domingo, 27 de fevereiro de 2022

MAZINE LUIZA PERDE VALOR DE MERCADO

Em 5 anos, ações da varejista subiram mais de 35.000%; agora, caem com o mercado repercutindo o cenário econômico e questionando eficiência da companhia

André Jankavski, O Estado de S.Paulo

Magazine Luiza foi a queridinha dos investidores por praticamente cinco anos. De 2016 até o início de 2021, as ações da varejista subiram nada menos do que 35.000%. Isso quer dizer que quem investiu R$ 100 na companhia naquele ano, chegou a ter R$ 35,1 mil na conta – uma alta comparável apenas a investimentos de altíssimo risco, como são as criptomoedas. Nem mesmo a pandemia foi capaz de tirar o ânimo dos acionistas, que aumentaram a aposta no negócio em meio à liberação do auxílio emergencial. 

Mas tudo começou a mudar em julho passado. O contínuo aumento da inflação, a elevação da taxa básica de juros a patamares não vistos nos últimos quatro anos e o desemprego ainda alto no País desferiram um duro golpe na companhia. Nos últimos 12 meses, os papéis do Magalu tiveram uma queda de mais de 75% e chegaram a um nível inferior ao visto no pior momento da Bolsa brasileira durante a pandemia.

Magazine Luiza
Maior centro de distribuição da rede, em Guarulhos; diretoria acredita que ‘a tempestade vai passar’ Foto: Felipe Rau/Estadão

Procurada, a varejista não quis dar entrevista, mas, em sua divulgação de resultados do terceiro trimestre, a própria diretoria da empresa definiu o momento como uma “tempestade perfeita”. E admitiu que o cenário não deve melhorar no curto prazo, apesar de confiar que “a tempestade vai passar”. Mesmo com um cenário adverso, faz sentido uma empresa que chegou a valer mais de R$ 125 bilhões cair para menos de um terço disso?

Na visão de analistas e especialistas, o cenário macroeconômico é o principal responsável pela queda do Magalu, assim como a de suas principais concorrentes na Bolsa, como a Via, dona das Casas Bahia e do Ponto, e a Americanas. Mas também há uma certa culpa do otimismo do mercado, que não contou com variáveis que apareciam desde o início de 2021, como o repique da inflação. 

Lívia Rodrigues, analista de renda variável da Ativa Investimentos, observa que o mercado previu um crescimento muito forte do varejo, especialmente do comércio eletrônico, e o Magalu se mostrou uma empresa com um histórico de execução sólido para se destacar nesse contexto. “Mas as perspectivas mudaram muito rápido”, diz. 

E isso ficou claro nos resultados do Magalu do terceiro trimestre de 2021. As vendas totais da companhia cresceram 12%, e o lucro ajustado teve uma queda de quase 90%, para R$ 22,5 milhões. Para se ter uma base de comparação, no segundo trimestre o crescimento das vendas tinha sido de 60% e a empresa havia revertido um prejuízo de R$ 64,5 milhões para um lucro de R$ 95,5 milhões. 

Marketplace

Porém, alguns fatores começaram a entrar nas contas do mercado. O primeiro deles é que a empresa continua dependente das próprias vendas. Hoje, o negócio próprio ainda representa 65% das vendas do Magalu. Ou seja: se as vendas da “marca-mãe” não vão bem, ainda não há uma fatia tão representativa para compensar essas perdas.

A companhia também passou a receber o escrutínio do mercado sobre o seu apetite de aquisições. Nos últimos dois anos, foram mais de 20, desde o aplicativo de refeições AiQFome até negócios nos ramos de conteúdo e publicidade. 

Dentre as escolhas, uma é vista por analistas como especialmente arriscada. A empresa pagou mais de R$ 3,5 bilhões pela KaBuM!, focada no comércio de artigos para computadores e videogames. Na visão de Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese Retail, parte do setor viu como uma aquisição mais focada no comércio, que também é importante, mas menos na compra de uma tecnologia que poderia a diferenciar. “Foi um negócio muito grande em um momento complicado”, diz Serrentino.

Além disso, segundo o especialista, as concorrentes também se mexeram muito nos últimos anos. A Via se reorganizou e tem uma base de lojas maior do que o próprio Magalu. A Americanas, por sua vez, juntou as operações do seu braço digital, a B2W, com a Lojas Americanas – tendo mostrado um forte resultado no último trimestre de 2021.

Ainda no lado da concorrência, o varejo brasileiro tem visto um apetite cada vez maior dos chineses, como Shopee e Alibaba, pelo mercado local. 

Isso tem gerado até movimentos no setor para que as compras importadas tenham uma taxação, algo que não ocorre até determinados valores. 

Efeito manada?

Segundo especialistas, há problemas para se observar no varejo e em especialmente no Magalu, mas pode estar havendo um “efeito manada” na venda das ações. Algo que, segundo Serrentino, pode ter acontecido anteriormente no momento de compra, o que fez as ações do Magalu subirem mais do que de fato valiam. 

Não à toa, diversos bancos de investimento estão recomendando a compra das ações do Magalu. O BTG Pactual enxerga que há um potencial de alta de mais de 200% nos papéis da varejista. Obviamente, não será o suficiente para recuperar o tamanho da queda.

Para Ana Paula Tozzi, sócia da consultoria AGR, houve um exagero nas expectativas criadas anteriormente e no pessimismo atual. O varejo pode ter alguma recuperação nos próximos meses com o pagamento de mais parcelas do Auxílio Brasil, com a retomada do setor de serviços e até um aceno de cortes de impostos – na sexta-feira, o governo federal publicou um decreto que reduziu em até 25% o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de diversos produtos. É possível retomar o otimismo? “Acho otimismo uma palavra exagerada, mas acredito que possa ter esperança”, afirma Ana Paula.

 

EMPRESAS E STARTUPS O CAWAMENTO PERFEITO

 

 Martonio Mendes – Head de Ecossistemas do NINNA Hub

Ser líder de mercado e trazer inovações já foi bem mais fácil para as grandes empresas, em um contexto que as informações não fluíam em uma velocidade tão frenética como atualmente, os ciclos de desenvolvimento de produtos longos e centralizados eram suficientes.  

Ocorre que o cenário mudou, hoje, para não ficar para trás e buscar se renovar sempre, as grandes corporações estão buscando se aproximar e fazer negócios com as startups. 

Desde o início da pandemia da Covid-19, muitas das empresas tradicionais tiveram que inserir uma solução digital para resolver algum problema proveniente do isolamento social, e assim começaram a visualizar os benefícios e o ganha-ganha do relacionamento com as startups. 

Acontece, que existe um grande desafio quando falamos em conexão entre grandes empresas e startups. Apenas uma pequena parcela desses contatos gera negócio. Podemos citar vários fatores responsáveis por uma quantidade tão pequena, entre eles, a ausência de uma preparação adequada de ambas as partes e a falta de um acompanhamento e avaliação adequada das entregas dessa conexão. 

Por isso, e com base na experiência do NINNA Hub em realizar conexões entre grandes empresas e startups, atuando junto as grandes corporações cearenses: Farmácias Pague Menos, Grupo Edson Queiroz, Unimed Fortaleza, L´auto Cargo e CDP Capital, apresento algumas dicas para os empreendedores que buscam se conectar com grandes empresas e principalmente transformar essa conexão em negócios reais: 

– Em primeiro lugar, vale analisar se a sua startup realmente está pronta para conectar-se com empresas do mercado tradicional. Conectar-se com empresas do mercado tradicional é desafiador, pois geralmente essas corporações possuem processos bastante complexos, então inicialmente cabe uma análise, realmente faz sentido? as empresas são realmente early adopters da minha solução? Tenha na sua cabeça, nas grandes empresas existem os tickets maiores, mas também grandes complexidades e possíveis entraves.

– Em segundo lugar, para o empreendedor que queira relacionar-se com grandes empresas, é muito importante criar um case de sucesso. Toda empresa tem medo de investir nos serviços inovadores de uma startup, devido aos inúmeros riscos por trás dessas inovações. Então criar cases, é uma forma de gerar confiança, reduzindo a sensação de risco, pois demonstra como sua solução ajudou outra empresa, tendo assim resultados e números relevantes a serem apresentados. Outra solução para diminuir a insegurança por parte das empresas é fornecer um período de teste, realizando o que chamamos de Prova de Conceito (POC), entregando valor antes de discutir contratos, criando assim cases de sucesso dentro da corporação. 

– Outra dica que parece ser bem óbvia, mas vale escrever é: tenha processos bem estruturados (principalmente processos de vendas), porém flexíveis. Faça o mapeamento de quem são as pessoas da empresa, principalmente aqueles que são decisores e influenciadores, eles com certeza auxiliarão você no processo de negociação. Aqui vale destacar que os processos e a negociação podem levar algum tempo, então exige bastante resiliência, organização da parte dos empreendedores, onde raramente o negócio será fechado em um mês. Já acompanhamos negociações que levaram até oito meses.  

– Um ponto importante que o empreendedor deve saber é dizer NÃO. Saiba quem são seus clientes e qual é a estratégia do seu negócio, além de ter bem claro qual seu ICP (Ideal Customer Profile). Evite se queimar ou desprender grandes esforços com ICP´s difíceis e que fogem do seu. Para startups a busca pelo PMF (Product Market Fit) é importante e o ponto de virada para escala do negócio, onde atuar com clientes fora do ICP pode demandar muito esforço por parte das startups para customizações que fogem do escopo e estratégia do negócio, podendo gerar grandes problemas para o seu processo de vendas, para seu produto, gerar altos custos e demandar muito tempo. Saiba escolher, dizer não e reconhecer: não estou preparado para esse cliente. Então, jamais, em hipótese nenhuma seja uma software house, bodyshop ou consultoria de um cliente, aceite as limitações da sua tecnologia e seja sempre transparente nas entregas. 

– Lembre-se ainda que entrega de valor é o primeiro desafio para de fato chegar a venda. Quando conseguir vender a sua tecnologia, terão outros desafios, como por exemplo a implementação, escala da solução, etc.

– Por fim, e não menos importante, esteja conectado a ambientes de inovação, como hubs de inovação. Esses ambientes podem te ajudar a realizar essas conexões e a auxiliar nessa jornada, até as provas de conceito e vendas. Os hubs podem ajudar a validar o seu serviço, tendo o papel essencial de intermediar e alinhar as startups e empresas, encontrando o denominador comum entre ambos para o sucesso da parceria.

Por atuarmos realizando o processo de inovação aberta junto a nossos mantenedores, sabemos o caminho para facilitar estas conexões entre as startups e grandes empresas. Então você empreendedor, deve ter muita resiliência e entender de fato como as grandes empresas funcionam, as coisas não acontecem de forma rápida, tudo leva muito tempo, esforço e educação, então siga nossas dicas e acompanhe nossas redes sociais para mais conteúdos!! Vamos juntos democratizar a inovação aberta.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

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A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja oficializada.

A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores marcas do varejo e um mix de opções.

O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.

Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do valor praticado pelo mercado.

Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:

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Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?

Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.

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sábado, 26 de fevereiro de 2022

TERCEIRA VIA DEVE TER CANDIDATO ÚNICO PARA ELEIÇÕES 2022

 

 Germano Oliveira e Eudes Lima – ISTOÉ

Os partidos de centro sempre souberam que precisariam se unir em torno de uma candidatura única para romper com a polarização entre os candidatos dos extremos, com Lula à esquerda e Bolsonaro à direita. Agora, esse caminho finalmente está se materializando. Todos os quatro candidatos a presidente da chamada terceira via, como João Doria (PSDB), Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e Luciano Bivar (União Brasil), decidiram abrir mão de posições individuais para discutir uma frente visando chegar ao segundo turno com o lançamento de uma chapa unificada para o pleito em outubro. Esse grupo já havia recebido a adesão do Cidadania, que, na semana passada, decidiu se juntar ao PSDB em uma federação para a corrida presidencial. Um desses quatro seria candidato a presidente. Apenas Ciro Gomes (PDT) não aceita participar desses entendimentos, que se intensificaram esta semana com reuniões preliminares realizadas na terça-feira, 22, em Brasília entre os presidentes dos três principais partidos desse projeto: Bruno Araújo (PSDB), Baleia Rossi (MDB) e Bivar.UNIDOS Juntos, João Doria e Sergio Moro podem ir ao segundo turno MARCELLO ZAMBRANA© MARCELLO ZAMBRANA UNIDOS Juntos, João Doria e Sergio Moro podem ir ao segundo turno MARCELLO ZAMBRANAALIANÇAS Luciano Bivar (à esq), Simone Tebet e Baleia Rossi discutem uma frente ampla do centro© Divulgação ALIANÇAS Luciano Bivar (à esq), Simone Tebet e Baleia Rossi discutem uma frente ampla do centro

A revelação de que a candidatura única estava em andamento foi feita em um evento do grupo Lide, em São Paulo, na sexta-feira, 18, com a presença de Moro, Simone Tebet e Felipe d’Avila (Novo). Os três anteciparam que os entendimentos estavam avançando e mostraram que a terceira via unida, como se espera, poderia somar 35% nas pesquisas, mais do que os números de Bolsonaro, por exemplo, e poderia ir para o segundo turno em condições de derrotar Lula. “Os analistas políticos dizem que se um candidato da terceira via chegar ao segundo turno ele vence tanto Lula quanto Bolsonaro”, concorda Doria, um dos entusiastas da união, que, segundo ele, “está em fase bem adiantada”. Já o ex-juiz Sergio Moro diz que “a união é urgente e não há tempo a perder”. O tucano, contudo, entende que as conversas não devem ser concluídas tão cedo. Talvez, segundo ele, o diálogo se estenda até as convenções dos partidos para o registro das chapas. “Julho é o limite”, confidenciou Doria.

Liderando o grupo da terceira via na faixa dos 10%, Moro acha que o critério para se escolher o cabeça da chapa pode ser quem estiver melhor nas pesquisas. Doria também concorda com esse critério, embora diga que precisa se fixar primeiro qual será o momento de corte da pesquisa para se chegar ao nome com maior viabilidade eleitoral. “O importante é que todo mundo abra mão de projetos pessoais, sem vaidades. E que todos nós estejamos nessa mesa de negociação com humildade.” O governador paulista lembra que até agora ainda não percebeu ninguém da terceira via com posição de arrogância. “Ninguém ainda falou: se não for eu o candidato, não vale. Não tenho visto isso”, afirma o tucano. Doria chega a brincar com o fato de que há gente nesse grupo com certa ansiedade para avançar logo no fechamento de um acordo. “Não é uma negociação para cardíaco. Não haverá uma decisão imediata. Neste momento, estamos fazendo um protocolo de intenções. Primeiro, temos que estar juntos e depois é que decidiremos quem será cabeça de chapa ou o vice”, acrescentou o governador em entrevista exclusiva à ISTOÉ.

“Extremos sem escrúpulos”

Moro também não é cardíaco, mas acha que o acordo deve sair o mais rápido possível, porque os adversários da terceira via jogam pesado. “Os extremos não têm escrúpulos e servem-se de uma máquina de produção de mentiras em massa. Precisamos de espírito público para, com coragem e ousadia, deixar de lado projetos pessoais e pensar no País como um todo”, disse Moro à ISTOÉ. É mais ou menos a posição de Doria: “Se não nos unirmos, daremos a eleição para Lula ou Bolsonaro e aí estaremos em uma situação desastrosa, com um retrocesso gigantesco, pois os dois são populistas e nocivos ao País”.

A união já vinha sendo debatida desde o final do ano passado, mas esbarrava no fato de que nenhum dos postulantes abria mão da candidatura própria. Depois de nenhum dos candidatos conseguirem se desgarrar dos concorrentes do mesmo espectro político e deslancharem nas pesquisas, a necessidade do entendimento falou mais alto. Todos eles, contudo, dizem que continuarão embalando suas pré-campanhas paralelamente às reuniões da frente única. É natural que todos queiram mais tempo para tentar viabilizar suas campanhas para a composição de chapas. O senador Alessandro Vieira (Cidadania), que fechou federação com o PSDB, afirma que a composição é indispensável e explica o porquê: “Não é uma articulação simples, mas evita o retorno de Lula ou a permanência do Bolsonaro na Presidência”. O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, defende que um dos critérios para a escolha de um candidato único seria o da rejeição. “O indicador mais confiável é o da rejeição. Quanto menor é a rejeição, maior a chance do candidato ganhar o eleitorado indeciso.” As negociações, porém, não têm tempo para terminar. Se a união vai se concretizar ou não, o prazo limite é julho e só o tempo dirá como as peças se encaixarão nesse quebra-cabeça.

PT SEMPRE TEVE SIMPATIA PELO AUTORISMO E SÃO AUTORITÁRIOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Da esquerda para a direita, os senadores petistas Humberto Costa, Fabiano Contarato, Jaques Wagner e Paulo Rocha.| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Diante da invasão russa à Ucrânia, a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) no Senado parece ter decidido que era hora de lembrar aos brasileiros sobre o triste passado diplomático que o Brasil produziu durante os 13 anos em que o Itamaraty esteve sob o comando da sigla. Em nota assinada pelo líder dos petistas na casa, o senador Paulo Rocha, os parlamentares exibem sua adesão à tese disseminada por Moscou, de que a agressão à soberania e ao povo ucraniano seria uma resposta à “política imperialista” dos Estados Unidos, que motivaria uma contínua expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em direção às fronteiras russas.

O documento afirma também: “tal conflito, frise-se, é basicamente um conflito entre os EUA e a Rússia. Os EUA não aceitam uma Rússia forte e uma China que tende a superá-los economicamente”. Ainda que em alguns trechos tente fazer um aceno ao eleitor mais consciente, que tem horror à guerra, os autores não foram capazes de evitar uma omissão que salta aos olhos. O texto é encerrado sem fazer nem uma menção sequer aos ucranianos mortos e feridos nos bombardeios, nem aos milhares de civis que se amontoam nas fronteiras, buscando fugir desesperadamente com suas famílias da destruição iminente das cidades onde moravam.

Pelo desenrolar dos fatos, pode-se deduzir que o documento foi fruto da espontaneidade dos senadores, uma manifestação automática do pensamento petista sobre geopolítica, já que pouco tempo após a publicação a nota desapareceu das redes sociais e do site da bancada, sendo substituída por outro texto, mais ameno, assinado dessa vez não por um senador, mas pela presidente do partido, a deputada federal Gleisi Hoffman. Não nos parece absurdo supor que, num ano eleitoral e com Lula liderando as pesquisas de intenção de voto, alguém os alertou que tal nível de sinceridade seria inoportuno.

Contudo, para o brasileiro não são necessárias novas amostras de simpatia com governos autoritários por parte do PT para sabermos com o que lidamos. A diplomacia praticada durante as gestões de Lula e Dilma, elaborada principalmente pelo ex-ministro Celso Amorim, em 2003, deixou manchas indeléveis em nossa reputação internacional. Ela foi centrada na aproximação do país com ditaduras que navegavam na contramão de toda a tradição brasileira de alinhamento com os valores expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Direito Internacional Público. Incluiu episódios lamentáveis como votações contra o Estado de Israel na ONU; alianças com regimes árabes totalitários; apoio ao ditador hondurenho Manuel Zelaya; vista grossa para abusos cometidos por governos da Bolívia e da Venezuela, além de movimentos terroristas como as Farc; aproximações inexplicáveis com o regime dos aiatolás iranianos; proteção para terroristas como Cesare Battisti; e investimentos duvidosos na economia de ditaduras comunistas como Cuba e Angola. Tudo isso, não raro, a despeito de derrotas diplomáticas evidentes, como nas eleições de membros brasileiros para o Banco Interamericano de Desenvolvimento e para a Organização Mundial do Comércio.

A diplomacia praticada durante as gestões de Lula e Dilma, elaborada principalmente pelo ex-ministro Celso Amorim, em 2003, deixou manchas indeléveis em nossa reputação internacional

Esta Gazeta do Povo acredita que fazer concessões à narrativa oficial de Moscou é o caminho contrário àquele que garante manutenção da paz e respeito às legítimas soberanias nacionais. Como destacamos anteriormente, estamos diante de um retrocesso na relação entre as nações, retornando às agressões expansionistas que vigoraram até a Segunda Guerra Mundial, com evidente desprezo pelos esforços diplomáticos para solução de conflitos.

É difícil não ver como mero pretexto a alegação de que a eventual entrada da Ucrânia na Otan é objetivamente um risco à segurança nacional da Rússia, ao ponto de justificar como única alternativa plausível a invasão armada. Basta ter em vista a tensa relação entre os dois países, desde 2014, após a chamada “Revolução Laranja”, quando a população ucraniana rejeitou maciçamente as decisões de um presidente simpático ao Kremlin, acusado de corrupção. Seguindo sua vocação antidemocrática, desde aquele momento, Putin nunca aceitou o desejo majoritário do povo ucraniano de sair da órbita de Moscou. Muito além de uma suposta ameaça às suas fronteiras, é isso o que incomoda o presidente russo e o impulsiona em seu ânimo belicoso: a perda de influência cada vez mais evidente sobre um ex-membro da União Soviética, cada dia mais próximo do Ocidente. E não se trata de qualquer país, mas sim um dos maiores celeiros da Europa, com reservas estratégicas de urânio.

É importante lembrar também que o sentimento de nacionalidade ucraniano e o desejo de distância da Rússia, nutrido por boa parte da população, tem raízes em lembranças dolorosas dos tempos de ocupação soviética, como o massacre do Holodomor, quando 12 milhões de pessoas morreram de fome e doenças correlatas devido a decisões desastrosas do governo soviético, entre 1932 e 1933. Esse componente está presente na resistência desesperada da população à invasão ora em curso, lamentavelmente sem o devido apoio das potências ocidentais.

O Partido dos Trabalhadores (PT), que possui quadros orgânicos na diplomacia brasileira, sabe muito bem o que está envolvido nesse jogo. Na encruzilhada civilizacional em que o mundo se encontra, esse grupo político escolheu um lado e assumiu posição clara. Ao relativizar um ato de guerra que já resulta em centenas de vítimas, promovido por um governo marcado pela arbitrariedade, os petistas mostram novamente ao público a que tipo de ordem global se filiam. Não será um apressado esforço para ocultar essa essência, com notórias razões eleitoreiras, o que fará o cidadão esquecer a que tipo de papel o Brasil se prestou enquanto foi regido por homens que pensavam dessa forma.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/o-pt-e-sua-indisfarcavel-simpatia-pelo-autoritarismo/
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GUERRA RÚSSIA UCRÂNIA AFETA O CLIMA ELEITORAL NO BRASIL

 

Impactos na política interna

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo

Presidente Jair Bolsonaro foi criticado por presidenciáveis por sua postura neutra no conflito| Foto: EFE/Joedson Alves

A guerra entre Rússia e Ucrânia possibilitou a abertura de um palanque político no Brasil para opositores ao governo criticarem a política externa e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Municiados pelo posicionamento de neutralidade diplomática do Itamaraty, pela viagem de Bolsonaro à Rússia e pela perspectiva de aumento da inflação com a guerra, opositores dão sinais de que vão incorporar os acontecimentos recentes no leste europeu para engrossar as críticas.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou o conflito para colocar em xeque a política externa de Bolsonaro. Pelas mídias sociais, disse que um presidente da República precisa “conversar” e ser um “maestro da orquestra chamada Brasil” para que o país possa “viver em harmonia”. “Se você tem um presidente que briga com todo mundo, ele serve para que? Até em coisas sérias ele mente, disse que tinha conseguido a paz ao viajar para a Rússia”, declarou. Em entrevista a uma rádio, sugeriu que Bolsonaro deveria ir à Ucrânia “resolver o problema lá”.

Pré-candidato à Presidência pelo PDT, o ex-governador cearense Ciro Gomes foi um dos que usou as redes sociais para criticar Bolsonaro. Disse que o Brasil precisa se preparar para os reflexos do conflito, “muito especialmente” por ter “um governo frágil, despreparado e perdido”. O pedetista citou que o barril de petróleo superou os US$ 100 e cravou que esse aumento vai “atingir em cheio” a economia brasileira. “Por termos uma política absurda de preços rigidamente atrelada ao mercado internacional”, disse.

O ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) foi outro pré-candidato a questionar o presidente da República, embora também tenha citado o PT, que, no Senado, fez críticas aos Estados Unidos. “É muito preocupante o apoio de Bolsonaro e do PT ao governo Putin. Eles apoiam o lado errado. O lado do agressor e do autoritarismo. Este não é e nunca será o lado escolhido pelos brasileiros. Somos pela paz e pelo respeito à soberania da Ucrânia e de todos os países”, declarou.

Encontro de Bolsonaro e Putin foi alvo de críticas de presidenciáveis, a exemplo de Lula| VYACHESLAV PROKOFYEV/KREMLIN/SPUTNIK/POOL
A pré-candidata do MDB, senadora Simone Tebet (MS), foi outra a usar as redes sociais para questionar o governo. “O Itamaraty precisa prestar assistência imediata aos brasileiros, garantir sua segurança e tirá-los da área de conflito. E o governo federal precisa deixar claro que nosso respeito é à soberania e aos princípios de não intervenção territorial e que estaremos lutando por uma solução de paz, através do diálogo e da diplomacia”, ponderou.

Como o governo encara as críticas da oposição sobre a neutralidade
As críticas de opositores não surpreendem o governo, que calculou os impactos políticos que poderiam surgir desde a viagem de Bolsonaro à Rússia e permaneceu monitorando a escalada do conflito diplomático entre russos e ucranianos mesmo antes de a guerra eclodir. O discurso interno, contudo, não é de preocupação. A estratégia adotada é dar as respostas internas e manter as políticas planejadas em diferentes setores.

O governo está seguro de que a política externa adotada é correta e desdenha dos opositores. O Itamaraty tomou conhecimento, por meio de seus diplomatas em missão na Europa, de que na França, por exemplo, onde haverá eleições presidenciais em abril, todos os candidatos pregaram posições mais duras que as adotadas pelo presidente Emmanuel Macron. Alguns até sugeriram que o governo francês não adotasse apenas sanções, mas também se envolvesse militarmente.

“O que vemos no Brasil é o mesmo paralelo com a França. É fácil dizer o que pensa quando está fora do governo, outra é quando é governo e tem que tomar uma decisão”, sustenta um diplomata ao defender a posição adotada pelo governo. “Não sei se haveria espaço para irmos muito além disso, tomar um partido e seguir muito às vezes por aqueles impulsos da imprensa internacional. Os dois países são amigos do Brasil com quem temos relações de comércio”, complementa.

Interlocutores da chancelaria brasileira ponderam que, do ponto de vista da política externa, o Brasil não é um ator relevante no cenário do leste europeu e ponderam que o conflito está além da influência da diplomacia brasileira. “Somos um país relevante no contexto internacional, mas a repercussão na Europa oriental para nós já é bastante reduzida e, por outro lado, a nossa repercussão e capacidade de influenciar em um conflito dessa natureza é zero. Qualquer coisa que façamos em política exterior não terá qualquer repercussão em relação a essa situação”, diz um interlocutor do Itamaraty.

Na política exterior, insiste o interlocutor, é preciso medir a relação “custo-benefício”. “Podemos ter uma relação um pouco mais, digamos, definida, mas qual é o custo disso? Vamos nos indispor com esses atores e qual é o benefício que vamos obter disso? Praticamente nenhum. É preciso ter um olhar estratégico”, explica. “Agora, é claro que, na política interna, posições A ou B vão usar o cenário para tentar desgastar o governo. É sempre muito mais difícil ser governo, porque você tem responsabilidades pelo que diz”, acrescenta.

Itamaraty não deve adotar discurso crítico a Putin
A possibilidade de o Brasil adotar sanções ou uma postura mais contundente contra a Rússia é afastada no Itamaraty, a despeito de pressões internas e externas. Representantes de embaixadas do G7, por exemplo, esperam que o Brasil condene as ações da Rússia na ONU. Um interlocutor diz que o governo não tem uma posição equidistante do conflito e tem condenado o uso da violência em fóruns internacionais, mas entende que uma postura mais contundente não será adotada.

“Temos posição definida de contrariedade à guerra e em favor do entendimento, sobretudo da discussão dos temas que enfrentam Ucrânia e a Rússia nos organismos multilaterais, nas Nações Unidas e no Conselho de Segurança. Estamos bem definidos em relação a isso. Agora, eu não vejo o Brasil fazendo declaração forte contra a Rússia. É inócuo, não temos como adotar sanções, mandar forças [militares], e, obviamente, não faria o menor sentido”, sustenta uma fonte do Ministério das Relações Exteriores.

No Palácio do Planalto, a repercussão quanto às críticas também não é diferente. “A campanha já começou, então, qualquer coisa vai ser motivo para tentar desgastar o presidente, mas isso não vai para frente”, analisa um interlocutor que não prevê impactos políticos ou eleitorais a Bolsonaro. “O que podemos ter de enfrentar é a inflação, que pode subir pressionado pelos combustíveis”, pondera o assessor.

Nas Forças Armadas, onde também há a avaliação de que o posicionamento do Itamaraty foi correto, a análise é de que o governo não sai impactado pelas críticas a Bolsonaro. “O povo está preocupado é com segurança, saúde, educação. Poderão vir a se preocupar se a economia piorar, mas o governo está atento a isso”, sustenta um oficial militar que não faz parte do governo Bolsonaro.


Como a política interna do governo vai reagir ao conflito na Ucrânia

Na noite de quinta-feira (24), o presidente da República se reuniu com o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e outros auxiliares para “dimensionar” o conflito armado e discutir as estratégias possíveis de serem adotadas.

No campo das relações exteriores, o governo está focado em resgatar todos os brasileiros e sul-americanos em segurança. Interlocutores do Itamaraty sustentam que o governo vai fazer o possível, mas alertam que a missão não será simples.

Na tarde desta sexta-feira (25), a embaixada do Brasil em Kiev anunciou aos brasileiros que estão na capital ucraniana que há uma opção de sair de trem da cidade, a qual está sob ataque russo. O destino é Chernivtsi, no oeste do país, que fica nas proximidades da fronteira com a Romênia.

No campo econômico, o discurso no Ministério da Economia é de manter o foco nas políticas concentradas e trabalhar em termos de melhorar as condições do desenvolvimento da economia neste ano de eleição onde o empenho do ministro Paulo Guedes é de manter a política de austeridade fiscal e não arrombar os cofres por conta do período eleitoral, dizem interlocutores.

A leitura feita por alguns na equipe econômica é de que o conflito armado pode se arrefecer e mitigar os impactos à economia global. De toda a forma, a meta é adotar as políticas econômicas previstas para evitar maiores danos à atividade econômica brasileira. “Diante dos fatos, nós estamos concentrados no alívio e no impacto das contas de energia e dos combustíveis”, diz um interlocutor de Guedes, em referência às medidas estudadas para reduzir o preço de combustível e energia.

“Estamos concentrados para aliviar o impacto de tudo que é essencial na economia, melhorar a situação na indústria e reduzindo o imposto, a exemplo do IPI. E lançando o programa de crédito para micro e pequenas empresas, mantendo as diretrizes do Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte], do FGO [Fundo de Garantia de Operações] e do FGI [Fundo Garantidor de Investimentos]”, diz um assessor da equipe econômica.

O programa de crédito para as micro e pequenas empresas deve ser lançado após o carnaval e prevê uma injeção de R$ 100 bilhões à economia. Outra medida que deve ser anunciada após o feriado nacional é o anúncio da liberação de novos saques de R$ 1 mil do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

A equipe econômica está comprometida a monitorar a economia global, mas interlocutores ponderam que o governo vai se ater a encontrar soluções internas. “O restante não é nosso domínio, nesse caso [do conflito], não somos músicos, somos dançarinos. Nós temos que cuidar do nosso quintal e aguardar os efeitos dessas movimentações lá fora”, sustenta um assessor.

A perspectiva de aumento dos combustíveis em decorrência da alta do barril de petróleo, no entanto, não será um fator que levará o governo a defender uma alteração à política de preços dos combustíveis. “O que discutimos é incidência de carga tributária em cima de combustíveis, que é uma discussão antiga e está agravada agora. Não há espaço para querer fazer medidas artificiais. Toda a facilidade gera dificuldade no tempo, mexe agora para pagar a conta depois”, alerta um interlocutor.

Nas relações comerciais do agronegócio, o governo também está ciente dos eventuais impactos e se movimenta para evitar o encarecimento de produtos no mercado interno. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse na quinta-feira que a pasta monitora o conflito e tem procurado alternativas aos fertilizantes importados da Rússia, caso as importações sejam inviabilizadas.


O que dizem deputados da base e independentes sobre o conflito e seus impactos

A leitura feita por deputados da base governista e independentes em relação ao Planalto é mais comedida que a feita pelos presidenciáveis e opositores de Bolsonaro sobre a posição do governo acerca da guerra na Ucrânia. O presidente nacional em exercício do PP e presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Rússia, deputado federal Cláudio Cajado (BA), entende o posicionamento do Itamaraty.

“A política externa brasileira é essa. Ela tem como princípios a autodeterminação dos povos, a não intervenção sobre assuntos externos e tem sido ao longo dos anos a política adotada e a política reconhecida. Então, o Brasil há tempos demonstra uma certa neutralidade que não se confunde com a missão, e, diante disso, a nota do Itamaraty não poderia ter sido diferente. Me parece que o Itamaraty agiu segundo esse princípio e histórico do que reza nossa tradição”, diz.

Embora compreenda o posicionamento pragmático adotado pelo Itamaraty, Cajado defende, contudo, uma posição mais firme à investida russa sobre a Ucrânia. “Como presidente do grupo parlamentar, eu penso diferente, a Rússia excedeu os limites do que poderia ser aceitável ao partir para uma guerra que deixou clara a intenção dela desde o início. Entendo que ao menos opiniões pessoais poderiam ser expressadas de forma mais clara sobre o excesso que a Rússia praticou”, pondera.

Do ponto de vista da política interna, Cajado não identifica impactos político ou eleitorais a Bolsonaro. “Não sai fortalecido, nem enfraquecido, pelo menos até o momento não vejo relação de prejudicá-lo”, analisa. O presidente em exercício do PP também faz uma leitura sobre como Lula e outros presidenciáveis usaram o conflito para se posicionar. “Tentar politizar internamente é algo que até não caberia, até porque a população, nesse caso específico, não está muito preocupada com quem vai defender a posição de Putin ou não. O que ela quer saber é sobre o Auxílio Brasil e se haverá ajuda às pessoas que precisam e que estão vulneráveis nesse momento, se temos o controle da inflação e se os empregos estão voltando, como, de fato, estão”, avalia.

O deputado federal Evair de Melo (PP-ES), vice-líder do governo na Câmara, é outro a entender como correta a postura adotada pelo Itamaraty. “Realmente, o Brasil não tem que se meter nisso, o país precisa exportar, nós precisamos, inclusive, dos fertilizantes da Rússia. Temos que construir uma agenda olhando para o nosso próprio negócio”, defende.

Quanto aos impactos políticos que a guerra pode gerar ao Brasil, Melo entende que Bolsonaro e o governo não serão impactados. “Só ver as pesquisas [eleitorais], ele acertou nesta pauta [política externa]. Mostram que ele está em ascendência crescente fruto das decisões que têm tomado”, diz.

O deputado federal Sérgio Souza (MDB-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), também entende como correta a abordagem do governo sobre o conflito e afasta qualquer especulação sobre o posicionamento estar atrelado a uma intenção do Itamaraty em preservar o agronegócio brasileiro, como foi aventado no governo.

“A gente não pode colocar isso nesta conta, não é por aí. É uma posição de diplomacia brasileira histórica. Lógico que o Brasil é um país dependente de fertilizantes do leste europeu, da Bielorússia, Ucrânia, da Rússia, que são grandes produtores de fertilizantes, tanto é que o presidente da República, com uma agenda recente, foi lá e reforçou a necessidade do Brasil para garantir que a gente tenha a garantia de produção do país”, destaca. O presidente da FPA entende como coerente a posição de neutralidade adotada e concorda que o governo não deve adotar uma postura mais firme e condenar os ataques russos. “Não tem por que entrarmos de cabeça em uma confusão que não é necessária agora”, diz Souza.

O deputado federal Hildo Rocha (MDB-MA), primeiro-vice-líder do partido e membro titular da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, concorda com a posição de neutralidade tomada pelo governo, mas defende que o Itamaraty deva ser mais firme na defesa de paz. Para ele, é necessário um pronunciamento mais incisivo do ministro Carlos França sobre a situação.

“É preciso um discurso mais contundente pela paz que reforce que o Brasil não vai aceitar a interferência de um país sobre o outro”, diz. Para ele, com dosagem no tom, é possível condenar os ataques e ainda manter uma postura neutra. “Cada país tem a sua autonomia e sua soberania, que não pode ser quebrada por outro país”, complementa.

Coordenador da comissão de relações internacionais da FPA, Rocha alerta para o risco que a guerra pode gerar ao Brasil em toda a cadeia produtiva e no agronegócio. “O preço do barril de petróleo subindo impacta o custo de produção da agropecuária, porque nós temos uma cultura muito mecanizada e dependente do óleo diesel”, diz. Outro fator que também pode encarecer os custos de produção é a previsão de alta do milho. “A guerra traz impactos a grandes produtores de milho, como a Croácia, e isso vai afetar, sem dúvida nenhuma, na produção de milho, que é base de alimentação dos animais”, adverte.

Que peso a política externa pode ganhar na corrida eleitoral

Embora os adversários eleitorais de Bolsonaro tenham colocado a política externa em seus discursos em virtude da guerra na Ucrânia, é improvável que esse tema ganhe os holofotes na corrida eleitoral. O analista político Ricardo Mendes, diretor da consultoria Prospectiva, prevê pressão de jornalistas e de parte da sociedade, mas avalia que não é um tema que vai polarizar e ter destaque no debate eleitoral.

“Ele acaba não ganhando a tração que algumas pessoas gostariam que tivesse no debate público, fora que isso não dá voto. É um tema que, sim, pode ser usado na ‘guerra eleitoral’, vão usar a viagem do Bolsonaro e falar sobre, mas a repercussão disso é muito pequena”, analisa Mendes. “O que importa mesmo é a segurança, saúde pública, economia e geração de emprego, que são as principais preocupações do eleitor, que vão figurar no topo da agenda eleitoral”, acrescenta.

O presidente nacional em exercício do PP, deputado Cláudio Cajado, concorda que a política externa tende a não ganhar os holofotes políticos ao longo da disputa presidencial. “Sempre haverá uma parte dos planos de governo focada na política externa, isso sempre é abordado, mas não creio que isso seja um tema que será absorvido na eleição de forma generalizado”, avalia.

O presidente em exercício do PP e do Grupo Parlamentar Brasil-Ucrânia também endossa a análise de que a agenda eleitoral será pautada pelas pautas tradicionais. “A política externa não vai se sobrepor em detrimento a pautas como segurança, educação, saúde, infraestrutura e a condução da economia, sobretudo. A política externa sempre será importante, abordada, debatida, mas não com essa amplitude sobre ser uma diretriz de o candidato melhorar ou piorar nas pesquisas”, pondera.

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TEREMOS MUITA DESINFORMAÇÃO NA POLÍTICA 2022

 

Eleições 2022

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Campanha eleitoral de 2022 promete enxurrada de notícias falsas e boatos.| Foto: Divulgação/TRE-PR

Preparem-se, o ano eleitoral de 2022 vai ser cheio de emoções. Se já tivemos três anos com as preliminares que nos deixaram de cabelo em pé, imaginem o que vai ser esta final. Desde a surpreendente eleição do deputado do baixo-clero, está no ar a vontade de uma desforra pelo lado que perdeu, e a vontade de ser confirmado no quarto ano, pelo que ganhou.

Todas as tentativas de tapetão até agora foram vãs. Chegou a haver uma CPI claramente eleitoreira, mas o resultado foi desolador. O esforço da mídia adversária saiu pela culatra – ela acabou perdendo audiência e leitores e só fez repetir o nome do presidente milhares de vezes, marcando ainda mais o seu nome.

Neste ano de reta final para renovar ou não o seu mandato, o desespero tem sido mau conselheiro, porque acabaram consagrando o nome do presidente como centro de todas as discussões. Nem mesmo os que desejam derrotá-lo acreditam nas pesquisas, porque se acreditassem, estariam tranquilos com o resultado da eleição.

Na ausência de notícias ruins sobre o governo, até o tamanho de sapato do presidente virou destaque na cobertura internacional direto do Kremlin. O desespero bloqueou a percepção, e a ingenuidade deu margem à correção de piadas e memes. A checagem e o desmentido ficaram ainda mais divertidos que as montagens, como aconteceu na visita à Rússia.

O inusitado também aconteceu. Ministros da Suprema Corte, juízes do Tribunal Superior Eleitoral, desceram para a política eleitoral ao criticar um dos candidatos a presidente, deixando aflorar sua natureza de advogados. Como se sabe, a vocação do advogado é trabalhar a favor de alguém e contra alguém ou algo. Advogado é sempre parcial, a favor de seu cliente; já o juiz tem que ser sempre imparcial, ao lado da lei e da justiça.

Fiquei pensando se não se deveria alterar a composição do Supremo, para evitar essa novidade de ministros da Corte, advogados profissionais, se manifestarem como advogados. Que o tribunal fosse composto só por juízes de carreira, depois de passarem por todas as instâncias e então, no topo, no Superior Tribunal de Justiça, ser escolhido o mais brilhante, para ser submetido ao Senado como juiz supremo.

Estudantes de Direito certamente estranham, quando não se escandalizam, que juízes do Supremo emitam sem parar opiniões, suposições e pré-julgamentos, justo no ano em que terão que ser juízes de uma eleição. Isso também faz parte das emoções de 2022.

Enfim, preparemos nossos olhos e ouvidos para notícias falsas, sofismas, boatos, fofocas, suposições, insinuações, invenções – escritas, faladas, desenhadas, filmadas, fotografadas, editadas e até carimbadas como checadas e verdadeiras. Preparemo-nos para não comprar a verdade já embrulhada. Aceitar assim é como um ato de fé, mas isso é para as questões espirituais, não para decidir o futuro dos nossos filhos, nossos empregos, nossos empreendimentos, nosso país.

Desembrulhemos o que oferecem para nossos olhos e ouvidos, sem a emoção da fé, mas com o ceticismo da razão e submetamos as novidades ao nosso filtro, nosso escrutínio, porque este é um ano em que vai chover desinformação.


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