de guerra, está levando para a vizinha Romênia, e, de lá, eles embarcam para o Brasil. Tal como foi rápida e eficaz aquela operação quando explodiu o coronavírus lá na China. Resgatamos todo mundo que estava pelo caminho, e vieram para a quarentena na Base Aérea de Anápolis.

Há outra lição disso tudo. Como se sabe, o presidente da Ucrânia era um comediante. Aqui no Brasil nós tivemos um animador de auditório candidato à Presidência da República, que acabou desistindo. Temos de pensar que voto não é uma brincadeira, é uma coisa séria. Hoje vemos tantos líderes infantis ou infantilizados, como esse Trudeau, do Canadá; o Macron da França. Saudades da Merkel, da senhora Thatcher, que tinham presença tal como a do Putin.

O ocidente se enfraquece com as bobagens que estão por aí, e os líderes fortes vão tomar conta do mundo. Fizeram ações de apoio à Ucrânia, coloriram monumentos de Berlin e de Paris, cantaram Imagine em frente da embaixada russa em Bucareste. Teve apoio à Ucrânia dos Simpsons, do Sean Penn. A Anitta dizendo que o Putin é burro… Meu Deus! É a mesma coisa que dizer que tem girafa na Amazônia. Putin é um jogador de xadrez, um estrategista, inteligente, frio, culto, planejador.

Sanções

Todas essas sanções econômicas que estão fazendo contra a Rússia não vão dar em nada. A Rússia está com 680 bilhões em reserva, tem dívida de só 21% do PI – a nossa é de 88% do PIB. Se tirar o Swift, da Rússia, a capacidade de transacionar entre os bancos, quem vai perder são bancos. A Rússia é o segundo em maior movimento financeiro e se ficar de fora do Swift, vai fazer as transações com a China. Mais da metade da Rússia é na Ásia; a Rússia vai do Báltico até o Pacífico.

Essas coisas precisam ser pensadas com maturidade. E a gente não deve brincar com voto como os ucranianos brincaram – é só olhar o que aconteceu. É bom lembrar que a Ucrânia assinou um pacto, em 2014 se não me engano, de desarmamento para que ela se mantivesse neutra. Agora, se ela chamar a OTAN, a OTAN vai enviar armas.

A OTAN é um pacto militar comandado pelos Estados Unidos. Tem base dentro de Portugal, nas Ilhas de Açores. Sobre esse equilíbrio de forças no mundo, não é cantando que ele acontece, são os arsenais que continuam pesando no equilíbrio de forças do mundo. E também a força econômica.

Vejam, por exemplo, a Alemanha, que parou com as usinas nucleares e agora está dependendo do gás da Rússia. A França também está retomando as usinas nucleares, construindo 12 novas usinas. Não adiante ficar cantando; É preciso pensar de forma madura e ter líderes maduros. Eleger líderes com maturidade.


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GUERRA DE INDIVÍDUOS ARMADOS COM SMARTFHONES

 

  1. Internacional 

Mundo nunca mais será o mesmo porque esta guerra não tem paralelo histórico

Thomas L. Friedman*, The New York Times, O Estado de S.Paulo

As sete palavras mais perigosas do jornalismo são: “O mundo nunca mais será o mesmo”. Em mais de quatro décadas de reportagem, raramente ousei usar essa frase. Mas vou usar agora após a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin.

Nosso mundo não será o mesmo novamente porque esta guerra não tem paralelo histórico. É uma apropriação de terras ao estilo do século 18 por uma superpotência – mas em um mundo globalizado do século 21. Esta é a primeira guerra que será coberta no TikTok por indivíduos superpoderosos armados apenas com smartphones, então atos de brutalidade serão documentados e transmitidos em todo o mundo sem editores ou filtros. No primeiro dia da guerra, vimos unidades de tanques russos sendo inesperadamente expostas pelos mapas do Google, porque o Google queria alertar os motoristas de que os blindados russos estavam causando engarrafamentos.

Você nunca viu isso antes.

Sim, a tentativa russa de tomar a Ucrânia é um retrocesso aos séculos anteriores – antes das revoluções democráticas na América e na França – quando um monarca europeu ou um czar russo podia simplesmente decidir que queria mais território, que era hora de tomá-lo e assim o fazia. E todos na região sabiam que ele iria devorar o máximo que pudesse e não havia comunidade global para detê-lo.

Ao agir dessa maneira hoje, porém, Putin não está apenas pretendendo reescrever unilateralmente as regras do sistema internacional que estão em vigor desde a 2ª Guerra – que nenhuma nação pode simplesmente engolfar a nação ao lado – ele também está disposto a alterar o equilíbrio de poder que ele sente ter sido imposto à Rússia após a Guerra Fria.

Esse equilíbrio – ou desequilíbrio na visão de Putin – era o equivalente humilhante das imposições do Tratado de Versalhes à Alemanha após a 1ª Guerra, que retirou da esfera de influência da União Soviética não apenas Estados como a Polônia, mas também aqueles que faziam parte da própria União Soviética, como a Ucrânia.

Vejo muitas pessoas citando o belo livro de Robert Kagan “The Jungle Grows Back” como uma espécie de abreviação para o retorno desse estilo brutal de geopolítica que a invasão de Putin manifesta. Mas essa imagem está incompleta. Porque não estamos em 1945 ou 1989. Podemos estar de volta à selva – mas hoje a selva está conectada. E mais intimamente do que nunca pelas telecomunicações; satélites; comércio; Internet; redes rodoviárias, ferroviárias e aéreas; mercados financeiros; e cadeias de suprimentos. Assim, enquanto o drama da guerra se desenrola dentro das fronteiras da Ucrânia, os riscos e as repercussões da invasão de Putin estão sendo sentidos em todo o mundo – mesmo na China, que tem bons motivos para se preocupar com seu amigo no Kremlin.

Bem-vindo à  World War Wired (Guerra Mundial Conectada) — a primeira guerra em um mundo totalmente interconectado. Este será o encontro dos cossacos na World Wide Web. Como eu disse, você nunca esteve aqui antes.

“Faz menos de 24 horas desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, mas já temos mais informações sobre o que está acontecendo lá do que teríamos em uma semana durante a guerra do Iraque”, escreveu Daniel Johnson, que serviu como oficial de infantaria e jornalista do Exército dos EUA no Iraque, na revista Slate, na quinta-feira. “O que está saindo sobre a Ucrânia é simplesmente impossível de produzir em tal escala sem que cidadãos e soldados de todo o país tenham acesso fácil a celulares, internet e, por extensão, aplicativos de mídia social. Uma guerra moderna em larga escala será transmitida ao vivo, minuto a minuto, batalha por batalha, morte por morte, para o mundo. O que está ocorrendo já é horrível, com base nas informações divulgadas apenas no primeiro dia.”

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Esta é a primeira guerra que será coberta no TikTok por indivíduos superpoderosos armados apenas com smartphones Foto: Philip Fong/AFP

O resultado desta guerra dependerá em grande parte da vontade do resto do mundo de deter e reverter a blitzkrieg de Putin usando principalmente sanções econômicas e armando os ucranianos com armamento antiaéreo e antitanque para tentar retardar seu avanço. Putin também pode ser forçado a considerar o número de mortos de seus próprios camaradas.

Putin será derrubado pelo exagero imperial? É muito cedo para dizer. Mas me lembro hoje em dia do que um outro líder deformado que decidiu devorar seus vizinhos na Europa observou. Seu nome era Adolf Hitler, e ele disse: “O começo de toda guerra é como abrir a porta de um quarto escuro. Nunca se sabe o que está escondido na escuridão.”

No caso de Putin, me pego perguntando: ele sabe o que está escondido à vista de todos e não apenas no escuro? Ele conhece não apenas os pontos fortes da Rússia no novo mundo de hoje, mas também suas fraquezas? Deixe-me enumerá-las.

A Rússia está no processo de assumir à força um país livre com uma população de 44 milhões de pessoas, que é um pouco menos de um terço do tamanho da população da Rússia. E a maioria desses ucranianos luta para fazer parte do Ocidente democrático e de livre mercado há 30 anos, e já forjou inúmeros laços comerciais, culturais e de internet com empresas, instituições e mídia da União Europeia.

Sabemos que Putin melhorou muito as Forças Armadas da Rússia, adicionando tudo, desde capacidades de mísseis hipersônicos a ferramentas avançadas de guerra cibernética. Ele tem o poder de fogo para colocar a Ucrânia de joelhos. Mas nesta era moderna nunca vimos um país não livre, a Rússia, tentar reescrever as regras do sistema internacional e assumir um país livre tão grande quanto a Ucrânia – especialmente quando o país não livre, a Rússia, tem uma economia que é menor que a do Texas.

Então pense nisso: graças à rápida globalização, a UE já é o maior parceiro comercial da Ucrânia – não a Rússia. Em 2012, a Rússia foi o destino de 25,7% das exportações ucranianas, em comparação com 24,9% destinados à UE. Apenas seis anos depois, após a brutal tomada da Crimeia pela Rússia, o apoio aos rebeldes separatistas no Leste da Ucrânia e o estabelecimento de laços mais estreitos com a UE, econômica e politicamente, “a participação da Rússia nas exportações ucranianas caiu para apenas 7,7%, enquanto a participação da UE subiu para 42,6%”, segundo uma análise recente publicada pelo Bruegel.org.

Se Putin não desembaraçar esses laços, a Ucrânia continuará caindo nos braços do Ocidente – e se ele os desembaraçar, estrangulará a economia da Ucrânia. E se a UE boicotar uma Ucrânia controlada pela Rússia, Putin terá que usar o dinheiro da Rússia para manter a economia da Ucrânia à tona.

Isso foi levado em conta em seus planos de guerra? Não parece. Ou como um diplomata russo aposentado em Moscou me disso em um e-mail: “Diga-me como essa guerra termina? Infelizmente, não há ninguém em nenhum lugar para perguntar.”

Mas todos na Rússia poderão assistir. À medida que essa guerra se desenrola no TikTok, Facebook, YouTube e Twitter, Putin não pode proteger sua população russa – muito menos o resto do mundo – das imagens horríveis que sairão dessa guerra ao entrar em sua fase urbana. Apenas no primeiro dia da guerra, mais de 1.300 manifestantes em toda a Rússia, muitos deles gritando “Não à guerra”, foram detidos, informou o Times, citando um grupo de direitos humanos. Esse número não é pequeno em um país onde Putin tolera pouca dissidência.

E quem sabe como essas imagens afetarão a Polônia, principalmente quando ela for invadida por refugiados ucranianos. Menciono particularmente a Polônia porque é a principal ponte terrestre da Rússia para a Alemanha e o resto da Europa Ocidental. Como o estrategista Edward Luttwak apontou no Twitter, se a Polônia apenas parasse o tráfego de caminhões e trens da Rússia para a Alemanha, “como deveria”, isso criaria um caos imediato para a economia da Rússia, porque as rotas alternativas são complicadas e precisam passar por uma agora muito perigosa Ucrânia.

Alguém está disposto a uma greve de caminhoneiros anti-Putin para impedir que mercadorias russas entrem e passem pela Europa Ocidental por meio da Polônia? Observe isso. Alguns cidadãos poloneses superpoderosos com algumas barreiras, picapes e smartphones podem sufocar toda a economia da Rússia neste mundo conectado.

Esta guerra sem paralelo histórico não será um teste de estresse apenas para os EUA e seus aliados europeus. Também será para a China. Putin basicamente jogou a luva para Pequim: “Você vai ficar com aqueles que querem derrubar a ordem liderada pelos americanos ou se juntar ao destacamento do xerife dos EUA?”

Essa não deveria ser – mas é – uma pergunta dolorosa para Pequim. “Os interesses da China e da Rússia hoje não são idênticos”, Nader Mousavizadeh, fundador e CEO da consultoria global Macro Advisory Partners, me disse. “A China quer competir com os Estados Unidos no Super Bowl da economia, inovação e tecnologia – e acha que pode vencer. Putin está pronto para incendiar o estádio e matar todos nele para satisfazer suas queixas”.

O dilema para os chineses, acrescentou Mousavizadeh, “é que sua preferência pelo tipo de ordem, estabilidade e globalização que permitiu seu milagre econômico está em forte tensão com seu autoritarismo ressurgente em casa e sua ambição de suplantar os EUA – seja pela força da China ou a fraqueza americana – como a superpotência dominante do mundo e definidora de regras.”

Tenho poucas dúvidas de que, em seu coração, o presidente da China, Xi Jinping, espera que Putin consiga sequestrar a Ucrânia e humilhar os EUA – tanto melhor para suavizar o mundo por seu desejo de tomar Taiwan e fundi-lo de volta à pátria chinesa .

Mas Xi não é bobo nem nada. Aqui estão alguns outros fatos interessantes do mundo conectado: primeiro, a economia da China é mais dependente da Ucrânia do que a da Rússia. Segundo a Reuters, “a China ultrapassou a Rússia para se tornar o maior parceiro comercial da Ucrânia em 2019, com o comércio totalizando US$ 18,98 bilhões no ano passado, um salto de quase 80% em relação a 2013. A China se tornou o maior importador de cevada ucraniana na comercialização de 2020-21 ano”, e cerca de 30% de todas as importações de milho da China no ano passado vieram de fazendas na Ucrânia.

Em segundo lugar, a China ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial da União Europeia em 2020, e Pequim não pode pagar pela UE estar envolvida em um conflito com uma Rússia cada vez mais agressiva e um Putin instável. A estabilidade da China depende – e a legitimidade do Partido Comunista no poder depende – da capacidade de Xi de sustentar e aumentar sua mastodôntica classe média. E isso depende de uma economia mundial estável e crescente.

Não espero que a China imponha sanções à Rússia, muito menos arme os ucranianos, como os EUA e a UE. Tudo o que Pequim fez até agora foi murmurar que a invasão de Putin “não era o que esperávamos ver” – enquanto rapidamente insinuava que Washington era o “culpado” por “atiçar chamas” com a expansão da Otan e seus recentes alertas de um iminente ataque russo.

Portanto, a China está obviamente dividida, mas das três principais superpotências com armas nucleares – EUA, China e Rússia – a China, pelo que diz ou não diz, tem um peso muito grande na decisão se Putin se safa ou não de sua fúria contra a Ucrânia.

Liderar é escolher, e se a China tem qualquer pretensão de suplantar os EUA como líder mundial, terá que fazer mais do que murmurar.

Finalmente, há algo mais que Putin encontrará escondido à vista de todos. No mundo interconectado de hoje, a “esfera de influência” de um líder não é mais um direito da história e da geografia, mas é algo que deve ser conquistado e reconquistado todos os dias, inspirando e não obrigando outros a segui-lo.

A musicista e atriz Selena Gomez tem o dobro de seguidores no Instagram – mais de 298 milhões – do que a Rússia tem cidadãos. Sim, Vladimir, posso ouvir você rindo daqui e ecoando a piada de Stalin sobre o papa: “Quantas divisões tem Selena Gomez?”

Ela não tem nenhuma. Mas ela é uma influenciadora com seguidores, e existem milhares e milhares de Selenas por aí na World Wide Web, incluindo celebridades russas que estão postando no Instagram sobre sua oposição à guerra. E embora eles não possam reverter seus tanques, eles podem fazer com que todos os líderes do Ocidente enrolem o tapete vermelho para você, para que você e seus comparsas nunca possam viajar para seus países. Você agora é oficialmente um pária global. Espero que goste de comida chinesa e norte-coreana.

Por todas essas razões, neste estágio inicial, vou arriscar apenas uma previsão sobre Putin: Vladimir, o primeiro dia desta guerra foi o melhor dia do resto de sua vida. Não tenho dúvidas de que, no curto prazo, suas Forças Armadas prevalecerão. Mas, a longo prazo, os líderes que tentam enterrar o futuro com o passado não se saem bem. A longo prazo, seu nome viverá na infâmia.

Eu sei, eu sei, Vladimir, você não se importa – não mais do que você se importa por ter começado essa guerra no meio de uma pandemia furiosa. E eu tenho que admitir que isso é o que é mais assustador nesta World War Wired. O longo prazo pode estar muito longe e o resto de nós não está isolado de sua loucura. Ou seja, eu gostaria de poder prever alegremente que a Ucrânia será o Waterloo de Putin – e somente dele. Mas não posso, porque em nosso mundo conectado, o que acontece em Waterloo não fica em Waterloo.

De fato, se você me perguntar qual é o aspecto mais perigoso do mundo de hoje, eu diria que é o fato de Putin ter mais poder descontrolado do que qualquer outro líder russo desde Stalin. E Xi tem mais poder descontrolado do que qualquer outro líder chinês desde Mao. Mas na época de Stalin, seus excessos eram em grande parte confinados à Rússia e às fronteiras que ele controlava. E na época de Mao, a China estava tão isolada que seus excessos tocavam apenas o povo chinês.

Não mais – o mundo de hoje está baseado em dois extremos simultâneos: nunca os líderes de duas das três nações nucleares mais poderosas – Putin e Xi – tiveram poder tão descontrolado e nunca mais pessoas de um extremo ao outro do mundo estiveram tão conectadas. Assim, o que esses dois líderes decidirem fazer com seu poder descontrolado afetará praticamente todos nós, direta ou indiretamente.

A invasão da Ucrânia por Putin é o nosso aperitivo real de quão louco e instável esse tipo de mundo conectado pode ficar. Não será o nosso último.

RUSSIA USOU INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA CONTRA A UCRÂNIA

 

  1. Internacional 

Em pouco menos de um dia, a aviação de Moscou neutralizou de 14 a 17 instalações de defesa em vários pontos do território ucraniano

Roberto Godoy, O Estado de S.Paulo

Os aparelhos se calam primeiro. Televisores ficam sem imagem, os rádios, sem som. Os celulares silenciam. E os computadores param. Às vezes, logo depois, é possível ouvir o ronco grave das turbinas dos aviões. Mas, na maioria das ocasiões, nem isso. O apagão dura pouco. 

O momento seguinte é o da chegada dos mísseis que vêm para cegar os olhos eletrônicos da defesa antiaérea: estações de radar, pontos de sensores digitais a laser, detectores de sinais infravermelhos. 

Ataque em Dnipro, na Ucrânia
Os aparelhos se calam primeiro. Depois, os mísseis vêm para cegar os olhos eletrônicos da defesa antiaérea. Foto: Reuters – 24/2/2022

Foi assim na noite fria de quarta-feira na Ucrânia sob o ataque das formidáveis forças da Rússia. Em pouco menos de um dia de operações, a aviação de Moscou neutralizou de 14 a 17 instalações em vários pontos do território ucraniano. 

Bombardeios

Cada estação de radar emite um sinal próprio, tem uma assinatura eletrônica única. A bordo do míssil destinado a atingi-la há uma central digital programada para procurar essa identidade – que, naturalmente, estará protegida por recursos tecnológicos. Também estará guarnecida no terreno por mísseis e canhões antiaéreos.

Os caças usados nas missões terão sido provavelmente modelos supersônicos Sukhoi-24 e Sukhoi-27, configurados para atingir alvos no solo com mísseis especializados, antirradar. O arsenal russo tem vários modelos, com alcances entre 30 km e 130 km, levando cargas explosivas de 39 kg a 96 kg, conduzidos por um núcleo de busca “inteligente” de tecnologia secreta. De quebra, os jatos são armados com bombas guiadas. A intenção é atingir toda a instalação. 

Na Ucrânia, a rede de radares era relativamente moderna. Foi comprada nos anos 2000, com unidades fixas e móveis, sobre carretas e contêineres. Modernizada e expandida entre 2011 e 2017, deveria ter passado por um novo ciclo de atualização a partir de 2019. Isso não foi feito.

A empresa estatal local envolvida, Artem, de Kharkiv, não conseguiu um acordo com o fornecedor original do sistema – a Rússia. Encontrar os radares é sensores com certeza é uma tarefa mais fácil quando se tem acesso a informações sensíveis. Para o adido aeronáutico da embaixada no Brasil de um dos países da Europa, “atacar com informações privilegiadas de construtor fez da neutralização das defesas aéreas ucranianas uma tarefa com a dificuldade de pescar em um barril”.

DEVEMOS ELIMINAR OU ACUMULAR COISAS?

 

UOL EdTech

Se tem uma coisa que as metodologias ágeis propõem extensamente é a síntese. Produtos e projetos começam com a sua mínima entrega possível (MVP) e são aperfeiçoados a partir daí. Muitas vezes, porém, aperfeiçoar, é tirar aquilo que está sobrando ao invés de adicionar algo que não vai fazer tanta diferença.

Acontece que as pessoas, via de regra, têm mais medo de eliminar coisas do que de adicionar coisas. E, além de gerar sobrecarga, adicionar é lugar comum.

E é sobre isso que vamos falar hoje.

Otimizar é a palavra de ordem. Mas é bastante comum que, no processo de otimização de tarefas, projetos e produtos, os envolvidos acabem acrescentando coisas: novas etapas, funcionalidades e até novos stakeholders passam a ser envolvidos. O resultado disso é contrário ao objetivo inicial – ao invés de otimizar as coisas, elas acabam se tornando mais lentas e mais burocráticas.

O caminho mais curto e com menos obstáculos deveria ser a escolha de todos os profissionais e empresas na hora de desenvolver seus negócios. Mas se isso não está acontecendo, talvez seja hora de parar e avaliar os seguintes pontos:

Será que você não está tentando reinventar a roda?

Um estudo da Harvard Business Review levanta os principais motivos pelos quais as pessoas preferem acrescentar tarefas, funcionalidades ou etapas na hora de contribuir para um projeto ou produto: viés, distração e visibilidade.

O viés é a percepção de que adicionar gera mais valor que eliminar coisas. A distração faz com que você busque sempre o que é mais fácil – e sintetizar coisas nem sempre é simples. E a visibilidade é uma consequência: acrescentar pontos a um produto, projeto ou situação cria uma memória, enquanto que excluir esses mesmos itens elimina a fonte de comparação e, portanto, a lembrança de quem foi responsável pelo quê.

Na próxima vez que estiver numa situação de colaboração, se pergunte “estou acrescentando alguma coisa aqui porque faz sentido ou só porque eu acho que preciso acrescentar para gerar valor?”. Se for a segunda opção, você está reinventando a roda.

Com certeza alguém já fez algo semelhante

Sabe quando alguém fala que quer ser a Netflix da indústria X, ou o Uber da indústria Y? Esses são exemplos de coisas que alguém já fez e que podem auxiliar muito no processo de simplificar as coisas.

Além disso, fazer um benchmark com empresas e soluções que não fazem parte da sua base de concorrentes abre espaço para que o raciocínio seja simplificado.

É mais fácil para um interlocutor entender a sua ideia tendo uma referência do que você quer dizer do que quando você explica em muitos detalhes o que está na sua mente.

Menos esforço, mais criação

Uma das vantagens da acelerada transformação digital é a possibilidade de automatizar e prever coisas sem um grande investimento de energia humana nisso.

Automatizar processos e tarefas, além de facilitar o dia a dia de trabalho e abrir espaço de agenda para o verdadeiro trabalho criativo, também auxilia na tomada de decisão e nas mudanças de rota e de investimentos ao longo do caminho.

Quanto menos esforço empregado no processo, mais simples é sintetizar a entrega final.

Em resumo: quanto mais você exercita seu poder de síntese, menos tempo você perde em tarefas e discussões que não vão agregar valor nenhum.

Vendas pela internet com o site Valeon

Você empresário que já escolheu e ou vai escolher anunciar os seus produtos e promoções na Startup ValeOn através do nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace aqui da região do Vale do Aço em Minas Gerais, estará reconhecendo e constatando que se trata do melhor veículo de propaganda e divulgação desenvolvido com o propósito de solucionar e otimizar o problema de divulgação das empresas daqui da região de maneira inovadora e disruptiva através da criatividade e estudos constantes aliados a métodos de trabalho diferenciados dos nossos serviços e conseguimos desenvolver soluções estratégicas conectadas à constante evolução do mercado.

Ao entrar no nosso site você empresário e consumidor terá a oportunidade de verificar que se trata de um projeto de site diferenciado dos demais, pois, “tem tudo no mesmo lugar” e você poderá compartilhar além dos conteúdos das empresas, encontrará também: notícias, músicas e uma compilação excelente das diversas atrações do turismo da região.

Insistimos que os internautas acessem ao nosso site (https://valedoacoonline.com.br/) para que as mensagens nele vinculadas alcancem um maior número de visitantes para compartilharem algum conteúdo que achar conveniente e interessante para os seus familiares e amigos.

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nas lojas passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nas lojas a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para as empresas.

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domingo, 27 de fevereiro de 2022

CIDADÃOS UCRANIANOS VÃO RESISTIR

 

Guerra no leste europeu

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Pessoas se reúnem em abrigo antiaéreo: nasce, ainda sem um nome específico, a resistência ucraniana| Foto: Acervo pessoal

A publicitária Maryna (ela prefere que seu sobrenome não seja divulgado, por questões de segurança) ouviu a explosão do primeiro míssil russo sobre a capital ucraniana, Kiev, às 5h30 da manhã da última quarta-feira. Aquela foi a última noite em que dormiu em casa, pois agora passa a maior parte de seu tempo em um abrigo antiaéreo ou ajudando a comunidade a se organizar para tentar resistir à invasão russa.

Por WhatsApp, ela contou a este colunista como foi o primeiro impacto do conflito: “Naquela hora, a informação sobre diversas explosões já estava na internet, mas ninguém ainda estava entendendo o que aquilo significava”.

O significado agora está claro para todo o planeta: a Europa testemunha a maior guerra aberta entre Estados (Rússia e Ucrânia) desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

“Os ucranianos ficaram muito unidos com essa situação: nós informamos uns aos outros sobre notícias de fontes oficiais, damos apoio a quem precisa, levantamos dinheiro, doamos sangue e participamos da defesa territorial”, disse ela.

Os primeiros dias da guerra foram marcados por uma corrida a supermercados, postos de gasolina e caixas eletrônicos. O trânsito ficou caótico, pois milhares de pessoas tentaram deixar Kiev de carro.

Ao menos 100 mil pessoas já deixaram o país, segundo a ONU. Enquanto isso, dezenas de milhares se dirigem às fronteiras.

Mas um grande número de cidadãos permanece em Kiev, e eles estão dispostos a defender sua capital. Segundo Maryna, as pessoas estão se organizando para lutar – seja com um fuzil na mão, fazendo trabalhos logísticos e de apoio à população ou em atividades de propaganda.

Nasce, ainda sem um nome específico, a resistência ucraniana.

Guerra convencional x guerra irregular
Até agora, o conflito na Ucrânia é uma “guerra convencional”, onde forças armadas profissionais se enfrentam usando blindados, mísseis e aviões.

Em tese, o objetivo da Ucrânia é conter a invasão russa e, no futuro, lançar um contra-ataque convencional para empurrar os russos para fora de suas fronteiras.

Mas muitos analistas militares acham que isso não vai acontecer devido ao poderio bélico de Moscou. O conflito pode se transformar então em uma guerrilha de resistência com o objetivo de desgastar os russos a longo prazo.

“O que eu posso dizer é que os ucranianos acreditam na força de seu exército!”, afirmou Maryna.

Segundo ela, as forças armadas ucranianas ganharam muito respeito e prestígio na sociedade desde 2014, quando o país perdeu parte das províncias de Donetsk e Lugansk, no leste, para rebeldes financiados e controlados por Moscou.

“Em primeiro lugar, vem a luta pela liberdade, mas ela é feita pelas tropas profissionais”, apontou.

Em paralelo às ações do Exército, o presidente Volodymyr Zelensky vem incentivando os civis de Kiev a ajudar na defesa da capital.

Ele disse que quem quisesse uma arma iria receber. Milhares de fuzis e metralhadoras foram entregues. Os órgãos de imprensa internacionais já exibem imagens de milícias civis que se organizaram para apoiar os militares no terreno.

Antes da invasão, centenas de civis, homens e mulheres, vinham passando por treinamento militar.

Na fronteira entre a Ucrânia e a Polônia, membros das milícias de defesa da Ucrânia estão pedindo aos poloneses botas, capacetes e coletes à prova de balas para organizar o que chamam de unidades de “defesa territorial”, segundo apurou este colunista.

Os ucranianos têm forte ligação com os poloneses e vêm recebendo esse tipo de doação de maneira informal ao longo da fronteira.

Tanto nas cidades de fronteira quanto na capital polonesa, Varsóvia, as pessoas estão chocadas com a violência das ações russas e tristes pelos amigos ucranianos. Ao falar dos vizinhos, os poloneses lembram de sua própria história. Durante o Levante de 1944, o Exército da Pátria (Armia Krajowa), formado em grande parte por civis, lançou uma revolta contra os nazistas durante a ocupação na Segunda Guerra Mundial.

Eles esperavam receber ajuda do Exército Vermelho, que se aproximava da cidade. Mas os soviéticos preferiram estacionar fora de Varsóvia e assistir aos rebeldes serem massacrados pelas forças nazistas. Para os soviéticos, seria melhor tomar uma cidade sem resistência local, que poderia se voltar contra eles no futuro.

Uma revolta planejada para durar semanas se estendeu por mais de 60 dias, até o massacre da maioria dos partisans e a rendição dos que haviam sobrado.

Assim como a Polônia na Segunda Guerra, a Ucrânia parece estar sendo abandonada à própria sorte. Mas essa é uma história antiga e a Ucrânia já tem seus próprios heróis: eles são 13 guardas de fronteira que, sozinhos, tentaram defender nesta semana a minúscula Ilha Zmiinyi, no Mar Negro.

Ainda não está claro se a história realmente aconteceu ou se é propaganda de guerra. Segundo a BBC, gravações de áudio mostram uma suposta conversa por rádio envolvendo uma embarcação russa e a equipe de guardas. Um tripulante russo teria dito: “Eu proponho que vocês abaixem suas armas e se rendam para evitar derramamento de sangue e vítimas desnecessárias. De outra maneira, vocês serão bombardeados”.

Ouve-se então uma pequena discussão entre os guardas no rádio, que teriam dito entre si: “Ok, então é isso”, e respondido: “Navio da Rússia, vá para o inferno!”.

Os 13 defensores da ilha teriam então sido abatidos por salvas de artilharia naval. Os áudios foram difundidos por autoridades ucranianas. Moscou, por sua vez, nega e diz que todos foram feitos prisioneiros.

O presidente Zelensky condecorou os 13 com o título póstumo de “Herói da Ucrânia”.

Na Rússia, o presidente Vladimir Putin tem feito comunicados destinados aos militares ucranianos. Ele instiga as tropas ucranianas a atacarem seu próprio governo, que Putin classifica como “uma gangue de drogados e neonazistas”.

Em uma gravação em vídeo difundida em redes sociais na manhã de sábado (26), o presidente ucraniano disse: “Nós não vamos baixar nossas armas. Nós vamos defender nosso Estado, porque a nossa arma é a nossa verdade. E a nossa verdade é que essa é a nossa terra, nosso país, nossas crianças e nós vamos defender tudo isso”.

Zelensky vem personificando e incentivando um senso de patriotismo atávico que caracteriza os povos eslavos, cujas nações foram forjadas no calor da guerra. Essa característica já resultou em atos de bravura e heroísmo extremo, como no Levante de 44 da Polônia. Mas também costuma resultar em desfechos sangrentos, com a aniquilação dos heróis.

O presidente ucraniano parece já ter compreendido que a ajuda de fora não virá ou será limitada a sanções econômicas e políticas, além de doação de armamentos de defesa e compartilhamento de informações de inteligência. Os Estados Unidos e seus aliados ocidentais querem evitar que o conflito se alastre pela Europa ou se transforme em uma nova guerra mundial e possivelmente nuclear.

Por isso, está totalmente nas mãos de Zelensky e de sua cúpula a decisão de lutar até o fim pela pátria ou capitular, evitando que o número de mortes chegue a patamares que só podem ser endereçados por meio de estimativas.

Ele pode aceitar o convite de Putin para negociar em Minsk, capital de Belarus. Mas o desfecho disso deve ser sua deposição e um cenário da Ucrânia desmilitarizada e possivelmente submissa a Moscou.

Zelensky também pode optar por uma guerra de defesa, com características de guerrilha, que se estenda por anos para desgastar a Rússia e fazê-la desistir da ocupação em algum momento – como ocorreu com os Estados Unidos no Afeganistão no ano passado.

Ainda não é possível saber quais serão as ações de Zelensky. O que não se esperava era que um presidente europeu tivesse que tomar esse tipo de decisão em pleno século XXI.


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UCRÂNIA DESARMADA FACILITA A INVASÃO RUSSA

Invasão russa
Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo

Moradores de Kiev se concentram em estação do metrô para se proteger do bombardeio das forças russas| Foto: EFE/EPA/MIKHAIL PALINCHAK

Ao fim do primeiro dia da invasão russa na Ucrânia, o presidente do país, Volodymyr Zelensky, reclamou da falta de ajuda internacional e disse que os ucranianos estavam sendo obrigados a se defender “sozinhos” da agressão de Moscou, que ostenta um poderio militar muito superior ao da ex-república soviética.

Curiosamente, há 30 anos, a Ucrânia era a terceira maior potência nuclear do planeta, com cerca de 5 mil armas nucleares que haviam sido deixadas no país pela recém-extinta União Soviética.

Em dezembro de 1994, Rússia, Ucrânia, Reino Unido e Estados Unidos assinaram o Memorando de Budapeste, por meio do qual Kiev se comprometeu a se desfazer desse arsenal e os outros signatários, a não usar força militar contra os ucranianos e a respeitar a soberania e as fronteiras do país.

Pelo documento, qualquer agressão à Ucrânia seria respondida com a busca por uma ação de ajuda imediata junto ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Como se vê, apenas a Ucrânia respeitou sua parte no acordo, destruindo ou transferindo para a Rússia as armas nucleares que estavam no seu território.

“É difícil em história falar, com as informações que temos hoje, se a decisão foi certa ou errada. Entendo que a decisão naquele momento foi acertada, porque havia o contexto do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, então fazia todo o sentido para a Ucrânia e para diversos países entregar seu arsenal nuclear, como aconteceu nesse caso. Se isso não tivesse acontecido, talvez nem teríamos mais planeta, porque havia uma corrida em curso pela bomba atômica”, afirmou o advogado e professor Renato Ribeiro de Almeida, doutor em direito do Estado e mestre em direito político e econômico, que citou ainda o contexto do fim da União Soviética, quando “ninguém sabia quais seriam os países que ficariam com o espólio dela”.

A Rússia, é claro, desrespeita flagrantemente o acordo, porque antes da invasão iniciada na quinta-feira (24), já havia atentado em 2014 contra a soberania ucraniana ao anexar a Crimeia e apoiar separatistas na região de Donbass. Quanto à ajuda militar, o Conselho de Segurança das Nações Unidas ironicamente é presidido no momento pela Rússia, mas mesmo em outras instâncias o Ocidente não tem seguido o espírito de solidariedade à Ucrânia do memorando de 1994.

“Sabemos que, por mais que haja discordância com a Rússia e suas decisões, ninguém vai entrar em conflito direto com os russos porque teríamos um conflito de ordem nuclear. Os países europeus e principalmente os Estados Unidos estão repudiando [a invasão], impondo sanções econômicas, mas para além disso, eu tenho convicção de que não será feito nenhum tipo de escalada militar, a não ser que a Rússia entre em guerra com algum país da Otan, o que não deve ser o caso”, afirmou Almeida.

Em entrevista à NPR, a pesquisadora Mariana Budjeryn, da Universidade de Harvard, lembrou que um mecanismo de consulta previsto no Memorando de Budapeste foi acionado pela primeira vez em 2014, quando o presidente russo, Vladimir Putin, deflagrou as primeiras ações contra a Ucrânia. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, sequer compareceu a uma reunião em Paris para discutir o assunto.

“A Rússia argumenta que assinou [o memorando] com um governo diferente, não com este ‘ilegítimo’. Mas isso, é claro, não atende a nenhum tipo de critério legal internacional. Você não assina acordos com o governo, você assina com o país”, ponderou Budjeryn.

A pesquisadora argumentou que em 1994 teria custado muito à Ucrânia “tanto economicamente quanto em termos de repercussões políticas internacionais” manter o arsenal nuclear que estava no seu território.

“Mas na esfera pública, essas narrativas mais simplórias se firmam, a narrativa na Ucrânia, entre a população, é: ‘Tínhamos o terceiro maior arsenal nuclear do mundo, desistimos dele por este pedaço de papel e veja o que aconteceu’”, disse Budjeryn, que alertou que a agressão a um país que aceitou se desnuclearizar “envia um sinal muito errado para outros países, que podem querer buscar armas nucleares”.

Para Andriy Zahorodniuk, ex-ministro da Defesa da Ucrânia, o país desistiu da sua capacidade nuclear “por nada”. “Agora, toda vez que alguém nos oferece para assinar um pedaço de papel, a resposta é: ‘Muito obrigado. Nós já assinamos um desses faz algum tempo’”, ironizou, em entrevista ao New York Times.

O governo de Putin alega, sem apresentar provas, que a Ucrânia tem planos de voltar a ter armas nucleares.


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